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CAPÍTULO 4 – CARACTERÍSTICAS E TENDÊNCIAS DA PRODUÇÃO

4.2 Panorama da base curricular-ambiental da produção analisada

4.2.3 Descrição e análise da produção quanto à Área Curricular

Vamos agora observar a distribuição dos documentos pelo descritor área curricular, o qual estabelece a que área ou disciplina do currículo ou do curso de

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graduação a qual a pesquisa está vinculada. Os subdescritores de área curricular foram adaptados de Carvalho et al. (2013) e estão relacionados no Apêndice 5. Após a leitura dos 85 resumos e dos 65 trabalhos completos obtidos, efetuamos um refinamento dos descritores, resultando um processo de categorização mista: prévia, com base no Projeto EArte, e posterior, com base na leitura de parte dos documentos da presente pesquisa.

Abaixo, apresentamos a relação de áreas curriculares usadas nesta tese e, em seguida, os dados referentes à distribuição dos trabalhos nas mesmas (Tabela 3 e Gráfico 3):  Artes  Biologia  Ciências do Ambiente  Direito  Física  Geografia  Matemática  Pedagogia  Química  Saúde  Turismo

 Geral – correspondem a trabalhos que abordam processos educativos envolvendo a temática ambiental de forma genérica, sem delimitar um tema, tópico ou conteúdo específico. Assim, não há detalhamento ou privilégio para aspectos de uma ou outra área curricular.

 Outras – utilizado para os trabalhos que abrangeram temas, tópicos ou conteúdos associados a demais áreas curriculares presentes em menor frequência dentro da produção investigada. Contemplou as áreas de Administração, Agronomia, Arquitetura,

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Tabela 3: Distribuição das 85 dissertações e teses que trataram de processos de ambientalização curricular na formação inicial de professores e profissionais educadores ambientais, compreendidas entre 1987-2009, conforme área curricular.

Área Curricular Total %

Artes 4 4,7% Ciências do Ambiente 4 4,7% Física 4 4,7% Matemática 4 4,7% Turismo 4 4,7% Direito 6 7,1% Química 7 8,2% Geografia 8 9,4% Geral 9 10,6% Saúde 14 16,5% Pedagogia 18 21,2% Biologia 30 35,3% Outras 15 17,6% TOTAL 127 149,4%

Fonte: Banco de Teses da Capes / Projeto EArte / Rink e Megid Neto, 2012.

Obs: O total de classificações para a área curricular ultrapassa o total de 85 trabalhos já que

algumas pesquisas envolveram mais de uma área. As porcentagens foram calculadas com base no corpus documental (n=85).

Gráfico 3: Distribuição das 85 dissertações e teses que trataram de processos de ambientalização curricular na formação inicial de professores e profissionais educadores ambientais, compreendidas entre 1987-2009, conforme área curricular.

Fonte: Banco de Teses da Capes / Projeto EArte / Rink e Megid Neto, 2012. 4,7% 35,3% 4,7% 7,1% 4,7% 9,4% 4,7% 21,2% 8,2% 16,5% 4,7% 10,6% 17,6% 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% Artes Biologia Ciências do Ambiente Direito Física Geografia Matemática Pedagogia Química Saúde Turismo Geral Outras

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Conforme podemos verificar no Gráfico 3, ou na Tabela 3 correspondente, a área curricular Biologia foi abordada por 30 trabalhos e perfaz 35,3% das classificações. O predomínio de investigações sobre EA ligadas às áreas de Ciências Biológicas é discutido por vários autores. Trivelato (2001, p.57) comenta que “entender e apreciar as inter-relações dos seres humanos e seus meios biofísicos já era, de certa forma, objeto da Ecologia”. Afirma, ainda, que as disciplinas Ciências e Biologia acabaram por sendo um caminho preferencial que introduziu a EA no âmbito escolar. Na mesma linha de raciocínio, Sorrentino (1992) já destacava uma identificação excessiva existente entre a EA e as Ciências da Natureza que, na visão do autor, acaba desarticulando os sistemas naturais e sociais e confinando os problemas ambientais e as ações em EA a uma dimensão estritamente ecológica. A articulação da EA com o currículo de Ensino de Ciências e/ou Biologia e a priorização de discussões dos problemas ambientais a partir de concepções biológicas é discutida também nas obras de Lima (1999), Fracalanza (2005), Lorenzetti e Delizoicov (2007) e Rink (2009).

