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4.2 Perfil dos conselheiros municipais de saúde de Leopoldina entrevistados

4.2.6 Desempenho dos conselheiros

Importa, para fins desta pesquisa, conhecer o desempenho dos conselheiros sob seu ponto de vista, porque esta informação complementa a conclusão ao cruzá-la com a transformação da prática e a análise da representatividade.

Dessa forma, foi questionado aos conselheiros como eles consideram seu desempenho nessa função e foram sugeridas as opções: ótimo, bom, regular ou ruim. O resultado obtido foi: 50,00% consideram bom, 38,88% regular, 11,11% ótimo e nenhum deles considera ruim. Seguem depoimentos de alguns conselheiros justificando sua opinião (QUADRO 4):

Quadro 4 – Desempenho dos conselheiros de Leopoldina

Bom Regular Ótimo

Eu acho que é bom porque ótimo tinha que ser muito mais claro tudo que a gente faz e, às vezes, não é tão claro (E5).

Bom. Porque eu não entrei com muito conhecimento, mas no decorrer do tempo que eu fui conselheira, eu pude participar de vários cursos e melhorando, tendo um pouco mais de conhecimento e dando as minhas contribuições a partir desse conhecimento adquirido (E6).

Bom. Bom porque é o seguinte, eu costumo não faltar às reuniões, eu sempre fico informado da situação da pauta da reunião, quando não me faço presente, o meu suplente vai, a empresa, o prestador sempre está presente na mesa ou pelo titular ou pelo suplente e eu procuro me inteirar dos assuntos de todas as regiões ali (E8).

Eu sempre achei que eu fui bem. Eu achei bom meu trabalho no conselho (E9).

Eu vou considerar como bom. A gente sempre pode fazer algo mais (E10).

Eu acho que foi boa, porque eu me envolvia tanto com os conselheiros e percebia as necessidades deles pra poder fazer aquilo funcionar o melhor possível [...] (E11). Bom (E15).

Bom porque aprendi. A gente vai

compreendendo o que é o conselho (E16). Foi bom (E17).

Regular. Eu ainda estou aprendendo e quero aprender muito mais (E1).

Regular porque eu não sou atuante, eu sou atuante, como posso dizer, visualmente (E2).

Regular. Eu queria ter ido melhor. Até porque, é lógico que eu me esforcei ao máximo pra desempenhar a função. Mas, em função do tempo, das adaptações do nosso trabalho como conselheiro à realidade do próprio município (E4). Regular. Eu queria fazer muito mais. É porque eu não faço quase nada. Eu só frequento as reuniões (E7)

Atualmente está regular porque eu estou me sentindo desmotivada, mas tem aquela paixão, eu gosto. O conselho não está dando. A gente vai vendo as coisas acontecerem e não pode falar, não estou gostando, mas vou voltar. Eu sou teimosa (E12).

Eu acho que era muito problema. Regular.

Poderia ter sido melhor se não

demandasse tanto (E13).

Regular. Eu acho que, talvez se tivesse mais tempo para me dedicar ao conselho, eu poderia participar mais (E14).

Ótima. Porque

todo mundo

deixa tudo nas

minhas costas

(E3).

Ótimo porque eu sou uma pessoa que briga muito

pelas pessoas

(E18).

As falas de E8, que considera seu desempenho bom, e de E2 e E7, que consideram regular, vão ao encontro da discussão de Cotta et al. (2010), em que a participação de alguns conselheiros limita-se à presença nas reuniões como ouvintes, isto é, sem manifestar opiniões nos debates, o que evidencia seu desconhecimento técnico sobre saúde.

O aprendizado/conhecimento foi considerado por alguns (E1, E5, E6, E16) como fator facilitador do desempenho dos conselheiros. Entre os respondentes de Jurberg, Oliveira e Oliveira (2014), 95% não têm informações/conhecimentos necessários para exercer a função de conselheiro. Ambos os estudos evidenciam o valor da capacitação para o controle social como fonte de aprendizado.

Para E4, E13 e E14, a demanda e a falta de tempo prejudicaram um pouco a atuação. Por ser uma instituição formada por voluntários, a participação no conselho tem que ser encaixada nas agendas profissionais dos membros. Caldana e Figueiredo (2008) discorrem sobre a lógica de sustentação da atividade voluntária, que é considerada uma das dimensões da vida humana. Sob a ótica pública, é considerada uma forma de inserção da participação na esfera pública, em que o voluntariado é gerado e permitido pelo sistema capitalista para resolver seus problemas sem questionar suas causas, caso contrário, causaria conflito.

E12 considera seu desempenho regular e atribui sua ausência nas discussões à desmotivação e ao sentimento de opressão. Retomando a ideia de Freire (2016a), essa tirania ocorre quando uma das partes se impõe sobre a outra, o que configura uma relação desequilibrada de poder. Esse depoimento evidencia uma arena de conflito no conselho, caracterizada pela impossibilidade de expressão de opinião. A situação exemplifica a segunda teoria de representatividade citada anteriormente por Rolim et al. (2013). O perfil de E12 é formado por: representante dos trabalhadores. Sua escolaridade é nível médio, sexo feminino, participou de mais de 10 cursos oferecidos pelo CES/MG e é membro do CMS de Leopoldina há mais de 20 anos.

Em contrapartida, os dois conselheiros que consideram sua atuação ótima possuem as características semelhantes às de E12. Suas óticas colocam E3 como imprescindível e E18 como uma pessoa proativa. Ambos são representantes dos usuários, sua escolaridade é nível médio, são do sexo feminino, participaram de mais de 10 cursos oferecidos pelo CES/MG e foram membros do CMS de Leopoldina por mais de cinco anos. De fato, os conselheiros que se capacitam permanentemente são instrumentalizados para exercerem bem suas funções. Sete estudos reafirmaram a educação permanente como uma das estratégias essenciais para a potencialização do exercício do controle social, visando muni-lo de argumentos e capacidade crítica para a desenvoltura das discussões e tomadas de decisão (ALENCAR, 2012; DUARTE; MACHADO, 2012; GUIZARDI, 2015; JORGE; VENTURA, 2012; LAZARINI; SODRE; DALBELLO-ARAUJO, 2014; OLIVEIRA; IANNI; DALLARI, 2013; ZAMBON; OGATA, 2013).

Observa-se que o perfil de E12, E3 e E18 é praticamente o mesmo, porém as percepções de atuação são muito variáveis. Todas teriam as mesmas condições de exercer suas funções, mas o sentimento de opressão e desmotivação que E12 vivencia a afasta do conselho e a torna pouco atuante. Esse deve ser um ponto a ser resolvido no conselho.

Quando associa o desempenho à quantidade de cursos realizados, a maioria dos que consideram seu desempenho regular fez menos cursos (quatro fizeram um curso, um fez quatro e um fez 12). Dos nove que consideraram seu desempenho bom, quatro fizeram um curso, dois fizeram dois, um fez quatro e um fez 11. Os dois que consideram ótimo fizeram muitos cursos (um fez 10 e o outro fez 12).

Relacionando o tempo de permanência, o desempenho e a quantidade de cursos, apurou-se que os três conselheiros com mais tempo de permanência (22, 16, 12 anos) consideram seu desempenho regular. Entretanto, dois deles fizeram poucos cursos oferecidos a eles (dois e quatro) e um é exceção, pois fez 12 cursos em 22 anos de atuação, porém, sua desmotivação e sentimento de opressão já discutidos são motivos de sua atuação regular.