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Desenvolvimento de Aprendizagens em Contexto Outdoor

2. Enquadramento Teórico

2.5. Desenvolvimento de Aprendizagens em Contexto Outdoor

Vivemos numa sociedade eminentemente tecnológica, em que os mais novos passaram a demonstrar um interesse preferencial pelas tecnologias, notando-se que existem cada vez menos crianças no exterior, tendo cada vez menos experiências de brincar ao ar livre e resultando na destruição de áreas potenciadoras de aprendizagens significativas. Em “Infância e espaços exteriores – perspetivas sociais e educativas da atualidade” lemos que “[e]m Portugal, a presença e influência dos espaços exteriores no quotidiano dos mais novos tem vindo a diminuir de forma significativa (Neto, 1997), trazendo mudanças nos domínios da educação, saúde e ambiente.” (Bento, 2015, p. 127). Fatores como o prolongado tempo escolar o preenchimento do horário da criança com várias atividades extracurriculares, ansiedade e preocupação dos pais em garantir a segurança dos seus filhos, resultaram na redução da autonomia da criança, bem como na redução do tempo passado ao ar livre.

É importante relembrar aos pais e educadores que “[c]omportamentos diários como ir a pé para a escola revelam-se experiências importantes para o desenvolvimento, através das quais é possível desenvolver um sentimento de pertença a um espaço e adquirir competências de orientação espacial e resolução de problemas (Rissoto & Tonucci, 2002; Tovey, 2007). Quando os percursos realizados são feitos com amigos, esta atividade adquire uma importante dimensão social, tornando-se numa oportunidade para partilhar ideias, aventuras e histórias com os pares.” (Bento, 2015, p.129). Retirar à criança a possibilidade de passar por estas experiências é retirar-lhe a possibilidade de realizar aprendizagens significativas e importantes tanto para o seu desenvolvimento social, como psicológico e académico. “Os espaços exteriores oferecem oportunidades,

experiências, sensações e desafios que não estão disponíveis no interior (White, 2011). A singularidade das suas características possibilita diferentes formas de aprender, interagir e comunicar, sendo importante valorizar a diferença e compreendê-la de forma articulada com as características motoras, sociais, cognitivas e emocionais, que se revelam fundamentais para a vida adulta (e.g. capacidade de tomar decisões, cooperar com os outros).” (Bento, 2015, p.130).

O potencial educativo do brincar ao ar livre é, muitas vezes, desvalorizado pelos profissionais; no entanto, privar as crianças aos estímulos e oportunidades oferecidas pelo meio natural nos primeiros anos de vida trará repercussões na vida das crianças. Na intervenção educativa o brincar tem um lugar central, e “[o] desenvolvimento é compreendido numa perspetiva holística, em que as diferentes experiências e figuras que preenchem a vida da criança influenciam a forma como esta se vê a si própria, aos outros e ao mundo.” (Bilton, Bento & Dias, 2017, p.15).

Quando a criança brinca ao ar livre surgem momentos ou oportunidades para desenvolver a sua criatividade, resolver problemas, trabalhar em equipa cooperando, e praticar atividade física. “A exploração de materiais naturais é orientada pela curiosidade inata da criança e pelo seu desejo de aprender. (…) Neste processo de constante reinvenção e atribuição de novos sentidos aos objetos, torna-se possível observar a mobilização de noções relacionadas com ciência, literacia, matemática, entre outras.” (Bilton, Bento & Dias, 2017, p.49).

“O espaço exterior pode ser considerado um contexto social rico, onde emergem diferentes oportunidades de interação e partilha entre as crianças. Num cenário mais amplo e imprevisível, em que os adultos não têm possibilidade de controlar ou intervir simultaneamente em múltiplas situações, a cooperação entre as crianças surge espontaneamente como estratégia para alcançar objetivos comuns.” (Bilton, Bento & Dias, 2017, p.87).

Mas não é só nos primeiros anos que devemos proporcionar momentos de desenvolvimento de aprendizagens ao ar livre. Ao longo da escolarização da criança é importante articular o indoor com o outdoor. “Se reconhecermos que o desenvolvimento humano ocorre através de diferentes experiências que influenciam a forma como a criança compreende e atua sobre o meio, torna-se premente valorizar e

articular os espaços interiores e exteriores, assumindo que ambos, de acordo com as suas características, contribuem para o processo de aprendizagem e crescimento.” (Bilton, Bento & Dias, 2017, p.153).

Em White (2008) são referidas diversas razões para oferecermos experiências em espaço outdoor às nossas crianças. Algumas das razões apontadas são: a criança aprende fazendo, sendo importante oferecer uma ampla variedade de experiências reais, fortes contextos emocionais ativam a memória da criança, o contacto íntimo com o mundo natural, permite um profundo sentido de pertença, oferece oportunidades para a atividade física e ainda oportunidades para o desenvolvimento sensorial, estimula o trabalho colaborativo e a partilha de descobertas, oferece ainda oportunidades para a criança ser responsável pela preservação do meio ambiente, “Dentro e fora de portas, diferentes experiências e descobertas são potenciadas, sendo fundamental valorizar o contributo singular de cada contexto para o desenvolvimento de sentido de identidade e autoestima, curiosidade, construção de conhecimentos, competências sociais e comunicacionais.” (Bilton, Bento & Dias, 2017, p.160).

White (2008) refere ainda que o espaço outdoor apresenta-se como um companheiro perfeito para o indoor, trabalhando em harmonia e proporcionando um ambiente complementar que melhora e amplia o que somos capazes de dar às crianças dentro da sala. Saber o que faz o exterior fornece-nos um conjunto de diretrizes para tomar decisões sobre provisão, planeamento e interação com as crianças. Elas interagem e aprendem através de movimentos e ações, envolvendo o seu corpo, e usam-no para se descobrir e expressar. Os seus cérebros são como esponjas, percebendo detalhes e coisas que os adultos perdem ou filtram. Elas precisam de experiências reais e relevantes, com muita manipulação, contacto direto e de explorar ludicamente os materiais. “The natural world provides a fantastic stimulus for communication as children want to share their discoveries. Learning potential is rich in every aspect of the curriculum.” (White, 2008, p. 49).

Devemos ter sempre em mente que o espaço exterior é um espaço de aprendizagem. Em Outdoor Learning in The Early Years, Bilton sublinha essa ideia:

“The outdoor area is a complete learning environment, which caters for all children’s needs – cognitive, linguistic, emotional, social and physical.” (Bilton, 2010, p.1).

Bilton vai mais longe, referindo que é uma necessidade básica que deve ser atendida, bem como um fator que potencia o bem-estar emocional e de saúde da criança.

“Children have to be outside because there are things they need – for example fresh air, sun and daylight. They need to learn not to be frightened of outside but to simply see it as part of life, just as water is. They can be physically more active than inside, and so can become and stay healthy. They are able to learn in an environment that is comfortable and non-threatening and learn through play and movement – both easy vehicles for learning for young children.” (Bilton, 2010, p. 11)