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4.2 Perfil dos conselheiros municipais de saúde de Leopoldina entrevistados

4.2.5 Escolaridade, tempo de atuação no conselho e participação nos cursos do

O QUADRO 3 mostra o panorama da população estudada sob o aspecto de grau de escolaridade, tempo de atuação no conselho e participação nos cursos oferecidos pelo CES/MG e será utilizado como base para as próximas análises.

Quadro 3 - Relação entre grau de escolaridade, tempo de atuação no conselho e participação nos cursos Escolaridade Segmento de representação Tempo de atuação no conselho Participação em cursos

Fundamental incompleto 1 Usuário 12 anos 4

1 Usuário 6 anos 2

1 Trabalhador de saúde Não soube responder 4

Médio 3 Usuários 3 anos 1

8 anos 12

3 anos 1

1 Trabalhador de saúde 22 anos 12

2 Governo 6 anos 1

2 anos 1

Superior incompleto 2 Usuários 4 anos 10

4 anos 1

Superior completo 1 Usuário 8 anos 11

1 Prestador 4 anos 1

Pós-graduação 5 Trabalhadores de saúde 3 anos 1

2 anos 1

3 anos 5

1 ano 2

16 anos 2

4.2.5.1 Escolaridade

A pesquisa do IBGE (2017) mostrou que, no Brasil, no 3º trimestre de 2017, entre as pessoas em idade de trabalhar (14 anos ou mais), 37,2% não tinham ensino fundamental completo, 45,2% possuíam ensino médio completo e 13,2% tinha nível superior completo. Na região Sudeste, 30,9% da população de 14 anos ou mais de idade não tinham ensino fundamental completo, 51,2% concluíram o ensino médio e 16% concluíram o nível superior. O nível de escolaridade revelado no CMS de Leopoldina foi de 11,10% com ensino fundamental incompleto, 38,88% com ensino médio completo e 44,44% com nível superior completo.

Pode-se inferir, a partir do GRÁF. 3, que o nível de escolaridade no Conselho Municipal de Saúde de Leopoldina, na região Sudeste e no Brasil, não é equivalente.

Enquanto a maior parte da população brasileira e da região Sudeste possui nível médio completo, a maior parte dos conselheiros entrevistados possui nível superior completo. Além disso, o percentual de conselheiros com nível fundamental incompleto é bem inferior ao regional e nacional.

Gráfico 3 - Comparação entre nível de ensino no Brasil e região Sudeste

No estudo de Cotta, Cazal e Rodrigues (2009), 67,6% dos conselheiros tinham ensino superior. Resultados inversos foram encontrados no estudo de Saliba et al. (2009), em que 71,5% dos conselheiros não possuíam ensino superior completo. A maioria dos conselheiros de Leopoldina também não possui ensino superior completo, entretanto, há mais equilíbrio nesse quesito, cujo resultado é 55,55% sem curso superior. Os autores concluíram que esse fator pode dificultar a compreensão de documentos.

Observa-se que o segmento dos trabalhadores de saúde tem nível de escolaridade mais alto, e os usuários mais baixo que os demais segmentos. Esse critério é mais diversificado no segmento de usuários, sendo que, entre os oito entrevistados, dois tinham nível fundamental incompleto, três médio, um superior incompleto e dois superior completo. Esse resultado diverge do estudo de Saliba et al. (2009), que revelou que a maioria dos usuários possui ensino fundamental incompleto.

Os conselheiros representantes do segmento governamental são de nível médio, ao contrário do estudo de Wendhausen e Caponi (2002 apud SALIBA et al., 2009), que verificaram que os conselheiros com nível superior fazem parte do segmento governamental. Os autores concluíram que o nível de participação dos membros é diretamente proporcional ao grau de escolaridade. 0,00% 20,00% 40,00% 60,00% EF incompleto EM completo ES completo Percentual N ív e l d e e n si n o Conselheiros Entrevistados Região Sudeste Brasil

A interferência do grau de escolaridade na participação em discussões nos conselhos é compartilhada entre os autores citados. Os resultados da investigação de Ramos et al. (2012) demonstraram diferença significativa de escolaridade entre representantes da sociedade e do governo, sendo maior no segundo. Concluíram, porém, que esse fator isolado não determina a relação de poder dentro do conselho, pois mesmo que o nível de escolaridade seja mais baixo, o acesso à informação e o senso comum são fatores igualmente importantes no processo de decisão.

A fala do entrevistado E4 exemplifica esse acontecimento dentro do conselho estudado:

Por exemplo, coloca na comissão pessoas que entendem muito, junto com pessoa que entendem menos. Pra chegar a levar a essas pessoas que entendem menos a um conhecimento [...] Havia uma tentativa de condensar essas pessoas, pessoas de maior capacidade com pessoas de capacidade mais limitada, até mesmo para depois chegar a um consenso comum. Limitada em termos, limitada em termos de teoria, porque na verdade, essa limitação teórica das pessoas traz outros pontos fortes delas que são sobre as unidades de saúde. Então os aspectos sociais das pessoas equilibram com os que têm conhecimento técnico.

Jurberg, Oliveira e Oliveira (2014) analisam de forma diferente a relação da escolaridade com a representatividade. Para eles, esse fator associado à renda considerável caracteriza um perfil elitista aos conselhos, o que pode prejudicar a “representação representativa”.

