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3.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO

4.1.3 Descrição de perfis e trajetórias – CLP-CD

Filho e neto de políticos eminentes do estado de Minas Gerais, Aécio Neves projetou- se politicamente a partir do prestígio de sua família e do acesso a espaços institucionais que teve em virtude disso. Formou-se em economia em 1984. Iniciou sua carreira assumindo cargo de secretário particular de seu avô, Tancredo Neves – então Governador de Minas Gerais –. Em 1986, na primeira eleição que disputou, foi eleito deputado federal. Cargo que, a partir daí, exerceu por quatro mandatos consecutivos, até 2002, quando foi eleito Governador de Minas Gerais. Reelegeu-se para o governo do estado em 2006. Nessa trajetória, foi filiado ao PMDB e é filiado ao PSDB desde 1989. Sua carreira política não está associada à participação em movimentos sociais, em entidades da sociedade civil ou qualquer outro canal político que não o canal familiar e o ingresso no sistema representativo-eleitoral. Seu ingresso na sociedade política não se origina, portanto, de uma atuação prévia nas movimentações sociais e populares das quais se originam muitos dos que se projetaram na cena pública nos anos 80. Esteve entre segmentos políticos que compuseram o grande guarda-chuva de projetos políticos que foi a luta pela redemocratização, mas não pode ser identificado entre os integrantes daqueles segmentos mais ligados à articulação com a sociedade civil, entendida em seu, então, predominante viés “movimentalista” e vinculado à construção de “projeto democrático-popular”50. Atualmente exerce o cargo de Governador do estado de Minas Gerais pelo segundo mandato consecutivo (2007-2011).

Em sua atuação como parlamentar, participou da Constituinte ainda no PMDB. No PSDB, foi líder de seu partido de fevereiro de 1997 até se tornar presidente da Casa, em fevereiro de 2001. Ao longo de seus três mandatos pós-Constituinte, apresentou 18 proposições legislativas51, dentre as quais uma com temas conexos à participação política: o PDC 580 de 1997, que “convoca plebiscito sobre assembléia nacional constituinte revisora a ser instalada em primeiro de fevereiro de 1999”. O plebiscito era para “ser votado pelo eleitorado que comparecera as urnas nas eleições do dia 04 de outubro de 1998”.

Em sua gestão como presidente da Câmara dos Deputados conseguiu levar a frente uma agenda política voltada para a moralização da política e para a aproximação da Câmara com a sociedade. Nesse sentido, em sua gestão foi reformulado o instituto da imunidade parlamentar, dificultando o uso do mandato como forma de se manter impune a crimes que

50 Expressão utilizada por Feltran (2006) na descrição de trajetórias que faz.

51 Especificamente na análise das trajetórias, consideramos proposições legislativas somente Projetos de Decreto Legislativo, Propostas de Emendas à Constituição, Projetos de Lei, Projetos de Lei Complementar e Projetos de Resolução da CD.

não tem relação com exercício da função política. Fomentou a criação do Código de Ética e Decoro e do Conselho de Ética da Casa. Contribuiu significativamente para a criação da Ouvidoria Parlamentar e da CLP-CD. Nos dezesseis anos que esteve na Câmara dos Deputados podemos dizer que Aécio Neves ocupou espaços de grande influência no Legislativo Federal e, assim como em sua trajetória de modo geral, não teve uma atuação pautada por iniciativas no sentido de materializar ou criar novos espaços de interlocução entre Estado e sociedade. Mas, a partir de sua eleição como presidente da Câmara dos Deputados, trouxe para agenda institucional da Casa projetos de aproximação entre sociedade e Legislativo.

