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4. MATERIAIS E MÉTODOS

6.1 FATORES QUE AFETAM O DESENVOLVIMENTO DO MANGUE

6.1.6 Métodos de obtenção de sementes, propágulos e mudas

6.1.6.4 Métodos de Plantio

Diversos métodos de restauração de manguezais degradados têm sido utilizados em todo o mundo, sendo que o plantio de mudas em viveiro, o transplante de plântulas jovens e plantio direto de propágulos tem sido os mais utilizados, (FIELD, 1997). Deve-se ressaltar, que estes métodos de regeneração artificial só devem ser utilizados quando se observarem que as taxas de regeneração natural são insuficientes, (FIELD, 1999).

A utilização de propágulos coletados na natureza e semeados, diretamente, no local, (Fig. 99), é um dos métodos menos dispendioso e pode-se obter grande sucesso com determinadas espécies como Rhizophora mangle, cujos propágulos podem ser eficientemente fixados no substrato, (MENEZES, 1994; MOSCATELLI, 1994).

Para espécies como, Avicennia schaueriana ou Laguncularia racemosa, cuja fixação dos propágulos seja influenciada, pela grande capacidade de flutuação, ou pela ação das marés, uma alternativa eficiente é a utilização da parte superior cortada de garrafas de polietileno de dois litros, fixadas no substrato protegendo os propágulos e auxiliando na sua fixação e estabelecimento, (ABRAHÃO, 1998).

Um exemplo inusitado da utilização direta dos propágulos é o método, desenvolvido na Flórida, de dispersão aérea de grandes quantidades de propágulos, cuja facilidade de se trabalhar com baixos custos, em áreas de difícil acesso ou muito extensas, compensa a alta mortalidade apresentada, (LEWIS, 1992). Diversas espécies têm sido utilizadas neste método como Rhizophora mangle, na Florida (TEAS e JURGENS, 1979); Avicennia alba; Avicennia oficinalis e Sonnerata apetala, na Índia (LAHIRI (1991).

Segundo Rodrigues e Roquetti-Humaitá (1988), plântulas são os indivíduos com DAP menor que 2,5cm e altura menor que 1,5m; plantas jovens os indivíduos com DAP menor que 2,5cm e altura maior ou igual a 1,5m e como árvores àqueles com DAP maior ou igual a 2,5cm e altura maior que 1,5m. Soares et al. (1991) definem os propágulos como indivíduos sem folhas; as plantas como indivíduos que emitiram folhas e os jovens como indivíduos menores que 1,0m e com ramificação.

Nos três projetos de restauração foram empregadas plântulas , pois, as alturas variaram de 0,24 a 0,89cm para o mangue preto; 0,66 a 1,40m para o mangue branco e 0,49 a 0,99m para o mangue vermelho.

6.1.6.4.1 Mudas produzidas em viveiro

Segundo Field (1996), uma outra alternativa para regeneração artificial da vegetação é a utilização de mudas produzidas em viveiro ou de plântulas e árvores jovens coletadas em campo sendo que, basicamente, quatro técnicas vêm sendo utilizadas na obtenção destas mudas:

- Produção de mudas em viveiros ou em campo.

- Desbaste de plântulas em locais de grande densidade.

- Desbaste de plantas jovens muito próximas e sombreadas pelas árvores mães. -Transplante de plantas e árvores jovens de áreas irreversivelmente degradadas. As plântulas produzidas em viveiros, em geral, apresentam as maiores taxas de sobrevivência dentre todos os métodos utilizados em projetos de restauração de manguezais, (SAENGER, 1997).

O plantio de espécies de manguezais em viveiro pode ser vantajoso, pois, permite um controle maior dos fatores que controlam seu desenvolvimento, produzindo mudas mais vigorosas e permitindo que se formem estoques para serem utilizados conforme a necessidade ou de acordo com a melhor época de plantio, (FIELD, 1997).

As mudas produzidas em viveiros podem ser armazenadas por um longo período de tempo permitindo que estas se desenvolvam e cheguem aos sítios a serem restaurados em melhores condições, com caules e copas vigorosas capazes de resistir ás ações das marés e ataques de herbívoros, (CHAN 1997).

Em Florianópolis, SC, Abrahão (1998) obteve bons resultados com o plantio de Avicennia schaueriana em viveiro, observando uma sobrevivência de até 82 % utilizando uma mistura de areia acrescida de um composto fertilizante.

As plântulas utilizadas nos três projetos de restauração foram cultivadas em viveiro com e sem cobertura (Fig. 100) e apresentavam-se em ótimo estado por ocasião do transplante.

