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2.  FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3.  DA INTERAÇÃO ENTRE O MEIO AMBIENTE E O DIREITO URBANÍSTICO: O DIREITO

2.4.1.  Descrição Geral

Apresenta-se síntese dos aspectos mais relevantes desse texto normativo, qual seja a Lei 10.257/2001, conforme relata Toshio Mukai57 em seu texto. Destaca o autor que é necessária essa visão geral da lei, analisando o que representa em termos jurídicos, “embora em síntese apertadíssima”.

Originou-se de projeto de Lei de n.º 2.191/1989, de Raul Ferraz; já no Senado Federal, tomou o n.º 181/1989 e, por fim, na Câmara dos Deputados o n.º 5.788/1990.

Somente em Junho de 2001 seria aprovada e passaria a vigorar a Lei 10.257/2001.

Com o destaque de Torres58:

“A demora na produção de um texto como o Estatuto da Cidade deu-se em virtude da dificuldade de se entender como o ambiente natural influencia o ambiente construído e vice-versa. Essa relação de integração entre um e outro

56 TORRES, Marcos Abreu. Estatuto da Cidade: sua interface no meio ambiente. Revista de Direito Ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais. Ano 12, n. 45, jan.-mar. 2007, p.197.

57 MUKAI, Toshio. Direito Urbano e Ambiental. 3 ed. Belo Horizonte: Fórum, 2006, p.260-265.

58 TORRES, op. cit., p.199.

sempre gerou conflitos entre arquitetos e urbanistas de um lado, e ecologistas do outro. Enquanto os ecologistas, culpando as cidades pelos males do Século XX, propunham um retorno à natureza, os urbanistas as defendiam, afirmando não serem elas a fonte principal de poluição.”.

Assim, após longas discussões, foi aprovada a Lei n. 10.257, de 10 Junho de 2001. Está dividida basicamente em cinco capítulos, conforme destaca Mukai59 e se observa no texto legal: “I-Diretrizes Gerais; II-Dos Instrumentos da Política Urbana, com as seções de I a XII; III-Do Plano Diretor; IDa Gestão Democrática da Cidade e V-Disposições Gerais.”.

O autor acredita que os pontos mais relevantes do citado texto normativo são: a efetiva concretização do Plano Diretor; a fixação de diretrizes gerais em virtude do art.

182 da Constituição Federal (Da Política Urbana), para que o Município possa executar sua Política de Desenvolvimento Urbano; criação de novos institutos jurídicos, além da regulamentação do §4º do art.182 da CF (parcelamento e edificação compulsórios, IPTU progressivo no tempo e desapropriação com pagamento em títulos); fixação de sanções para Prefeito e agentes públicos que não tomarem providências de sua responsabilidade; instituição da gestão democrática e participativa e, por fim, as alterações na Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347/85) para possibilitar que o Judiciário torne concretas as obrigações de ordem urbanística.

Na seqüência, Mukai60 destaca as importantes partes de cada um dos capítulos.

a) Diretrizes Gerais

São indicadas pelo art. 2º da Lei 10.257/2001, e constam 16 previsões deste tipo61. Paulo de Bessa Antunes62 nomina tais diretrizes como “princípios norteadores da

59 MUKAI, Toshio. Direito Urbano e Ambiental. 3 ed. Belo Horizonte: Fórum, 2006, p.259.

60 Ibid., p.260-267.

61 Art. 2o A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais:I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações;II – gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano;III – cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade no processo de urbanização, em atendimento ao interesse social;IV – planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das

política urbana”, cujo objetivo principal é ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, incluindo a segurança e o bem-estar dos cidadãos, o interesse da coletividade e o equilíbrio ambiental. Frisa-se a importância dessas diretrizes, visto a necessidade de clara exposição para o entendimento do restante do documento e dos intuitos a que se destina o diploma legal. São as previsões: (I) garantia do direito a cidades sustentáveis; (II) gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade; (III) cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade no processo de urbanização, em atendimento ao interesse social; (IV) planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das atividades econômicas; (V) oferta de equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços públicos adequados; (VI) ordenação e controle do uso do solo; (VII) integração e complementaridade entre as atividades

atividades econômicas do Município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente;V – oferta de equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços públicos adequados aos interesses e necessidades da população e às características locais;VI – ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar:a) a utilização inadequada dos imóveis urbanos;b) a proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes;c) o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivos ou inadequados em relação à infra-estrutura urbana;d) a instalação de empreendimentos ou atividades que possam funcionar como pólos geradores de tráfego, sem a previsão da infra-estrutura correspondente;e) a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na sua subutilização ou não utilização;f) a deterioração das áreas urbanizadas;g) a poluição e a degradação ambiental;VII – integração e complementaridade entre as atividades urbanas e rurais, tendo em vista o desenvolvimento socioeconômico do Município e do território sob sua área de influência;VIII – adoção de padrões de produção e consumo de bens e serviços e de expansão urbana compatíveis com os limites da sustentabilidade ambiental, social e econômica do Município e do território sob sua área de influência;IX – justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do processo de urbanização;X – adequação dos instrumentos de política econômica, tributária e financeira e dos gastos públicos aos objetivos do desenvolvimento urbano, de modo a privilegiar os investimentos geradores de bem-estar geral e a fruição dos bens pelos diferentes segmentos sociais;XI – recuperação dos investimentos do Poder Público de que tenha resultado a valorização de imóveis urbanos;XII – proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico;XIII – audiência do Poder Público municipal e da população interessada nos processos de implantação de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou construído, o conforto ou a segurança da população;XIV – regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda mediante o estabelecimento de normas especiais de urbanização, uso e ocupação do solo e edificação, consideradas a situação socioeconômica da população e as normas ambientais;XV – simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo e das normas edilícias, com vistas a permitir a redução dos custos e o aumento da oferta dos lotes e unidades habitacionais;XVI – isonomia de condições para os agentes públicos e privados na promoção de empreendimentos e atividades relativos ao processo de urbanização, atendido o interesse social.