Luiza Erundina

A deputada federal Luiza Erundina tem uma extensa biografia política que se inicia na década de 1960 em Campina Grande, Paraíba, na “institucionalidade”, como Secretária Municipal de Educação. Formou-se em Serviço Social em 1966. Até 1971, trabalhou em áreas da administração pública e lecionou no meio acadêmico, quando então emigrou para São Paulo devido à perseguição que sofreu por parte da ditadura em virtude de sua atuação nas Ligas Camponesas. Em São Paulo, ficou reconhecida por sua atuação em movimentos urbanos de reivindicação de direitos nas décadas de 70 e 80. Luiza Erundina atuou nos movimentos de transporte alternativo (Doimo, 1995), no movimento por moradia, exerceu cargos e participou da fundação de organizações não-governamentais como, por exemplo, a Associação Profissional dos Assistentes Sociais de São Paulo. Também atuou na área de assistência social em órgãos governamentais e instituições acadêmicas. Assumiu seu primeiro cargo eletivo no início a década de 80, época em também esteve envolvida com a criação do PT. Foi vereadora (1983-86), deputada estadual (1987-88) e foi eleita prefeita (1989-92) da cidade de São Paulo na primeira onda significativa – mesmo que longe de ser majoritária nas eleições de modo geral – de governos executivos municipais ligados à esquerda renovada representada pelo PT52. Sua gestão como prefeita coincidiu com a época em que a prioridade do programa do PT para a gestão pública era “governar com participação popular”. Assim como em outras cidades, isso implicou a tentativa de criar “conselhos populares”53. No ano

52 A outra capital que compôs essa onda foi Porto Alegre, a partir da qual as experiências de Orçamento Participativo ganharam publicidade nacional e até internacional.

53 Sobre a tentativa de se “viabilizarem os conselhos populares”, Doimo (1995, p.182) diz: “... a prioridade do PT de 'governar com participação popular', nas diversas prefeituras que conquistou em novembro de 1988. A idéia predominante era a de que o Estado burguês deveria ser substituído por uma teia organizada de movimentos populares, a fim de compatibilizar a democracia política (cujos procedimentos seriam definidos pelos próprios movimentos organizados) com a democracia social.”

seguinte ao fim de sua gestão, em 1993, exerceu o cargo de Ministra-Chefe da Secretaria da Administração Federal, no governo Itamar Franco. Ter aceitado o convite para esse cargo implicou grandes desgastes de sua imagem e de seu prestígio dentro do próprio PT. Em seguida, passou alguns anos sem ocupar cargos no Estado. Foi presidente, entre 1993 e 1998, de uma empresa que realiza consultoria, cursos de capacitação e presta serviços oferecendo expertise na área de administração pública – o Instituto Brasileiro de Administração Pública – e, em paralelo, atuou como professora-visitante em universidades. Em 1997 afastou-se do PT, partido ao qual foi filiada desde sua fundação, e ingressou no Partido Socialista Brasileiro. Tornou-se deputada federal em 1999, exercendo atualmente seu terceiro mandato consecutivo (2007-2011).

Em sua atuação como deputada federal exerceu cargos de liderança partidária. No entanto, sua atuação é menos marcada pelas grandes articulações de Plenário e de lideranças partidárias sendo mais voltada ao seu envolvimento com o exercício da fiscalização sobre Poder Executivo e por tentativas de aprofundamento do diálogo entre sociedade civil e Estado. É marcante na análise das proposições que apresenta em sua atuação parlamentar a busca por instituir ou aprofundar mecanismos de participação política mais direta da sociedade junto ao Estado. Das 37 proposições de sua autoria, quatro merecem maior destaque com relação a serem temas conexos à participação política. As duas primeiras são a PEC 2 de 1999 e o PRC 2 de 1999, sobre os quais comentamos precedentemente neste capítulo. A terceira é o PL 4483 de 2008, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação prevendo “a instituição de conselhos de escola e de conselhos de representantes dos conselhos de escola”. A quarta proposição é o PL 3392 de 2000, que adiciona a participação de determinadas entidades da sociedade – OAB, CNBB, ABONG e do Movimento Nacional dos Direitos Humanos e outras – na composição de conselho já previsto em lei – o Conselho Deliberativo Federal que tem a competência de instituir programas de assistência às vitimas e às testemunhas ameaçadas –. Possui destacada atuação na Comissão de Legislação Participativa e, por fim, é também a presidenta da “Frente Parlamentar pela Reforma Política com participação popular”, criada em 2007.