• Nenhum resultado encontrado

Em consequência da expansão do ensino superior, fez-se necessária atenção em relação não somente a parte quantitativa, mas também qualitativamente, a citar a questão da avaliação e mensuração do desempenho, pois verificar o desempenho acadêmico torna-se relevante na criação de medidas e políticas voltadas para aprimorar o ensino e promover melhorias na formação discente, docente e de infraestrutura (MIRANDA; CASA NOVA; CORNACHIONE JUNIOR, 2013).

Nesse sentido, Dias Sobrinho (2010) destaca que a forma de organização e incremento de reformas educacionais são provenientes, principalmente, do processo de avaliação do desempenho e que a avaliação é um mecanismo inestimável para regulação, aquisição de conhecimento e transformação, além de ser responsável por produzir mudanças nos currículos, metodologias de ensino, práticas de gestão, nos modelos institucionais e responsabilidade social.

Dessa forma, avaliar o desempenho acadêmico, auxilia as instituições e os docentes a tratarem estratégias que objetivem melhorias no desempenho acadêmico e até mesmo motivar os alunos no meio acadêmico e futuramente, no profissional, tendo em vista que o desempenho não é uma preocupação somente das instituições e docentes, mas também do mercado (organizações, empresas, entidades, etc.) que irão receber os profissionais provenientes dessas instituições (UYAR; GÜNGÖRMÜŞ, 2011).

Tendo em vista que o crescente acesso ao ensino superior está relacionado com o desempenho e apesar dessa expansão, os indicadores brasileiros ainda estão longe dos indicadores educacionais adequados e do patamar educacional de países desenvolvidos, cabe aos governantes o devido direcionamento de recursos e a garantia da continuidade e aprimoramento das políticas públicas existentes, para superar a demanda de desafios que são acarretados por esse crescimento (OECD, 2015).

No cenário brasileiro, a trajetória do processo de avaliação do ensino superior iniciou- se na década de 1980, com a criação do Programa de Avaliação da Reforma Universitária (PARU) e por meio de documentos com propostas do Grupo Executivo para a Reforma da

Educação Superior (GERES) e da Comissão Nacional para Reformulação da Educação Superior (CNRES), órgãos de alto nível da educação superior da época. Sucessivamente, na década de 1990, foi criado o Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB) e instituiu-se o Exame Nacional de Curso (Provão) em 1996, porém, na maioria das instituições de ensino, os processos de avaliação foram efetivados apenas em 2004, com a criação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), por meio da Lei nº 10.861/04 (LEMOS FILHO et al., 2016).

A seguir, estão dispostos no Quadro 3, os principais sistemas de avaliação do ensino superior no Brasil, juntamente com seu ano de criação e a finalidade pelo qual o sistema avaliativo foi criado.

Quadro 3: Sistemas de Avaliação do Ensino Superior no Brasil

ANO SISTEMA DE AVALIAÇÃO FINALIDADE

1970 AVALIAÇÃO CAPES

Criado com o objetivo de avaliar cursos de pós-graduação (mestrado e doutorado), além de cumprir papel fundamental para o desenvolvimento da pesquisa científica no Brasil.

1983 PARU Tinha o intuito de gerir as instituições de ensino superior,

a produção e disseminação dos conhecimentos.

1985 GERES

Foi criado com o intuito de avaliar a educação superior para elaborar uma proposta de Reforma Universitária, porém não foi muito sucedido.

1987 AUTO AVALIAÇÃO

As próprias instituições começaram a se auto avaliarem, por meio de uma interlocução entre MEC e Instituições Federais.

1993 PAIUB

Programa de avaliação institucional respeitando as especificidades de cada instituição e voltado para o aperfeiçoamento do projeto acadêmico e social.

1997 PROVÃO

Prova escrita aplicada aos formandos das instituições de educação superior, para verificar os conhecimentos agregados pela instituição ao aluno e as competências adquiridas.

2003 SINAES

Criado com o objetivo de promover a melhoria da qualidade da educação superior, a expansão da sua oferta, o aumento permanente da sua eficácia institucional, efetividade acadêmica e aprofundamento dos compromissos e responsabilidades sociais.

2004 ENADE

Tem o objetivo de verificar o desempenho acadêmico no ensino superior, referente aos conteúdos programáticos estabelecidos nas diretrizes curriculares, as habilidades e as competências para exercício da profissão.