Figura 99: : Viveiro com cobertura, na Estação de Aqüicultura da UFSC. Nas mãos do encarregado, mudas do interior da estufa.

Fonte: Clarice Panitz (1998)

Figura 100: Viveiro sem cobertura de mudas de mangue, na Estação de Aqüicultura da UFSC, em parte do manguezal do Itacorubi

Fonte: Clarice Panitz.

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6.1.6.4.2 Plantio direto

No Brasil, o uso de plântulas e árvores jovens obtidas, diretamente, dos manguezais tem sido bem documentado por Moscatelli (1994) que realizou um grande plantio às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro (RJ), obtendo bons resultados com a utilização de plântulas e pequenas árvores de A. schaueriana; L. racemosa e R. mangle que variavam de 0,50 a 3,20m de comprimento.

Menezes (1994) realizou com R.mangle, um estudo comparativo entre os métodos de restauração utilizando plântulas retiradas da natureza e utilizando o plantio direto, de propágulos e observou menores taxas de sobrevivência entre as plântulas do que entre os propágulos e ainda que os propágulos após um período de um ano, atingiam os mesmos índices de desenvolvimento que as plântulas sendo, portanto, sua utilização tão ou mais eficiente do que as plântulas desta espécie coletadas na natureza.

Eysink (1998) ressalta que, no Brasil, a espécie mais utilizada em projetos de restauração tem sido Rhizophora mangle e que há a necessidade de se utilizarem mais outras espécies. Este autor obteve bons resultados com o transplante de plântulas de Laguncularia racemosa na região de Cubatão, SP, uma das mais poluídas do Brasil.

Goforth e Tomas (1979) na Florida, observaram que, para R. mangle o método de plantio direto de propágulos apresentava vantagens em relação ao de utilização de plântulas transplantadas da natureza. Tanto as taxas de sobrevivência, como de desenvolvimento dos propágulos foram maiores do que das plântulas, demonstrando com isto que o método de plantio direto de propágulos, para esta espécie é mais barato e eficiente.

Panitz (1998) utilizou o trado da (Fig. 101) para colher as plântulas da natureza. Moscatelli e Almeida (1994) em manguezais de Angra dos Reis, RJ. Brasil, observou que, em experimentos com o plantio direto de propágulos de R. mangle, em áreas expostas às marés, as maiores taxas de sobrevivência se davam nas

mudas situadas mais interiormente na área de plantio e menos atingidas pela força da maré e por detritos carreados por elas.

Figura 101: Trado extrator de mudas, pode ser utilizado no plantio direto.

Fonte:Clarice Panitz.

Menezes et al. (1994) trabalhando em manguezais de Cubatão, na Baixada Santista, SP. Brasil, observaram também que, em R. mangle as melhores taxas de sobrevivência e desenvolvimento se dão na utilização do método de plantio direto de propágulos do que quando se utilizam plântulas coletadas diretamente na natureza.

Abrahão (1998) em Florianópolis, SC. Brasil, utilizando o método de plantio direto de propágulos de Avicennia schaueriana, observou que, durante os meses iniciais do plantio, a sobrevivência era de 0%, enquanto que se fossem utilizadas, garrafas plásticas descartáveis cortadas ao meio, para protegerem e auxiliarem a fixação dos propágulos as taxas de sobrevivência eram de 100 %. A autora testou diferentes tipos de substrato utilizados, no plantio de Avicennia schaueriana e observou as seguintes taxas de sobrevivência para cada tipo de substrato: 95% no composto nutritivo mais argila, 80% no composto nutritivo mais areia e 37% em argila e areia.

Nos três projetos de restauração não foi empregado o método do plantio direto, mas sim o de plantas de viveiro.

6.1.6.4.3 Plantio direto ou por voleio, com ou sem proteção

Untawale (1997) afirma que as taxas de sobrevivência num plantio direto para o gênero Avicennia são baixas devido ao arraste pelas correntes. Segundo Seanger (1997), se as perdas são altas, pode-se fixar os propágulos utilizando uma tela metálica ou feita de palha. Porém Queshi (1997), lembra que se o sítio tiver uma cobertura vegetal de gramíneas, o método de plantio por voleio é o mais econômico. Matos (2003) mostra que houve diferença significativa nas taxas de sobrevivência entre as mudas com proteção e sem proteção (31% e 47,4% e 11-13,6%). A proteção artificial elevou a taxa de sobrevivência pelo menos três vezes. Abrahão (1998) utilizou também proteção artificial encontrando resultados similares de sobrevivência (46,7% com proteção e 10% sem proteção) Segundo a autora, as proteções além de permitir que um maior número de plantas sobrevivam, elas permitem um desenvolvimento mais acelerado dos propágulos.