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Desenvolvimento e direito a um meio ambiente saudável: caminhos para a plena fruição dos direitos fundamentais da Constituição Federal do Brasil

2. DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE

2.2. Desenvolvimento e direito a um meio ambiente saudável: caminhos para a plena fruição dos direitos fundamentais da Constituição Federal do Brasil

Como se buscou demonstrar, pelos fatos das Ciências da Natureza anteriormente trazidos ao trabalho, a adoção de um modelo de desenvolvimento sustentável é imprescindível para todo o mundo. Não poderia ser diferente em relação ao Brasil, que já vem sofrendo as consequências não só do aquecimento global, mas também do modelo de consumo adotado por nossas populações, sobretudo as urbanas, bastante semelhante aos das capitais do mundo inteiro.

A globalização trouxe como efeito colateral das facilidades de consumo, o exagero do consumo. A pegada ecológica, ou marca da atividade humana sobre a terra, é um tipo de estudo desenvolvido com base em uma metodologia de contabilidade ambiental, na qual o nível de consumo de recursos os mais diversos das populações humanas sobre os recursos naturais é avaliado, em confronto com a biocapacidade, ou seja, a capacidade dos ecossistemas de produzir recursos úteis, se recuperar e absorver os resíduos gerados pelo ser humano. As unidades de medida utilizadas são o hectare global, que é equivalente a um hectare de produtividade média mundial para terras e águas produtivas, em um ano. Estudos da GlobalFootprint Networks37, entidade internacional, a pegada ecológica da humanidade, em 2010, faz com que seja necessário para que a humanidade sobreviva, quase mais dois planetas Terra, pois a pegada global foi igual a 2,7. Há países, no entanto, cuja pegada é mais marcante, mais profunda. Se lhes todos os países lhe seguissem os passos, seriam necessários de cinco, sete ou até 10 (dez) planetas para sustentar o nível de consumo ali existente. Assim, a pegada dos Estados Unidos da América corresponde a 8,0 (ou seja, o nível de consumo absorve oito vezes mais do que o planeta é capaz de fornecer de insumos), a da França a 5,0, a da Dinamarca 8,3, a do Qatar (10.5), a do Brasil 2,9, e isso graças à imensa reserva florestal e aos espaços ainda não foram ocupados por lavouras de grande porte.

Isso significa dizer que países industrializados do hemisfério norte, que contém apenas 20% (vinte por cento) da população mundial, consomem 80% (oitenta por cento) da energia e emitem cerca de 80% dos gases do efeito estufa38. Países irmãos da América Latina,

37

The 2010 Data Tables, tabela do Excel disponível em:

http://www.footprintnetwork.org/en/index.php/GFN/page/world_footprint/. Acesso em: 24/09/2014. 38 VIEIRA, Lizst. Cidadania e globalização. 8.ed. Rio de Janeiro: Record, 2005, p. 93.

que já adotaram o ecodesenvolvimento, tem pegadas menores: Colômbia 1,9; Peru 1,5; Bolívia 2,6; e Equador 1,539.

Como comentado anteriormente, desenvolvimento sustentável não impede o crescimento econômico, nem o desenvolvimento tecnológico e científico, pelo contrário, apenas apresenta novas diretrizes para que os benefícios do desenvolvimento não sejam apenas econômicos, mas também sociais e ambientais e intergeracionais. Para Amartya Sen40, crescimento econômico é somente uma parte do desenvolvimento e há uma certa independência entre eles. Tal ideia é corroborada por Sachs, que citando indiretamente o próprio Sen, afirma que o desenvolvimento só é corretamente medido se possibilitar a universalização e efetivo exercício de todos os direitos humanos, incluindo os econômicos e ambientais41. Se for substituído o termo direitos humanos pelo termo direitos fundamentais de todas as gerações, ter-se-á a precisa fundamentação constitucional para a tese desenvolvida no presente trabalho.

Ignacy Sachs, apresenta uma via de desenvolvimento sustentável, que é o que

ele chama “civilização de biomassa”42

. Segundo Sachs, os países tropicais teriam uma certa facilidade a mais para modificar o paradigma de desenvolvimento e chegar a essa forma de

civilização, numa “vitória tripla”, em que o desenvolvimento atenderia, ao mesmo tempo, a

questão social, a proteção ambiental e a viabilidade econômica.43 Para Sachs, existem quatro padrões de crescimento, gerando impactos positivos e negativos nos três pilares do desenvolvimento; apenas um deles é viável: o desenvolvimento sustentável. Em sua obra, o autor faz um quadro comparativo para explicar como funcionam os conceitos de sustentabilidade aplicados às três esferas de análise, quais sejam, econômica, social e

ambiental. Sachs explica que o desenvolvimento sustentável é obtido do “consenso mínimo”

com relação às questões e problemas ambientais e um momento mundial favorável, em que haveria se poderia formar a primeira agenda política internacional sobre meio ambiente.44

Em Caminhos para o desenvolvimento Sustentável, Sachs, faz um quadro representativo dos tipos de crescimento econômico possíveis e sua relação com os setores

39 Todos os dados aqui disponibilizados estão disponíveis na tabela já referenciada na nota 36. 40

SEN, 2000, em passant.

