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Conforme pode ser observado na figura 5.1, a avaliação da condição ambiental dos trechos visitados no rio Gualaxo do Norte, apresentou resultados preocupantes, haja vista a obtenção de elevado percentual de ambientes classificados como regular e ruim, os quais juntos corresponderam a 77,4% dos trechos analisados, sendo observada uma maior degradação ambiental na foz do referido rio. Já o Quadro 5.1 apresenta sumariamente as principais características que justificam as condições verificadas para cada trecho avaliado.

Os resultados específicos das avaliações dos parâmetros ―deposição de sedimentos‖, ―estabilidade das margens‖, ―proteção das margens pela vegetação‖ e ―estado de conservação da vegetação do entorno‖, mostraram que os mesmos foram os que apresentaram as piores condições ambientais, quando comparados à condição referência, todos classificados em uma condição ―regular‖ (médias de 1,97, 1,80, 1,71 e 1,71 pontos, respectivamente) (Figura 5.2). Já os resultados da avaliação do parâmetro ―alterações do canal‖ mostraram que este foi o único que apresentou uma condição classificada como ―boa‖ (média de 2,61 pontos) (Figura 5.2).

Figura 5.1- Localização dos trechos avaliados no rio Gualaxo do Norte e as respectivas pontuações

obtidas por meio da aplicação do protocolo de avaliação rápida. As linhas tracejadas mostram a correspondência entre a localização do trecho avaliado e a sua pontuação. A linha contínua no gráfico representa a linha de tendência linear.

Figura 5.2- Média da pontuação obtida por parâmetro avaliado. Legenda: P1: parâmetro

―deposição de sedimentos‖; P2: ―alterações no canal‖; P3: ―estabilidade das margens‖; P4: ―proteção das margens pela vegetação‖ e P5: ―estado de conservação da vegetação do

Quadro 5.1- Trechos avaliados, condições e suas principais características

Cabeceira

da bacia Trecho Condição Características

01 Regular Deposição moderada de sedimentos, presença de

algumas atividades humanas, margens moderadamente instáveis, margens cobertas por

pouca vegetação nativa.

02 Regular

03 Ótima

Ausência de assoreamento, de atividades humanas como garimpagem, de áreas desmatadas e de margens instáveis e presença de vegetação nativa

ciliar bem preservada.

04 Boa

Alguns acréscimos recentes de deposição de sedimentos, presença de pequenas canalizações, margens moderadamente estáveis e com cobertura

vegetal (não sendo observadas grandes descontinuidades) e presença de vegetação nativa e

exótica.

05 Ótima Idem ao trecho 03

06 Ruim Elevada deposição de material sedimentar, forte

evidência de atividade humana, como garimpagem, margens instáveis e com pouca vegetação ciliar e

muitas áreas erodidas.

07 Ruim 08 Ruim 09 Ruim 10 Regular Idem ao trecho 01 11 Regular 12 Regular

13 Ótima Idem ao trecho 03

14 Boa Idem ao trecho 04

15 Regular

Idem ao trecho 01

16 Regular

17 Regular

18 Boa Idem ao trecho 04

19 Regular Idem ao trecho 01 20 Regular 21 Regular 22 Regular 23 Regular 24 Regular 25 Regular 26 Regular 27 Regular 28 Regular

29 Boa Idem ao trecho 04

30 Regular

Idem ao trecho 01

31 Regular

Foz da bacia

Quanto aos sedimentos, pode-se dizer que do ponto de vista de ciclagem de matéria e fluxo de energia, estes correspondem a um dos compartimentos mais importantes dos ecossistemas aquáticos continentais. Algumas pesquisas têm sido desenvolvidas com enfoque na influência dos sedimentos sobre a comunidade de macroinvertebrados bentônicos e todas têm considerado que a composição granulométrica é um dos principais fatores responsáveis pela estrutura e distribuição das comunidades biológicas em ecossistemas aquáticos (Ward 1992, Callisto & Esteves 1996, Gonçalves et al. 1998). No entanto, quando estes sedimentos se depositam formando calhas ou barras, sobretudo, devido às atividades antrópicas, como observado em diversos segmentos analisados, tornam-se escassos os locais disponíveis para a biota aquática e, neste caso, proporcionam prejuízos na qualidade ambiental

do rio em avaliação. A figura 5.3A ilustra um exemplo no qual é possível observar a intensa deposição de sedimentos em um segmento do rio visitado.

