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4. MATERIAIS E MÉTODOS

6.1 FATORES QUE AFETAM O DESENVOLVIMENTO DO MANGUE

6.1.8. Desenvolvimento das Espécies

O desenvolvimento das espécies vegetais típicas de manguezais é um processo multifatorial, influenciado por fatores intrínsecos a cada espécie, dispersão, habilidade competitiva, reprodução e herbívora entre outros, e pela tolerância ou

preferência fisiológica aos fatores ambientais que variam amplamente nos diversos habitats encontrados nos manguezais (SMITH III, 1987).

Segundo Larcher (1986), os principais fatores que afetam o desenvolvimento das espécies vegetais são:

- a luz, através da radiação luminosa e temperatura atua, na obtenção de energia através da fotossíntese, no fotoperiodismo e nos ritmos endógenos dos vegetais, controlando assim o crescimento e outros processos vitais;

- a água, que através de seu balanço hídrico e metabolismo, regula o crescimento do vegetal;

- o solo, que através das condições físico-química de sua composição, atua na disponibilidade de nutrientes para os vegetais;

- os nutrientes e por sua vez, através de sua absorção, assimilação e distribuição, controlam o desenvolvimento do vegetal.

Dentre os diversos fatores que atuam como limitantes na distribuição e desenvolvimento das espécies vegetais nos manguezais, a temperatura atmosférica e a de correntes marítima são fatores importantes na sobrevivência e desenvolvimento das espécies típicas de manguezais (WALTER, 1994 In: FAO, 1994).

Manguezais são típicos de regiões tropicais, onde se observam altas temperaturas e taxas de irradiação. Suas espécies vegetais dependem, em geral, de altas taxas de luminosidade e temperatura, para se desenvolverem. Entretanto, estas espécies devem estar capacitadas a lidar com as condições de demanda de água, para cobrir as perdas pela transpiração, assim como, adaptadas também às restrições fisiológicas à captação de água, impostas pelo meio salino.

Conseqüentemente, o desenvolvimento das espécies vegetais típicas de manguezais é controlado, pelos balanços hídricos e energéticos, que representam significantes restrições à produtividade fotossintética nos manguezais. A disponibilidade de nutrientes, em geral, não se constitui uma restrição nos solos de manguezais; entretanto, a grande quantidade de sais presentes no ambiente torna- se um fator complicador, pois, esta grande quantidade de sais penetra, no vegetal, durante a absorção de água e nutrientes. Além disto, os solos de manguezais são

pouco consolidados e, geralmente, apresentam condições anóxicas, extremamente restritivas às espécies vegetais.

Assim, podemos dizer que o desenvolvimento das espécies típicas de manguezais é controlado por fatores ambientais relacionados, principalmente, com as condições de temperatura, luminosidade e condições físico-químicas da água e do solo encontradas no ambiente, (MEDINA, 1998).

Apesar dos manguezais das três áreas restauradas encontrarem-se em situações ambientais distintas, principalmente, em termos de hidrodinâmica e de impactos, eles ainda apresentam condições ambientais gerais favoráveis ao desenvolvimento da vegetação, tendo em vista o seu grau de desenvolvimento (Fig. 104).

Projetos de restauração de manguezais representam uma forma de manipulação da paisagem, onde são fundamentais os conhecimentos a respeito de sua ecologia e funcionamento.

Visto que, a maioria dos projetos de restauração em manguezais, depende diretamente do sucesso da reintrodução de espécies vegetais típicas, estudos acerca da sobrevivência, desenvolvimento e adaptação frente a estas variações são importantes na elaboração e execução dos mesmos (FIELD, 1999).

Os parâmetros mais utilizados na avaliação do desenvolvimento de mudas em projetos de restauração de manguezais degradados tem sido: a altura total, (PULVER ,1975; 1976); a altura total e o número de folhas (GOFORTH e TOMAS, 1979; MENEZES, 1994; EYSINK, 1998a; 1998b; ABRAHÃO, 1998); a altura total, número de inflorescências, de raízes escoras ou de produção de propágulos (MOSCATELLI, 1994); altura total, número de folhas, número de entrenós, diâmetro da base e ramos laterais (QUERSHI, 1990).

Embora o parâmetro, mais utilizado, para se avaliar o desenvolvimento de mudas utilizadas em projetos de restauração de manguezais degradados, seja a altura total, a sua utilização em determinados casos pode se tornar um problema (GOFORTH e TOMAS, 1979). Em determinados casos, o resultado da avaliação pode ser mascarado pela produção de ramos laterais aliada à subsidência das plântulas, (GOFORTH e TOMAS, 1979).

Figura 104: Crescimento, floração e frutificação da vegetação dos plantios estudados. Fonte: Marli Velasques Huber (2003).

Avicennia

Avicennia Laguncularia

Portanto, para uma efetiva e eficiente, avaliação do desenvolvimento de mudas utilizadas, em projetos de restauração de manguezais degradados, deve-se levar em conta, o maior número de parâmetros de desenvolvimento possível, para que possíveis influências dos fatores intrínsecos a cada espécie não mascarem os resultados obtidos.

