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1 INTRODUÇÃO

3.1 Indicadores

Entre os estudos que buscam quantificar a divisão digital, tem sido cada vez mais frequente a tentativa de capturar a multidimensionalidade do fenômeno através da elaboração de indicadores ou índices compostos que têm se demonstrado úteis para resumir a complexidade da divisão digital entre regiões, facilitando a interpretação das lacunas através da construção de rankings (VICENTE; LÓPEZ, 2011).

Os indicadores podem ser agrupados em categorias de acordo com seu significado, a partir de agregações realizadas com base em algum modelo matemático subjacente. Desta forma os índices compostos diferem entre si principalmente em função da base dos indicadores selecionados e da metodologia empregada na agregação. A escolha dos indicadores a serem considerados usualmente depende do framework conceitual adotado para descrever e representar o processo de penetração e difusão das TIC entre os países (BRUNO et al., 2010). No entanto, Barzilai-Nahon (2006) destaca que uma série de índices propostos não define e conceitualiza a exclusão digital previamente, iniciando o seu processo de design a partir das variáveis e níveis de indicadores, tentando chegar a fatores que são mensuráveis e ignorando o que é realmente significativo em um determinado contexto específico. Vehovar et al. (2006) também ressaltam a necessidade de uma justificação sólida das escolhas de indicadores e cálculos empregados uma vez que a flexibilidade pode resultar em valores diferentes e até conflitantes, além de facilitar a ocorrência de manipulação de resultados. Um exemplo por eles apresentado de que isto pode ocorrer é a comparação de dois países

europeus (Eslovénia e Estónia) de acordo com três indicadores de TIC. Considerando-se o uso da internet, a diferença entre os dois países fica relativamente alta (de 37% na Eslovénia contra 52% na Estónia), sendo um pouco menor entre os usuários de computador (de 49% na Eslovénia contra 55% na Estónia). No entanto, considerando-se apenas a quantidade de usuários de internet a partir de suas casas, a Eslovénia passa a ficar em melhor posição (34% contra 27%). Desta forma um indicador simplista aplicando-se a média das três variáveis resultaria em uma diferença aparente muito menor do que a real: 40% (Eslovénia) versus 45% (Estônia).

Sob o ponto de vista da técnica utilizada, muitos autores têm incorporado as várias dimensões do desenvolvimento digital em um índice por meio de análise fatorial, como por exemplo, Corrocher e Ordanini (2002) que identificam seis fatores posteriormente agregados em um índice sintético aplicado para medir a divisão digital entre dez países desenvolvidos e Vicente e López (2011) que utilizam análise fatorial a fim de classificar os níveis de desenvolvimento digital entre os países da União Europeia. Alguns outros exemplos de técnicas multivariadas utilizadas para medir a exclusão digital incluem os trabalhos de Çilan et al. (2009), que utilizam a análise de variância multivariada e a análise discriminante para avaliar a divisão digital entre os estados membros e candidatos da União Europeia, e de White et al. (2011), que utilizam análise de clusterização de múltiplos estágios baseada em modelo para gerar um mapa mundial de exclusão digital.

Dentre os indicadores que tiveram maior destaque entre os utilizados por organizações internacionais na elaboração de políticas públicas, Vehovar et al. (2006) citam o Digital Access Index (DAI), o Digital Opportunity Index (DOI), o Networked Readiness Index (NRI), o Technology Achievement Index (TAI), o Information Society Index (ISI), o Internet Connectedness Index (ICI), o Infostate e o Digital Divide Index (DIDIX) desenvolvido pelo projeto SIBIS (Statistical Indicators Benchmarking Information Society).

Em um estudo mais recente, Bruno et al. (2010) traçam um histórico da evolução dos índices propostos por organizações como a International Telecommunication Union (ITU) , conforme apresentado no Quadro 1:

Quadro 1 – Características dos principais índices para medida de exclusão digital

Índice Nome Ano Instituição

Número de categorias

Número de

indicadores Metodologia

DAI Digital Access Index

2003 ITU 5 8 Média das

pontuações das categorias que são médias dos respectivos indicadores

Infostate Infostate 2003 Orbicom 2 21 Média

geométrica da pontuação das categorias que são médias geométricas dos respectivos indicadores DOI Digital Opportunity

Index

2005 ITU 3 11 Média das

pontuações das categorias que são médias dos respectivos indicadores ICT-OI Information and

Communication Technologies- Opportunity Index 2005 ITU- Orbicom 2 10 Média geométrica da pontuação das categorias que são médias geométricas dos respectivos indicadores IDI Information and

Communication Technologies Development Index

2009 ITU 3 11 Média das

pontuações das categorias que são médias dos respectivos indicadores

FONTE: BRUNO et al. (2010)

Dos índices citados, o ICT Development Index (IDI) é o mais recente, tendo sido escolhido como base para a análise realizada neste trabalho. Ele representa a evolução e a síntese dos índices anteriores sugeridos pelo ITU (BRUNO et al. ,2010), sendo composto por uma combinação de 11 indicadores em uma medida de referência para monitorar e comparar a evolução das TIC em todos os países.

O IDI foi desenvolvido pelo ITU em 2008 e primeiramente apresentado na edição 2009 do relatório Measuring the Information Society. Ele foi criado como resposta do ITU ao pedido de seus países membros para desenvolver um "índice único" e publicá-lo regularmente. Os 11 indicadores são distribuídos entre três categorias voltadas a medir acesso, uso e habilidades. Os seus componentes assim como os respectivos pesos no cálculo do índice são apresentados no Quadro 2. Para maiores detalhes sobre as definições de cada um dos indicadores assim como a metodologia utilizada sugere-se consultar a edição 2011 do relatório Measuring the Information Society (ITU, 2011).

Quadro 2– Indicadores usados no cálculo do ICT Development Index

Categoria Peso da

categoria Indicadores

Peso do Indicador

Acesso às TIC 0,4

Assinaturas de telefone fixo por 100 habitantes 0,2 Assinaturas de telefone celular por 100 habitantes 0,2

Banda internacional de internet por usuário de

internet 0,2

Percentual de domicílios com computador 0,2 Percentual de domicílios com acesso a internet 0,2

Uso das TIC 0,4

Percentual de indivíduos usando a internet 0,33 Assinaturas de banda-larga fixa por 100

habitantes 0,33

Assinaturas de banda-larga móvel ativas por 100

habitantes 0,33

Habilidades

para TIC 0,2

Taxa de alfabetização de adultos 0,33 Taxa de matrícula no secundário 0,33 Taxa de matrícula no terciário 0,33

FONTE: BRUNO et al. (2010)