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Capítulo II Desenvolvimento da fé em James W Fowler

2.3. Estágios da fé na primeira infância

2.3.3. Desenvolvimento humano e da fé

Considerando-se a relevante contribuição de Piaget, Erikson, Kohlberg para a teoria proposta por Fowler, pretende-se apresentar, a seguir, uma breve sistematização sobre o desenvolvimento humano e da fé, traçando um quadro com alguns aspectos das teorias do desenvolvimento humano e a teoria dos estágios da fé.

Tabela 2:

Estágios do desenvolvimento humano e da fé

Piaget Kohlberg Erikson Fowler

Teoria: Desenvolvimento Cognitivo Teoria: Desenvolvimento Moral Teoria: Desenvolvimento Psicossocial Teoria: Desenvolvimento da Fé Estudo:

evolução mental das crianças e Estudo da moralidade infantil Estudo: desenvolvimento moral, aperfeiçoando o modelo piagetiano Estudo: desenvolvimento psicossocial Estudo: estágios da fé, a partir de Piaget, Kohlberg (atividade estruturadora da fé) e Erikson (atividade funcional da fé) Etapas: sensório-motora, pré- operacional ou intuitiva, operacional concreta e operacional formal Níveis e estágios: Nível I – Moralidade pré- convencional

Estágio 1 – Orientação para a punição e a obediência. Estágio 2 – Individualismo, propósito instrumental e troca. Nível II – Moralidade convencional Estágio 3 – Expectativas e relacionamentos interpessoais mútuos e conformidade interpessoal.

Nível III – Moralidade de Princípios ou Pós-Convencional Estágio 5 – Contrato ou utilidade social e direitos individuais. Estágio 6 – Princípios éticos universais.

Etapas:

Confiança básica versus desconfiança,

autonomia versus vergonha e dúvida, iniciativa versus culpa, produtividade versus inferioridade, identidade versus confusão de papéis, intimidade versus isolamento, geratividade versus estagnação, integridade do ego versus desespero

Estágios: fé intuitivo-projetiva; fé mítico-literal; fé sintético-convencional; fé individuativo- reflexiva; fé conjuntiva; fé universalizante. Sequência invariante,

fixa, universal Sequência invariável, universal, hierárquica e os estágios “mais altos” são mais adequados que os iniciais

Sequência cumulativa,

universal Sequência universal Um processo em espiral Atenção:

aos fatores cognitivos Atenção: aos fatores cognitivos e estimulação social

Atenção:

aos fatores biológicos, psicossociais e institucionais

Atenção:

aos valores cognitivos, psicossociais, morais e de fé

Processo interacional Processo interacional Processo interacional Processo interacional

Teoria evolutiva Teoria evolutiva Teoria evolutiva Teoria evolutiva

A tabela 2 demonstra as aproximações entre estes teóricos sobre o desenvolvimento humano e o desenvolvimento da fé. Piaget, Kohlberg, Erikson e Fowler dedicaram-se anos ao estudo e à pesquisa empírica, apresentando em suas teorias um processo evolutivo, o qual é proposto como etapas, níveis e estágios. O estudo de Piaget centrou-se na evolução mental das crianças e na moralidade infantil; Kohlberg aperfeiçoou o modelo piagetiano, enfatizando o estudo do desenvolvimento moral em todos os níveis e estágios ao longo da vida; Erikson amplia os estudos do desenvolvimento humano, com o foco no desenvolvimento psicossocial, reconhecendo

que as crises vivenciadas são fundamentais no processo de formação da identidade do ser humano; Fowler com base nestas teorias prioriza o estudo do desenvolvimento da fé, reconhecendo a contribuição de Piaget e Kohlberg para uma atividade estruturadora da fé e de Erikson para uma atividade funcional da fé. Com relação à sequência, percebem- se alguns pontos em comum e algumas diferenças, predominando uma sequência universal. Cada teórico fixou a sua atenção em focos específicos, tais como Piaget (nos fatores cognitivos), Kohlberg (nos fatores cognitivos e estimulação social), Erikson (nos fatores biológicos, psicossociais e institucionais) e Fowler (nos valores cognitivos, psicossociais, morais e de fé). Em todos prevalece a ênfase no processo interacional e na construção de uma teoria evolutiva do desenvolvimento humano.

Fowler considera as relevantes contribuições de Piaget e Kohlberg para a sua teoria dos estágios da fé, destacando o enfoque epistemológico dessas teorias estrutural- desenvolvimentais, as quais servem de referência para a compreensão da fé como uma maneira de olhar e interpretar o mundo; a abordagem estrutural possibilita o reconhecimento de alguns aspectos da fé que são universais; os estágios da fé estão relacionados com a teoria de Piaget e Kohlberg, mas não se limitam a estas influências; a ênfase no processo interacional da estrutura do desenvolvimento proposto por Piaget e Kohlberg para a construção da teoria dos estágios da fé colabora para pensar a fé em um processo interacional.

Fowler reconhece algumas limitações dos estudos de Piaget e Kohlberg para a construção da teoria dos estágios da fé. Estas limitações são citadas por ele como uma visão racional e uma preocupação com aspectos objetivos da estruturação da teoria; a pouca atenção da teoria de Piaget aos aspectos afetivos; a escassez de atenção do papel da imaginação e aos processos inconscientes; a falta de preocupação com a formação de um eu epistemológico:

Uma primeira dificuldade surge do modo em que Piaget e Kohlberg, depois dele, separaram conceitualmente a cognição ou conhecimento da emoção ou afetividade […]. O desenvolvimento da maturidade racional significa precisamente aquela capacidade para a “objetividade” que torna irrelevantes as questões da emoção ou da predisposição afetiva, subjetiva (Fowler, 1992, p. 90).

Com relação à contribuição de Erikson para a teoria dos estágios da fé, Fowler parte do seguinte princípio:

Uma teoria estrutural-desenvolvimental da fé deve ser uma teoria do conhecer e agir pessoais […]. Significa, ainda, um compromisso de relacionar os estágios estruturais da fé às crises e aos desafios previsíveis das eras de desenvolvimento e de levar a sério as histórias de vida no estudo da fé (Fowler, 1992, p. 93).

Segundo Fowler, Erikson o ajudou muito para enfocar o aspecto funcional da fé, as questões existenciais que precisam ser enfrentadas ao longo do ciclo da vida. As etapas de desenvolvimento propostas por Erikson facilitam a maneira de compreender e considerar a fé, numa contínua dinâmica de transformações ao longo da vida, mediadas pelo compartilhamento de experiências no grupo social:

Do nosso ponto de vista, as crises de confiança, autonomia, iniciativa etc., que estão razoavelmente correlacionadas com a maturação e a idade, representam desafios vivenciais que todas as pessoas precisam enfrentar. Como parte de seus embates, em sua adaptação, a fé se forma, funciona e é modificada (Fowler, 1992, p. 95).

Fowler reconhece que foi mais fácil descrever a influência de Piaget e Kohlberg do que a influência de Erikson, justificando que isto se deve ao fato dele ter sido tocado em convicções profundas por Erikson, o que não aconteceu com os estágios desenvolvimentais estruturais. A representação da teoria de Erikson para Fowler é assim descrita: “O trabalho de Erikson tornou-se parte da atitude interpretativa que trago para a pesquisa sobre o desenvolvimento da fé” (Fowler, 1992, p. 9).