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2.3. Processo de Construção da Pesquisa

2.3.4. Desenho Metodológico da Pesquisa

No quadro da metodologia, a atitude de investigação adoptada centrou-se num processo rigoroso e sistemático de descrever a realidade a partir de uma abordagem mista, que privilegiou as representações dos formandos, do Tutor e do Responsável Pedagógico, para compreensão da problemática a estudar, designadamente, a FPCT no âmbito dos Cursos de Aprendizagem.

Esta metodologia de investigação pode ser vista como uma metodologia mista que combina enfoques das abordagens quantitativa e qualitativa, que foram considerados nos procedimentos metodológicos da pesquisa realizada. Consiste, segundo Sampieri, Collado & Lucio (2006) num modelo misto em que ambos os enfoques, qualitativo e quantitativo, se combinam durante todo o processo de pesquisa, ou pelo menos, na maioria das suas tapas.

A abordagem qualitativa não pretende generalizar, de maneira intrínseca, os resultados para populações mais amplas nem, necessariamente, obter amostras representativas, nem mesmo, pretendem que os seus resultados sejam transferidos. Assim, fundamentam-se mais num processo indutivo (exploram, descrevem e originam perspectivas teóricas). Indo desta forma, do particular para o geral (Sampieri, Collado & Lucio, 2006).

As técnicas de recolha de informação resultaram de inquéritos por questionário, entrevistas semi-directivas e análise de documentos – circulares normativas e orientações técnicas – disponibilizadas na intranet e em suporte de papel, pelo Departamento de Formação Profissional.

Avaliação da FPCT no âmbito dos Cursos de Aprendizagem ● Relatório de Estágio 23

Tratando-se de uma investigação de carácter qualitativo, atendendo à situação, considerou-se que o questionário seria o instrumento mais indicado para recolher dados junto dos formandos que frequentam Cursos de Aprendizagem e que já tenham frequentado a FPCT, que se realiza alternadamente com a formação em sala. Assim, com a problemática e os objectivos definidos, procedi à elaboração do instrumento de recolha dos dados, o questionário (anexo n.º 12).

O questionário teve como objectivos obter informações junto dos formandos para que avaliassem o funcionamento e o impacto da Formação em Contexto de Trabalho na aplicação e aquisição de competências e identificassem potencialidades e aspectos a melhorar nesta componente de formação.

Para poder conceber este instrumento procedi a uma revisão da literatura, análise de documentos fornecidos pelo DFP e de estudos anteriores sobre a mesma temática, com o objectivo de conhecer, em profundidade, as problemáticas que se colocam em investigações desta natureza.

O questionário foi objecto, em diferentes momentos, de diversas análises e reformulações do conteúdo e estrutura, com o objectivo de o melhorar e validar, contando com a supervisão e feedback da orientadora de estágio e da orientadora académica. Esta triangulação foi uma mais valia para o trabalho e, também, efectivamente, para a correcção do questionário e para melhorar a sua adequação aos destinatários, tendo como principal preocupação adequar a linguagem ao grupo a quem se destinava o questionário e garantir a sua clareza e objectividade.

Após autorização para realizar a pesquisa no CT/FP do Seixal estabeleceu-se os necessários contactos com a Coordenadora de Núcleo de Planeamento, Avaliação e Certificação daquele Centro. Em sequência, seleccionaram-se as acções de formação nas quais iria aplicar o questionário aos respectivos formandos que cumprissem os requisitos previamente definidos (frequentar um Curso de Aprendizagem e já ter frequentado, pelo menos, um período de FPCT), e, posteriormente, acordou-se com a Coordenadora o dia para a aplicação, num primeiro momento, do pré-teste. Se após a sua aplicação não se identificasse problemas, aplicar-se-ia, no mesmo dia, às restantes acções, caso contrário, seria objecto de reformulação e aplicação posterior aos formandos das restantes acções.

Acresce referir que na aplicação dos questionários na fase de pré-teste tive o acompanhamento da Coordenadora de Núcleo de Planeamento, Avaliação e Certificação que fez um breve enquadramento ao grupo que frequenta o Curso na saída

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profissional de Técnico de Animação Turística, no 2.º período da formação, relativamente à finalidade deste questionário na pesquisa que estava a realizar. Após uma breve apresentação, aos formandos, do trabalho que estava a desenvolver, passei à explicação dos objectivos do questionário, seu enquadramento, foi garantido o anonimato das respostas dadas e pedi para serem sinceros e objectivos nas respostas, reflectindo sobre a formação prática na empresa que cada um frequentou.

