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II NOVOS ENSAIOS E EXPERIMENTOS

II.1. MODULINOS ELETRÔNICOS + OPEN CLARK (2017)

II.2.1 Desenvolvimento da proposta

Assim que concordamos realizar esse trabalho algumas ideias gerais foram estabelecidas e atuaram como restrições, guiando o desenvolvimento do projeto:

1. Partindo da primeira versão do “Micro-Arquiteturas” decidimos manter o uso da madeira como material principal, mas agora utilizando apenas em ripas e caibros em dimensões comerciais, que são facilmente encontrados no mercado.

2. O aspecto modular da construção se daria com a padronização dos conectores, peças que se- riam projetadas e produzidas. Eles deveriam ser robustos e funcionar com o uso de parafusos, porcas e arruelas também no padrão comercial.

3. Por fi m, queríamos que a interface de um jogo articulasse vontades e anseios dos moradores, consolidando as demandas que iriam informar a concepção e a construção das estruturas. Já nos nossos primeiros encontros em Belo Horizonte discutimos a possibilidade de ir além de um projeto pontual para o evento e elaborar um sistema de meios e ferramentas que pudesse funcionar como uma base informacional a longo prazo. A primeira ideia de organização foi a criação de um site para disponibilizar essa base para um público mais amplo3 - um caminho que chegamos a es-

boçar e trabalhar, mas que acabou fi cando de lado diante do curto prazo e outras prioridades. Não obstante, a ideia do sistema permaneceu e embasou o desenvolvimento de todo projeto.

Considerando a situação particular da ofi cina na ocupação “9 de julho” e a estrutura física que dela resultaria, pensamos inicialmente em operar com cinco níveis para formalizar esse grande sistema: “dinâmicas”, “jogos”, “partes” e “módulos”. Com o processo de desenvolvimento do projeto elas acabaram se transformando na seguinte categorização de etapas e meios: “explorações”, “sistema- tizações”, “partes”, “blocos” e, por fi m, “micro-arquiteturas”.

Quando nos referimos a “dinâmicas” estávamos pensando em performances e outras atividades que incluíssem o corpo, ajudassem a iniciar um diálogo e trouxessem para o processo novas infor- mações, como percepções do espaço e do contexto. A intenção era que - antes de iniciar qualquer construção física no local - fosse estabelecida uma relação entre nós e os moradores participantes para possibilitar um espaço onde eles pudessem explorar e manifestar seus desejos. Essa ideia sur- giu como uma complementação à ideia inicial do “jogo”.

3 Aqui vejo uma de certa similaridade com a proposta inicial, já apresentada, para a plataforma Open Clark - porém sem o caráter colaborativo.

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Como já mencionado, a etapa do “jogo” veio como uma determinação de como poderíamos orga- nizar o processo de pensar a construção da estrutura. A primeira ideia foi usar cartas para montar uma estrutura que representasse um fl uxograma de atividades, espaços etc. O que percebemos com o desenvolvimento é que poderíamos explorar mais esse funcionamento e incluir elementos de jogo e brincadeira tanto nesse momento como nas “dinâmicas” anteriores.

Com essa refl exão chegamos à conclusão que o papel das primeiras atividades seria explorar o espaço, as possibilidades do contexto e outras situações que os participantes poderiam identifi car; e que esse segundo momento, seria uma etapa para sedimentar e sistematizar essas informações. Além disso, pensamos que esses dois momentos não eram estanques ou mesmo lineares - assim um pouco de um acabaria se misturando ao outro.

Em relação a etapa mais concreta desse sistema, resolvemos nomear como “partes” os elementos básicos que seriam necessários para construir as estruturas físicas. Isso englobaria tanto as canto- neiras metálicas para junção como as demais partes compradas prontas: ripas e caibros de madeira aparelhada, parafusos e porcas, cabos de aço, tábuas de madeira e placas de fechamento como eucatex perfurado. Com isso teríamos “kits” contendo os elementos necessários para construir alguma estrutura.

Os “blocos” seriam um outro nível e tipo de modularidade, algo próximo a um menu de possibi- lidades já preconcebidas. A proposta não era, absolutamente, que tudo o que fosse construído re- sultasse de uma composição de tais blocos. Era apenas uma questão de demonstrar possibilidades do sistema de partes e mostrar que, em alguns casos, não seria necessário reinventar a roda. Nesse sentido, poderíamos defi nir “blocos” como estruturas básicas com características de elementos conhecidos, por exemplo: banco, cadeira, mesa, parede, vaso, trepa-trepa, etc.

No fi nal, as “partes” e os “blocos” foram vistos como níveis em função de um momento especí- fi co voltado para “construção”. Assim acabamos defi nindo as etapas da ação e na Bienal como: “explorações”, “sistematizações” e “construção”. O resultado de todo esse processo - utilizando “blocos” predefi nidos ou não - constituiria uma “micro-arquitetura” em diálogo com seu contexto. Assim concluímos que os elementos para o desenvolvimento das Micro-Arquiteturas são:

• Um kit modular e recombinável de peças estruturais;

• A ação conjunta de indivíduos para a reconfi guração das partes;

• Um meta-projeto representado aqui por um jogo, através do qual os indivíduos formulam e expressam suas intenções sobre o espaço e,

Figura II.18 Processo de produção dos conectores metálicos

Imagem: Acervo pessoal

para a apropriação contínua do espaço incorporando e transformando inputs externos na geração de sistemas dinâmicos entre indivíduos e espaços.

II.2.1.1 Construção - desenvolvendo um sistema recombinável de partes e conexões

Ainda que todas as etapas tenham sido trabalhadas paralelamente, o sistema físico construtivo foi o primeiro a ser defi nido - uma necessidade para viabilizar a logística da produção das peças e compra dos materiais antes do evento.

