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DESEMPENHO DE JAIR BOLSONARO NAS PESQUISAS ELEITORAIS

Durante os mais de vinte e oito anos de vida pública, o até então deputado Bolsonaro era popular por conta do seu discurso – polêmico muitas vezes – mas com pouco destaque na câmara, já que durante todos esses anos conseguiu aprovar apenas duas propostas: uma para isentar impostos em produtos industrializados e de tecnologia e outra em que regulamenta a utilização da pílula do câncer. De acordo com informações do jornal El País , Bolsonaro “12 ​era um lobo solitário que passou por sete partidos diferentes [...] dos 190 9 Disponível em < https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45989131 > Acesso em: 28 mai. 2019

10 Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/empresarios-bancam-campanha-contra-o-pt-

pelo-whatsapp.shtml> Acesso em: 28 mai. 2019.

11 Disponível em <https://exame.abril.com.br/brasil/empresarios-bancam-disparos-anti-pt-no-whatsapp-

diz-folha- haddad-reage/. Acesso em 25 mai. 2019.

projetos de lei apresentados por Bolsonaro, 32% eram relacionados aos militares, 25% à segurança pública e somente três a assuntos econômicos, dois à saúde e um à educação”.

Tentando passar uma imagem de ​outsider ​– aquele que não possui padrinhos políticos e constrói a sua própria carreira política ​– Bolsonaro analisou a composição do Congresso Nacional após as eleições de 2014 e constatou um avanço significativo do conservadorismo e a instalação de um ambiente anti-PT.

No dia seguinte à sua eleição, em 2014, analisou a composição do Congresso Nacional e notou que o conservadorismo havia avançado. Os representantes da bancada BBB (bala, boi e bíblia, ou seja, os que pedem a legalização das armas e que centram seus discursos na segurança, os que representam os latifundiários e pecuaristas e os deputados religiosos evangélicos). Era o momento de se aproximar ainda mais deles. Apesar de ser católico, voltou a se juntar aos evangélicos, se filiou ao Partido Social Cristão e foi batizado por um pastor [que seria acusado de receber propina tempos depois] no rio Jordão, em Israel. (EL País, 2018)

Ao longo de décadas, a insatisfação e o ressentimento com a política tradicional só haviam aumentado. Bolsonaro se fortaleceria ainda mais após uma tempestade política que enfraquecesse quem estivesse no poder. E, de fato, chegaram três: a grande recessão econômica, os escândalos da Petrobras e o impeachment de Dilma Rousseff.

Uma das primeiras sondagens de intenção de voto para presidente foi divulgada em maio de 2018, pelo Instituto Paraná Pesquisas. Foram ouvidos 2.002 eleitores entre os dias 27 de abril e 2 de maio nos vinte e seis estados da federação. Segundo o Instituto, a margem de erro da pesquisa foi de 2 pontos percentuais para mais ou para menos com nível de confiança de 95%.

Diante das incertezas da candidatura do ex-presidente Lula, foram considerados dois cenários diferentes: um com a presença do petista e outro sem. Outro candidato incerto colocado como opção foi o ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa, que posteriormente confirmou que não iria concorrer à presidência. O mesmo aconteceu com o apresentador Luciano Huck. Segundo o levantamento que considerou a participação de Lula, o petista liderava com 27,6% das intenções de voto, seguido por Bolsonaro (PSL, com 19,5%), Joaquim Barbosa (PSB, com 9,2%) e Marina Silva (Rede, com 7,7%). Já no cenário que considerou a ausência da candidatura de Lula, houve uma liderança de Jair Bolsonaro (PSL) com 20,7%, seguido por Marina Silva (Rede, com 12%) e Joaquim Barbosa (PSB, com 11%).