62 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 7 ed., rev., ampl. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004, p.349.

urbanas e rurais; (VIII) adoção de padrões de produção e consumo de bens e serviços e de expansão urbana compatíveis com os limites da sustentabilidade; (IX) justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do processo de urbanização; (X) adequação dos instrumentos de política econômica, tributária e financeira e dos gastos públicos aos objetivos do desenvolvimento urbano; (XI) recuperação dos investimentos do Poder Público de que tenha resultado a valorização de imóveis urbanos; (XII) proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico; (XIII) audiência do Poder Público municipal e da população interessada nos processos de implantação de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos; XIV) regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda; (XV) simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo e das normas edilícias e (XVI) isonomia de condições para os agentes públicos e privados na promoção de empreendimentos e atividades relativos ao processo de urbanização.

Essas diretrizes gerais passaram a vigorar no contexto da execução das Políticas Públicas de que tratam os artigos 182 e 183 da Constituição Federal, além de todo o mais indicado pela Lei 10.257/2001.

b) Instrumentos da Política Urbana

Dentre os instrumentos previstos pela Lei em seu artigo 4º, podem-se listar, dentre os mais importantes, segundo Toshio Mukai63, aqueles em que houve a regulamentação (havia previsão em outro texto legal) e os que são inovadores.

Em um primeiro momento, aqueles referentes à regulamentação do §4º do artigo 182 da Constituição Federal: (I) Parcelamento e edificação compulsórios; (II) IPTU progressivo no tempo; (III) Desapropriação com pagamento em títulos.

Já os institutos inovadores são: (IV) Ao lado da usucapião especial de imóvel urbano, agora regulamentada (art. 183 da CF), criou-se a usucapião coletiva; (V) também criada a concessão de uso especial para fins de moradia (até agora no texto da Medida Provisória 2.220/2001, visto o veto dos artigos 15 a 20 do Estatuto da

63 MUKAI, Toshio. Direito Urbano e Ambiental. 3 ed. Belo Horizonte: Fórum, 2006, p.260.

Cidade); (VI) Direito de Superfície; (VII) Direito de Preempção; (VIII) Outorga Onerosa do Direito de Construir (Solo Criado); (IX) Operação Urbana Consorciada; (X) Consórcio Imobiliário; (XI) Transferência do Direito de Construir e o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV).

Ainda, é possível destacar que o Plano Diretor é o principal instrumento previsto não só pelo Estatuto da Cidade, mas inicialmente pela Constituição Federal em virtude de sua relevância. Para o legislador, e entende assim também Mukai64, constitui Capítulo à parte, destacado na previsão normativa.

c) Plano Diretor

O Capítulo III da Lei 10.257/2001 é dedicado completamente ao instituto, previsto como obrigatório, nos termos do artigo 182 da Constituição Federal, para cidades com mais de vinte mil habitantes. Mukai65 entende que somente com o surgimento do Estatuto da Cidade esta obrigação constitucional se efetivou, pois duas disposições passaram a vigorar: a primeira que faz incidir sobre o Prefeito a sanção de improbidade administrativa se ele não tomar providências para o Plano Diretor ser aprovado em até cinco anos após o vigorar da Lei, e a segunda que acresce como objeto da Ação Civil Pública e como motivo de ação cautelar respectiva a “ordenação urbanística”.

Deixando as discussões acerca da inconstitucionalidade das exigências do Plano Diretor de lado, destaca-se a imprescindível participação da comunidade nessas definições, atendendo à necessidade de Audiências Públicas conforme o art. 29, XII, da Constituição Federal. Contando com isso, também a publicidade de informações e documentos a qualquer interessado.

64 MUKAI, Toshio. Direito Urbano e Ambiental. 3 ed. Belo Horizonte: Fórum, 2006, p.264.

65 Ibid., p.265.

d) Gestão Democrática da Cidade

O quarto capítulo do texto legal prevê o imperativo da democracia direta, com a utilização de diversos instrumentos para que se atinja esse fim. Entre eles, cita Mukai66:

“(...) tais como órgãos colegiados de política urbana, debates, audiências, consultas públicas, conferências de assuntos de interesse urbano, iniciativa popular de projetos de lei e de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano, referendo popular.

Prevê, ainda, o art. 43, a institucionalização da gestão orçamentária participativa, com a realização de debates, audiências e consultas públicas sobre as propostas do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e do orçamento anual, como condição obrigatória para sua aprovação pela Câmara Municipal.”

e) Disposições Gerais

É previsto aqui o Consórcio Imobiliário (art.46) antes citado como instituto da Lei 10.257/2001. Também, prazos para tomada de providências a partir da data de entrada em vigor da Lei. Prazos que Toshio Mukai67 critica em termos de constitucionalidade, mas não nos aprofundaremos nesses temas em virtude do escopo deste trabalho.

Outros pontos deste capítulo são referentes à tributação aos imóveis urbanos relativos a serviços públicos, programas e projetos habitacionais de interesse social e as sanções ao Prefeito por improbidade administrativa.

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