• Nenhum resultado encontrado

DESCRIÇÃO DO TIPO DE PESQUISA

2 A INCLUSÃO EM CONTEXTO EDUCATIVO

4.1 DESCRIÇÃO DO TIPO DE PESQUISA

Com o propósito de alcançar os objetivos formulados para o estudo, no que se refere ao plano metodológico, trabalhou-se com uma proposta de natureza qualitativa para proceder a recolha das informações necessárias para responder à questão do estudo, tendo em atenção as variáveis consideradas relevantes na análise da formação inicial docente para a Educação Inclusiva. No âmbito da investigação qualitativa, o objetivo é compreender os sujeitos com base nos seus pontos de vista, buscando-se, para tanto, diferentes maneiras e diversificados instrumentos de coletas de dados, a exemplo das entrevistas, tal como se procedeu neste estudo. Desse modo, a escolha do método qualitativo se explica pelo caráter exploratório desta abordagem, que estimula os participantes a pensarem livremente sobre o tema, objeto ou conceito.

Para essa escolha, teve-se por sustentáculo o aporte teórico descrito pelos investigadores Bogdan e Biklen (2000, p. 49), segundo os quais:

[...] a abordagem da investigação qualitativa exige que o mundo seja examinado com a ideia de que nada é trivial, que tudo tem potencial para constituir uma pista, que nos permita estabelecer uma compreensão mais esclarecedora do nosso objeto de estudo.

As pesquisas de natureza qualitativa envolvem uma variedade de materiais empíricos, podendo assumir a forma de estudos de caso, de experiências pessoais, histórias de vida, relatos de introspecções, produções e artefatos culturais, interações, que descrevam a rotina e os significados da vida humana. Assim, diante do que se precisava investigar, optou-se pelo estudo de caso que, segundo Bogdan e Biklen (2010, p. 89), “consiste na observação detalhada de um contexto, ou indivíduo, de uma única fonte de documentos ou de um acontecimento específico”. O estudo de caso permite conhecer, em profundidade, as atitudes, as crenças e os comportamentos, incidindo sobre uma organização específica ao longo de um determinado período de tempo, podendo assumir, em sua realização, uma grande diversidade de formas e objetivos (TRIVIÑOS, 2006).

Na perspectiva das abordagens qualitativas e no contexto das situações escolares, os estudos de caso possibilitam reconstruir os processos de relações que representam a experiência escolar diária. Nesse sentido, André (2005, p. 51-52) enumera as diversas situações em que o estudo de caso pode ser utilizado como estratégica metodológica:

1) Quando se está numa instância particular, numa determinada instituição, numa pessoa ou num específico programa ou currículo: 2) quando se deseja conhecer profundamente esta instância particular em sua complexidade e em sua totalidade; 3) quando se estiver mais interessado no que está ocorrendo e no como está ocorrendo do que em seus resultados; 4) quando se busca novas hipóteses teóricas, novas relações, novos conceitos sobre determinado fenômeno; e 5) quando se quer retratar o dinamismo de uma situação numa forma próxima do seu acontecer real.

Como suporte para melhor compreensão do ambiente escolar, no conjunto de métodos empregados na condução da pesquisa, adotou-se a abordagem do Método Fenomenológico, sistema ligado a Edmund Husserl, a quem se deve sua elaboração no fim do século XIX, na Alemanha. A palavra fenomenologia tem sua origem na junção das palavras gregas phainomenon (o que se mostra, o que se manifesta) e logos (discurso, ciência). Portanto, etimologicamente, fenomenologia significa o estudo ou a ciência do fenômeno (PEIXOTO, 2011), surgindo como uma Filosofia interessada em estudar os procedimentos conscientes dependentes de objetivos universais, tais como aqueles existentes na Matemática e na Lógica.

No âmbito dos estudos filosóficos, o Método Fenomenológico se apresenta mais como doutrina do que como procedimento de investigação, razão pela qual uma questão a ser resolvida é até que ponto esse Método na Filosofia é o mesmo que foi transportado para a pesquisa. Nessa discussão, Moreira (2002) é de opinião que o Método Fenomenológico não

tem um significado ou uma utilização muito rígida, entendendo-o como um procedimento de investigação organizado que resulte na obtenção de resultados válidos.

Em seu primeiro sentido, o Método Fenomenológico significa, pois, um conjunto de princípios que dá fundamento à fenomenologia, buscando realidades, não como individualidades singulares, mas procurando entender a essência de cada indivíduo envolvido na pesquisa para caracterizar, da melhor maneira possível, o que permeia o seu pensamento e suas atitudes, tendo em mente que “nem todas as coisas são imediatamente compreensíveis” (ALES BELLO, 2006, p. 23).

No Brasil, os procedimentos de análise qualitativa com uma abordagem fenomenológica foram desenvolvidos a partir da década de 80, pelo professor Joel Marins, trabalhando com o que faz sentido para o interlocutor, com o fenômeno posto em suspensão, como percebido e manifesto pela linguagem, com o significativo e relevante no contexto no qual a percepção e manifestação ocorrem (BICUDO, 2000). De acordo com essa concepção, o Método Fenomenológico procura ver os fatos como se mostram para caracterizar o ser em sua unidade essencial e básica.

Portanto, para fazer uso dessa possibilidade metodológica, buscou-se saber a preocupação central da fenomenologia husserliana que é de erigir uma filosofia atrelada aos dados imediatos e inegáveis para, posteriormente, utilizá-los como embasamento para a construção de teorias. Como lema, tem-se o “retorno às próprias coisas”, isto é, “buscar coisas manifestas, fenômenos tão evidentes que não possam ser negados” (REALE, 2007, p. 554). A fenomenologia, como base útil à educação devido ao seu foco na consciência humana, na vivência de situações sociais durante todo o processo de pesquisa, consegue capturar a essência da experiência humana e sua interação com os ambientes.

De acordo com Bogdan e Biklen (2010), a investigação fenomelógica começa com o silêncio, na tentativa de captar aquilo que se estuda, buscando penetrar no mundo conceptual dos seus sujeitos com o objetivo de compreender como e qual o significado que constroem para os acontecimentos das suas vidas cotidianas. Prosseguem os autores afirmando que:

Os fenomenologistas acreditam que temos à nossa disposição múltiplas formas de interpretar as exepriências, em função das interações com os outros e que a realidade não é mais do que o significado das nossas experiências. Consequentemente, a realidade é socialmente construída (BOGDAN; BIKLEN, 2010, p. 54).

Nesse sentido, para Buffon, Martins e Neves (2017), a construção do Método Fenomenológico se dá em três etapas, que são: redução, descrição e interpretação. Os autores

definem a descrição como o ato de enumerar aqueles aspectos que são imprescindíveis para se ficar conhecendo que fenômeno é este que se está investigando. No tocante à redução, é a etapa que diz respeito a um modo peculiar de prestar atenção, de ir ao fenômeno, enquanto a interpretação se constitui no caminho que, embora trabalhoso, é, sem dúvida, o mais seguro para que a verdade se desvele.

Segundo Bueno (2003), a fenomenologia institui um processo de naturalização da investigação científica que, sem negar a razão, restitui-lhe a dimensão crítica e humanizadora, procurando a essência do fenômeno para obter respostas claras e significativas. Com isso, a fenomenologia pensa a realidade de modo rigoroso e não exato, tornando-se uma referência importante para a formação de professores, uma vez que irá à essência do fenômeno educacional.