4.2.5.2 Tempo no exercício no controle social

A Resolução 333/2003, revogada pela Resolução 453/2012, sugeria dois anos para o tempo de mandato do conselheiro de saúde e permitia recondução por mais um mandato de igual período, segundo o Regimento Interno do Conselho Municipal de Saúde (BRASIL, 2003). Atualmente, o tempo de mandato é definido pelas próprias representações, assim, o Conselho de Leopoldina estabeleceu o tempo de mandato de dois anos (BRASIL, 2012c). Percebe-se que parte dos conselheiros de saúde de Leopoldina permanece na função por período prolongado e mandatos ininterruptos. Excluindo-se um conselheiro, que não soube responder sobre seu tempo de atuação no conselho, a média de tempo foi de 5,94 anos. Há seis conselheiros (35,29%) com seis, oito, 12, 16 e até 22 anos de atuação (3º a 11º mandatos), sete conselheiros com dois mandatos (41,17%) e apenas três (17,64%) conselheiros relataram a permanência até dois anos, ou seja, um mandato. Esses resultados complementados pelo discurso de E7 evidenciam baixa rotatividade dos membros: “de 2005 até hoje, quanto tempo,

num é... [...] As mesmas pessoas, quase as mesmas pessoas, com poucas exceções, mas quase as mesmas pessoas. Então, deve ter o que? Deve ter umas 6 pessoas que estão desde o começo”.

O depoimento de E3 sobre os mandatos reafirma o de E7 e expõe uma constatação divergente do estipulado pelo Regimento Interno de dois anos com uma recondução. Ressalta- se que essa informação não consta na Resolução 453/2012, como fala o conselheiro.

É porque cada época que muda a gestão, mudam os conselheiros também, de 2 em 2 anos, conforme a Resolução 453, as instituições têm a cadeira, mas têm que mudar os conselheiros, mas se a instituição quiser ficar com aquele mesmo conselheiro, fica, se não quiser, troca, entendeu?

Os resultados de Santos, Vargas e Lucas (2011), ao pesquisarem as características dos representantes dos usuários do Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte, são semelhantes aos de Leopoldina em termos de permanência, que mostraram que 41,2% estavam no segundo mandato e 35,3% estavam no terceiro ao quinto mandato.

Os representantes dos prestadores tendem a permanecer no conselho por vários mandatos consecutivos. Já os gestores permanecem dentro do tempo do mandato eletivo, ou seja, no máximo quatro anos, mas os dois entrevistados ficaram menos tempo. No segmento dos usuários e trabalhadores a permanência é variável.

Cotta, Cazal e Rodrigues (2009) também evidenciaram casos de baixa rotatividade com tempo de atuação de 16 anos e relataram em seu estudo mais duas evidências de baixa rotatividade. Uma de Cohn (2003 apud COTTA; CAZAL; RODRIGUES, 2009), que refere que a baixa rotatividade dos seus membros promove a elitização, e uma de Van Stralen et al. (2003 apud COTTA; CAZAL; RODRIGUES, 2009), que encontraram baixa rotatividade em seu estudo, em que apenas um conselheiro estava no primeiro mandato.

Possivelmente, a baixa rotatividade pode ser causada por uma sociedade que não exerce a democracia de forma plena, determinando a perpetuação de alguns indivíduos no exercício do controle social (COTTA; CAZAL; RODRIGUES, 2009). Os autores complementam que a perpetuação dos indivíduos no poder dificulta o acesso da sociedade ao conselho e sugerem a limitação de tempo de atuação e estímulo ao revezamento dos membros. Pelo depoimento de E14, verifica-se convergência com Cotta, Cazal e Martins (2010) ao reconhecer a falta de mobilização dos órgãos de classe como causa da baixa rotatividade dos profissionais de saúde: “tanto é que eu nunca consegui, nesses anos todos, alguém pra

entrar no meu lugar. Agora a instituição saiu do conselho porque eu não consegui mesmo. Até suplente não tinha ninguém que queria participar”.

Resgata-se o discurso de democracia exposto no capítulo 2, que a menciona como um troféu da sociedade, por ser um direito conquistado e não cedido ou imposto pelo governo. Retoma-se também a necessidade de a sociedade começar a exercer seu papel como cidadã e fazer valer o Parágrafo Único da Constituição Federal de 1988, que dispõe que “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição” (BRASIL, 1988).

4.2.5.3 Participação em cursos oferecidos pelo CES/MG

Vale relembrar que esse é um critério de inclusão da pesquisa e que não se enquadra nos objetivos analisar a frequência dos conselheiros nos cursos. Entretanto, proporcionalmente ao tempo de atuação no conselho, a maioria dos participantes da pesquisa foi frequente nos cursos oferecidos.

Nos últimos 10 anos foram oferecidos 12 cursos pelo CES/MG com registro da participação de 34 conselheiros. Considerando o quantitativo expresso no Regimento Interno de 48 conselheiros por mandato, ou seja, em cinco mandatos totalizam 240 conselheiros, sua participação nos processos de capacitação é pequena. Observa-se também que são os mesmos conselheiros que participam de todos os cursos.

Santos, Tavares Júnior e Leles (2013) enfatizam a disposição da Lei Complementar 141/2012 referente à participação e cobrança dos conselhos nos Programas de Educação Permanente para o Controle Social, principalmente de usuários e trabalhadores da saúde.

Em sua pesquisa, também Duarte e Machado (2012) e Zambon e Ogata (2013) verificaram que a maioria dos participantes não foi capacitada. Segundo os primeiros, pode ser devido à baixa oferta ou à alta rotatividade, causas que não se aplicam ao Conselho de Leopoldina. De acordo com Zambon e Ogata (2013), a capacitação não resolve o problema de alienação, mas ajuda a desenvolver o senso crítico.

Quanto à amostra de conselheiros entrevistados, com algumas exceções, a maioria era frequente nos cursos, proporcionalmente ao seu tempo de atuação. Os conselheiros mais frequentes eram do sexo feminino, possuíam nível médio de escolaridade e representavam os usuários, exceto um, que representava os trabalhadores.