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CAPÍTULO III: Juventude, Risco e Educação: Os Referenciais Normativos

3.1 Procedimentos Metodológicos e Caracterização do Campo de Pesquisa

3.1.3 Descrição dos Jovens

Jovem A: trata-se de uma jovem egressa do ProJovem Original, no seu primeiro ano, versão Piloto realizado no bairro do Ibura. A jovem mora na comunidade dos Milagres no Ibura, tem 28 anos, é casada e tem dois filhos. A jovem engravidou aos 15 anos e parou de estudar aos 16, por causa do nascimento do filho. No período da entrevista (dezembro de 2008), ela não estava estudando e nem pretendia voltar para escola. A entrevista foi feita na sala da sua casa, onde ela mora com um dos filhos e seu companheiro. A pesquisadora não possuía nenhum vínculo anterior com essa jovem, tendo sido apresentada a ela no mesmo dia da conversa. Contudo, esse fato não atrapalhou a fluência do diálogo. No decorrer da entrevista, contudo, a jovem mostrou- se bastante desesperançosa com as possibilidades de realizar seus desejos, principalmente no que diz respeito aos estudos e ao trabalho: “Eu to parada, eu to parada no tempo. A única coisa que eu vejo é os anos passando e a gente na mesma (...) como assim? se eu vou ter uma profissão? Eu acho que... acho que mais não. Eu vou deixar isso agora pros meus filhos”.

Jovem B: Egressa do ProJovem Piloto do bairro do Ibura, B. tem 27 anos de idade, é casada e tem um filho. Parou de estudar antes de concluir a sétima série por problemas de saúde. Cresceu no bairro da Macaxeira, mudando-se posteriormente para o Ibura. A jovem sempre morou com a tia e seus oito (08) primos. Segunda ela, sua tia é a referência central de sua vida: “é ela quem me move para buscar meus objetivos”. Até a data da entrevista ela estava freqüentando um programa de aceleração educacional do ensino médio denominado Travessia. A pesquisadora já tinha um vínculo estabelecido com essa jovem construído durante a realização do ProJovem Piloto. As duas conviveram também como colegas de trabalho no Geraldão. A entrevista ocorreu numa das salas do Geraldão que, até a data da entrevista, era o lugar de trabalho da jovem. O diálogo foi interrompido algumas vezes para que a jovem pudesse responder às tarefas do seu trabalho, contudo isso não chegou a comprometer a nossa conversa.

Jovem C: Egresso do sexo masculino, solteiro, C. não tem filhos. Ele também fez parte do Projeto Piloto no bairro do Ibura. Ele cresceu e até o dia da entrevista morava na comunidade de Três Carneiros – Ibura, numa casa considerada como um sítio. Disse ter parado de estudar porque achava que a escola tinha uma “energia negativa. Parei por isso, parei porque eu quis”. A entrevista também aconteceu no Geraldão, lugar onde o jovem trabalhava como educador de skate. Ele já mantinha uma relação de amizade com a pesquisadora, o que facilitou bastante sua disponibilidade para falar, gerando inclusive um fato curioso: em alguns momentos da entrevista, ele devolvia as perguntas para a própria entrevistadora. Ele confessou ter amigos no tráfico de drogas e conhecer jovens envolvidos com roubo, mas disse que isso não interferia na sua maneira de se relacionar com eles e na sua prática de educador social. O jovem, até a data da entrevista, também estava matriculado no Programa Travessia, mas ainda não havia começado a estudar. Ele declarou que pretendia entrar na universidade e cursar ciências sociais.

Jovem D: Egressa da última turma do Projovem Original, no bairro de Santo Amaro, durante os anos de 2007-2008. D. é moradora do bairro de Santo Amaro, tem 21 anos de idade e é solteira. Aos 16 anos engravidou, foi reprovada na escola e por isso parou de estudar: “Eu tinha vergonha de ir pra escola”, afirma. Ela se queixou bastante da sua infância e adolescência, alegando que se sentia muito presa: “Minha infância foi meio apertadinha, que eu só vivia presa... era da escola pra casa, se eu saísse o pau comia”. Por isso, confessou que fugia de casa para poder fazer as coisas que gostava. A entrevista foi feita no terraço da sua casa, o lugar estava bastante barulhento, pois ficava perto da avenida principal onde passavam muitos carros. Percebemos que a jovem estava envergonhada durante a conversa, talvez pelo fato de não conhecer a pesquisadora. Um aspecto marcante dessa entrevista foram suas declarações de que foi bom ter passado pelo ProJovem porque ela “aprendeu a ficar em casa”. Até o dia da entrevista, ela afirmou que estava tendo dificuldades de se matricular no ensino médio por falta da documentação necessária.

Jovem E: Egresso também da última turma do Projovem Original em Santo Amaro. O jovem disse ter crescido e morava até o período da entrevista no mesmo bairro. Ele é casado e tem um (01) filho. É educador de Break (dança de rua e um dos elementos do movimento Hip-Hop) em uma ONG do bairro. E. disse que depois que entrou na ONG precisou viajar e por isso perdia aula, assim, desistiu de estudar. A entrevista foi

realizada na cozinha da sua casa, onde ele mora com sua mãe, sua esposa e sua filha. Era um dia de sábado e todos estavam em casa. O jovem declarou que desde pequeno jogava capoeira e na adolescência conheceu o Break. Essas práticas esportivas proporcionaram a ele o contato com grupos diversos, o que “ampliou minha maneira de ver o mundo”. A entrevistadora já o conhecia, mas não tinha estabelecido com ele uma relação mais próxima. Até a data da entrevista, o jovem estava trabalhando como educador social de Break pelo Programa Pronasci 43.

Jovem F: Egresso do Projovem Original 2007-2008, do bairro de Santo Amaro, F. é morador desse mesmo bairro e disse que desde pequeno participa do grupo de jovens da igreja. Gosta de tocar violão e até a data da entrevista trabalhava como voluntário de uma associação de apoio a crianças e adolescentes no bairro. A mesma instituição onde o jovem passou dez (10) anos da sua infância e adolescência participando de diferentes atividades sócio-educativas. O jovem disse que parou de estudar por “influência dos outros e porque tinha saído da igreja”. A entrevistadora não conhecia o jovem, tendo sido apresentada a ele no mesmo dia da entrevista. A entrevista foi feita na sala da sua casa. Ele se mostrou bastante disponível para falar, parecia que estava gostando da situação, como se estivesse se sentindo valorizado. Ao final da entrevista ele declarou que está matriculado no programa de aceleração Travessia.

3.2 Caracterização do Programa Nacional de Inclusão de Jovens: Objetivos e