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A partir da análise dos levantamentos estratigráficos de perfis de cutbanks e terraços aluviais foram identificadas 7 fácies sedimentares, as quais revelam a história de deposição dos sedimentos. As fácies identificadas foram divididas em tipos baseados nas estruturas sedimentares, granulometria, mineralogia, textura e presença ou não de conteúdo antropogênico. As fácies A, As, C e Ct são aquelas em que não se identificam estruturas sedimentares. Já as fácies Ar, Ap e G são aquelas nas quais evidenciam-se estruturas sedimentares.

A fácies A, observada na maioria dos perfis levantados (Figura 6.1 e 6.2), caracteriza-se por granulometria areia muito fina a média e apresenta como minerais predominantes o quartzo (que ocorre em pegmatitas graníticas e veios hidrotermais), muscovita (KAl2(Si3Al)O10(OH,F)2), hematita

(Fe2O3) e argilo-minerais. Tal fácies é interpretada como parte da sucessão de depósitos de barras em

pontal, tendo sido gerada provavelmente em regime de fluxo inferior. Conforme discutido por Christofoletti (1981), os depósitos de barras em pontal são formados pela erosão dos sedimentos das margens côncavas, os quais são depositados pelo processo de acresção lateral nas margens convexas dos meandros seguintes.

A fácies As, caracterizada por granulometria areia média a grossa, com evidência de seixos e cascalhos é interpretada como depósito de ambiente de canal ativo, sendo que os minerais predominantes encontrados são quartzo e argilo-minerais. Essa fácies foi identificada nos perfis B02 (Figura 6.1), T04, T07A, T07B, T08 e T09 (Figura 6.2).

A fácies C, interpretada também como depósito de ambiente de canal ativo, foi identificada apenas no perfil T09 (set 282 a 302 cm) (Figura 6.2). Tal fácies é caracterizada pela presença de cascalhos com matacões e pela presença dos seguintes minerais predominantes: quartzo, magnetita, hematita (Fe2O3), feldspato, gibbsita (Al(OH)3), cianita (encontrada geralmente em pegmatitos

metamórficos ou rochas sedimentares ricas em Al) e turmalina.

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Já a fácies Ct, identificada nos perfis B01, T03, T04 e B10 (Figura 6.1 e 6.2), é caracterizada pela presença de cascalhos com matacões estratigraficamente desordenados. Os minerais predominantes nessa fácies são quartzo, magnetita, hematita, feldspato, gibbsita, cianita e turmalina. Tal fácies é interpretada como canal com interferência direta ou indireta de atividades como garimpo ou draga, observadas na região. De acordo com Costa (2007), o excelente selecionamento de grãos grosseiros observado nessa fácies não é esperado a partir de processos naturais em sistemas fluviais. Nesse caso, esse selecionamento teria sido realizado por técnicas rudimentares como a utilização de diques transversais para romper o curso d’água, o que acaba obrigando os sedimentos arrastados a se depositarem, lavando o sedimento mais pesado na bateia ou em carpetes. Além disso, tal selecionamento também pode ser resultante da exploração garimpeira por meio de catas, onde também é realizada a separação de cascalhos. Na região estudada sabe-se que as catas foram intensamente exploradas com utilização de bombas para a retirada dos sedimentos finos e desvios de canal.

A fácies Ar, observada mais frequentemente nos perfis B04, B05 e B06 (Figura 6.1), caracteriza-se por granulometria areia fina a muito fina com laminação cruzada por ripples. Os minerais predominantes encontrados nesta fácies são: quartzo, muscovita, magnetita e argilo-minerais. Tal fácies pode ser interpretada como depósito de topos de barras e depósitos de levee/baixa velocidade.

A fácies Ap caracteriza-se por granulometria areia fina a média, apresenta estratificação plano-paralela e os seguintes minerais predominantes: quartzo, muscovita, feldspato, hematita e magnetita. Essa fácies é interpretada como depósito de topos de barra em pontal, baseado nas sucessões estratigráficas observadas, por exemplo, no perfil B06 (Figura 6.1). Sabe-se que nas barras em pontal são depositadas areias finas a médias com estratificações cruzadas acanaladas de médio a grande porte e cruzadas tabulares; porém com a diminuição da energia do fluxo podem ser encontradas, no topo dessas barras, estratificações plano-paralelas (Miall 1985), conforme observado nos perfis B06 e B09 (Figura 6.1).

A fácies G é caracterizada por granulometria argila, sendo interpretada como depósito de planície de inundação ou lagoa de cheia, proveniente de sedimentos em suspensão que decantam após eventos de cheia. Observa-se nessa fácies a predominância dos minerais quartzo, muscovita e argilo- minerais e, em algumas vezes, identifica-se laminações. Esta fácies foi identificada nos perfis T01, B04, T06, T07A e B10 (Figura 6.1 e 6.2).

Figura 6.2- Perfis estratigráficos de terraços aluviais levantados na bacia do rio Gualaxo do Norte, MG,

A análise de sucessão das fácies evidencia a formação de depósitos sedimentares gerados em sistemas fluviais meandrantes. Essa hipótese é confirmada pela identificação de sucessões de granodecrescência ascendente em vários perfis (T03, T04, B05, B07, B09, T09 e B10) (Figura 6.1 e 6.2), o que de acordo com Davis-Jr (1983), são típicas de tais sistemas fluviais. A presença de fácies interpretadas como barras em pontal com estruturas sedimentares características sucedidas por fácies de planícies de inundação e/ou lagoas de cheia confirmam esse padrão. Além disso, em alguns perfis como o T01, B04 e T07A, observam-se evidências de que o rio apresentou ciclos de variação energética, sendo possível observar a presença de fácies que variam de granulometria argilosa (fácies

G) a arenosa com presença de seixos e cascalhos (fácies As). A sucessão de fácies G intercalada com

as fácies As evidencia ciclos de deposição em canal abandonado repentinamente (neck off) (Figura 6.1 e 6.2). Conforme discutido por Davis-Jr (1983), um meandro pode ser abandonado repentinamente quando ocorre a abertura de um novo canal entre dois meandros ou por avulsão. Esse processo pode gerar um meandro abandonado (oxbowlake) com depósitos predominantemente pelíticos, enriquecidos em matéria orgânica, sobrepostos a depósitos de canal cascalhoso (channellag). Além disso, as intercalações de fácies observadas no perfil T07A (Figura 6.2) podem estar associadas a depósitos de avulsão e transbordamento do canal.