41 SACHS, desenvolvimento includente, p. 37.

42 Civilização de biomassa é uma ideia difundida por Sachs no livro Caminhos para o desenvolvimento

sustentável. Consiste numa “nova forma de civilização, fundamentada no aproveitamento sustentável dos recursos renováveis”, do pensador indiano M. S. Swaminathan, informada na p. 29 de sua obra. Trata-se de uma

civilização em que são aproveitados os recursos naturais, pela exploração sustentável, pelo reaproveitamento, pela reciclagem, respeitando as características do meio ambiente (capacidade de recuperação e evitando a utilização de recursos não renováveis.

43 SACHS, caminhos para o desenvolvimento, p. 35.

econômico, social e ecológico. Para ele, desenvolvimento de fato existe quando à benefícios econômicos, sociais e ambientais.

Econômicos Sociais Impactos ecológicos

1. Crescimento desordenado

+

-

-

2. Crescimento social benigno

-

+

-

3. Crescimento ambientalmente sustentável

-

-

+

4. Desenvolvimento

+

+

+

Fonte: SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável, p. 36.

É partindo desses paradigmas, de que o desenvolvimento deve naturalmente levar à melhor qualidade de vida de todos os cidadãos que o pensamento aqui explanado leva à conclusão de que, para que tal aconteça, devem ser pesquisados os aspectos negativos do atual modelo de desenvolvimento existente no mundo e, particularmente no Brasil, visando ao seu afastamento.

O estudo dos problemas de concentração de renda, de falta de acesso aos serviços públicos, de falta de efetividade dos direitos fundamentais pode ser feito individualmente pelos economistas, pelos assistentes sociais e pelos juristas, respectivamente. Mas a solução para todos esses problemas perpassa a elaboração de um planejamento conjunto, em que a sociedade seja ouvida, não só por seus representantes políticos, mas por suas organizações sociais (ONGs, Associações, Sindicatos, etc.), numa atividade democrática de escolhas de caminhos. E esse planejamento somente pode ser feito pelo Estado, após colhidas as ideias, as sugestões da sociedade e os dados científicos de cada situação- problema, observando os oito aspectos do desenvolvimento sustentável apontados por Sachs e já mencionados no item anterior.

Em obra publicada pela Universidade de Campinas, sobre o Brasil e a sustentabilidade, Enrique Ortega analisa a teoria de Odum45 explicando seus modelos de

produção e consumo. Ortega afirma que a obra de Odum tem “uma visão interdisciplinar, que

incorpora conhecimentos da Biologia, a Termodinâmica de Sistemas Abertos, a Sociologia, a

Meteorologia, a Computação, a Eletrônica, entre outras.”46

No modelo estudado por Ortega, se for feita uma mudança efetiva no atual modelo de produção e consumo, preferindo a

45

Howard T. Odum foi um ecologista americano, responsável pela elaboração de conceitos como ecossistema, e

“emergy”

46 ORTEGA, Enrique. Brasil e o Desenvolvimento Sustentável. Laboratório de Engenharia Ecológica, FEA,

Unicamp. Disponível em:

http://www.unicamp.br/fea/ortega/Brasil/Brasil%20e%20o%20Desenvolvimento%20Sustentavel.pdf. Acesso em: 30/06/2014.

utilização de recursos renováveis e biomassa, havendo ajustamento à capacidade de reposição natural, será possível reverter o quadro.