Em agosto, com o fim da data limite para registro das candidaturas no TSE, foi divulgada uma pesquisa pela CNT/MDA. Realizada entre os dias 15 e 18 de agosto, a pesquisa ouviu 2.002 pessoas em 137 municípios de 25 estados. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, com 95% de confiança. Vale lembrar que esse cenário considera os candidatos registrados no TSE, não havendo opções de candidaturas incertas.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT à eleição presidencial, lidera as intenções de voto na pesquisa com CNT/MDA com 37,3%, seguido por Jair Bolsonaro (PSL com 18,3%) Marina Silva (Rede, com 5,6%) e Geraldo Alckmin (PSDB, com 4,9%). Num eventual segundo turno, Lula (PT) derrotaria todos os candidatos com cerca de 49% a 50% dos votos. Contra Ciro (PDT), o placar seria de 49,4% a 18,5%. Contra Alckmin (PSDB), por 49,5% a 20,4%. Se o adversário fosse Bolsonaro, Lula (PT) teria 50,1% contra 26,4% do candidato do PSL.

A pesquisa CNT/MDA também avaliou o potencial de rejeição dos candidatos. Nesse cenário, Jair Bolsonaro (PSL) lidera o índice de rejeição com 53,7%, correspondendo aos entrevistados que não votariam "de jeito nenhum" no capitão reformado do Exército. Nessa mesma pergunta 52,7% citaram Marina (Rede) e 52,5% citaram Alckmin (PSDB). Ciro Gomes (PDT) foi citado por 44,1% dos eleitores pesquisados e Lula (PT) por 41,9%.

No mesmo mês, o Datafolha divulgou uma pesquisa considerando o cenário com Lula na disputa eleitoral e outro cenário com o candidato a vice do petista, Fernando Haddad, como o seu substituto numa eventual impugnação de sua candidatura pelo TSE. O Datafolha ouviu 8.433 pessoas em 313 municípios, de 20 a 21 de agosto de 2018. A margem de erro é de dois pontos para mais ou menos.

Na simulação da disputa com Lula, a estabilidade do eleitorado de Bolsonaro (PSL) o garantiria 19% das intenções de voto contra 39% de Lula (PT). Apareceram em seguida Marina Silva (Rede) com 8%, Geraldo Alckmin (PSDB) com 6% e Ciro Gomes (PDT) com 5%.

Figura 2​ - Pesquisa Datafolha: cenário com Lula

Fonte: Site Folha de S. Paulo 13

Com a ausência de Lula na disputa, Marina e Ciro somaram quase o dobro de suas intenções de voto, ficando atrás de Bolsonaro com 16% e 10%, respectivamente. Alckmin também sobe e soma 9%, empatando com Ciro dentro da margem de erro. Brancos e nulos somaram 11% com 3% de indecisos no cenário com Lula. Sem ele os índices sobem respectivamente para 22% e 6%.

Já no cenário que considerou o nome escolhido para substituir Lula em caso de inabilitação, o seu candidato a vice, Fernando Haddad (PT), há uma queda significativa nas intenções de voto. A sua largada nada promissora na missão de herdar votos tem apenas 4%, configurando um empate com o senador Alvaro Dias (Podemos).

13 Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/08/lula-chega-a-39-aponta-datafolha-sem-ele-

Figura 3​ - Pesquisa Datafolha: Haddad no lugar de Lula

Fonte: Site Folha de S. Paulo 14

A explicação para essa queda nas intenções de voto ao candidato do PT pode estar no fato de que 48% dos entrevistados não votaria em um candidato indicado por Lula. Haddad também tem uma grande desvantagem em relação ao ex-presidente: enquanto que 99% dos ouvidos dizem conhecer Lula, apenas 59% dizem já ter ouvido falar do ex-prefeito paulistano. Em comparação, 93% dizem conhecer Marina (Rede), 88% já ouviram falar de Geraldo Alckmin (PSDB) e 79% dizem conhecer Jair Bolsonaro (PSL).

