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DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DO PROJETO INTERDISCIPLINAR

Plano de Ensino de Filosofia

DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DO PROJETO INTERDISCIPLINAR

DETERMINISMO E LIBERDADE180

Profª Daniela Lopes Scarpa - biologia Profª Elaine Mendes da Mota - literatura Profª Marta Vitória de Alencar - filosofia

Etapas de trabalho

Na tentativa de ampliar a visão do aluno sobre questões como determinismo genético, linguagem literária e linguagem científica, existencialismo, buscamos a integração entre as disciplinas Biologia, Filosofia e Literatura. O trabalho com os alunos foi dividido em algumas etapas:

1. Estudo disciplinar dos conceitos envolvidos no projeto

 Biologia: genética e biologia molecular, determinismo genético, visão de ciência;

 Filosofia: projeto, autonomia de escolha, responsabilidade, liberdade em situação.

 Literatura: linguagem literária e linguagem científica, contexto de produção, literatura engajada e crítica social.

2. Leitura do livro Admirável Mundo Novo; com roteiro de leitura (em anexo). 3. Exibição do filme Gattaca.

4. Análise sobre o filme e suas relações com o livro e demais conceitos disciplinares. 5. Levantamento de temas para a avaliação final.

6. Elaboração de dissertação. 180

Fragmento do trabalho apresentado na IV Semana de Educação da FEUSP, 2006. Trata-se de projeto interdisciplinar desenvolvido entre os anos de 2005 e 2008 na EAFEUSP. Conferir a íntegra do trabalho nos Anais da IV Semana de Educação da FEUSP, 2006. SCARPA, Daniela Lopes, MOTA, Elaine Mendes da & ALENCAR, Marta Vitória de. Interdisciplinaridade: a proposição de trabalhos

pedagógicos na tentativa de superar a fragmentação dos saberes. In: IV Semana de Educação – Ensinar e

174 Admirável mundo novo – contextualização da obra literária de Aldous Huxley

O enredo se passa no século VII d. F, o que significa “depois de Ford” ou, às vezes, “depois de Freud”, em referência à produção em série, característica do fordismo. Essa sociedade constitui-se após a Guerra de Nove Anos quando ocorre a destruição do velho mundo para construção do Novo Mundo. Aqueles que não são subjulgados pelo novo sistema são confinados em reservas para os “selvagens”, como eram chamados.

A sociedade do Novo Mundo era dividida em castas, nas quais havia hierarquização das funções, habilidades e desempenho intelectual. Para constituição dessas castas ocorria um processo de controle genético no desenvolvimento embrionário e, ao longo da vida dos indivíduos, um processo de adestramento / condicionamento comportamental a partir de várias estratégias como hipnopedia (repetição de determinados discursos durante o sono), drogas (soma), rituais religiosos, cinema sensitivo, música sintética, aumento da liberdade sexual, exclusão do conceito de família, etc. Essa sociedade tinha como slogan a expressão “comunidade, identidade, estabilidade”. Por meio de todas as estratégias enumeradas, os indivíduos sentiam-se satisfeitos com sua condição previamente planejada. Tal estabilidade individual, com a anulação de qualquer manifestação de subjetividade, garante a estabilidade da comunidade: não há insatisfação, não há questionamentos, sendo, assim, mantida a ordem social do mundo novo. Nesse caso não há identidade individual, mas apenas identidade coletiva.

A trama desenvolve-se por meio de personagens que questionam essa nova ordem. Bernard Marx e Helmholtz Watson pertencem à casta superior, no entanto, por defeitos em sua concepção e desenvolvimento embrionário, não se identificam com os demais indivíduos de seu grupo. O primeiro, por não ter atingido a estatura planejada, sofre preconceito e sente-se excluído. O segundo tem um excesso mental, seu intelecto é mais desenvolvido do que o planejado, o que possibilita um olhar diferenciado sobre a nova ordem. O desfecho desses dois personagens é a exclusão do Mundo Novo, pois não há lugar para seus questionamentos.