Porém, esse mesmo estudo aponta que, em breve tempo, se não for modificada a forma e a velocidade de consumo e utilização de energias não renováveis, sobretudo de natureza fóssil, os níveis de elevação de temperatura terrestre que o planeta poderá atingir

mostrarão o que o autor chamou de “o lado oculto do sistema insustentável.”47

Segundo o autor, o maior perigo das mudanças climáticas atualmente vividas é que, se a temperatura global aumentar mais que 2º C, além da liberação de CO2 das indústrias e outras atividades econômicas, inclusive a pecuária, poderemos ter a volatilização (transformação em gases do

efeito estufa) dos “...estoques de carbono existente nos corpos de água congelada

(permafrost, calotas polares, glaciares, cumes gelados e clatratos do fundo do mar) que contem imensas quantidades de CO2 e CH4. Essa volatilização pode acelerar o aquecimento

global tornando inviável a vida humana no planeta.”48

Acrescenta Ortega que a opção pela sustentabilidade tem sido mais demorada porque não são divulgadas todas as informações sobre as causas das mudanças climáticas, nem sobre as pesquisas realizadas em todo o mundo. Enquanto isso, os seres humanos desinformados, continuam consumindo exageradamente, produzindo lixo e sem preocupações com a preservação ambiental. Michael Löwy argumenta que a questão do consumo não é o problema em si, mas sim o tipo de consumo atual “fundado na ostentação, no desperdício e na

obsessão acumuladora”49

e propõe um ecossocialismo, no qual seria possível um planejamento democrático para organizar as metas produtivas.

Mesmo que não se adote a ideia de Löwy quanto ao socialismo, um pensamento mais racional e mais ecológico, democrático e transparente tem que guiar a atividade estatal e todo o arcabouço jurídico, a partir das constituições. O planejamento de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento sustentável tem que partir de informações precisas de todas as áreas do conhecimento. Esse planejamento deve levar em consideração dois princípios, conforme ensina Herman E. Daly (1977)50:

a) 1º princípio da Sustentabilidade Ambiental: os recursos naturais não devem ser consumidos a uma velocidade que impeça sua recuperação.

b) 2º Princípio da Sustentabilidade Ambiental: a produção de bens não deve gerar resíduos que não possam ser absorvidos pelo ambiente de forma rápida e eficaz.

47 Idem, ibidem, p. 5. 48

Ortega, p. 5.

49 Löwy, Michael. Ecologia e Socialismo. São Paulo: Cortez, 2005, p. 52.

É preciso fazer convergir o pensamento, no sentido de criar um modelo de desenvolvimento econômico que atente não só para um dos aspectos (social, econômico ou ambiental), mas para os três. Economistas e juristas, na função de auxiliares do Estado, já não podem se ater a parâmetros antigos de liberalismo fundamentalista de mercado ou socialismo radical. A maior parte das economias, hoje, sobretudo nos países em desenvolvimento e, especialmente nos BRICS51, se vê num contexto comentado desde a década de 1960 – o das economias mistas.

Sobre essas novas economias e a necessidade de um novo parâmetro para planejar o desenvolvimento, já afirmava J. Tinbergen52

Nossa crença pessoal é de que existem boas razões para se escolher algo no meio caminho entre o planejamento completamente detalhado dos países comunistas e o esparso planejamento de alguns países ocidentais e, no que se refere aos países em desenvolvimento, é necessário ainda mais planejamento.

Tinbergen apontava para a necessidade, nos países em desenvolvimento, de um planejamento que não os deixasse a reboque das grandes economias de mercado e, em algumas, para as necessidades sociais prementes, sobretudo de distribuição de renda. Para Sachs53, a economia não pode mais ir na contramão da história, deixando de lado os aspectos morais (Sen), nem os aspectos de harmonização ecológica.

O que se pretende como desenvolvimento sustentável para o Brasil e para todo o mundo, é mais que o aspecto de recuperação ambiental (sem dúvida o mais preocupante), mas também o aspecto social, alinhado ao econômico. O que mais importa é aliar a sustentabilidade ambiental e a social, é ser includente. Deve-se adotar no Brasil a ideia de Sachs de substituição dos combustíveis fósseis, de mudança de paradigma para a sociedade de biomassa, visando o ecodesenvolvimento.

A noção de eficiência deve ir além das ideias de Smith ou Keynes e basear-se na definição de Robert Kuttner54, associada à definição de Sachs: há que se alocar bem os recursos (Adam Smith), volta-los para o pleno emprego de todos os meios de produção (Keynes), investindo na inovação tecnológica para ganhar ainda mais eficiência

51

BRICS é um acrônimo para um grupo de cinco países cujas econômias estão em um mesmo estágio de desenvolvimento, esses países são: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

52

Bérnard, J; N. Kaldor; M. Kalecki; W. Leontief et Tinbergen, J. Programação do desenvolvimento econômico. Seminário de desenvolvimento econômico. Unesco. São Paulo: Livraria Pioneira, 1969. p. 133.

