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3 PERCURSOS METODOLÓGICOS

3.3 Descrição e caracterização do corpus da pesquisa

Esta pesquisa foi realizada com uma turma de alunos do 9º Ano do Ensino Fundamental, composta por 26 adolescentes, com idade entre 14 e 16 anos e todos moradores da área urbana de Cristais Paulista. Com relação à condição socioeconômica, a sala possuía perfil bem heterogêneo, sem apresentar, no entanto, problemas relacionados a carências financeiras. Não havia nessa turma, por exemplo, nenhum aluno(a) cuja família fosse cadastrada no programa Bolsa Família. Trata-se, portanto, de uma turma composta por alunos de diferentes rendas familiares, cuja maioria possui acesso à internet em seus domicílios por meio de computadores e de seus telefones celulares.

As turmas de 9ºs Anos têm, atualmente, seis aulas de português, semanalmente, divididas em cinco aulas de português com uma professora e uma aula de LPT – leitura e produção de texto – com outra professora. Esta pesquisa foi realizada durante as aulas de Leitura e Produção de Texto que acontecem uma vez por semana, portanto, consideramos o tempo muito limitado para a realização de certas atividades, como é o caso da leitura compartilhada em sala de aula. Consideramos esse fator muito negativo e, infelizmente, condicionante para o desinteresse dos alunos por leituras mais extensas. As ausências dos alunos também se constituíram como outro problema, já que aqueles que faltavam perdiam a leitura em grupo e todas as discussões suscitadas pela leitura. É certo que no início das aulas, a continuação da leitura partia da retomada das partes lidas na aula passada e dos principais pontos levantados sobre essas partes, mas não era viável retomar todos os pontos discutidos.

Durante as aulas, por meio de conversas informais, pudemos perceber que um número muito pequeno de alunos haviam lido textos literários diferentes do que estávamos lendo nas aulas. Exatamente quatro garotas sempre comentavam sobre as obras que estavam lendo, geralmente livros da coleção Princesas e do escritor John Green. O restante da sala afirmava somente ler livros que a outra professora de português lia com eles – livros da biblioteca da escola - ou fragmentos de textos literários presentes nos livros didáticos e na apostila.

Para comprovarmos a hipótese de que poucos alunos leem textos literários, procedemos à aplicação de um primeiro questionário com o objetivo de verificar as práticas de leitura dos alunos relacionadas à frequência, aos tipos e gêneros textuais e aos suportes utilizados. Responderam a esse questionário 24 alunos, pois dois estavam ausentes.

Gráfico 6 Frequência de leitura dos alunos sujeitos da pesquisa

Em princípio, os alunos entenderam que a pergunta se referia somente a textos literários, por isso, explicamos que eles deveriam responder com que frequência liam qualquer tipo de texto. A grande maioria afirmou ler diariamente devido à nossa reflexão com eles sobre os diferentes tipos e gêneros textuais que circulam na sociedade e que fazem parte de seu dia- a-dia, como os cartazes espalhados pela escola e pela cidade; o material da apostila e dos livros didáticos que eles utilizam na escola; as redes sociais das quais fazem parte na internet; as mensagens que compartilham através do telefone celular e qualquer outra experiência com o texto escrito, inclusive, naturalmente, os livros de literatura.

Com relação ao tipo de leitura que eles praticam, não tivemos surpresas em constatar que poucos leem textos literários, conforme os dados apontados no gráfico 7 podem demonstrar.

0 5 10 15 20 25

Todos os dias Algumas vezes durante a

semana

Às vezes Raramente Quase Nunca

Núm

ero

de al

unos

Gráfico 7 Tipos e gêneros textuais lidos pelos alunos

É possível notar que o grande campeão na frequência da leitura dos alunos é o

facebook, seguido pelo conteúdo compartilhado no whatsapp e na internet fora das redes

sociais, ou seja, a leitura diária desses alunos acontece no suporte digital. Os textos relacionados à escola, presentes nos livros didáticos, livros da biblioteca e apostila vêm logo em seguida; portanto, vemos que o hábito de leitura dentro do espaço escolar é motivado através das atividades que os professores realizam em suas aulas. Aproximadamente metade da sala afirmou que lê jornais, tanto no suporte impresso quanto no digital e metade dos entrevistados lê revistas no suporte impresso. Revistas digitais e outras redes sociais não são muito do interesse dos alunos.

Uma pergunta que julgamos importante ter feito refere-se à percepção dos alunos em relação a possíveis diferenças da leitura nos suportes digital e impresso. O objetivo era saber se eles tinham consciência de que a leitura no suporte exigia algumas ações que a leitura no suporte impresso não requeria, ou se essas ações eram executadas de forma inconsciente. Ademais, queríamos conhecer as impressões dos alunos ao ler nesses suportes e suas dificuldades.

0 5 10 15 20 25 30

Textos relacionados à escola/material didático Conteúdo do Facebook Conteúdo do WhatsApp Outras redes sociais Sites da internet que não são redes sociais Livros de literatura impressos Livros de literatura presentes em ambientes

digitais

Revistas impressas Revistas presentes em ambientes digitais Jornais impressos Jornais presentes em ambientes digitais

O que cada aluno costuma ler?

Gráfico 8 Possíveis diferenças entre as leituras no suporte impresso e no digital

Apenas 4% dos alunos respondeu que não via diferenças entre as leituras realizadas nos suportes digital e impresso. Por outro lado, 17% destacou somente a materialidade dos suportes e 79% apontou dados positivos em relação à leitura no suporte digital. Vemos que somente dois alunos apontaram para o que estávamos querendo verificar em relação a diferentes ações requeridas no ato da leitura no suporte digital, pois responderam que a compreensão é maior na versão impressa. Sendo assim, entendemos que a maior parte dos alunos navega pelo sistema de hipertextos sem grandes dificuldades.

Podemos observar, a partir da descrição dos dados apresentados nos gráficos 6, 7 e 8, que os alunos participantes da pesquisa leem diariamente textos cujos gêneros não são literários, presentes especialmente no suporte digital. Do mesmo modo, podemos afirmar que esses alunos estão habituados a ler no ciberespaço, navegando por sistemas de hipertextos digitais e manuseando textos multimodais, ou seja, eles estão acostumados ao espaço hipermidiático veiculado pela internet. Esses dados colaboram, ainda, para a ressalva sobre a importância do letramento digital nas aulas, sejam elas de português, história ou matemática, já que a prática do manuseio do suporte digital faz parte da realidade cotidiana desses alunos.