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Descrição Reflexiva sobre a Atividade I – Dia Mundial da Alimentação:

Capítulo V: Os Estágios Pedagógicos

5.1. Contextualização do Contexto de Estágio no Pré-Escolar

5.1.5. Atividades relativas à cultura açoriana e à educação para a cidadania

5.1.5.1. Descrição Reflexiva sobre a Atividade I – Dia Mundial da Alimentação:

Esta foi uma atividade sem dúvida enriquecedora em termos de interdisciplinaridade, interrelacionando várias áreas, domínios e subdomínios e procurando apelar à temática do Relatório de Estágio, incidindo especialmente na área de Formação Pessoal e Social e na área de Conhecimento do Mundo. De tal forma, em primeiro lugar e antes de explicar as opções e estratégias tomadas aquando da organização desta atividade, abaixo é apresentada a Tabela 10 que esquematiza as áreas principais, os objetivos e as estratégias que fizeram parte desta atividade.

Tema: Dia Mundial da Alimentação: descobrindo a alimentação de antigamente

Ár eas/ Dom ín ios/ Su bdo m ínio s

xx Área de Formação Pessoal e Social; xx Área de Conhecimento do Mundo; x Área de Expressão e Comunicação;

– Domínio da Linguagem Oral e Abordagem à Escrita; – Domínio da Educação Artística;

– Subdomínio do Jogo Dramático – Domínio da Matemática. O b jeti v o s A criança:

1. Participa autonomamente e na sua vez, na dinâmica de cartas;

2. Procura formular, pelo menos uma hipótese, sobre o que vê na imagem do cartão;

3. Demonstra curiosidade sobre os alimentos que não conhece;

4. Aguarda pela sua vez para levantar questões;

5. Elabora frases simples, sendo capaz de expressar a sua ideia;

6. Demonstra respeito pela convidada sénior;

7. É capaz de medir (utilizando um objeto) e contar (na realização da receita);

8. Compreende a importância da partilha;

9. No final, é capaz de diferenciar os alimentos de antigamente dos alimentos de

59 E str at ég ias ( M om en tos d a Ati v id a d e e Recu rs o s)

xx Momento introdutório à temática (no tapete, dinâmica de descoberta e diálogo, com formulação de hipóteses por parte das crianças sobre cartões com imagens de alimentos – alguns conhecidos das crianças, outros não, por serem de antigamente);

xx Posterior explicação da temática, explicação dos alimentos representados em cada cartão e explicação da visita de uma sénior da comunidade para falar sobre a alimentação de antigamente);

x Momento de visita e diálogo entre o grupo de crianças, os adultos e a sénior convidada;

x Explicação e apresentação da receita de um dos alimentos de antigamente do qual a sénior falou;

x Confeção, em grupo, da receita e posterior prova.

Tabela 10: Áreas/Domínios/Subdomínios, Objetivos e Estratégias da atividade I organizada no Pré-

Escolar.

Assim, tendo por base que nas OCEPE (Silva, Marques, Mata & Rosa 2016, p. 12) está expressa a importância do professor estimular “a curiosidade da criança criando condições para que “aprenda a aprender”” e cientes da importância dos recursos pedagógicos como forma de tornar o processo de ensino/aprendizagem mais rápido e eficaz” facilitando a “apreensão de conhecimentos” (Correia 1995, p. 9), esta atividade iniciou-se com um momento de exploração de cartões (Figura 3), com o intuito de se introduzir a temática a ser abordada. Ou seja, com o grupo de crianças sentadas em círculo no tapete, a estagiária dispôs os cartões virados com as imagens para baixo e explicou- lhes que cada criança, na sua vez teria de retirar um cartão, sobre o qual iria ter de falar algo. Assim, após observação deste cartão cada criança mostrava-o ao restante grupo e formulava hipóteses sobre o que observava. Esta estratégia teve, também, por base o facto de que foi possível percecionar, durante as observações, que algumas crianças deste grupo ainda apresentavam dificuldades na oralidade, demonstrando sentirem-se mais à vontade para se expressarem quando tinham por base algum suporte. Pretendeu-se ainda que o tema que iria ser abordado fosse, dentro dos possíveis, descoberto pelas crianças. Algumas destas, quando questionadas sobre o que viam e sobre iria ser trabalhado, aproximaram-se de forma satisfatória, registando-se alguns comentários das crianças como: “É pizza”, “Esta imagem tem um cachorro quente”, “Isto é sopa? Não é sopa?”, “Tem aqui peixe” ou até “Isso é comida... Vamos falar de comidas?” (quando abordavam o que viam nos cartões). Seguindo este momento de descoberta, a estagiária procedeu à explicação destes alimentos através de diálogo, perguntando às crianças quais destes costumavam comer mais vezes e explicando que alguns destes alimentos eram aqueles que a maioria dos nossos avós comia quando tinham a nossa idade. Tal momento de

