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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.2 Desempenho econômico-ambiental

Dois indicadores usados para avaliar o desempenho econômico-ambiental na economia são o Produto Interno Bruto (PIB), que representa a circulação de dinheiro nas atividades de produção, e os recursos usados para produzir riquezas que podem ser avaliados em termos de emergia. A relação entre o desenvolvimento econômico e recursos naturais (Ward et al., 2016) explica por que o desenvolvimento do país é frequentemente percebido como um compromisso entre os objetivos econômicos e a proteção ambiental.

Analisando-se o PIB e a utilização total de recursos, expressa como emergia total, quatro períodos diferentes podem ser detectados para o caso do Brasil de 1981 a 2011 (Figura 11). O período I (1981-1996) caracteriza-se por uma emergia total ligeiramente crescente ou quase constante; o PIB, no entanto, aumentou significativamente durante a primeira metade do período. Durante esses anos, o

sistema econômico foi baseado em uma grande parcela de recursos renováveis, efetivamente traduzida em produção econômica. Pelo contrário, durante o período II (1996-2002), a emergia total cresceu exponencialmente, enquanto o PIB declinou. Esse agravamento da eficácia do funcionamento econômico nacional ocorreu em conjunto com a crescente quota de recursos não renováveis. Essa tendência se inverteu no Período III (2002-2007) até a crise econômica de 2008. Durante esses anos, o crescimento da emergia total desacelerou, enquanto o PIB experimentou um crescimento exponencial. No último período, período IV (2007-2011), a economia foi afetada pela crise econômica global, como pode ser observado por uma ligeira queda na tendência do PIB. No entanto, a emergia total continuou a crescer exponencialmente, bem como o PIB, logo após 2008.

(a) (b)

Figura 11 – (a) Emergia Total (sej/ano) e (b) PIB (US$/ano)

A partir dos resultados da análise individual dos indicadores U e PIB, evidencia- se uma estreita ligação entre a utilização total dos recursos e o PIB, conhecida como a razão de emergia por dinheiro (EMR, sigla em inglês). Os declínios na Figura 12, observados nos trechos I e III, representam o aumento do PIB, maior que a emergia, refletindo na redução da EMR. Isso significa maior eficiência, pois usaram-se menos recursos humanos e da natureza para a circulação de dinheiro na economia. Percebe- se que, nos dois períodos (1981 a 1996 e 2002 a 2007), os valores do EMR decrescem, isto é, há períodos de maior desempenho econômico-ambiental.

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1981 1986 1991 1996 2001 2006 2011 Em e rgia To ta l (no rma li z a da ) Tempo/ano I II III IV 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1981 1986 1991 1996 2001 2006 2011 PIB (n orm a li z a do ) Tempo/ano I II III IV

A ascendência do trecho II representa o aumento do EMR, indicando menor eficiência porque houve mais uso de recursos humanos e da natureza para que o dinheiro circulasse na economia. No trecho IV (2007 a 2011), verifica-se que a emergia total (U) apresenta o aumento de 79%, enquanto o PIB aumenta 69%, mantendo a EMR constante.

A economia é mais consumidora de energia por unidade monetária de serviço produzida. Além disso, o funcionamento econômico é altamente variável, passando por 4 períodos distintos, enquanto que durante os mesmos anos o mosaico do ecossistema do Brasil continua proporcionando um fluxo constante de serviços com uma eficácia constante e maior. Isso destaca como as configurações dos ecossistemas são capazes de traduzir os insumos de energia e matéria em serviços valiosos muito mais eficazmente do que o sistema econômico nacional. Esse resultado está em linha com o observado por Coscieme et al. (2014) para um grande conjunto de países e em comparação com o EMR na escala global

Figura 12 – Desempenho econômico-ambiental do Brasil de 1981 a 2011

É relevante não só compreender quais foram os recursos naturais e pagos e as quantidades utilizadas para o crescimento das atividades econômicas brasileiras num dado período, mas também conhecer os fatos históricos, políticos, sociais e econômicos que ocorreram no país que interferem no desempenho econômico- ambiental. Segundo Warr; Ayres (2010), os vínculos de causalidade precisam ser

0.00 0.40 0.80 1.20 1.60 2.00 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 Em e rgy m on e y rati o /(1 0 13 s e j/ US$) Tempo/ano I II III IV Plano Real Crise Russa Crise Internacional Crise Internacional

investigados.

Os fatos econômicos e sociais do Brasil de 1981 a 2011 estão apresentados nas Tabelas 7 e 8 e poderiam ser correlacionados aos períodos definidos na Figura do EMR.