Há ainda o conflito de culturas quando um personagem da casta superior, Lenina, em viagem de turismo ao Velho Mundo, conhece o selvagem John. Tal como qualquer outro selvagem – aquele que não sofreu nenhum tipo de adestramento - , John guarda valores do velho mundo: família, desejos, paixões, enfim, tudo aquilo que remete à subjetividade. Nesse contato, há o conflito entre a instabilidade e a

175 estabilidade, entre a objetividade do novo mundo e a subjetividade do velho mundo, o que não permite a esses personagens o entendimento mútuo. John também questiona os valores do velho e do novo mundo utilizando-se do discurso poético de Shakespeare levando ao extremo as questões existenciais e do sujeito. O desfecho para esse personagem é a impossibilidade de sua permanência tanto no Novo Mundo quanto na Reserva dos Selvagens, não há lugar para a sua subjetividade.

A obra foi produzida em 1932, na Inglaterra, período entre guerras e de crescimento dos regimes totalitários na Europa. Além disso, é nessa década que os trabalhos de Mendel sobre genética são redescobertos, o que incentiva novas pesquisas nessa área. Aldous Huxley utiliza-se de todos esses ingredientes para criar uma trama que serve ao mesmo tempo de crítica ao totalitarismo e alerta ao uso que se faz do conhecimento científico.

Gattaca

“O mundo de Gattaca é completamente totalitário. A engenharia genética faz pessoas melhores, mais bonitas, mais inteligentes, mais desejáveis; mas, qual o preço que estamos pagando por isso?”

O filme inicia-se com essas palavras, alertando para o tema e os questionamentos que o enredo trará. Na sociedade fictícia apresentada, prefere-se a concepção planejada dos indivíduos, com a escolha de características desejadas e acréscimo de novas qualidades; a esses indivíduos é reservado o melhor lugar e as melhores funções sociais. Àqueles concebidos “à moda antiga”, os chamados “filhos de deus” ou “inválidos”, restam apenas funções consideradas inferiores, não valorizadas, operacionais. O protagonista, Vincent Freeman, apesar de gerado naturalmente, e talvez por isso mesmo, não aceita o determinismo social que essa posição lhe impôs e deseja mostrar que é possível atingir seus objetivos, quais sejam, tornar-se um astronauta e viajar para uma das luas de Saturno. Para tanto, Vincent toma emprestada a identidade biológica de outro jovem, “válido”, com constituição genética perfeita, mas paraplégico – Jerome Eugene Morrow. Para isso, todos os vestígios de sua identidade biológica eram removidos, eliminados, e substituídos por provas de sua nova identidade: diariamente sua pele e pêlos eram raspados, amostras da urina e do sangue de Jerome eram armazenados sob suas roupas, uma cirurgia para aumentar sua estatura foi

176 realizada, os óculos foram substituídos por lentes. Somente assim, Vincent consegue ingressar em Gattaca, instituição na qual formam-se astronautas e planejam-se vôos para outros planetas e satélites. Sua missão é ameaçada quando ocorre o assassinato de um dos diretores e os investigadores, através de apenas um cílio, descobrem que há um inválido naquele espaço, sendo este o principal suspeito. Apesar de todas as suas fotografias estarem espalhadas por Gattaca, ninguém as associava com Vincent / Jerome: nenhum válido teria propensão à violência, por isso ele jamais seria suspeito nessa nova identidade. Entra em cena Anton Freeman, investigador de polícia, e irmão planejado de Vincent, que desconfia da dupla identidade do irmão e quer provar que este é um falso alpinista. No entanto, descobre-se que o assassino é outro diretor de Gattaca, que, apesar de válido, não quer que nada impeça a realização da missão.

Em Gattaca Vincent conhece Irene, personagem que, apesar de planejada, possui um pequeno problema no coração. Os dois se apaixonam e se aceitam mesmo com características genéticas não controladas.

Análise das obras

O filme e a livro de Aldous Huxley possibilitam muitos temas para discussão. Um deles é muito evidente: a questão ética nos leva a refletir se é possível e se temos o direito de interferir eugenicamente na constituição genética de um ser humano. Para a Biologia, o papel da genética é probabilístico na constituição de um ser. Muitos fatores estão relacionados na interação entre o genético e o ambiental, cujo resultado será um indivíduo único, o que torna o processo extremamente complexo e não passível de previsão absoluta. Tanto o livro quanto o filme apresentam personagens que fogem ao planejamento inicial demonstrando o quanto é difícil controlar o processo genético. A obra de Aldous Huxley foi escrita em um período no qual o mito do poder do controle genético começa a emergir. O filme de Andrew Niccol, lançado em 1997, foi criado em uma época cuja interferência humana no material genético já é realizada. As duas obras alertam para as possibilidades de uso desse conhecimento questionando os valores envolvidos nas escolhas políticas e suas possíveis conseqüências. No livro, o desfecho dos personagens mostra que não há lugar para a diferença, aqueles que não se encaixam são banidos daquela ordem social, não há espaço para a subjetividade. Por outro lado, no filme, os personagens conseguem, de alguma maneira, escapar das imposições

177 sociais superando os limites do suposto determinismo genético por conta de sua dedicação e esforço.

