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3.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO

4.1.2 O contexto: da formulação à viabilidade da idéia

Antes do aparecimento da idéia de se criar uma comissão permanente para acolher sugestões de proposições oriundas da sociedade, a constatação da ineficácia histórica do mecanismo da Iniciativa Popular já havia levado a outras propostas a fim de remediá-la.

No sentido de revitalizar os mecanismos já existentes, uma importante idéia que se destaca é a da deputada federal Luiza Erundina, que foi a autora44 da Proposta de Emenda Constitucional 2 de 1999. Esta proposição visava reduzir os requisitos para a apresentação de lei de Iniciativa Popular. Propunha não só reduzir à metade o número de assinaturas exigidas, mas também sugeria que confederações sindicais, entidades de classe ou associações que representassem o número exigido de assinaturas pudessem apresentar projetos de Iniciativa Popular45 (Santos et al., 2001). Além dessa idéia, Santos et al. (2001) elencam algumas propostas já apresentadas:

Outras sugestões como o envolvimento das urnas eletrônicas dos tribunais eleitorais na coleta de assinaturas, bem como a utilização do horário eleitoral gratuito de rádio e tv na divulgação das propostas legislativas devem ser consideradas como importantes passos na busca da revitalização e do esperado sucesso da Iniciativa Popular de Leis como mecanismo de participação direta da sociedade no processo político decisório. (Santos et al., 2001, p.27)

No entanto, num sentido alternativo, a estratégia que se concretizou foi por meio da criação de um novo canal de participação e não da revitalização do mecanismo constitucional da Iniciativa Popular. Um certo anseio por novos mecanismos de participação vinha se processando não só entre alguns setores da sociedade política, mas principalmente entre atores do âmbito societal. A definição, no entanto, de qual seria esse novo mecanismo apresenta fortes indícios de ter surgido “de cima para baixo”, no contexto relativo à campanha eleitoral de Aécio Neves para a Presidência da Câmara dos Deputados (Silva, 2006).

É difícil identificar o momento preciso de formulação da idéia da CLP-CD, mas os

44 Uma Proposta de Emenda Constitucional depende da assinatura de vários parlamentares a fim de poder ser apresentada. O primeiro signatário é considerado o autor principal da proposta.

45 Em conjunto com a PEC 2/1999, a deputada federal Luiza Erundina também apresentou um Projeto de Resolução que visava alterar o Regimento Interno da Câmara dos Deputados adaptando-o seu texto à Constituição caso sua PEC fosse aprovada. Até 10 de janeiro de 2009, a PEC da deputada ainda aguardava a criação de Comissão Especial para debatê-la.

primeiros vestígios de aparição pública da idéia estão nesse momento eleitoral. Na campanha de Aécio Neves atribuía-se o nome de Comissão de Petições à proposta. Em artigo assinado por esse parlamentar, publicado no jornal Correio Braziliense um dia antes das eleições à Presidência da Câmara dos Deputados, essa proposta aparece bastante clara:

Quero e vou, se eleito, intensificar seus contatos com as organizações sociais. Quero e vou estabelecer com a sociedade organizada relação de contínua e rotineira reciprocidade, de forma a que nosso povo, mais do que representado, se sinta parte atuante do processo legislativo.

Tenho, entre os pontos principais do meu programa, a criação da Comissão de Petições — a 17ª comissão permanente. Ela será a porta de entrada para todos os que queiram apresentar sugestões, propostas ao Legislativo. Se viáveis, serão transformadas em projetos de lei. Se aprovadas pelo plenário, em leis.

(Artigo de autoria Aécio Neves publicado no Correio Braziliense de 12/02/2001)

A proposta de criação da CLP-CD foi primeiramente levada à tona nas eleições para Presidente da Câmara. Aécio Neves era o candidato do bloco majoritário da Casa e, portanto, tinha uma vitória quase assegurada. No entanto, entre seus adversários, cabe ressaltarmos o candidato petista Aloizio Mercadante. É marcante o fato de que se comparada a plataforma de campanha eleitoral de Aécio Neves em relação à do candidato petista, o tucano apresentava um programa mais voltado para a moralização da atividade legislativa e aproximação da Câmara com a sociedade. O petista, por sua vez, do qual pela trajetória do partido poderia se esperar uma maior vinculação às pautas precedentes, sustentava uma plataforma mais voltada à busca de uma reação política do Poder Legislativo frente à sua falta de autonomia em relação ao Poder Executivo46.