Não foram colocadas questões significativas sobre o conteúdo nem sobre a terminologia utilizada no questionário. A dificuldade que encontrei foi em termos gráficos, pois no ponto 7 do questionário, relativamente à aprendizagem na FPCT, os formandos tiveram dificuldades em distinguir o quadrado que correspondia a cada afirmação pelo facto de as diferentes alíneas estarem muito juntas. Quando recebia os questionários respondidos pelos formandos, analisava-os superficialmente, no sentido de verificar se os formandos tinham respondido a todas as questões e quando verificava que estava incompleto, devolvia o questionário e pedia-lhes que respondessem a todas as questões, que não deixassem nenhuma por responder e explicava a pergunta para verificar se a tinham entendido devidamente.

Após a aplicação do questionário a este grupo de 13 formandos decidi aplicá-lo a mais um grupo para obter o feedback, tendo em atenção as questões que tinham suscitado alguma dificuldade a responder, nomeadamente, na última questão (parte IV, n.º 7) em que lhes era pedido para, em cada par de afirmações, assinalarem a que mais se ajustava à sua experiência na formação prática que frequentaram.

Após agradecer a colaboração dos formandos, deslocámo-nos para outra sala de formação, desta vez, para aplicar o questionário aos formandos do Curso com a saída profissional de Técnico de Electricidade (3.º ano, 9 formandos). A aplicação do questionário neste grupo de formandos correu melhor, não tendo suscitado grandes dúvidas.

Como o feedback que obtive, por parte dos formandos, relativamente ao questionário e sua compreensão, nesta fase de pré-teste, foi positivo, decidi aplicar os questionários aos restantes grupos que tinha, previamente, seleccionado. Assim, a ordem de aplicação dos questionários aos restantes grupos foi a que a seguir se apresenta, tendo por base a designação da saída profissional do respectivo Curso: Técnico de Informática (3.º ano, 11 formandos); Técnico de Mecatrónica Automóvel (1.º Período, 11 formandos). De tarde, foi aplicado o questionário a mais três grupos, designadamente, Técnico Recepcionista de Hotel (3.º ano, 9 formandos); Técnico de

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Agência de Viagens (3.º ano, 16 formandos); Técnico de Mecatrónica Automóvel (3.º ano, 9 formandos), totalizando 78 formandos que responderam ao questionário.

Em termos gerais, a adesão dos diferentes grupos de formandos a quem foram aplicados os questionários foi bastante positiva, não existindo nenhum formando que não tenha respondido. A recepção e apoio do CT/FP do Seixal foi, igualmente, muito positiva e colaborante, proporcionando ambiente para aplicação deste instrumento e criando condições para ter uma aproximação aos inquiridos, assim como a sua receptividade e aceitação. Penso que a intervenção dos formadores também foi importante para que os formandos aderissem facilmente na resposta aos questionários.

Como aspectos positivos considero deve-se salientar o modo célere como obtive acesso ao campo de estudo CT/FP do Seixal, a existência de diferentes acções de formação para aplicação do questionário, a receptividade que tive por parte dos técnicos do CT/FP do Seixal e dos formandos dos Cursos seleccionados.

Contudo, na aplicação do questionário verifiquei que havia dificuldade dos formandos em perceberem o significado da sigla FPCT, embora tenha explicado verbalmente o seu significado e, ainda, informado que o nome da sigla estava expresso na introdução do questionário. Verifiquei, igualmente, que alguns formandos tinham dificuldade em a associar à sua formação prática na empresa.

A fase seguinte da pesquisa foi a análise dos 78 questionários, através de uma análise qualitativa descritiva para as respostas fechadas (anexo n.º 13), análise de conteúdo para as respostas abertas (anexos n.º 14 e 15) e a identificação da necessidade, ou não, de voltar ao campo de estudo para proceder a nova recolha de dados ou para aprofundar os dados recolhidos.

Com o objectivo de identificar cada um dos formandos e manter o seu anonimato na análise, apresentação e discussão dos dados recolhidos através do questionário, atribuiu- se uma letra e um número a cada formando que frequenta um determinado Curso de Aprendizagem e saída profissional, nomeadamente: A – Técnico de Animação Turística (2.º período da formação, 13 formandos); B – Técnico de Electricidade (3.º ano de formação, 9 formandos); C – Técnico de Informática (3.º ano de formação, 11 formandos); D – Técnico de Mecatrónica Automóvel (1.º período de formação, 11 formandos); E – Recepcionista de Hotel (3.º ano de formação, 9 formandos); F – Técnico de Agência de Viagens (3.º ano, 16 formandos); e G – Técnico de Mecatrónica Automóvel (3.º ano de formação, 9 formandos).

