• Nenhum resultado encontrado

Desenvolvimento humano, subjetividade e emoção

No documento Download/Open (páginas 30-35)

“O homem...é um ser dotado da capacidade de interpretar, de agir e de modificar o mundo e, nesse processo dialético, vai construindo- se como ser humano, intermediado pelas práxis. ”

Albertina Mitjáns Martinez

Abordar o tema desenvolvimento humano, nos remete a ideia de um homem dicotomizado em fases ou etapas de desenvolvimento. “O desenvolvimento envolve a interpretação da dinâmica entre três fatores: O lugar (lócus), o estado (status nascendi) e a gênese (matriz) do fenômeno em um determinado momento da vida do indivíduo; bem como a interpretação do seu estado de espontaneidade na situação interpessoal.” Peres (2014) sendo assim um processo vivenciado ao longo da vida do indivíduo, sem a divisão de fases propostas por outras teorias.

Com a teoria da subjetividade González Rey reafirma a concepção de Vygotsky (2004, 2009) sobre o desenvolvimento humano como um processo de mudança, porém o identifica, definitivamente, com a variedade de emoções produzidas pelo sujeito. Dito de outra forma, ele se encaminha para o estudo da subjetividade produzida pelo sujeito do desenvolvimento (GONZÁLEZ REY,1999,2003). “Assim, destaca que no processo comunicativo, desde cedo, complexas emoções são produzidas pela criança definindo a qualidade das relações entre ela e os adultos que a cercam e como a tensão emocional gerada nesse processo garante o desenvolvimento da sua condição de sujeito. ” Peres (2012, p. 188, 195).

A teoria da subjetividade não propõe essa dicotomização do sujeito, não estabelece um determinismo em seu desenvolvimento, sendo este um processo

entre indivíduo e sociedade. Silva (2008) afirma que a Teoria da Subjetividade possibilita uma reflexão que rompe com os determinismos, convidando-nos para outros níveis de investigação que abarcam diferentes momentos da vida desse sujeito. A noção de sujeito adotada considera o homem movido pela sua biografia e história que, integrados na sua subjetividade e emocionalidade, expressa a nível singular a complexa rede de processos sociais, políticos e institucionais dentro dos quais o sujeito emergiu na sua condição.

Para Lev Vygotsky (1896-1934) o desenvolvimento é um processo em que todos os seres vivos chegarão à morte. Cada um possui uma experiência singular na vida, sendo assim o significado e o sentido da morte para cada indivíduo são únicos. Peres (2012) afirma que inicialmente o que nos revela é o quão desconhecido é o processo de desenvolvimento da afetividade. Conquanto reconheçamos que corpo e mente, cognitivo e afetivo estejam dinâmica e recursivamente inter-relacionados nesse processo, ainda temos dificuldade de explicar como o sujeito articula esses aspectos e os converte, ou não, em relação livre e autêntica com o outro.

Para Peres (2012), embora o sujeito produza uma subjetividade que aparece no momento de sua própria história, ela não pode ser deslocada da história da sociedade em que vive. Na sua concepção é exatamente a complexa vivência emocional de contradições na vida concreta que permite ao sujeito gerar os sentidos subjetivos que orientam suas atividades e relações. Peres afirma: González Rey propõe o estudo da emoção como constitutiva da subjetividade do sujeito que é por ele expressa de forma indireta (mediata) nas suas atividades e relações sociais. Assim, o autor representa as emoções não como sistemas externos à realidade, mas como a própria realidade humana complexa e dinâmica,

se realizando incessantemente no sujeito da ação.

Segundo González Rey (2005b) o sujeito é um sujeito do pensamento, mas não de um pensamento comprometido de forma exclusiva em sua condição cognitiva, e sim de um pensamento entendido como processo de sentido, ou seja, que atua somente por meio de situações e conteúdo que implicam à emoção do sujeito. A linguagem aparece em nível individual cheio de sentido subjetivo, traduz emoções complexas do sujeito e, ao mesmo tempo, gera novas emoções em seu constante trânsito pelos diferentes espaços representativos e experimentais do sujeito. O sujeito é um indivíduo comprometido de forma permanente em uma prática social complexa que o transcende, e diante disso tem de organizar sua expressão pessoal, o que implica a construção de opções pelas quais mantenha seu desenvolvimento e seus espaços pessoais dentro do contexto dessas práticas. Scoz (2011) afirma que a subjetividade e identidade podem ser compreendidas como algo em construção, com base nos sentidos que os sujeitos vão produzindo na condição singular em que se encontram inseridos em suas trajetórias de vida e, ao mesmo tempo, em suas diferentes atividades e formas de relação. Assim, são o resultado de complexas sínteses das experiências individuais dos sujeitos em diferentes contextos de expressão.

Para González Rey (2005) as emoções representam um momento essencial na definição do sentido subjetivo dos processos e relações do sujeito. Uma experiência ou ação só tem sentido quando é portadora de carga emocional. As emoções representam estados de ativação psíquica e fisiológicas, resultantes de complexos registros do organismo ante o social, psíquico e o fisiológico. A emoção caracteriza o estado do sujeito ante toda ação, ou seja, as emoções estão estreitamente associadas às ações, por meio das quais caracterizam o sujeito no

espaço de suas relações sociais. O emocionar-se é uma condição da atividade humana. O sentido subjetivo da emoção se manifesta pela relação de uma emoção com outras em espaços simbolicamente organizados, dentro os quais as emoções transitam.

O sentido subjetivo está vinculado ao sujeito em sua totalidade (individual e social) pois há uma integração da vida interna e externa do sujeito em diferentes momentos vivenciado por ele, sendo assim um processo em constante desenvolvimento onde estes dois momentos se fundem de forma recíproca provocando assim novos sentidos subjetivos. Mitjáns Martinez (2017) afirma que as configurações subjetivas que constituem a personalidade são organizações dinâmicas de sentidos subjetivos que têm adquirido uma relativa estabilidade no percurso da história de vida do indivíduo e que, mesmo que se organizem e se reorganizem de formas diversas perante as situações que o indivíduo vive, ocupam, pela sua força, um lugar importante na organização da subjetividade individual. O sentido subjetivo é o resultado da configuração subjetiva que se organiza em torno da experiência vivida.

Para Silva (2008) a proposta da subjetividade convida à ruptura com uma ideologia epistemológica pautada na objetividade e na linearidade e que consideram fatores internos ou externos como determinantes do funcionamento humano. A Teoria da Subjetividade é um convite para refletir sobre a complexidade presente nas experiências subjetivas, que não são determinadas por nenhum tipo de influência (interna ou externa) ou invariantes universais sobre o sistema, mas referem-se a uma produção desse sistema dentro dos espaços dialógicos que caracterizam a vida humana.

indivíduos, Peres (2012) afirma que contra qualquer representação da emoção como exterioridade, virá sugerir que estudemos as complexas dinâmicas do sujeito nos seus sistemas de relações. Nas relações dentro da escola, diretamente envolvida com os sentidos subjetivos gerados na produção do conhecimento, entende que a emoção explica os movimentos do sujeito para outras produções que constituirão a sua singularidade no processo de aprender.

No documento Download/Open (páginas 30-35)

Documentos relacionados