Figura 4​ - Pesquisa Datafolha: apoio de Lula a um candidato

Fonte: Site Folha de S. Paulo 15

Quanto ao índice de rejeição, a pesquisa do Datafolha aponta que 39% dos eleitores nunca votariam em Jair Bolsonaro (PSL), seguido por Lula (PT com 34%), Alckmin (PSDB com 26%), Marina (Rede com 25%) e Ciro (PDT com 23%).

15 Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/08/lula-chega-a-39-aponta-datafolha-sem-ele

Figura 5​ - Pesquisa Datafolha: índice de rejeição

Fonte: Folha de S. Paulo 16

Em uma simulação de segundo turno, Lula seguia à frente de todos os seus adversários. Sem Lula, tanto Bolsonaro (PSL) quanto Alckmin (PSDB) derrotam o substituto Fernando Haddad (PT).

Figura 6​ - Pesquisa Datafolha: simulações de segundo turno

Fonte: Site Folha de S. Paulo 17

No dia 7 de outubro de 2018, em apuração de 1º turno divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) receberam o maior número de votos e seguiram para disputar o 2º turno das eleições. O candidato Bolsonaro teve 46,03% dos votos e Haddad 29,28%.

17 Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/08/lula-chega-a-39-aponta-datafolha-sem-

Figura 7​ - Resultado do 1º turno das eleições

Fonte: Site Estadão 18

No dia 29 de outubro, foi o dia da grande decisão entre Jair Bolsonaro, candidato do PSL, e o petista Fernando Haddad. Diante de tantas pesquisas, a vitória já era esperada para o capitão reformado do Exército, que somou 55,13% dos votos contra 44,87% do seu adversário.

Figura 8​ - Resultado do 2º turno das eleições

Fonte: Site Estadão 19

6 O DISCURSO POPULISTA NA PÓS-MODERNIDADE E O NEOLIBERALISMO

NA PÓS-DEMOCRACIA

É parte do discurso político a conquista da opinião e cabe ao povo aprovar o discurso pelo qual será arrebatado. Geralmente, esse ato de convencimento vem acompanhado de um discurso que adula e tranquiliza. Segundo Charaudeau (2016, p.107), há uma dramaturgia que faz uso de alguns componentes: “denúncia de um mal social de que o povo é vítima, estigmatização dos responsáveis e promessa de reparação do mal, defendendo certos valores e propondo meios de concretizá-los”. Além disso, o discurso político “explora um terreno semeado de crise social (desemprego, insegurança, injustiça), no qual desaparecem as grandes referências identitárias que criam o vínculo social: a nação, a identidade, a autoridade”. Temos portanto, os três pilares da dramaturgia política na qual o discurso populista se constrói. Para Charaudeau (2016, p.107) o populismo é, antes de tudo, uma questão de discurso.

O discurso populista se constrói, pois, sobre esses três pilares da dramaturgia política, mas centrado num líder carismático que exacerba suas características: o líder se apresenta como ​salvador​, o mal toma ares de catástrofe, às vezes

19 Disponível em: <https://politica.estadao.com.br/eleicoes/2018/cobertura-votacao-apuracao/segundo-turno>

apocalíptico, para fazer ao povo sua condição de ​vítima​, os responsáveis são

satanizados ​em culpados​, os valores são exaltados por seu efeito ​identitário​. (CHARAUDEAU, 2016, p.107, grifos do autor).

Sendo assim, fazem parte da construção do líder populista características como: carisma, visão, atitude, ruptura com o sistema e vingança aos inimigos. “Uma espécie de salvador bíblico capaz de atirar seus raios sobre os maus, e a quem se deveria aderir de maneira cega”. (CHARAUDEAU, 2016, p.108). Além disso, há uma falsa ilusão temporal de que as mudanças podem ser feitas de forma imediata. Trazendo para o nosso contexto de análise, esse ato de “fazer acontecer imediatamente” também faz parte do discurso populista apropriado por Bolsonaro. “Negar o tempo é ser populista, [...] uma espécie de promessa performativa que poderia fazer crer em milagres”. (CHARAUDEAU, 2016, p.109). É acabar com a “mamata”, é a falsa promessa de no primeiro ano de governo fazer a economia crescer, o dólar cair, o desemprego despencar, a corrupção acabar.