A área curricular Pedagogia conta com 18 trabalhos, que somam 21,2% das classificações. Freitas et al. (2009) defendem que a possibilidade de maior inserção da ambientalização no currículo é favorecida pela natureza do conhecimento da área de educação. É possível afirmar que, desde os trabalhos da Rede Aces no início dos anos 2000, diversas pesquisas acadêmicas que tratam da inserção da EA na formação inicial de pedagogos têm sido realizadas – não só sob a forma de teses e dissertações, mas também como artigos em periódicos e trabalhos em congressos e eventos científicos. Podemos citar o estudo de Oliveira e Freitas (2003), sobre práticas que incluem questões socioambientais na formação de pedagogos; a pesquisa de Rosalém e Barolli (2006), que investigou a inserção da dimensão ambiental no currículo de cursos de Pedagogia de universidades públicas nacionais; e posteriormente a publicação das mesmas autoras sobre a ambientalização curricular do curso de Pedagogia da Unicamp (ROSALÉM; BAROLLI, 2010). Oliveira e Carvalho (2012) recentemente investigaram a incorporação da dimensão ambiental em projetos político-pedagógicos dos cursos de Pedagogia das universidades federais brasileiras. Os pesquisadores identificaram diversos temas ambientais presentes nos projetos e afirmam que é cada vez mais marcante a influência das discussões em torno das questões ambientais nas propostas curriculares e que as

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mesmas têm adquirido espaços significativos nos projetos dos cursos de Pedagogia – ainda que careçam de fundamentação mais articulada.

A área curricular Saúde foi abordada por 14 estudos e contribuiu com 16,5% das classificações. Envolvem trabalhos desenvolvidos no âmbito de cursos de Licenciatura em Educação Física e Bacharelados em Medicina Veterinária, Medicina e Enfermagem. Indicamos aqui o trabalho de Beserra, Pinheiro e Vieira (2010), que sinaliza o crescimento da inserção da temática ambiental na área de Saúde. As autoras consideram que a construção de agendas internacionais a partir dos anos 1990 pela Organização das Nações Unidas (ONU) e Organização Mundial da Saúde (OMS) fomentaram as pesquisas científicas entrelaçando as questões de saúde e ambientais e afirmaram a importância da temática ambiental associada ao movimento mundial pela promoção da saúde. Nesse sentido, os processos de ambientalização curricular em cursos de formação inicial na área de Saúde são extremamente importantes para fortalecer o binômio ambiente-saúde.

A quarta área curricular mais presente foi Geografia (8 trabalhos, 9,4%); seguida por Química (7 trabalhos, 8,2%); Direito (6 estudos, 7,1%); Artes, Ciências do Ambiente,

Física, Matemática e Turismo, todas com 4 documentos cada (4,7%) em relação ao total

das classificações realizadas para o descritor área curricular.

Nove trabalhos (10,6%) foram classificados como Geral. Correspondem a estudos que desenvolveram fundamentos teórico-metodológicos para processos de ambientalização curricular, sem privilegiar uma determinada área (T22, T30) ou, ainda, trabalhos cujos documentos completos não foram obtidos e que, conforme análises dos resumos, abordaram a área curricular de modo genérico. Contamos ainda com 15 documentos (17,6% das classificações) que abrangeram temas, tópicos ou conteúdos associados a demais áreas curriculares presentes em menor frequência dentro da produção investigada. Tais trabalhos foram agrupados na categoria Outras áreas que incluiu Carreira Militar, Economia, Filosofia, História, Letras e Sociologia (cada uma com 1 documento); Administração, Agronomia (2 documentos cada) e, por fim, Engenharia e

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Chegamos ao término da apreciação panorâmica dos 65 trabalhos completos aqui investigados. Em suma, estudos de natureza teórica representam a menor parcela da produção. Contudo, trazem importantes aportes teóricos para discussão sobre a inserção da EA e da temática ambiental na formação universitária. Identificamos poucas pesquisas que propuseram, aplicaram e avaliaram cursos ou disciplinas. Em geral, as situações encontradas trataram de reformas em disciplinas obrigatórias já existentes e a prática de estágio supervisionado no âmbito de licenciaturas. Pontualmente, há estudos que envolveram disciplina optativa, oficinas pedagógicas e investigaram a incorporação de temas ambientais ao trabalho de conclusão de curso. Por fim, predominam os estudos diagnósticos sobre cursos de formação inicial na Educação Superior, voltados para formação docente em Biologia e Pedagogia. A maior parte desses diagnósticos foi realizada sobre cursos como um todo (um único ou vários). Em menor proporção encontramos trabalhos que fizeram análise de uma ou mais disciplinas específicas.

4.2.4 Descrição e análise da produção quanto à Concepção de Educação Ambiental