Outra questão evidente é a identidade, tratada nas duas obras sob perspectivas bem diversas. O protagonista do filme adquire diversas identidades (genética, ambiental e a que toma emprestada de Jerome Eugene) em busca da realização de seu desejo. Há várias situações no filme que colocam claramente os processos de mudança de identidade revelando as ambigüidades quando pensamos na identidade como um caráter estável de cada um. Os personagens do livro não têm a possibilidade de construir uma identidade subjetiva, múltipla, individual e sujeita a transformações. A única alternativa é a identidade coletiva, cada indivíduo na sua casta, sendo controlados o tempo todo por diversos mecanismos. Nesse aspecto, o autor critica os regimes totalitários que anulam o sujeito.

Veiga-Neto (2003) prefere desenvolver dois outros temas a partir do filme, o que acreditamos ser possível estender à obra literária. Um deles é a busca da ordem. É recorrente, ao longo do filme, o contraste entre o mundo extremamente ordenado de

Gattaca e a desordem de um mundo não-Gattaca. As cenas apresentam a instituição

como um lugar limpo, extremamente ordenado. As faxinas que Vincent impõe à sua pele podem ser entendidas tanto como tentativas de evitar deixar vestígios de sua identidade biológica, como exercícios de apagamento de sua identidade cultural. Se a pele é a superfície de inscrição da nossa história, ela é também o limite entre o eu e o outro. Isso leva a questão da ordem na modernidade como classificação, ou as coisas pertencem ou não pertencem àquele lugar. Classificar também é uma atribuição da sociedade no Mundo Novo, a identidade de cada um é marcada pelos padrões de ordenamento e controle das castas predeterminadas. Assim temos, tanto no livro quanto no filme, uma conexão entre ordem (enquanto estabilidade) no tempo e no espaço dando a sensação de segurança para os seus agentes, já que o futuro é uma repetição do passado, ou muda de modo previsível e controlável.

O segundo tema apontado pelo autor é o lugar como espaço físico ou simbólico (identidades). Gattaca assume a anisotropia do mundo ao mostrar o desnível entre o piso inferior e superior da casa de Jerome. Separado do piso superior por uma escada helicoidal (em referência à molécula de DNA), o piso inferior é o lugar onde Jerome empresta sua identidade a Vincent e oculta o seu real estado. Há uma cena em que o personagem deve mostrar-se para o investigador, o que só pode ocorrer no piso superior. Essa capacidade de mobilização é uma característica da modernidade e está

178 relacionada às principais ferramentas de dominação e poder (Veiga-Neto, 2003). Dessa forma, aqueles que não têm essa capacidade de mudar de lugar, são excluídos. Contra esse caráter excludente da modernidade, Jerome e Vincent tentam transpor esses limites. Aquilo que está colocado não determina a escolha individual. O preço da escolha para Jerome é o forno, enquanto que para Vincent a escolha supõe distanciar-se de Irene. Tanto um quanto outro mudam de lugar. No caso do livro, a partir do momento em que o selvagem John muda de lugar – desloca-se do velho para o novo mundo – não é mais possível retornar à reserva. Ao mesmo tempo, ele não pode ocupar um lugar no novo mundo pois não se identifica com seus valores. A escolha é o suicídio.

179

ANEXO 7

180

MAPA CONCEITUAL Primeira Meditação, Descartes.

Primeiro Parágrafo - Turma A

MAPA CONCEITUAL Primeira Meditação, Descartes.

181

182

183

184

MODELO DE FICHAMENTO181

TEXTO DE ESTUDO: Primeira Meditação, Descartes.

185

ANEXO 8

TEXTO DE ESTUDO: Tratado sobre o conhecimento humano, Berkeley.182

186

TEXTO DE ESTUDO DE ALUNO DO 3º ANO DO EM DE 2011183

187

ANEXO 9

RELATO DOS ALUNOS DO 1º ANO DO EM DE 2011

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