Assim sendo, o líder populista deve fazer prova de autenticidade e de sinceridade: ‘Eu sou tal como me veem’, ‘Eu faço o que eu digo’, condição ​sine qua non para estabelecer uma relação de confiança cega: ‘ ​Síganme!​’ (Sigam-me!), dizia Menem nos anos 1990. Ele deve também demonstrar potência através de uma oratória feita de ‘protestos’; sua linguagem deve ser simples e penetrante, buscando evitar a ‘l​angue de bois​’, fazendo-se acompanhar de uma vocalidade e de um gestual amplo e forte, utilizando-se, para galvanizar as multidões, de uma retórica grosseira (slogans racistas, metáforas guerreiras, ironia destruidora, jogos de palavras e trocadilhos insultuosos), e, para fazer prova da generosidade, apresentações teatralizadas. (CHARAUDEAU, 2016, p.109-110).

Podemos dizer que um conjunto de situações pode tornar um ambiente propício ao surgimento do líder populista. Portanto, corroborando com esta análise, Gallego (2018, p.7) traz outra perspectiva a partir do neoliberalismo, como um fenômeno que vai para além da economia e que não só atravessa todas as esferas da existência humana, mas se propõe como “a nova razão da existência humana”. Ao citar Laval e Dardot (2017), Gallego (2018, p.17) coloca o neoliberalismo como uma forma de existência, fabricação do ser humano. Ao citar Brown (2006), Gallego (2018, p.7) diz que apesar de possuírem duas racionalidades inicialmente diferentes, a direita neoconservadora e a direita neoliberal são aliadas numa dinâmica de poder. “Reformas neoliberais drásticas, cortes dramáticos do orçamento público, estado mínimo, restrição dos direitos trabalhistas, propostas econômicas impopulares”. (GALLEGO, 2018, p.7). Esses são exemplos, segundo a autora, de quando essas novas

direitas de matrizes diferentes se unem para deslocar o centro do debate público para legitimar

medidas ou se esconder sob discursos conservadores. No Brasil, um claro exemplo é a dinâmica das guerras culturais fomentada pelo

grupo neoliberal MBL (Movimento Brasil Livre), que insiste em polêmicas moralistas como as do Queermuseum ou a suposta pedofilia da exposição do MAM,

a fim de aumentar sua base de apoio. Moralismo fundamentalista e inquisidor que se

une a um discurso de negação e demonização da política tradicional. A política é

vista e pensada de forma vergonhosa, desprezível, imoral. É a politização da

antipolítica e o triunfo do ‘não sou político, sou gestor’. (GALLEGO, 2018, p.7) Diante de toda essa crise social que se forma, temos a falta de representação em

relação aos partidos políticos. Esses passam a ser vistos de forma decorativa, como grandes

“máquinas profissionalizantes e hiperburocratizadas, cartelizadas, que perdem sua conexão

ideológica, emocional e psicológica com o eleitor”. (Gallego, 2018, p.8). Temos também uma

crise de representação partidária, crise essa que incide mais ainda nos partidos da esquerda

tradicional. Segundo Gallego (2018, p.8), esses partidos de esquerda são, por muitas vezes,

