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2.3 CONSTRUÇÃO DE AMBIENTE FAVORÁVEL AO

2.3.2 Desenvolvimento: a importância da identidade territorial e do

A identidade territorial nesse estudo assume o significado de pertencer no sentido de não simplesmente ser membro, participante ou filiado a um conjunto de regras institucionais, a uma adesão formal, nem muito menos no sentido de assumir papéis que cumpre falas e rituais; mas sim, pertencer no sentido de vivenciar “uma experiência identificatória, de fixação em e a um campo de valores e objetivos „maiores‟, um discurso” (BURITY, 2000, p.10).

Segundo Burity (2000, p.10) há um entrincheiramento da identidade como singularidade, localismo ou autenticidade que pode ser uma reação a forças globalizantes, mas que também pode ser uma resposta a elas. O autor dá significado à identidade com relação à globalização por dois pontos de vista: a identidade como “reação ao tomar o global como a ameaça que vem de fora contra a integridade de um modo de vida local ou uma cultura nacional”; e como resposta “se sua emergência for atribuída ao afrouxamento dos laços ideológicos, políticos ou econômicos que impediam a expressão de tal identidade no âmbito nacional. Essa resposta não significa isolamento do “clima” global, mas uma reivindicação de seu espaço legítimo na “nova ordem mundial”, que tanto coordena o global e o local, mas que situam ambas identidades na lógica da globalização.

Considerando que o ambiente favorável para o desenvolvimento é construído a partir da identidade local e do capital social construído, ou seja, da formação de identidade/ referência local e de relações sociais, o ambiente se caracterizará pela composição das diferenças sócio-políticas e econômicas do ambiente e pelo nível de interação entre os atores desse ambiente e de outros que possam estar ligados.

Conceituando o capital social, pode-se dizer que os elementos precursores do seu conceito tiveram origem no século XIX, na sociologia clássica dos autores Émile Durkheim e Max Weber. Mais recentemente, os autores Pierre Bourdieu, James Coleman e Robert Putnam ampliaram o conceito com visões diferentes, mas com uma lógica comum de considerar a estrutura e as relações sociais como fundamentais para se compreender e intervir sobre a dinâmica econômica.

Bourdieu (1980) na busca de teorizar sobre campos de poder e sobre a reprodução das relações de classes sociais por meio de mecanismos culturais, cunhou o termo capital social que expressa o capital simbólico constituído.O autor define capital social como sendo

O agregado de recursos reais ou potenciais que estão ligados à participação em uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de mútua familiaridade e reconhecimento [...] que provê para cada um de seus membros o suporte do capital de propriedade coletiva (BOURDIEU, 1980, p. 5).

Coleman (1988, p. 302) analisa o capital social que nasce das estruturas sociais por meio de interações e relações de confiança. Para o autor, o capital social pode ser compreendido como “os aspectos da estrutura social que facilita certas ações comuns dos agentes, dentro dessa determinada estrutura”. Assim sendo, o capital social pode variar dependendo da estrutura, o capital social é definido por sua função.

O autor afirma que o capital social “[...] não é uma entidade singular, mas uma variedade de diferentes entidades, com dois elementos em comum: são todos consistentes com alguns aspectos das estruturas sociais e facilitam certas ações dos atores – sejam pessoas ou empresas – no âmbito da estrutura” (COLEMAN, 1988, p. 88).

Putnam (1993, p.177) descreve o capital social como “características da organização social, tais como confiança, normas e redes que podem melhorar a eficiência da sociedade facilitando ações coordenadas”. O autor incorpora duas dimensões de análise ao capital social: a estrutural e a cognitiva que podem ser realizadas por bonding (integração em grupos homogêneos) e por brindging (elos entre grupos heterogêneos).

Campos e Batschauer (2005) explicam que o capital social estrutural a que Putnam se refere diz respeito ao compartilhamento de

informações, através de regras estabelecidas, normas e leis instituídas na estrutura e nas redes sociais, que servirão de base para as ações coletivas e os processos de tomada de decisão. Enquanto que o capital social cognitivo refere-se ao compartilhamento de normas, valores, confiança, atitude, e crenças.

Johnson e Lundvall (no prelo) afirmam que capital social é “[...] um conjunto de instituições em sua maioria informais (hábitos e normas sociais), que afetam os níveis de confiança, interação e aprendizado em um sistema social”.

Nesta perspectiva, Albagli e Maciel (2002) reforçam a necessidade de abordar o tema do capital social considerando a estrutura e as relações sociais como fundamentais para se compreender e intervir sobre a dinâmica econômica, principalmente em arranjos produtivos.

As autoras explicam que o capital social advém das relações interpessoais que ocorrem na estrutura global, social, econômica e política, dos sistemas sociais, sob uma construção histórica específica, com peculiaridades e características próprias.

Essas relações interpessoais “[...] são construções culturalmente diferenciadas no espaço e no tempo e, portanto, tendem a negar a possibilidade de uma abstração generalizante” (ALBAGLI; MACIEL, 2002, p. 23).

Nesta visão, as condições de desenvolvimento são efetivadas localmente, sendo que o sucesso econômico das localidades reside na sua capacidade de especialização em algo que tenha vantagens comparativas dinâmicas, as quais são resultado do estoque de atributos e, principalmente, da sua capacidade de inovação de empresas locais (SERRA; PAULA, 2004).

As particularidades culturais de uma região e as formas de socialização nela presente exercem forte influência sobre comportamentos e identidades, podendo favorecer a aglutinação de recursos, tecnologias e formas diversas de capital (HALL, 2003).

Na busca de se compreender o desenvolvimento social e econômico, o capital social torna-se um recurso importante que está embutido nas estruturas e redes sociais, mas que, ainda, não se consegue contabilizar por outras formas de capital.

Essa compreensão exige o reposicionamento dos papéis do Estado e da sociedade, bem como das relações entre o público e o privado, no sentido de se perceber a complexidade do ambiente, de formar uma identidade, a partir de uma realidade local; e de instituir

bases de relações sociais que possibilitem ações sob condições estabelecidas e/ou a serem conquistadas.

O papel das instituições nos processos de interação entre os atores é de extrema importância para o estímulo à confiança, para o estabelecimento da redução de incertezas e, sobretudo, na coordenação das ações e decisões dos agentes que favorece a interação e o desenvolvimento local.