Partimos de uma noção razoavelmente clara do que queríamos: um kit de partes - ou, na visão de Alexander (1968), um sistema gerador de sistemas. Porém, ao invés de projetar todos os compo- nentes escolhemos criar um sistema de conexões que trabalhasse bem com materiais já disponíveis no mercado. Como John Chris Jones (1991) aponta, uma maior padronização nas junções minimi- za a necessidade de padronização dos componentes. Nesse caso, a defi nição do material, formas e dimensões dos conectores garantiu uma fl exibilidade nos outros elementos do sistema.

A partir de referências de conectores metálicos para madeira, foram desenhadas três variações de peças: uma placa plana e triangular, uma dobrada de quina correspondente a dois triângulos iguais aos da primeira, e uma retangular dobrada em L. Defi nimos as medidas das peças para viabilizar a utilização de de ripas e caibros em bitolas usuais da construção civil - nesse caso 2x5, 4x9 e 6x6. A primeira peça foi dimensionada com dois catetos iguais de 15 cm, a segunda com base de 30 cm e altura de 15 cm dobrada ao meio, e a terceira com largura de 10 cm e 20 de comprimento, divididos entre 15 cm no lado maior e 5 cm no menor. Todas as peças possuem diversas furações na superfície para possibilitar a passagem de parafusos em diferentes lugares. Depois de algumas pesquisas, contratamos um serralheiro na cidade de Contagem para produzir 75 peças no total - 15 da primeira, 30 da segunda e 30 da terceira variação (Figura II.18).

Figura II.19 Kit Construtivo Básico

Imagem: Projeto Micro-Arquiteturas v.2 196

Para compor o kit de materiais para a ofi cina, compramos ripas e caibros de madeira, assim como tábuas para fechamento - havíamos pensado também em placas perfuradas mas acabamos não ad- quirindo nenhuma para essa ação. Como parafusos foram utilizadas barras roscadas vendidas por metro linear. Os cabos de aço que compramos não foram utilizados nas estruturas fi nais e fi caram como material para a ocupação. Complementos necessários como porcas, arruelas, grampos, gan- chos, esticadores, pregos e parafusos pequenos também compuseram o kit de “partes” elementares (Figura II.19).

Figura II.20 Proposta para os blocos

Imagem: Projeto Micro-Arquiteturas v.2

Figura II.21 Esquema de uso dos

conectores em uma unidade de mobiliário Imagem: Projeto Micro-Arquiteturas v.2 zação: um conjunto de receitas de “blocos” já planejados (exemplos na Figura II.20) e as “micro- -arquiteturas” resultantes. Um dos “blocos” mais simples pensado previamente foi um banco, e na Figura II.21 podemos ver claramente a utilização e combinação das “partes”.

Nessa organização, embora uma determinada “micro-arquitetura” não precise incorporar nenhum “bloco” predefi nido, ela ainda pode abrir um caminho contrário onde a divisão de um resultado específi co poderia alimentar a lista dos “blocos” modulares.

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II.2.1.2 Explorações e Sistematizações - elaborando as dinâmicas e o jogo

Como já foi apontado, o processo de pensar as dinâmicas que posteriormente organizamos den- tro da etapa “explorações” partiu da intenção de engajar as pessoas, além de envolver o corpo no processo, colocando-o em contato com o espaço. Nesse caminho nos aproximamos não só da ideia de brincadeira como cogitamos utilizar mecânicas de diversas brincadeiras infantis. Logo nos primeiros encontros falamos sobre trabalhar em torno de exemplos como “rouba bandeira”, “alturinha” (pega-pega de nível), “pega-pega corrente”, etc. Já possuindo algumas experiências anteriores nessa linha, Ana, Marllon e Larissa se responsabilizaram em explorar e desenvolver mais essas possibilidades.

Considerando o Micro-Arquiteturas v.2 como um sistema que fosse além do evento pontual da Bienal, nos propusemos registrar todas as dinâmicas pensadas em forma de fi chas - e para isso precisaríamos defi nir alguns parâmetros para diferenciar propósitos, contextos e outras variáveis. Além disso queríamos que essas dinâmicas pudessem ser apresentadas como receitas culinárias, onde temos indicações de tempo, porções, ingredientes e quantidades, mas que cada pessoa que utiliza adapta e faz a sua maneira.

Depois de uma orientação com o Prof. Cabral, decidimos conceber e organizar todas as “explora- ções” de acordo com os seguintes parâmetros principais: a) relação do indivíduo com ele mesmo; b) do indivíduo com o outro, e; c) do indivíduo com o mundo.

No domínio das “sistematizações” nos propusemos, além de desenvolver um jogo, trabalhar com cartas, já que estas trariam um aspecto modular para essa etapa do projeto. Uma das primeiras referências foi o jogo “House of Cards” desenvolvido pelo casal Eames em 1952. Nesse jogo - já abordado anteriormente - as cartas possuem imagens coloridas e estimulantes, como também pe- quenos cortes nas laterais que possibilitam a conexão entre elas e a consequente criação de estru- turas tridimensionais.

Seguindo os mesmos princípios desenvolvemos um conjunto de cartas com fotos diversas ilustran- do elementos e características espaciais. A existência de cartas em branco do mesmo tamanho foi pensada para garantir a incorporação de novos elementos a partir dos inputs dos participantes da ofi cina. No primeiro protótipo esse conjunto recebeu os mesmos cortes da referência mencionada, com o intuito de que as combinações entre elas criassem um objeto especializado. Não que essa tridimensionalização buscasse uma representação formal de uma estrutura posterior, nossa inten- ção era construir uma espécie de programação dessa estrutura, um “meta-projeto” que informaria quais relações no espaço seriam as mais importantes.