“incapazes de cumprir suas promessas de mais inclusão social e igualdade”, o que acaba por

colocá-los juntamente com a direita mais moderada em um “centro” político. Esse

amalgamento é o responsável por descaracterizar as múltiplas diferenças partidárias entre eles

e, consequentemente, provocar reações nos extremos. O voto em Donald Trump, em Jair Bolsonaro, em Marine Le Pen é consequência

desta vulnerabilidade existencial, na qual a pós-democracia nos joga. Os

autoritarismos populistas e de extrema-direita oferecem respostas (simplórias e

enganosas, mas respostas) a este desespero ontológico, a esta sensação de risco e

medo global permanente e ao saudosismo conservador. As narrativas do muro, da

islamofobia, do “bandido bom é bandido morto”, ganham força e expressividade

numa realidade em que a pós-democracia oferece respostas existenciais insuficientes

aos milhões de sujeitos descartáveis, pauperizados e fadados a um não-lugar, a um

não-pertencimento sociopolítico. (GALLEGO, 2018, p.8) Ao citar Crouch (2013), Gallego (2018, p.7) define pós-democracia como “um sistema de fachada democrática, com instituições representativas que, na aparência, funcionam, mas, na verdade, por baixo desse exterior puramente formal, o sistema está

totalmente capturado pela lógica capitalista”. A pesquisadora chama a atenção para um

paradoxo existente, considerando que nessa pós-democracia há um esvaziamento de conteúdo

e sentido, ficando apenas na aparência. Dessa forma, a democracia dá lugar a ​corporocracia​. As grandes decisões passam a ser tomadas pelas grandes concentrações privadas de capital,

“que pensam a democracia como um instrumento para atingir maiores níveis de intervenção política e lucro”. (GALLEGO, 2018, p.7). Com a falta do poder popular, as decisões não são mais tomadas pelo “demos” e a democracia passa, portanto, a ser “um acessório do capitalismo, que é o verdadeiro coração do sistema”. (GALLEGO, 2018, p.7).

Temos portanto, o que a AD considera um efeito de sentido, a partir de uma leitura que nos conduz a silenciar e a mundializar o discurso. Há uma perda da identidade nacional. Esse discurso da mundialização, segundo Orlandi (2012, p.129), “é próprio do capitalismo”. Ao jeito de um discurso com roupagens neoliberais, noções de democracia e cidadania são frágeis e estão suscetíveis ao silenciamento. Ao citar Pêcheux, Orlandi (2012, p.131) fala de novos modo de assujeitamento, para ela “o ​liberalismo totalitário (CHOMSKY) soube colocar no ponto uma nova gestão da subjetividade na qual o sujeito contribui ativamente para seu assujeitamento, através de um sinistro jogo de palavras sobre o termo ​liberdade​, a que eu acrescento ​democracia​, ​cidadania etc”. (ORLANDI, 2012, p.131, grifos do autor).

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No primeiro capítulo fizemos a apresentação do tema, evidenciando que o ​corpus seria constituído pelo​slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de tudo”, sendo esse o bordão que marcou a campanha de Jair Bolsonaro durante as eleições de 2018. Em seguida foram expostos o objetivo geral de análise e os objetivos específicos para definir e compreender o funcionamento dos discursos presentes no referido ​slogan​. No segundo capítulo, vimos que o interesse pessoal pela política e o contato acadêmico com a Análise de Discurso levaram-nos à escolha do tema. Além disso, houve a motivação de contribuir na formação intelectual dos futuros profissionais publicitários e a expectativa de que o nosso projeto sirva de referência para outras pesquisas. Na metodologia, foram expostos os procedimentos metodológicos utilizados para alcançar os objetivos da pesquisa. Também foi nesse capítulo que tivemos a noção dos principais conceitos da AD, sendo ela o nosso amparo teórico. Já no capítulo quatro, expomos as principais teorias e técnicas que fazem parte do campo da publicidade e da propaganda, esmiuçamos as origens, funções e ferramentas da propaganda e como ela se relaciona com a política. Definimos o que são os ​slogans e iniciamos a análise do nosso

objeto de estudo, identificando os diferentes efeitos de sentido sintetizados e silenciados pelo

discurso. No quinto capítulo, que se refere às condições de produção, resgatamos as origens

históricas do nosso ​slogan e colocamos em evidência os fatores que contribuíram para o

surgimento das novas direitas no Brasil e, consequentemente, viabilizaram a produção e a

circulação do ​slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Os principais acontecimentos na política nacional durante o ano das eleições e o desempenho de Jair