60 diálogo foi bastante enriquecedor, pois, a maioria das crianças, começou a demonstrar interessem em se separarem os cartões por alimentos “de agora” e “alimentos que os nossos avós comiam quando eram pequenos” (expressões utilizadas pelas crianças). Assim, ainda no tapete organizaram-se estes cartões e esclareceram-se as dúvidas que as crianças iam apresentando. Por fim, neste momento, a estagiária introduziu a visita que iriam receber de uma sénior para nos contar sobre a sua alimentação quando criança e para partilhar os seus saberes e histórias.

Figura 3: Exemplos de cartões com imagens reais de alimentos atuais e de antigamente (note-se que esta

figura não representa o tamanho real em que estes cartões foram impressos).

A este momento de visita da sénior à sala (Figura 4) está subjacente a noção de que não há quem relate melhor vivências e experiências do que aqueles que as vivenciaram. Tal facto chega a ser concebido em algumas respostas obtidas nos inquéritos do estudo realizado, havendo pais/EE inquiridos que consideram importante estabelecer relações com membros da comunidade, como é exemplo a resposta do Inquirido 8 (PE): “A escola deverá proporcionar atividades que envolvam os idosos da freguesia, estes partilharão os seus saberes/valores/sentimentos, demonstrando como se vivia noutros tempos e as dificuldades enfrentadas diariamente.”

Para além disso, as OCEPE (Silva, Marques, Mata & Rosa 2016, p. 12) defendem “[a] colaboração dos pais/famílias, e também de outros membros da comunidade, o contributo dos seus saberes e competências para o trabalho educativo a desenvolver com

61 as crianças é um meio de alargar e enriquecer as situações de aprendizagem. Também no estudo que foi realizado, foi notória a importância que é atribuída pelos pais/EE inquiridos relativamente a este aspeto da alimentação açoriana. Este aspeto foi visível em respostas como: “A gastronomia, as bandeiras, as nossas tradições.” (Inquirido 4 (PE)), como “Alguns tipos de alimentação” (Inquirido 14 (PE)) ou ainda como “Também era curioso ser integrado na área escolar atividades relacionadas com artesanato e gastronomia” (Inquirido 6 (PE)). Todos estes aspetos foram aqueles que estiveram na base da organização deste momento, o qual, por si só, demonstrou ser muit o enriquecedor, notando-se o entusiasmo das crianças antes, durante e depois da visita. Algumas destas chegaram a colocar questões, à senhora, de forma autónoma como poe exemplo “A senhora nunca comeu hamburger?”, “Porque é não comia pizza quando era como a gente?” (entenda-se que a criança ao dizer “como a gente” refere- se à idade). Estas questões serviram de ponte para que a sénior relembrasse e explicasse mais e mais das suas vivências.

Figura 4: Foto da visita da sénior para partilhar os seus conhecimentos sobre a alimentação de

antigamente.