Pelo disposto no Quadro 3, é possível acompanhar a evolução do processo de avaliação do ensino superior no Brasil, além de entender o objetivo que o sistema avaliativo deveria/deve cumprir e o porquê de sua criação. Nota-se que, no decorrer dos anos, sempre existiu uma preocupação com a questão da avaliação no ensino superior e mesmo com essa evolução apresentada, muito ainda tem o que se avançar para se chegar a uma educação superior de qualidade.

Na atualidade e para fins de avaliação da educação superior, o SINAES instituiu a avaliação institucional de cursos de graduação, como também foram estabelecidos indicadores de qualidade, complementares entre si, em que são considerados os aspectos de ensino, pesquisa, extensão, desempenho dos alunos, gestão da instituição, corpo docente e infraestrutura, entre outros. O primeiro ciclo avaliativo do SINAES teve início em 2007 e desde então, a renovação de qualquer ato autorizativo, seja de recredenciamento de instituição ou de renovação de reconhecimento de curso, passou a ser obrigatoriamente condicionada à avaliação positiva (INEP, 2019).

O processo de avaliação e divulgação dos seus resultados, exercem influência no processo de classificação do ensino superior, refletindo na sociedade como um todo, que busca por meio de demandas externas, sociais, científicas, políticas, entre outras, um determinado “conceito”, em que é atribuída uma nota ou um status, e mesmo que seja cercado de incoerências e críticas, mas é incrementado no meio acadêmico como um resultado advindo das políticas públicas (BLEICHVEL, 2017).

Sendo assim, Crisóstomo, Barbosa e Freire (2011) afirmam que, no Brasil desde meados de 2004, os resultados são estabelecidos por dois conceitos: o Conceito ENADE, que avalia os estudantes por meio de uma prova escrita, aplicada aos ingressantes e concluintes do curso. Esse conceito é apresentado em cinco categorias, de 1 (resultado mais baixo) a 5 (resultado mais alto). O outro é o Conceito IDD (Indicador de Diferença entre o Desempenho Observado e Esperado), que objetiva apresentar os resultados comparativos dos desempenhos dos estudantes concluintes em relação aos resultados obtidos, assim, tem o propósito de mensurar o conhecimento adquirido ao longo do curso.

Posteriormente, em 2008, mais dois novos indicadores foram estabelecidos: o Conceito Preliminar de Curso (CPC), pela Portaria Normativa nº 04/2008, e o Índice Geral de Cursos (IGC), pela Portaria Normativa nº 12/2008. Ambos os indicadores são modificados por informações de um único dos três pilares previstos como essenciais pelo SINAES e, portanto,

esta é a avaliação utilizada para o desempenho dos estudantes brasileiros, atualmente (BLEICHVEL, 2017).

No Quadro 4, estão dispostos os principais indicadores utilizados pelo sistema educacional brasileiro para fins de avaliação do desempenho no ensino superior, juntamente com a sua operacionalização:

Quadro 4: Indicadores da Educação Superior e sua operacionalização

INDICADORES OPERACIONALIZAÇÃO

Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE)

O Conceito Enade avalia os cursos por intermédio dos desempenhos dos estudantes no exame. Seu cálculo e divulgação ocorrem anualmente para os cursos com pelo menos dois estudantes concluintes participantes do Exame. O Conceito Enade é obtido pela média ponderada da nota padronizada dos concluintes em conhecimentos específicos, da nota padronizada dos/as ingressantes em conhecimentos específicos e da nota padronizada na parte de formação geral (concluintes e ingressantes). Somando-se a estas, respectivamente, os seguintes pesos: 60%, 15% e 25%. Dessa forma, o que se referente ao conhecimento específico contribui com 75% da nota final do curso, enquanto que o geral contribui com 25%.

Indicador de Diferença entre os Desempenhos

Observados e Esperados (IDD)

O conceito IDD busca mensurar o valor agregado pelo curso ao desenvolvimento dos estudantes concluintes, considerando seus desempenhos no Enade e no Enem, como medida proxy (aproximação) das suas características de desenvolvimento ao ingressar no curso de graduação avaliado.

Para que um curso tenha o IDD calculado, é preciso que ele atenda às seguintes condições:

1. Possuir no mínimo 2 (dois) estudantes concluintes participantes do Enade com dados recuperados da base de dados do Enem no período entre o ano de ingresso no curso avaliado e os 3 (três) anos anteriores;

2. Atingir 20% (vinte por cento) do total de estudantes concluintes participantes do Enade com dados recuperados da base de dados do Enem.

Conceito Preliminar de Curso (CPC)

O cálculo e divulgação do CPC ocorre no ano seguinte ao da realização do Enade, com base na avaliação de desempenho de estudantes, no valor agregado pelo processo formativo e em insumos referentes às condições de oferta (corpo docente, infraestrutura e recursos didático-pedagógicos), conforme orientação técnica aprovada pela CONAES.