Inicialmente, neste trabalho adotou-se um maior número de parâmetros de desenvolvimento como número de folhas, número de entrenós, número de ramos laterais; porém, devido às dificuldades, principalmente, em termos do número e do tempo necessário às medidas, optou-se pelos parâmetros altura total e diâmetro da base como indicadores do desenvolvimento.

Padrón (1997), relata que em experiências de plantio direto com Rhizophora mangle realizadas em Cuba, encontraram-se taxas de sobrevivência entre 88% e 95%, com altura média de 49cm após um ano e dois meses.

Em Cubatão, Menezes et al. (1994), plantando Rhizophora mangle obteve médias entre 60% e 90% para sobrevivência, crescimento médio entre 42 e 57,4cm e 10 a 25 folhas respectivamente após um ano de plantio direto.

Soemodihardjo (1997), encontrou taxas médias de sobrevivência entre 55% e 70% em trabalhos realizados na Indonésia, utilizando as espécies Rhizophora apiculata e Rhizophora mucronata.

Na Índia, Untawale (1996), encontrou médias entre 75% e 80% para sobrevivência e altura média entre 35 e 40cm, após um ano de plantio de Rhizophora mucronata.

Matos (2003) após comparar seus resultados com os de outros autores contatou que o parâmetro altura é o que apresenta maior diferença entre os trabalhos realizados em regiões mais quentes e os realizados e, regiões de latitude maiores como Florianópolis ou Flórida, onde Gorfoth e Thomas (1979), trabalhando com plantio direto de Rhizophora mangle encontraram 45% de sobrevivência em média e alturas entre 0, 26 e 0,31m, após 23 meses do plantio.

No manguezal do Itacorubi após 3 anos de plantio, para Avicennia schaueriana a altura média foi 2,54m, (Fig. 105), o diâmetro da base de 4,24cm, sendo o incremento anual de altura de 0,61m e 0,89cm.; para a mesma espécie na área do

Saco Grande os dados foram de 1,27m e 2,8cm e o incremento anual foi 0,14m e 0,23cm; para a área da Praia da Bina foram de 1,62m e 3,36cm para as plantas de 2 anos e o incremento anual foi de 0,29m e 0,51cm e de 1,25m e 2,13 cm de diâmetro de base para as plantas de 1 ano e o incremento anual foi 0,25m e 0,35cm.

Para Rhizophora mangle na área da Praia da Bina a altura foi 1,23 m e 2,58cm de diâmetro para as plantas de 2 anos, sendo o incremento anual de 0,11m e 0,06cm e de 0,76m e 2,17cm para as plantas de 1 ano, com o incremento anual de 0,09m e 0,21cm; na área do Saco Grande, as Rhizophora de 2 anos tem uma altura de 1,04m e 3,02cm de diâmetro da base, com um incremento anual de 0,02m e 0,10cm.

Para Laguncularia racemosa, na área do Saco Grande, as plantas de 2 anos têm 2,90m de altura e 6,93cm de diâmetro da base, com um incremento anual de 0,49cm e 1,43cm e as plantas de 1 ano com 2,33m de altura e 7,10cm de diâmetro da base, sendo o incremento anual de 0,51m e 1,80cm . Na área da Praia da Bina, as plantas de 01 ano apresentaram 1,01m de altura, (Fig.106), e 2,64cm de diâmetro da base, sendo o incremento anual de 0,11m e 0,46cm; as plantas de 2 anos, 1,50m de altura e 3,18cm de diâmetro, com um incremento anual 0,07m e0,32cm.

Os dados mostram que no manguezal do Itacorubi as plantas cresceram mais em altura, o que pode ser explicado pela distância do espaçamento (0,70m) entre mudas que não foi o melhor, pois, favoreceu a competição, principalmente por luz e as plantas tiveram maior altura (Fig. 105). Já, no manguezal do Saco Grande o maior incremento anual ocorreu no diâmetro da base, principalmente, para Laguncularia, seguindo-se de Rhizophora, (Fig. 106) ,o que pode ser explicado pelas condições de hidrodinâmica do local que é baixa e pela localização do plantio que fica bem afastado da costa, (Fig. 6-1), e pela ausência de um sombreamento maior, pois, não existem árvores altas no seu entorno. Na área da Praia da Bina, a Avicennia teve um maior incremento anual devido à maior hidrodinâmica do local com maior subsídios de energia para as plantas (Fig. 107).

Figura 105: Altura das Avicennia em 2003, no plantio do Itacorubi em Florianópolis, SC.

Figura 106: Exemplos de diâmetros da base em mudas do plantio no Saco Grande.

Fonte: Marlí Velasques Huber (2003).

Rhizophora

Figura 107: Altura das mudas de Avicennia nos plantios de Florianópolis e Biguaçu.

Fonte: Marlí Velasques Huber (2002 e 2003).