• Nenhum resultado encontrado

1 INTRODUÇÃO

2.3 Desenvolvimento

Apesar de não ser uma área de estudo recente, o entendimento dado ao conceito de desenvolvimento é de natureza altamente complexa, contraditória e sujeita a diferentes debates e discursos. O termo significa coisas diferentes para pessoas diferentes, baseando-se em contextos econômicos, geográficos, políticos, sociais, culturais, religiosos e étnicos. Além disso, pode ser interpretado a partir das perspectivas de uma série de disciplinas acadêmicas, compondo um conjunto de características que fazem com que o desenvolvimento seja um termo difícil de definir e compreender (REDDI, 2011). A incerteza decorrente da falta de consenso dentro da comunidade ligada ao estudo do desenvolvimento com relação aos aspectos da vida que são ou não importantes como parte dos objetivos de desenvolvimento global é herdada também pela comunidade atuando na área de ICT4D (BURREL e TOYAMA, 2009).

As políticas e ações de desenvolvimento se misturam com interesses conflitantes e relações de poder na política contemporânea em níveis nacional e global. Nos países emergentes as políticas para o crescimento econômico e reformas institucionais adotadas por agências internacionais de desenvolvimento são amplamente contestadas (AVGEROU, 2010).

Enquanto alguns defendem o crescimento econômico e a criação de oportunidades de negócios como as métricas mais adequadas, outros enfatizam a participação e a capacitação das pessoas como condições essenciais para o desenvolvimento (GOMEZ et al., 2012).

Mowlana e Wilson (1988) afirmam que a disseminação do uso da expressão desenvolvimento como um framework conceitual para tratar de uma série de mudanças individuais, institucionais, nacionais, internacionais e do progresso foi um fenômeno iniciado após a Segunda Guerra Mundial. Começando na década de 1940 e ganhando força nas décadas de 1950 e 1960, o termo desenvolvimento tornou- se sinônimo de crescimento, modernização, mudança, democracia, produtividade e industrialização. Popularizado primeiramente entre os estudiosos e os decisores de políticas norte-americanos, o uso do termo se espalhou para a Europa e os países menos industrializados do mundo, transformando-se em uma questão importante nas

organizações internacionais, apesar de seu significado mal definido e sem um reconhecimento universalmente estabelecido.

Uma vez que no mundo ocidental a economia de desenvolvimento foi responsável por direcionar a mudança social planejada durante o pós-guerra, a maior parte das discussões iniciais teve como foco o crescimento econômico assumindo a premissa de uma natureza inerente aos seres humanos baseada no conceito de indivíduos livres operando em mercados livres, tendo a competição como o seu componente principal. Nesse sentido, os indicadores de desenvolvimento estudados tinham natureza estritamente econômica, como o Produto Nacional Bruto (PNB), o PNB per capita, o Produto Interno Bruto (PIB), o PIB per capita e a renda per capita. O entendimento comum era de que o crescimento do PNB e do PIB e o aumento da renda per capita permitiria que o desenvolvimento fosse gradualmente refletido em ganhos para a população em geral, atingindo também a parcela mais pobre (REDDI, 2011).

No entanto, ao longo do tempo foram surgindo evidências de que esta premissa não era sempre válida, reconhecendo-se a ocorrência de casos de aumento da distância entre ricos e pobres mesmo em situações de PIB crescente e percebendo-se a inadequação da utilização de médias em nível nacional como referência. Essa nova percepção gerou uma maior preocupação com o atendimento das necessidades específicas dos segmentos mais pobres da sociedade fazendo com que surgissem formulações mais amplas procurando garantir a qualidade inicial de vida para tantas pessoas quanto possível ao longo de múltiplas dimensões além da puramente econômica (BURREL e TOYAMA, 2009).

Um novo paradigma de desenvolvimento olhando para o processo através de uma abordagem mais humana e centrada nas pessoas foi emergindo ao longo das décadas de 1970, 1980 e 1990, principalmente a partir da obra dos economistas e pensadores, Mahbub ul Haq e Amartya Sen (REDDI, 2011).

Haq (1995) trata o aumento da renda como um meio essencial, mas não como o fim do desenvolvimento, e certamente não como o resumo da vida humana, oferecendo uma nova visão do bem estar humano para o século XXI onde o bem estar real é equiparado ao bem estar das pessoas em suas casas, seus empregos, suas comunidades e seu meio ambiente.

Sen (1999) argumenta que na liberdade individual encontra-se a capacidade de participação política, desenvolvimento econômico e progresso social. O objetivo de todo o desenvolvimento é propiciar o exercício da liberdade de fazer uma escolha e, consequentemente, a capacitação de um indivíduo para que ele consiga fazer as escolhas que determinam a sua qualidade de vida. Para os pobres, o exercício da liberdade de escolha é limitado pela inadequação da renda, da educação, da saúde e da igualdade social. Às vezes essas limitações também podem ser um resultado de status socioeconômico, sexo, religião e etnia.

A abordagem humana para o desenvolvimento da qual Haq e Sen foram pioneiros foi introduzida pelo United Nations Development Programme (UNDP) em 1990 e culminou com o estabelecimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) em 2000, ratificados a partir Declaração do Milênio e sendo adotados pelos estados membros das Nações Unidas como um compromisso para ajudar os cidadãos nos países mais pobres do mundo a alcançar uma vida melhor até o ano de 2015 (REDDI, 2011). Os oito tópicos abordados pelos ODM são:

 Erradicar a extrema pobreza e a fome;  Atingir o ensino básico universal;

 Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres;  Reduzir a mortalidade na infância;

 Melhorar a saúde materna;

 Combater o HIV/Aids, a malária e outras doenças;  Garantir a sustentabilidade ambiental;

 Estabelecer uma Parceria Mundial para o Desenvolvimento.

O estabelecimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio não encerrou, no entanto, o debate em torno do conceito de desenvolvimento. Burrel e Toyama (2009) citam a preocupação de se ir além das necessidades básicas, tais como, por exemplo, a importância dada a valores como a expressão criativa e o entretenimento que, apesar de não contemplados pelos ODM, são muitas vezes almejados pelos indivíduos que estes objetivos buscam auxiliar.

Além disso, o surgimento constante de novas questões após o estabelecimento dos ODM torna necessária uma revisão continua da abrangência da área a ser tratada. Por

exemplo, Heeks (2009) cita três grandes questões que viram sua importância crescer na agenda de desenvolvimento nos anos desde a formalização dos ODMs e que são agrupadas no que ele chama de noção de "desenvolvimento resiliente":

 A segurança, incluindo o terrorismo.

 O crescimento econômico, incluindo a sua variabilidade e fragilidade, como demonstrada pela recessão pós-crise do crédito e a recuperação lenta que se seguiu.

 A sustentabilidade ambiental, particularmente associada às mudanças climáticas.