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Descrição dos passos da 3 a etapa – pré-análise e organização do corpus investiga-

3. METODOLOGIA

3.2 Coleta de Dados

3.2.3 Descrição dos passos da 3 a etapa – pré-análise e organização do corpus investiga-

Definidos os documentos, a pré-análise, com leitura flutuante, é parte do método pro- posto por Bardin (2011) para a análise de conteúdo. A leitura flutuante é um primeiro contato para conhecer os textos completos.

Para a constituição de um corpus investigativo, que é o “conjunto de documentos tidos em conta para serem submetidos aos procedimentos analíticos” (BARDIN, 2011, p.126), a autora sugere quatro regras: i) regra da exaustividade: definido o campo, nenhum elemento deve ser deixado de lado por quaisquer dificuldades. No caso desta pesquisa, todos os textos dos 18 artigos que compõem a amostra foram objeto de composição do corpus; ii) regra da representatividade: pode-se optar por trabalhar com amostras representativas. Nesta pesquisa, tratou-se de todo o universo coletado, conforme descrição das etapas 1 e 2; iii) regra da ho- mogeneidade: significa que os documentos retidos devem obedecer a critérios precisos de escolha. Neste estudo, esta etapa se cumpriu nos passos 1 e 2; e iv) regra da pertinência: as fontes de informação, neste caso, os artigos científicos, devem ser adequados aos objetivos da análise, regra que a pesquisadora entende ter cumprido desde o delineamento da pesquisa e estratégia desenhada com fins à coleta de dados para a pesquisa.

Conforme já mencionado, os artigos científicos foram seccionados em três: corpus 1- Psicologia (n=9); corpus 2-Administração (n=2) e corpus 3-Multidiscisplinar (n=7), conside- rando que n=no de artigos que compõem cada corpus.

Esse corpus investigativo foi preparado pela pesquisadora para ser processado por meio do software Alceste (versão 2010, no caso deste estudo), cumprindo com demandas de preparação para a entrada de dados exigida pelo manual do aplicativo. O Alceste (Analyse Lexicale par Contexte d’un Ensemble de Segments de Texte ou Análise Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) exige uma preparação bastante precisa e exaustiva de cada corpus a ser processado. Resumidamente, descrevem-se alguns dos passos exigidos, o que não dispensa a consulta ao manual operacional do software:

os artigos científicos, que são disponibilizados pelas bases de dados em formato de arquivo eletrônico PDF (extensão de arquivo em um formato proprietário per- tencente à empresa norte-americana Adobe), devem ser convertidos para a exten- são de arquivo de texto (exemplo: .doc, no caso do editor de texto MS Word); uma vez disponível o artigo no formato de editor de texto, é preciso excluir os

formatos de tabelas, gráficos, quadros, referências, abstracts, notas de rodapé. No caso deste estudo, a pesquisadora ocupou-se de converter em texto dados de tabe- las, gráficos, quadros em textos ou notas de rodapé, para aqueles artigos em cujo texto este tipo de informação não estava descrita e que traziam informações signi- ficativas ao artigo/corpus;

diversos caracteres muito frequentes em textos de artigos não são reconhecidos pelo Alceste, como aspas (“”), apóstrofo (‘), cifrão ($), percentagem (%), asterisco (*), dentre outros. Nestes casos, deve-se substituir cada caractere pelo caractere

underline (exemplo: a palavra “salvá-lo” deve ser grafada como salvá_lo) ou ex- cluir o caractere desnecessário, conforme decisão do pesquisador, desde que não venha a prejudicar o conteúdo do corpus que deverá ser processado;

há demandas específicas com relação à fonte que deve ser utilizada, número má- ximo de palavras para cada linha, espaçamento simples, texto justificado; e

deve ser incluído o caractere underline aos termos que o pesquisador julgue que necessariamente devam ser analisados como uma expressão ou terminologia ou

descritor, segundo os objetivos da pesquisa. No caso desta pesquisa, o descritor “cultura organizacional”, dentre muitos outros termos ou expressões, consta em cada corpus como cultura_organizacional. O mesmo para violência_psicológica ou violência_psicológica_no_trabalho, haja vista que são descritores mandatórios da análise de conteúdo, neste estudo.