Tendo Aécio sido eleito, pouco mais de três meses depois de sua posse o Projeto de Resolução que criava a Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados era aprovado em Plenário. Essa aprovação ocorreu sem grandes resistências visíveis no momento de votação, tendo sido deliberada por votação simbólica e com duas falas favoráveis ao projeto e uma contrária47. Mais do que isso, a autoria do projeto foi assumida pela Mesa Diretora e sua votação foi viabilizada pela apresentação e aprovação de um requerimento de

46 Tal fato obviamente relaciona-se não só aos programas políticos pessoais e partidários dos dois, mas também à

sua posição em relação ao Poder Executivo. Enquanto parlamentar de oposição ao Governo federal Aloizio Mercadante enfatizava a ingerência do governo Fernando Henrique no Legislativo.

47 As falas favoráveis foram dos deputados Luiza Erundina (PSB/SP) e Fernando Coruja (PDT/SC). A fala contrária foi do deputado Gerson Peres (PPB/PA).

urgência assinado por diversas lideranças de bancada48. Com isso, percebe-se que a proposta rapidamente galgou espaço nas esferas mais determinantes de tomada de decisões na Casa e foi assumida por uma convergência bastante heterogênea e suprapartidária, numa Câmara em que os três maiores partidos – nenhum de esquerda – representavam quase a metade dos 513 parlamentares.

Do contexto que possibilitou seu surgimento cabe ressaltar alguns aspectos bastante importantes. A proposta obteve grande êxito não só por ter sido aprovada sem alterações em seu mérito, mas por ter sido aprovada com grande rapidez. O fato de não ter havido resistência de Plenário não indica que não existiam resistências à proposta. As resistências no espaço do Poder Legislativo constroem-se em grande medida por meio da “não-decisão” (Queiroz, 2006). Isso quer dizer que antes de discursos ou declarações de voto contrário, existem uma série de mecanismo formais e informais para se fazer com que uma proposição desapareça entre os labirintos do processo legislativo e se oculte entre as milhares de outras proposições que tramitam na Casa. Ter recebido requerimento de urgência, ter sido esse requerimento rapidamente levado à pauta do Plenário e ter sido a matéria votada em seguida da aprovação de seu requerimento de urgência, constituem três fatos que denotam a poderosa – não necessariamente numerosa – articulação que houve por trás da aprovação da matéria. Essa articulação rapidamente nos leva ao protagonismo de um ator – o presidente da Casa, Aécio Neves – e ao consentimento de outros atores que não necessariamente concordavam com o mérito da matéria, mas provavelmente colocaram interesses em jogo nessa aprovação – o Colégio de Líderes –.

De sua aprovação em Plenário em 30 de maio a sua instalação em agosto e subseqüente funcionamento, outro nome se destaca bastante: a deputada federal Luiza Erundina. À sua atuação pode-se atribuir uma parte importante do trabalho de estruturação e consolidação da comissão. A deputada assumiu a Presidência da Comissão ao longo de seus primeiros meses de funcionamento, de agosto de 2001 a fevereiro de 2002. Além disso, é indubitavelmente a parlamentar que mais atuou ao longo de seus anos de existência, tendo composto o quadro de membros da comissão durante todas as oito sessões legislativas nas quais a CLP-CD existiu até hoje49.

48 As seguintes bancadas, mediante seus Líderes, assinaram o requerimento: PMDB, Bloco PFL/PST, Bloco PSDB/PTB, Bloco PL/PSL e Bloco PDT/PPS.

49 Luiza Erundina foi titular da CLP-CD em sete sessões legislativas tendo sido uma vez presidente da comissão e duas vezes 3ª vice-presidente. Somente em 2004, a deputada federal exerceu o cargo de suplente na CLP-CD tendo mesmo assim comparecido a praticamente todas as reuniões da comissão.

4.1.3 Descrição de perfis e trajetórias – CLP-CD