Bolsonaro nas urnas também tiveram o seu espaço nesse contexto. No último capítulo,

encerramos traçando as principais características do discurso populista e o relacionamos com

o fenômeno neoliberal, assim como, suas ações no ambiente democrático. Nos cabe concluir que o ​slogan é o que Orlandi (2012, p.118), ao citar Pêcheux,

chama de Língua de Estado, sendo essa definida como “uma série de estratégias de discurso

obstinada em evacuar qualquer contradição e a mascarar a existência das relações de classe”.

Portanto, através da propaganda, observamos que o Estado individualiza o sujeito. No duplo

movimento de análise, identificamos uma forte presença do efeito de pré-construído e do

efeito de sustentação, apontamos algumas contradições e identificamos diferentes deslizes de

sentido. Sendo assim, exploramos diversas possibilidades que apontam diferentes formações discursivas. Através de sentidos não estabilizados, identificamos que a estrutura/acontecimento leva o sujeito ao condicionamento. [...] o efeito de pré-construído se consuma e mais uma vez o que se evita falar é

sobre o povo, é sobre o pobre, porque estes sim são lugares de litígio, de

mobilização social, do não estabilizado, daquilo que, sujeito a equívoco, seria uma

possibilidade real de ruptura da estrutura, da divisão social. Que sempre é adiada.

[...] Na medida em que não se aponta para a ruptura da estrutura, não se discute a

divisão social, e podemos mesmo dizer que, na realidade se a reafirma, reforçando o

capitalismo: só se adapta à estrutura, se reafirma a divisão, se capacita, agora

aumentando a possibilidade de consumo, alimentando a entrada no mercado.

(ORLANDI, 2012, p.142). Não pudemos deixar de observar que o ​slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima

de todos” foi além da produção de sentidos que evocam o nacionalismo e a religião. É um

procedimento na qual o Estado produz uma rede de memória que envolve um discurso

“neoliberal, mundializado, homogêneo e silenciado pela ideologia”. (ORLANDI, 2012,

p.126). Também tivemos as noções básicas de como funciona o discurso político, o discurso religioso e como ambos trabalham em conjunto com a propaganda política.

​REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Eliana de. ​Discurso religioso: um espaço simbólico entre o céu e a terra. [Dissertação] [Internet]. Campinas (MG). Universidade Estadual de Campinas, Mestrado em Linguística; 2000. 145p. Disponível em:

<http://revistas.iel.unicamp.br/index.php/sinteses/article/view/5883>. Acesso em 26 mai. 2019.

BBC. ​Steve Bannon declara apoio a Bolsonaro, mas nega vínculo com campanha: 'Ele é

brilhante'. ​Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45989131. Acesso em: 25

mai. 2019.

CHARAUDEAU, P. ​Discurso político. Tradução de Fabiana Komesu e Dilson Ferreira da Cruz. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2015 .

______. ​A conquista da opinião pública: como o discurso manipula as escolhas

políticas.​Tradução de Angela M.S. Corrêa. São Paulo: Contexto, 2016.

CHAUÍ, Marilena de Souza. ​Brasil: mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo:

Fundação Perseu Abramo, 2000.

CONTILNET (AC).​Coronel Ulysses diz que outdoor de Bolsonaro na Avenida Ceará, é apenas o primeiro do Acre ​: “É a nossa demonstração de apoio ao nosso futuro Presidente do Brasil, que em breve visitará o nosso Estado”, disse o coronel. [ ​S. l.​], 20 set. 2017. Disponível em:

https://contilnetnoticias.com.br/2017/09/coronel-ulisses-diz-que-outdoor-de-bolsonaro-na-ave nida-ceara-e-apenas-o-primeiro-do-acre/. Acesso em: 10 nov. 2019.

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