Cumprida a etapa de preparação de cada corpus para processamento, deve-se conver- ter o arquivo para a extensão de arquivo de texto, “txt” (caso seja tratado pelo sistema opera- cional Windows).

O Alceste é um software de análise de dados textuais, utilizado para fins de análise de conteúdo em pesquisas qualitativas, objetivando quantificar um texto para extrair as estruturas mais significativas. Surgiu, na década de 1970, no Centro Nacional Francês de Pesquisa Cien- tífica (CNRS), originalmente concebido por Max Reinert, com apoio da Agência Nacional Francesa de Valorização à Pesquisa (Anvar), sendo uma técnica computadorizada que inves- tiga a distribuição de vocábulos (léxicos) em um texto escrito e também uma metodologia para análise de textos. O software cria uma análise padrão, utilizando parâmetros padrão de- finidos por ele, podendo-se utilizá-lo também configurando formas adicionais e mais refina- das de análise, o que certamente exige experiência avançada do pesquisador, tanto no manu- seio das técnicas do software, quanto da análise de conteúdo em si.

Nesta pesquisa utilizou-se a análise padrão, por meio da qual se obtêm, em resumo, dentre outros resultados acessórios: i) uma árvore de classificação com as classes obtidas ou dendrograma; ii) um resumo de perfis de presenças e ausências para cada classe, conforme o chi-quadrado decrescente, sendo que, quanto maior o valor do chi-quadrado, mais significati- va é determinada palavra para a construção estatística de uma classe; iii) as UCEs ou Unida- des Elementares de Contexto; iv) as CHDs ou Classificações Hierárquicas Descendentes; e v) cada AFC ou Análise Fatorial de Correspondências.

Kronberger & Wagner (2012) fazem uma descrição elucidativa, em detalhes, sobre o Alceste. O software realiza Classificação Hierárquica Descendente (CHD) e integra métodos estatísticos complexos. Não se trata de técnica para testar hipóteses a priori e sim de “um mé- todo para exploração e descrição” (KRONBERGER; WAGNER, p. 427), objetivando “dis- tinguir classes de palavras que representam diferentes formas de discurso a respeito do tópico de interesse” (KRONBERGER; WAGNER, p. 427). Os autores (KRONBERGER; WAG- NER, p. 435) também evidenciam que há “alta correspondência entre a análise de conteúdo automática e a tradicional” representando “uma validação mútua dos diferentes métodos”. Tais fatores foram decisivos para a escolha do Alceste, enquanto técnica e método para fins de exploração e descrição do corpus desta pesquisa.

O processamento do corpus investigativo por meio do Alceste é praticamente instan- tâneo, leva cerca de poucos segundos, em geral. Esclarece-se que a pesquisadora contou com o auxílio de uma operadora experiente do software, não tendo operado diretamente a

entrada dos dados para processamento. Cada corpus desta pesquisa – 1-Psicologia (n=9); 2-Administração (n=2) e 3-Muldiscisplinar (n=7) – gerou um relatório específico de resulta- dos processado pela análise padrão do Alceste, como já mencionado, sendo aquele tipo de processamento em que não há qualquer interferência do pesquisador ou operador, a partir da entrada do corpus.

Os resultados devem ser interpretados pelo pesquisador, de forma teórica e empirica- mente justificada, procurando “fornecer conteúdo semântico à informação puramente estrutu- ral do espaço discursivo produzido pelo Alceste” (KRONBERGER; WAGNER, 2012, p. 435). Justamente nessa direção é vamos procurar materializar a análise dos resultados em si, objeto do próximo capítulo, na consecução dos objetivos específicos desta pesquisa.