Após a visita, já na sala do lanche a estagiária colocou algumas questões às crianças sobre aquilo que fora falado na visita da sénior e deu-se o ponto de partida para o último momento – a confeção de uma receita de um alimento de antigamente que tinha sido mencionado pela sénior. Assim, tendo por base a importância que as OCEPE (Silva, Marques, Mata & Rosa 2016, p. 86) atribuem à experimentação por parte das crianças nesta faixa etária (“É essencial que se vá construindo uma atitude de pesquisa, centrada na capacidade de observar, no desejo de experimentar, na curiosidade

62 de descobrir numa perspetiva crítica e de partilha do saber”), em grupo foi organizada esta atividade de confeção da receita do bolo do forno ou bolo ferreiro (Figura 5). Este é um tradicional bolo açoriano que foi mencionado pela sénior, a qual referiu mesmo que este era um alimento que comiam muito, pois era feito com ingredientes simples que eram extraídos da natureza ou de animais – farinha de milho, água, sal e banha de porco. Inicialmente, foram apresentados os ingredientes e cada criança na sua vez teve oportunidade de os misturar e de amassar a massa e tender o bolo, que depois foi a cozer num forno elétrico. Este foi um momento em que foi notório o entusiasmo e a atenção por parte das crianças, onde todas sem exceção quiseram participar. Ainda é importante referir que as crianças por si mesmas iam levantando as suas próprias questões em jeito de constatação de factos, pois algumas chegaram a fazer observações com “Não leva açúcar?” “E os ovos?” “É diferente dos bolos que minha mãe faz” “Não é um bolo doce”. Estes foram comentários que demonstraram a consciencialização por parte das crianças das diferenças entre este alimento (de antigamente) e os que atualmente se consomem.

63 Por fim, é importante relembrar que o conjunto de estratégias utilizadas (desde o recurso a materiais pedagógicos como cartas com imagens reais e apelativas e da experimentação, da realização de atividades que permitam o sentir), teve por base as especificidades da turma e a importância que é dada, pelas OCEPE, à inclusão de todas as crianças na educação. Ou seja na escolha das estratégias para esta atividade teve-se em atenção a existência de crianças com NEE neste grupo, procurando-se criar práticas pedagógicas diferenciadas e adaptadas às características de todas as crianças e procurando-se estimular a cooperação e o espírito de equipa e de entreajuda. Pois, estes são aspetos fundamentais para o desenvolvimento de todas crianças, tal como é reforçado nas OCEPE (Silva, Marques, Mata & Rosa 2016, p. 86)

A inclusão de todas as crianças implica a adoção de práticas pedagógicas diferenciadas, que respondam às características individuais de cada uma e atendam às suas diferenças, apoiando as suas aprendizagens e progressos. A interação e a cooperação entre crianças permitem que estas aprendam, não só com o/a educador/a, mas também umas com as outras. Esta perspetiva supõe que o planeamento realizado seja adaptado e diferenciado, em função do grupo e de acordo com características individuais, de modo a proporcionar a todas e a cada uma das crianças condições estimulantes para o seu desenvolvimento e aprendizagem, promovendo em todas um sentido de segurança e autoestima.

Em suma, comprovou-se que: 1) a utilização de recursos pedagógicos permitiu que todas as crianças, inclusive as com NEE, pudessem participar nas dinâmicas; 2) a utilização de imagens reais nestes recursos permitiu a associação, por parte das crianças, a espetos característicos do dia-a-dia das mesmas; 3) a atividade prática em grupo revelou-se de extrema importância para a integração de todas as crianças nas aprendizagens, para desenvolvimento da cooperação e para a compreensão, por parte das crianças, do direito de participação de todas, sem exclusão, na realização das atividades. Assim, com esta atividade, viram-se reforçadas competências subjacentes à área de Formação Pessoal e Social, competências de Cidadania e noções características da cultura açoriana.

5.1.5.2. Descrição Reflexiva sobre a Atividade II – Descobrindo o ciclo