Tabela 7 – Dados sociais Período Ano Inflação (%) Taxas Analfabetismo de pessoas

acima de 15 anos (%) Desemprego (%) GINI 1979 77.2 30 4.1 0.60 I 1981 95.67 26 7.9 0.57 1989 1.973 18.8 3.4 0.62 1996 9.6 14.6 5.4 0.59 II 2000 5.97 12.8 7.1 0.60 2002 12.53 11.8 6.2 0.58 III 2004 7.60 11.2 11.5 0.56 2007 4.46 9.9 9.3 0.55 V 2008 5.90 10 7.9 0.54 2011 6.50 8.6 6 0.52

Os dados foram obtidos em: a) Inflação - http://pt.global-rates.com/estatisticas- economicas/inflacao/2013.aspx b) Analfabetismo e Desemprego - IBGE. www.ibge.org.br

O Brasil vivenciou, entre 1980 e 1990, um período inflacionário. A taxa de inflação passou de 77,24%, em 1979, para 95,64%, em 1981, atingindo 1.973% em 1989.

A Tabela 8 mostra que, nesse período, vários planos governamentais foram implantados com o objetivo de se estabilizar a economia. Resultado satisfatório foi obtido com o Plano Real, que manteve a taxa cambial fixa, favorecendo as importações e propiciando um aumento da oferta interna de bens. Observa-se que, no final dos anos 80, mesmo com a menor taxa de desemprego (3.35), a taxa de inflação atingiu aproximadamente 2000%, e a desigualdade social, medida pelo GINI (0,62), foi a maior de todos os períodos analisados. Em 1996, no final do Período I, a inflação diminui para 9,6% (Tabela 7).

Tabela 8 –. Fatos históricos, políticos e econômicos do Brasil de 1979 a 2001.

Períodos Mandatos Políticos Econômicos

- 1979-

1981

30º Presidente: General João Baptista de Oliveira

Figueiredo.

- Transição da ditadura para o regime democrático. Alta inflação. I 1981- 1985 1985- 1990

31º Presidente: José Sarney Tipo de eleição: indireta direta. Exerceu a Presidência da República, por sucessão, em virtude do falecimento do Presidente Tancredo de Almeida Neves. Primeiro governo civil após o movimento Militar de 1964.

- Alta inflação.

- Duas mudanças de moeda: em 1986, de Cruzeiro para Cruzado (corte de 3 zeros); e em 1989, de Cruzado para Cruzado Novo (corte de 3 zeros).

- Plano Cruzado (1986) e Plano Bresser (1987). 1990- 1992 32º Presidente: Fernando Collor.

Tipo de eleição: direta. Primeiro presidente eleito por voto popular. Período marcado por escândalos de corrupção que levaram ao processo de impeachment em 1992. Collor foi afastado do poder.

- Alta inflação.

- Uma mudança de moeda em 1990,

de Cruzado Novo para Cruzeiro (sem corte de zero).

Plano Collor I e Plano Collor II.

1992- 1995

33º Presidente: Itamar Franco - Alta inflação até 1994

- Duas mudanças de moeda: em 1993, de Cruzeiro para Cruzeiro Real; e em 1994, para Real (divisão por 2750). - Plano Real (1994). 1995- 1996 34º Presidente: Fernando Henrique Cardoso - Moeda Real. - Inflação controlada. - Crise russa (1998). - Desvalorização do Real (1999) - Crise financeira internacional de 2000-2002.

- Eleição Presidencial - “Efeito Lula” (2002). II 1996- 2002 III 2003- 2008

35º Presidente: Luís Inácio Lula da Silva.

- Moeda Real.

- Crise financeira internacional (2008)

IV 2008-

2011

Os dados foram encontrados em: Biblioteca da Presidência da República http://www.biblioteca.presidencia.gov.br; Banco Central do Brasil: https://www.bcb.gov.br/?CEDMOEBR; Plano do Brasil (Garcia, 2011).

Com a pressão da Crise russa (1998), houve a flutuação da taxa de câmbio, em janeiro de 1999, resultando na desvalorização do real e no aumento nos preços, porém a inflação manteve-se moderada nesse período. Também, em 1999, a política

de metas foi implantada no Brasil, com o objetivo de monitorar e controlar a inflação do país, resultando em taxa de inflação de aproximadamente 6% no ano de 2000.

A taxa de inflação para o Período III foi menor em relação aos períodos anteriores, mas superior ao Período IV. Em tempos de taxa de inflação baixa, ocorreu o aumento do valor em 2002, que pode ser explicado por ser um ano de eleição e mudança de governo.

De forma geral, nota-se que o índice GINI apresentou o maior valor, no final da década de 80, indicando uma menor distribuição de renda, enquanto que, em 2011,

obteve-se o menor GINI, isto é, uma melhor distribuição de renda de todo período estudado. A menor taxa de analfabetismo foi encontrada no ano de 2011, reflexo das melhores condições de qualificação ofertadas pelas políticas governamentais.

Os resultados mostram que uma avaliação levando em conta os indicadores de PIB e Emergia não mostram uma avaliação de sustentabilidade, pois não consegue relacionar os fatos políticos e sociais que aconteceram nesse período a uma maior ou menor eficiência dos usos dos recursos na economia.

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