Os cursos que não tiveram pelo menos dois estudantes concluintes participantes não têm seu CPC calculado, ficando Sem Conceito (SC).

Índice Geral de Cursos (IGC)

O cálculo do IGC é realizado anualmente e leva em conta os seguintes aspectos: 1. Média dos CPCs do último triênio, relativos aos cursos avaliados da instituição, ponderada pelo número de matrículas em cada um dos cursos computados;

2. Média dos conceitos de avaliação dos programas de pós-graduação stricto sensu atribuídos pela CAPES na última avaliação trienal disponível, convertida para escala compatível e ponderada pelo número de matrículas em cada um dos programas de pós-graduação correspondentes;

3. Distribuição dos estudantes entre os diferentes níveis de ensino, graduação ou pós- graduação stricto sensu, excluindo as informações do item II para as instituições que não oferecerem pós-graduação stricto sensu.

Pelo disposto no Quadro 4, é possível verificar a forma como é operacionalizada os indicadores para medição de desempenho no ensino superior do Brasil. Destaca-se ainda a complexidade em que envolve os mesmos e a seriedade em que estão envolvidos na busca por resultados legitimados, que possam demonstrar a real situação da educação superior brasileira e em como os resultados obtidos por eles, podem servir de suporte para melhorias no desempenho das unidades acadêmicas.

O uso de indicadores, como estratégia para a avaliação do desempenho no ensino superior, serve de referencial básico para a avaliação externa, bem como subsídio para a avaliação interna da instituição, com o intuito de se chegar a diversas reflexões sobre o desempenho acadêmico, como orientação institucional e efetividade acadêmica e social, implantação de políticas públicas e até mesmo decisões por parte do público externo (estudantes, instituições acadêmicas e público em geral) na escolha de uma instituição ou curso superior (NUNES; DUARTE; PEREIRA, 2017).

Dessa forma, os indicadores da educação superior são importantes instrumentos de avaliação do ensino superior brasileiro e são expressos em escala contínua, em cinco níveis e têm relação direta com o Ciclo Avaliativo do Enade, que determina as áreas de avaliação e os cursos a elas vinculados. Esse ciclo compreende a avaliação periódica de cursos de graduação, com referência nos resultados trienais de desempenho de estudantes (INEP, 2019). As áreas de conhecimento e eixos tecnológicos de cada ano do ciclo estão representados no Quadro 5:

Quadro 5: Ciclo avaliativo por grau acadêmico e área de conhecimento CICLO

AVALIATIVO

GRAU

ACADÊMICO ÁREAS/CURSOS

ANO I

BACHARELADO Ciências Agrárias, Ciências da Saúde e áreas afins BACHARELADO Engenharias e Arquitetura e Urbanismo

TECNÓLOGO Ambiente e Saúde, Produção Alimentícia, Recursos Naturais, Militar e Segurança

ANO II

BACHARELADO Ciências Biológicas; Ciências Exatas e da Terra; Linguística, Letras e Artes; e áreas afins

LICENCIATURA Ciências da Saúde; Ciências Humanas; Ciências Biológicas; Ciências Exatas e da Terra; Linguística, Letras e Artes

BACHARELADO Ciências Humanas e Ciências da Saúde, com cursos avaliados no âmbito das licenciaturas

TECNÓLOGO Controle e Processos Industriais, Informação e Comunicação, Infraestrutura e Produção Industrial

BACHARELADO Ciências Humanas e áreas afins que não tenham cursos também avaliados no âmbito das licenciaturas

TECNÓLOGO Gestão e Negócios, Apoio Escolar, Hospitalidade e Lazer, Produção Cultural e Design

Fonte: Adaptado de INEP (2019).

Em relação ao Quadro 5, percebe-se que foi estabelecido que a avaliação pelo ENADE é trienal e respeita a ordem do seu ciclo avaliativo. Pode-se inferir ainda, que na avaliação proposta, estão compreendidos cursos das mais diversas áreas de conhecimento, nos seus diversos graus acadêmicos, assim, a avaliação se torna complexa e ao mesmo tempo igualitária para ambas as áreas. Dessa forma, as áreas para os cursos de bacharelado e licenciatura derivam da tabela de áreas do conhecimento divulgada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e os áreas tecnológicas são baseadas no Catálogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia (CNCST), do MEC (INEP, 2019).

Ainda de acordo com o INEP (2019) e em relação à forma como os cursos são avaliados, os resultados da avaliação pelo ENADE são classificados de acordo com os conceitos estabelecidos e podem ser visualizados no Quadro 6 a seguir.