53 SACHS, 2008, p. 50.

54 KUTTNER, Robert. Economía Social de Mercado y eficiencia económica. Leviatán: Revista de hechos y ideas. Disponível em: http://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=55246, acesso em: 11/11/2014. Ver tamtém: O papel dos governos na economia global. In: HUTTON, Wi ll; GIDDENS, Anthony (Org.) No limite da racionalidade . Trad. Maria Beatriz de Medina . Rio de Janeiro: Record, 2004, p. 211-234.

(Schumpeter), mas revertendo todo benefício daí obtido para a redução das desigualdades (eficiência social de Sachs), resguardando o meio ambiente, fonte primeira de todos os recursos (ecoeficiência, de Sachs).

O Direito, nesse processo, seria ao mesmo tempo, a base de toda a transformação social e a garantia do respeito aos novos paradigmas, porque todos esses fatores econômicos, sociais e políticos, só podem ser corretamente equacionados em um verdadeiro Plano de Desenvolvimento Sustentável para o Brasil. Um plano com base constitucional, juridicamente forte, legitimamente apoiado por todos os atores sociais que devem ser democrática e amplamente ouvidos para a sua confecção, numa sinergia, de toda a sociedade para a consecução do fim maior, que é o bem estar de todo o pl e aneta. Um plano com tamanha legitimidade, capaz de jurídica e socialmente vincular políticas públicas e permitir um controle social e jurídico.

Plauto Faraco de Azevedo aponta que o limite para o sistema econômico atual é ecológico e que o respeito aso direitos humanos e sua concretização passa pela modificação da visão do homem de si mesmo em relação à natureza, deixando de considerar-se o senhor dela e passando a tratar-se como parte integrante do meio ambiente.55

Não se pode imaginar a fruição plena dos direitos fundamentais, a começar pelo mais importante deles, que é o direito à vida, sem pensar em um meio ambiente onde ela seja possível. Sem saúde não há vida, sem vida não há desenvolvimento, não há cidadania e todo o resto perde a relevância. A mudança de paradigmas econômicos, passando para a ecocivilização56 é uma questão de sobrevivência.

Marcelo Miranda Ribeiro, em síntese de uma profunda análise sobre os fatores atuais de degradação ambiental, informa que é necessário mudar o eixo de análise dos debates acerca dos problemas ambientais de todo o mundo, retirando o foco dos efeitos externos e combatendo a causa, que seria o próprio modelo de produção e consumo57.

O Brasil tem a seu favor o fato de ser um país jovem, com uma imensa reserva florestal, a maior bacia hídrica do mundo, muito espaço ainda não ocupado pelo homem e muitos recursos ainda não explorados em termos de pesquisa para a produção de energia limpa e biomassa. A sustentabilidade, para no Brasil passa, pois, pela conscientização das gerações presentes, por meio da Educação Ambiental e do exemplo, a ser dado pelas

55 AZEVEDO, Plauto Faraco. Ecocivilização. 2. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais 56 Expressão usada por Plauto Faraco Azevedo.

57

RIBEIRO, Marcelo Miranda. Os limites físicos do planeta e a importância da cidadania ambiental para a consecução de um desenvolvimento econômico sustentável. In: Políticas Públicas – elementos para alcance do desenvolvimento sustentável. Danielle Anne Pamplona (coord.). Curitiba: Juruá, 2012, p. 70.

iniciativas estatais, pela conscientização das empresas, que se dá por meio de políticas públicas que exijam dos setores produtivos o respeito ao meio ambiente e pela adoção de medidas em níveis internacionais e nacionais, e depois locais, para a mudança dos padrões de consumo.

Para além disso, é necessário que se faça sentir a proteção ambiental trazida pela Constituição Federal, que essa previsão na Carta Magna e na legislação infraconstitucional brasileira seja levada a cabo por um intenso programa, um intenso planejamento em nível nacional, começando pelo estabelecimento políticas de incentivo à pesquisa de energias alternativas, não só as mais conhecidas, mas também as menos pesquisadas como a magnética. Todos os setores de pesquisa de energia, nas Universidades, Faculdades e Centros Universitários devem receber alguma espécie de incentivo desse porte, assim como devem ser criados eventos e premiações para as novas descobertas.

A indução do Estado para o setor privado e acadêmico será fomentar a pesquisa de biomassa e energias limpas e adotá-las em todos os níveis de suas atividades, economizando recursos, construindo prédios que não só evitem gastos, mas que também reciclem, reaproveitei e reutilizem recursos58.