Quanto ao parâmetro ―estabilidade das margens‖, foram observados no presente estudo vários segmentos nos quais as margens do rio estão instáveis, erodidas (como pode ser observado na figura 5.3B) ou com alto potencial à erosão durante as cheias. Conforme discutido por Barrella et al. (2001) e Minatti-Ferreira & Beaumord (2004), a retirada da vegetação proporciona condições favoráveis ao assoreamento causado pela erosão do solo adjacente aumentando as concentrações de sólidos em suspensão no corpo receptor e, consequentemente, reduz a disponibilidade de habitats para a biota aquática.

Figura 5.3- Exemplo de trechos nos quais a avaliação dos parâmetros ―deposição de sedimentos‖ (A), ―estabilidade das margens‖ (B) e ―proteção das margens pela vegetação‖ e

―estado de conservação da vegetação do entorno‖ (C) classificou-os em uma condição ―péssima‖. D) condição ―referência‖. As setas amarelas indicam a presença de intensa deposição de sedimentos (A), erosão de uma das margens do rio (B) e áreas desprovidas de vegetação nativa, em ambas as margens do rio (C).

Destacam-se também diversos segmentos analisados com uma condição péssima para os parâmetros ―proteção das margens pela vegetação‖ e ―estado de conservação da vegetação do entorno‖ (como pode ser observado na figura 5.3C), quando comparado à uma condição referência (Figura 5.3D). Conforme discutido recentemente por Vogel et al. (2009), o ecossistema ripário que inclui a dinâmica da zona ripária, sua vegetação e suas interações, desempenha funções relacionadas à geração do escoamento direto em microbacias, à contribuição ao aumento da capacidade de armazenamento da água, à manutenção da qualidade da água na bacia (por meio da filtragem superficial de sedimentos) e à retenção, pelo sistema radicular da mata ripária, de nutrientes liberados dos ecossistemas terrestres (efeito tampão), além de proporcionar estabilidade das margens, equilíbrio térmico da água e formação

No presente estudo pode-se dizer que o crescimento populacional dos distritos e vilarejos localizados no entorno do rio Gualaxo do Norte, assim como a expansão das atividades relacionadas à agricultura e agropecuária na região, têm interferido negativamente sobre as suas condições naturais. Destaca-se ainda a presença de explorações de ouro e do minério de ferro no alto curso da bacia que contribuem de maneira significativa para o aumento de sólidos em suspensão que se depositam no médio e baixo curso, principalmente durante o período chuvoso, justificando a baixa pontuação referente ao parâmetro ―deposição de sedimentos‖ (média de 1,97 pontos).

O presente estudo também buscou identificar quais são as atividades antrópicas mais comuns ao longo do rio Gualaxo do Norte, sendo observado que as mais prevalentes foram relacionadas ao desmatamento da vegetação do entorno para a criação de áreas de pastagens (observada em 76,2% dos segmentos avaliados) (Figura 5.4A), aos efeitos negativos no rio por atividades recentes de garimpo de ouro (no Garimpo do Engenho Podre e na localidade de Antônio Pereira) e aquelas abandonadas (61,9%) (Figura 5.4B), bem como à supressão das áreas de mata nativa para a criação de áreas de cultivo (52,4%) (Figura 5.4C). Poucos foram os trechos observados, nos quais havia predominância de mata ciliar nativa e bem preservada. Construções de residências próximas às encostas, bem como lançamentos de esgotos domésticos e presença de lixo nas margens e no leito do rio foram também observados. A figura 5.5 ilustra de maneira esquemática as principais atividades antrópicas observadas ao longo do rio Gualaxo do Norte.

Figura 5.4- Exemplos de atividades antrópicas identificadas ao longo do rio Gualaxo do Norte,

MG, Brasil. (A) Presença de área desmatada no entorno do rio, (B) atividade recente de exploração aurífera no Garimpo do Engenho Podre (médio curso da bacia) e (C) presença de residências e áreas de cultivo próximas às margens do rio Gualaxo do Norte.