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PROGRAMA EXPERIMENTAL DE CAMPO

4.2 ENSAIOS DE CAMPO

4.2.5 Descrição da área de investigação e geologia local

Descrição da área de investigação e características do empreendimento

Os ensaios de sondagem piezométrica foram realizados na Mina de Bayóvar, operada pela Compañia Minera Miski Mayo SRL - Vale. A planta está localizada em Bayóvar, na província de Sechura (deserto de Sechura), a 85 km da cidade de Piura, capital do Departamento de Piura, próxima ao Oceano Pacífico, e distante cerca de 1.000 km ao norte de Lima, no Peru (Figura 4.40).

Figura 4.40 – Mapa da região de localização da Mina de Bayóvar com vista parcial da planta concentradora (Google, 2015)

A mina foi instalada no país no ano 2010, e é considerada um dos maiores depósitos de rocha fosfática da América do Sul, matéria-prima destinada à indústria de fertilizantes. A mina se destaca por possuir recursos de qualidade internacional, com baixo custo de mineração. A produção é escoada, principalmente, para os mercados do Brasil, da América do Norte e da Ásia. Além da Vale, as multinacionais Mosaic e Mitsui participam do chamado “Projeto Bayóvar”.

Ao contrário das reservas lavráveis brasileiras, que ocorrem em rochas ígneas carbonatíticas, com teores médios da ordem de 10% de P2O5 e com mineralogia e

aproveitamento industrial complexo, resultando em custos elevados, as rochas fosfáticas do Peru ocorrem principalmente em rochas sedimentares, com teores em torno de 30% de P2O5 e com maior uniformidade e mineralogia mais simples (DNPM, 2015).

Conforme dados expostos na Tabela 4.6, em termos de produção mundial, o Peru ocupa o 11º lugar. No entanto, a sua produção é representativa no contexto da política de importação do nosso país. Em relação aos bens primários, a Mina de Bayóvar tem sido responsável por mais de 50% das 1,7 Mt de concentrado de rocha fosfática importadas pelo Brasil (DNPM, 2015).

Tabela 4.6 – Reserva e produção mundial de fosfato (Adaptado de DNPM, 2015)

País Reservas (10³t P2O5) Produção (10³t) (%) 2013 2014 China 3.700.000 108.000 100.000 46,1 Marrocos (c/ Saara Ocidental) 50.000.000 26.400 30.000 13,8 EUA 1.100.000 31.200 27.100 12,5 Rússia 1.300.000 10.000 10.000 4,6 Brasil 270.000 6.750 6.514 3,0 Jordânia 1.300.000 5.400 6.000 2,8 Egito 715.000 6.500 6.000 2,8 Tunísia 100.000 3.500 5.000 2,3 Israel 130.000 3.500 3.600 1,6 Arábia Saudita 211.000 3.000 3.000 1,4 Peru 820.000 2.580 2.600 1,2 Outros Países 7.471.000 19.570 17.250 7,9

Geologia regional e local

O Peru está localizado às margens de duas placas tectônicas convergentes, a Placa Sul- americana, a leste, e a Placa de Nazca, a oeste. A fronteira entre a Placa de Nazca e a Placa Sul-Americana é marcada pela Trincheira Peru-Chile, localizada entre 140 km e 180 km a oeste da costa peruana. A borda ocidental da Placa sul-americana caracteriza- se pela sua estreita planície costeira, pelas montanhas da Cordilheira Oriental e Ocidental, bem como pelas falhas e dobras que delimitam os Andes, entre Peru e o norte do Chile.

Em nível regional, o empreendimento minerário está localizado na parte sul da bacia do Sechura, cuja base das rochas corresponde aos períodos inferiores, Pré-cambriano e Paleozóico, sujeitos ao contínuo aprofundamento durante o Cenozóico e a uma ascensão contínua do Neogeno até o presente. Para o oeste, a Mina de Bayóvar é delimitada pelo Cerro Illescas (montanhas), que é um remanescente da Cordilheira da Costa, e, a leste, pelos contrafortes do flanco ocidental dos Andes (INGEMMET, 1980).

A bacia de Sechura é preenchida por uma espessa sequência de sedimentos marinhos, em camadas, incluindo fosforita, diatomita, arenito, xisto e tufo vulcânico, variando em idades compreendidas entre o Eoceno (56,0 a 33.90 Ma), na base, e o Plioceno (5.33 a 2.58 Ma), na bacia superior (Golder Associates, 2016).

A litoestratigrafia regional inclui ainda afloramentos de rochas metamórficas e ígneas, situadas no Cerro Illescas. As rochas metamórficas consistem de gnaisses e tonalitos, do período Pré-cambriano, e migmatitos, granitos, xistos, filitos e ardósias, associados ao período Paleozóico Inferior. O conjunto destas rochas é pertencente ao chamado Complexo Basal da Costa.