Quadro 6: Conceito ENADE e sua definição

CONCEITO ENADE DEFINIÇÃO

Sem conceito Quando o curso não reúne condições que possam estabelecer o seu cálculo Conceito 1 e 2 Quando o curso pode ser considerado abaixo da média

Conceito 3 Quando o curso é considerado na média ou próximo da média Conceito 4 e 5 Quando o curso pode ser considerado acima da média Fonte: INEP (2019).

Dessa forma, após os cursos serem avaliados, são atribuídos conceitos que vão de 1 a 5, bem como, o curso pode não possuir nenhum conceito, isso ocorre quando o curso não passa pelo processo de avaliação devido algum motivo específico, como por exemplo, no ano da avaliação, o curso apresenta apenas um discente concluinte, o que impossibilita do mesmo realizar o exame. Embora os conceitos 1 e 2 serem atribuídos aos cursos considerados abaixo da média, o conceito 3 ser relacionado aos cursos com nota média e os conceitos de 4 a 5 serem considerados acima da média, a nota ENADE é considerada relativa, tendo em vista que não se pode concluir que automaticamente que o curso é “bom” ou “ruim”, apenas pela atribuição de uma nota, deve-se levar em consideração diversos fatores ou variáveis envolvidas nesse processo e por algum motivo, não pode ser contemplado na avaliação (INEP, 2019).

Nesse sentido, visto que o ensino superior no Brasil emergiu em proporções significativas ao longo dos anos e a atenção com a questão do desempenho acadêmico é uma preocupação em potencial, observa-se que as discussões voltadas para analisar o desempenho têm se tornado necessários nos âmbitos social, econômico, educacional, etc., tendo em vista que o mesmo pode ser influenciado por diversos atributos e dessa forma, o desempenho e suas atribuições causais são relevantes para o desenvolvimento do indivíduo e tende a melhorar suas ações (CORNACHIONE JUNIOR et al., 2010).

Então, identificar os fatores determinantes do desempenho acadêmico, vão de encontro ao que pretende ser analisado nesse estudo e para atender ao objetivo geral, as variáveis analisadas serão compreendidas em três grupos, como dispostos na Figura 1:

Figura 1: Grupos de variáveis que compõe o desempenho acadêmico

Fonte: Elaborada pelo autor, baseado em Glewwe et al. (2011) e Ferreira (2015).

Conforme visto anteriormente, o desempenho acadêmico é determinado por um conjunto de variáveis e podem influenciar direta ou indiretamente. Para fins de realização dessa pesquisa, o desempenho acadêmico será analisado por meio de três grupos, como representado na Figura 1 e irão compor o conjunto de variáveis dos discentes, relacionadas as questões sociodemográficas (sexo, idade, cor/etnia, atividade remunerada, renda familiar, escolaridade do pai e da mãe, tipo do ensino médio, modalidade do ensino médio e horas de estudo fora de sala de aula); como também as variáveis dos docentes, ligadas ao seu perfil profissional (sexo, titulação, regime de trabalho, formação na área, quantidade de publicações, domínio de

conteúdos, disponibilidade docente e metodologias utilizadas); e por fim, as variáveis ligadas a instituição de ensino, relacionadas ao suporte que o curso/instituição oferece ao seu público nos quesitos voltados para o ensino, pesquisa e extensão (localidade, recursos disponíveis, instalações físicas do curso, biblioteca, condições para participação em eventos, projetos, etc., suporte de monitores e tutores, atividades extraclasse de pesquisa, monitoria e extensão).

Nessa perspectiva e partindo da concepção da educação como responsável pelo desenvolvimento da sociedade, o ensino superior emergiu como um mecanismo base para esse desenvolvimento e a questão da avaliação do desempenho acadêmico, bem como o conhecimento dos fatores que são determinantes para esse processo, assumem papel relevante no âmbito da definição de políticas educacionais, com o intuito de assegurar um ciclo virtuoso e eficiente do processo avaliativo. Conhecer os fatores determinantes do desempenho acadêmico apresenta-se, assim, como uma necessidade imperativa, na medida em que se passou a ter maior atenção à qualidade do ensino, a partir do crescimento acelerado da oferta de cursos como o de Ciências Contábeis, que se faz presente como relevante para o crescimento do ensino superior no país e desenvolvimento em geral, por isso, a necessidade de se analisar a questão do desempenho acadêmico desse curso em específico e dessa forma, poder traçar políticas que visam melhorias em seu ensino (ARAÚJO et al., 2013).