Sérgio C. Buarque que o peso da dimensão ambiental do desenvolvimento, em

clara interpretação inspirada em Sachs, “aumenta a necessidade do planejamento e a presença do Estado na condução da economia e da sociedade.”59

Para ele, ainda é necessário que o

Estado assim opere porque o mercado não é eficaz como “regulador espontâneo da economia numa perspectiva de médio e longo prazos”60

, pois não está na perspectiva do mercado a dimensão social e a ambiental, nem alguns segmentos que não geram rentabilidade. Assim, o papel do Estado no Desenvolvimento Sustentável é o de planejador e arregimentador das forças produtivas é o condutor do processo de desenvolvimento para que as falhas de mercado não operem catástrofes sociais e ambientais.

58 Já existe uma etiqueta de eficiência energética, a ENCE – Etiqueta Nacional de Eficiência Energética – aquela que vemos nos aparelhos eletrônicos e que revolucionou a forma de escolha de produtos e, consequentemente, a forma de produzi-los e a tecnologia utilizada. Essa etiqueta tem uma versão para as construções também, menos conhecida, mas que está sendo aplicada e que é obrigatória para os prédios públicos federais desde 05/06/2014, por meio da Instrução Normativa MPOG/SLTI n.º 2, de 04 de junho de 2014, que dispõe sobre a aquisição ou locação de máquinas e aparelhos consumidores de energia pela Administração Pública Federal direta, autárquica, fundacional, e uso de Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE) nos projetos e respectivas edificações públicas federais novas ou que recebem retrofit (que é um reajustamento às normas advindas dessa etiqueta).

59

BUARQUE, Sérgio. Construindo o desenvolvimento local sustentável. 4.ed. Rio de Janeiro: Garamond, 2008, p. 23.

No Brasil, muitas são as experiências positivas e as boas práticas que mostram que a intervenção do Estado, da forma acima descrita é bem vinda e gera frutos positivos. Recentemente, na 20ª Conferência das Mudanças Climáticas, em Lima, o prefeito de Recife falou do exemplo dado pela cidade, que sob sua gestão. Lá a substituição das lâmpadas comuns por Led já é uma realidade e a Lei n.º 18.011/2014, de 21 de maio de 2014, passou a instituir um verdadeiro programa, um planejamento de políticas públicas, denominado Política de Sustentabilidade e de Enfrentamento das Mudanças Climáticas, criando inclusive uma Premiação e Certificação em Sustentabilidade Ambiental. Segundo essa lei, já em vigor, Recife fará um inventário, ou seja, um verdadeiro estudo da forma, do local e da quantidade de emissão de gases do efeito estufa, em toda cidade e área metropolitana. Esse inventário, feito em parceria com outras entidades, será revisto bienalmente. Outras políticas internas são desenvolvidas graças a essa lei, como realização de licitações e compras sustentáveis, além da obrigatoriedade de que obras de grande impacto também façam seus inventários de emissões, além do estudo de impacto ambiental já obrigatório61.

O incentivo estatal e a indução às boas práticas ambientais e sociais é perfeitamente possível, em todo o mundo. Em estudo realizado por Sofia R. Hirakuri,

denominado “Can law save the forest? – lessons from Finland and Brazil”, comparando as

legislações ambientais brasileira e finlandesa, a autora demonstra que tanto o Brasil quanto a Finlândia possuem em seus respectivos arcabouços jurídicos, formas de levar ao desenvolvimento sustentável, por meio de incentivos. As diferenças entre os dois países, no entanto, são grandes, pois a legislação que tem pouca eficácia no Brasil, rende bons frutos na Finlândia, em grande parte porque, segundo a autora, o Estado está presente, há fiscalização do respeito às normas ambientais e não há desconfiança em relação à atuação governamental.62

Mais do que qualquer desconfiança na ação governamental, há sim um problema bastante característico brasileiro que é o despreparo das autoridades públicas para lidar com a questão do meio ambiente de forma equilibrada e técnica, inclusive do ponto de vista jurídico.

61 Baseado em dados fornecidos em reportagem feita acerca da participação do prefeito de Recife, Geraldo Júlio, na 20ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Dezembro de 2014 (COP – 20), em Lima, no Peru. Disponível em: http://www2.recife.pe.gov.br/prefeito-apresenta-acoes-do-recife-em-conferencia- das-nacoes-unidas-sobre-mudancas-climaticas/#sthash.nFPxKcrK.dpuf. Acesso em: 09/12/14.

62

HIRAKURI, Sofia R. Can law save the forest? Lessons from Finland and Brasil. Center for International

Forest Research – CIFOR. Bogor Barat. 2003. Disponível em:

Na Finlândia o meio ambiente hostil e muitíssimo frágil talvez tenha sido