Em termos de estratigrafia local, as unidades de solo são classificadas como depósitos eólicos, depósitos lacustres e de estuário, depósitos aluviais e os chamados ‘Tablazos Lobitos e Talara’, que são descritos a seguir (Golder Associates, 2007):

 Os depósitos eólicos são formados por dunas do tipo barcanas, longitudinais e transversais. Esses depósitos são compostos por areias de granulometria fina, com grãos arredondados. As dunas avançam na direção sul-norte,

podendo chegar a 5 km de comprimento. Os depósititos compreendem a Duna Gigante, localizada nas proximidades da Mina de Bayóvar.

 Os depósitos lacustres e de estuário consistem de areais e argilas limpas laminadas, intercaladas com finas camadas.

 Os depósitos aluviais compreendem conglomerados não consolidados de formas subangulares, quartzo, quartzitos, rochas metamórficas e rochas intrusivas, em uma matriz de areia quartzo-feldspática. Os principais depósitos deste tipo de formação estão localizados a leste do monte Illescas, entre o principal acesso à Mina de Bayóvar e a cidade de Porto Rico.

 O Tablazo Lobitos é composto de pacotes conglomerados, com pouca litificação, em matriz arenosa ou bioclasta. Os conglomerados são de origem variada e de formas subangulosas a subarredondadas, com conteúdo de alguns invertebrados fósseis. Está localizado a sudeste da cidade de Punta Lagunas.

 Já o Tablazo Talara, é uma plataforma sob a forma de uma crosta sedimentar, ligeiramente inclinada para o sudeste, coberta por depósitos de areia. É composto de camadas lenticulares de grãos médios a grossos. Está localizado ao sudoeste da Duna Gigante.

As unidades locais de rocha compreendem o Zócalo Paleozóico e as Formações Verdún, Chira, Montera, Zapallal e Miramar, sinteticamente descritas em sequência (Golder Associates, 2007):

 A formação denominada Zócalo Paleozóico é conformada por uma sequência de terraços similares que, em sua base, é composto por conglomerados avermelhados provenientes do Paleozóico. O conglomerado contém clastos arredondados para subângulos, de diferentes dimensões, em uma matriz esbranquiçada e, na parte superior, arenitos calcáreos dolomíticos.

 A Formação Verdún encontra-se no Paleozóico e está localizada entre os Cerros que delimitam Punta Aguja e Punta Lagunas.

 A Formação Chira compreende uma sequência sedimentar que consiste de arenitos com fósseis, em camadas finas, moderadamente cimentadas e intercaladas com arenitos limoníticos. Esta formação está próxima à cidade de Punta Lagunas e, devido à descontinuidade dos afloramentos, é difícil estimar a espessura da sua sequência.

 A Formação Montera é formada, na base, por arenitos, de grãos médios a grandes, com quartzo ou feldspatos e minerais máficos em uma matriz de argila arenosa. A formação possui ainda intercalações de arenitos esbranquiçados e friáveis e calcários descarbonados, amarelos esbranquiçados, de granulometria fina. Esta formação está localizada a leste do Monte Illescas, região onde os afloramentos atingem cerca de 70 m de altura.

 A Formação Zapallal é o produto de uma sedimentação associada a um processo de subsidência profunda. Nesta formação, é possível observar a distinção de dois membros principais, com diferentes níveis, separados por uma camada de argila. O chamado primeiro membro é composto por 3 níveis, contendo areias e fosfatos em camadas que variam de 20 a 40 cm. O membro superior compreende 5 níveis, com areias fosfóricas e diatomitas finas na base e, na sequência, ainda possui as chamadas diatomitas Incas e Quechua e estéril, além da zona Minerva. A formação avança na região de Bayóvar.

 A Formação Miramar inclui conglomerados aluviais de baixa consolidação, em matriz arenosa, intercalados com camadas lenticulares de arenitos e finas camadas de arenitos laminados, muito friáveis, de baixa cimentação. Esta formação surge ao sul de Bayóvar, concordante com a Formação Zapallal e Tablazo Talara.

As unidades estratigráficas que contém o fosfato ocorrem nos níveis superiores de 135 a 215 m do Mioceno (23,22 a 5,33 Ma), na bacia de Sechura, dentro da Formação Zapallal. O depósito de fosfato de Sechura possui característica sedimentar, também conhecido como depósito de fosfato ascendente, depósito de fosfato estratiforme ou até

mesmo depósito de fosforita. Os depósitos de fosfato sedimentar são de origem bioquímica. A formação destes depósitos ocorre ao longo do tempo geológico, abrangendo desde o Proterozóico (2.500 a 542 Ma) até o presente (Garrison, 1992, citado por Golder Associates, 2016).

Os depósitos de fosfato sedimentar modernos são atualmente formados na costa do Pacífico do Peru, sob condições deposicionais e controles semelhantes que estavam em vigor durante a deposição do Mioceno e a formação do depósito de fosfato Bayóvar (Froelich et al., 1988, citado por Golder Associates, 2016).

As unidades de solo e de rocha descritas são mostradas no mapa geológico local, na Figura 4.41, cuja legenda é destacada na Figura 4.42.

Figura 4.41 – Mapa geológico local da região de localização da Mina de Bayóvar (Adaptado de Golder Associates, 2007)

Figura 4.42 – Legenda relacionada ao mapa geológico apresentado na Figura 4.41 (Adaptado de Golder Associates, 2007)