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Orçamento Participativo

3.3. Desenho Institucional e Dinâmica do OP em Fortaleza

A história sociopolítica de Fortaleza confunde-se com a de outros municípios nordestinos, com destaque para o paternalismo político, o populismo12 e as relações de clientela. Fortaleza experimentou, por longo tempo, as indicações políticas para o mandato de Intendente e Prefeito, desde o período Colonial até a República, tendo uma evolução em 1928, com a primeira eleição de voto secreto que elegeu Álvaro Weyne para prefeito. Com a instalação da Revolução de 1930, entretanto, retrocede-se para as indicações e, somente em 1985, através do voto direto, o povo elegeu Maria Luisa Fontenele (1986-1989), do Partido dos Trabalhadores13.

Deve-se creditar às mudanças constitucionais de 1988, o fato de que as relações patrão-cliente sejam paulatinamente substituídas por formas “modernas” de participação política14. No Ceará, o final dos anos 80 se caracteriza por uma nova forma de fazer política, quando Tasso Jereissati é eleito governador do Ceará com o apoio de um Movimento Pró-Mudanças integrado pelos empresários e por partidos de esquerda. Ao longo dos seus dois períodos de governo, Tasso Jereissati (1987-1990 e 1995-1998) constrói um discurso de mudanças nas práticas coronelistas e clientelistas dos antigos coronéis que detinham o governo estadual e a maioria dos municípios cearenses. Sua

12 O populismo aparece como a maneira mais eficaz de contato social em que a classe trabalhadora é inserida

no processo político através do voto, mas não intervem no sistema político tradicional existente. O que se cria é uma ilusão prática, que é a ideia de que todos, independentemente de sua condição sócio - econômica, estão participando do exercício político.

13 Foi uma gestão muito conturbada, posto que a prefeita eleita herdou dívidas monumentais, inclusive os

rombos na folha de pagamento dos servidores. Vivenciei esse período à frente da gerência da Diretoria Geral da Secretaria de Transportes do Município-PMF.

14 Alguns cientistas sociais, porém, não vêm desenvolvimento e clientelismo como processos excludentes: o

primeiro não necessariamente levaria ao fim do segundo. Lande (1983), por exemplo, afirma que as formas institucionais modernas de participação política e o clientelismo são não somente compatíveis, mas também complementares porque, em determinados contextos, aquelas não são capazes de prover as necessidades básicas da maioria da sociedade e de seus membros.

gestão foi pautada pela combinação entre Estado e economia e a implantação do estado neoliberal.

Será com o apoio de Tasso que Ciro Gomes se elegerá prefeito de Fortaleza para o período 1990-1994. Embora este tenha cultivado a imagem de governante democrático e participativo, na prática, concentrou as decisões em suas mãos, caracterizando um modelo de gestão populista. Ciro Gomes permaneceu na Prefeitura até 1990, quando foi eleito governador do Ceará. Assume a Prefeitura, então, o Vice-Prefeito Juraci Magalhães, que se manteve à frente do Executivo até 1993. Juraci Magalhães foi sucedido por Antonio Cambraia (1993-1997), derrotando o candidato Assis Machado, apoiado pelo governador Tasso Jereissati e por Ciro Gomes.

Em 1997, Juraci Magalhães retorna à Prefeitura reeleito para o quadriênio 2001-2004. Esta gestão do prefeito Juraci Magalhães evidencia a modernização da estrutura político-econômica municipal concentrada em grandes obras e redirecionando as políticas públicas para o desenvolvimento local. Juraci Magalhães implementa uma ampla reforma na estrutura administrativa municipal com a descentralização do atendimento dos serviços básicos distribuídos em seis secretarias regionais. Esta descentralização administrativa15 está associada a uma ação de intersetorialidade e significa no discurso oficial.

“aproximar o governo do cidadão [...], viabilizar a participação do

cidadão nas decisões, reconhecer os direitos do cidadão”; A intersetorialidade significa: “[...] resolver os problemas no local e de

forma integrada” (FORTALEZA, 1997).

Em que pese a importância desta reforma administrativa e o novo discurso participacionista, a cidade continuará a conviver com a crescente dualidade entre os modernos aparatos financeiros e as luxuosas áreas residenciais e a população excluída dos bairros pobres e favelas. O condicionante econômico e a modernização da administração municipal foram postos à disposição não de um real processo democrático, mas de uma política em que os esforços para as coalizões advinham da necessidade da manutenção do poder e da conquista dos objetivos políticos e econômicos.

Será em 2004, que a questão da participação volta ao centro dos debates com a eleição de Luizianne Lins para o quadriênio 2005-2008. Luizianne Lins tem uma carreira

15 Para Arretche (2009, p. 16), descentralização é a institucionalização, no plano local de condições técnicas

política com forte atuação nas áreas de educação, juventude, cultura, sexualidade, movimento popular, questão de gênero, meio ambiente e de defesa dos direitos humanos. Um dos eixos prioritários de sua gestão é a participação popular. Nela estão inseridos o Orçamento Participativo - OP (2005), a construção do Plano Plurianual Participativo-PPA (2008/2011) e o Plano Diretor Participativo-PDP (2008), contemplado em sua segunda gestão.

A prática de gestão participativa em Fortaleza teve início com a implementação de um modelo de gestão pública participativa desenvolvido pelo pesquisador e gestor16 João Alves de Melo. Em uma pesquisa17 realizada em 2001, Melo analisou uma amostra de 24 municípios cearenses, incluso Fortaleza, e concluiu que o modelo de gestão participativa contribui para a definição de prioridades na alocação dos parcos recursos públicos. Com o propósito de aperfeiçoar as prioridades para alocação dos recursos públicos municipais, Melo propôs uma matriz de relacionamento institucional e um modelo de gestão participativa organizada em três níveis (figuras 12 e 13).

Figura 12 – Matriz de Relacionamento Institucional.

Fonte: Melo (2001).