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Considerei, também, que seria pertinente recolher dados junto dos restantes intervenientes no desenvolvimento da FPCT. Assim, decidi fazer uma entrevista a um Responsável Pedagógico (anexo n.º 18) e a um Tutor (anexo n.º 21) da FPCT de um Curso de Aprendizagem na saída profissional de Técnico de Informática. Foi utilizada a entrevista uma vez que o seu carácter não estatístico facilitou a recolha de informação e permitiu responder aos objectivos identificados para esta pesquisa.

De acordo com Hayman (1984), a entrevista é uma técnica através da qual o entrevistador fala directamente com o entrevistado de forma a obter informação acerca da sua opinião sobre uma determinada realidade. A entrevista permite, também, maior flexibilidade na obtenção da informação, possibilitando aprofundar o assunto e criar um vínculo muito maior com o sujeito, porque se realiza cara a cara. As entrevistas realizadas foram do tipo semi-directivas.

Procedi à elaboração dos guiões da entrevista semi-directiva (anexos n.º 16 e n.º 17) a aplicar, sendo contactado com o CT/FP do Seixal para solicitar à Coordenadora de Núcleo que facultasse o contacto com um Responsável Pedagógico e um Tutor da FPCT, intervenientes numa acção de formação, o que veio a acontecer no dia 4 de Junho. Pretendeu-se recolher dados que permitissem conhecer: (i) o processo de planeamento e organização da FPCT; (ii) a relação estabelecida entre a Entidade Enquadradora e o CT/FP; (iii) o acompanhamento da FPCT; e (iv) a avaliação das aprendizagens na FPCT.

Os guiões das entrevistas semi-directivas foram validados e integram os contributos da orientadora de estágio e da orientadora académica.

Desloquei-me ao Seixal, para proceder à realização das entrevistas que tinha definido realizar. Primeiro, no CT/FP do Seixal fui recebido pela Coordenadora do Núcleo de Planeamento, Avaliação e Certificação, que me apresentou o Responsável Pedagógico que iria entrevistar, posteriormente, desloquei-me à empresa onde se realizou a FPCT de alguns dos formando daquele CT/FP para proceder à entrevista a um Tutor. O critério de selecção deste Tutor foi a proximidade da Entidade Enquadradora, onde este intervinha, do CT/FP.

Procurou-se dar a palavra aos entrevistados, não limitando a sua expressão, sob qualquer aspecto, procurando acautelar a forma de colocar as questões para diminuir a possibilidade de condicionar as respostas.

Pretendeu-se, também, que os entrevistados se centrassem nas questões e considerou-se, sempre, as informações significativas que foram sendo dadas sem haver

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questionamento prévio, desde que pudessem ajudar à compreensão das vivências e da interacção destes com os formandos e o CT/FP e/ou Empresa, respectivamente. O clima em que decorreram as entrevistas foi sempre de grande liberdade e, quando necessário, solicitei aos entrevistados a clarificação das situações descritas. Como afirma Estrela (1994) a liberdade que se pretende dar ao entrevistado não deverá ser incompatível com a necessidade de precisar os quadros de referência do entrevistado, levando-o a esclarecer conceitos e situações.

Após a realização das entrevistas, com recurso ao gravador, procedeu-se à sua transcrição e, posteriormente, ao tratamento dos dados recolhidos, utilizando a técnica da análise de conteúdo (anexos n.º 19, 20, 22 e 23). Ao utilizar esta técnica de investigação pretendeu-se que esta assumisse uma descrição objectiva e sistemática da realidade estudada. Considerou-se as fases da análise de conteúdo, identificadas por Bardin (1979), organizadas em três pólos cronológicos: a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.

De acordo com Estrela (1986), a expressão análise de conteúdo é utilizada num sentido restrito: refere-se apenas às técnicas usualmente utilizadas pelas Ciências Sociais para a exploração de documentos, excluindo, os tipos de análise que caiem directamente no âmbito da linguística e da literatura.

A exploração do conteúdo das duas entrevistas, corresponde à fase de análise propriamente dita que, segundo Bardin (1979), não é mais do que a administração sistemática das decisões tomadas e os resultados brutos são tratados de maneira a serem significativos e válidos.

A exploração realizada sobre a organização, o funcionamento e a avaliação dos formandos na componente de Formação Prática em Contexto de Trabalho, cruzada com a informação que decorreu da aplicação do questionário a 78 formandos, de 7 Cursos de Aprendizagem de diferentes saídas profissionais, que já tinham frequentado, pelo menos, um período da componente de FPCT, permitiu ensaiar a resposta ao objectivo principal desta pesquisa, o de justificar a pertinência e relevância da concepção do documento orientador para a realização da FPCT, e discutir os resultados a que me conduziu a investigação realizada.

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