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PARTE II – DIMENSÃO INVESTIGATIVA

CAPÍTULO 1 – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.2. Desenvolvimento lexical

O desenvolvimento lexical engloba o conhecimento que todos os falantes possuem acerca da sua língua materna, por isso, qualquer pessoa, escolarizada ou não, possui este conhecimento. O Dicionário Terminológico define o léxico como:

O conjunto de todas as palavras ou constituintes morfológicos portadores de significado possíveis numa língua, independentemente da sua atualização em registos específicos. O léxico de uma língua inclui não apenas o conjunto de palavras efetivamente atestada num determinado contexto (cf. vocabulário), mas também as que já não são usadas, as neológicas e todas as que os processos de construção de palavras da língua permitem criar.

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Podemos assim verificar que o léxico de uma língua é algo que não se pode contar, uma vez que é impossível especificá-lo e registá-lo devido à sua natureza e ao conhecimento que cada pessoa possuí das palavras (Pacheco, 2011). Neste sentido podemos afirmar que são vários os fatores que influenciam o conhecimento lexical dos alunos, entre eles o meio socioeconómico de origem, as habilitações académicas, a atividade profissional, os gostos, o meio em que vive, a idade e o sexo. Perante isto percebemos que o léxico é acrescentado e desenvolvido ao longo de toda a vida, sendo diferente de pessoa para pessoa (ibidem).

O capital lexical dos alunos, ou seja, o conhecimento de palavras que conhecemos e usamos, tem uma forte ligação com o seu sucesso escolar uma vez que, como sabemos, as palavras são instrumentos essenciais, na medida em que nos permitem aceder aos nossos conhecimentos, exprimir as ideias e conceitos e aprender novos conteúdos. Assim, podemos afirmar que quanto menor é o capital lexical mais dificuldades se evidenciam no processo de leitura e, consequentemente, no desenvolvimento da compreensão leitora. Contudo, crianças com um capital lexical reduzido não conseguem atribuir significados às suas leituras, tornando-se assim um processo complexo e desmotivador, fazendo com que os alunos leiam cada vez menos, deixando assim de adquirir novas palavras (Duarte et al., 2011). Esta situação, conhecida na literatura como um dos Efeitos de Mateus é descrita por Duarte et al., (2011, p. 9) como:

crianças com maior capital lexical à partida leem mais, tornam-se cada vez melhores leitores, aumentam, através da leitura, o seu capital lexical. Pelo contrário, crianças com capital lexical reduzido à partida leem menos, tornam-se cada vez piores leitores, pelo que não aumentam o seu capital lexical através da leitura.

Embora a investigação apresentada tenha sido realizada em contexto de 1.º CEB, é relevante salientar que, devido à característica evolutiva do léxico e à importância das realizações linguísticas em contexto pré-escolar, o educador deve ter especial atenção às mesmas uma vez que são determinantes para o desenvolvimento da sua competência lexical, sendo as suas próprias realizações linguísticas modelos que a criança reproduz (Araújo, 2011). Posto isto, o ambiente linguístico fornecido à criança torna-se fulcral na diversidade lexical, devido à importância das atividades proporcionadas à criança desde cedo relacionadas com a leitura e a escrita para o seu capital lexical (Pires, 2015).

No entanto sabemos que o capital lexical é também um fator determinante na escrita, ou seja, a qualidade da mesma é influenciada, uma vez que, quanto maior for o capital lexical, mais facilmente é selecionado vocabulário de modo a que sejam evitadas repetições de palavras (Duarte et al., 2011).

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Neste sentido, verificamos que o capital lexical desempenha um papel muito importante na aprendizagem da leitura e no desenvolvimento da competência escrita (Duarte, 2008). Em seguida apresentamos um modelo conceptual que relaciona entre si o conhecimento lexical, a compreensão leitora e a qualidade da escrita, demonstrando sucintamente a influência existente entre estes.

Neste modelo podemos ver a influência dos fatores socioeconómicos, nomeadamente, as habilitações literárias dos pais; do conhecimento prévio sobre o mundo adquirido através de interações com adultos e contacto com demonstrações culturais diversificadas; e do domínio do português, ou seja, a variedade linguística de origem das crianças, no capital lexical com que estas entram na escola. O ensino explícito do léxico vem precisamente colmatar as dificuldades existentes nesta entrada, desencadeando uma evolução ascendente que fomenta o sucesso escolar (Lubliner & Smetana, 2005, citado por Duarte et al., 2011). Contudo, é evidente o facto do capital lexical influenciar e ser influenciado pelo volume de leituras, sendo que este influencia ainda a compreensão leitora e a qualidade de escrita, na medida em que, quanto maior for o capital lexical e o volume de leituras de um aluno, mais alto é o nível atingido na compreensão leitora, beneficiando, consequentemente, a qualidade da produção escrita e esta, por sua vez, tem efeitos positivos na compreensão da leitura (Duarte et al., 2011).

Perante a análise a este modelo, podemos verificar a importância do desenvolvimento do conhecimento lexical, uma vez que permite uma melhor compreensão do mundo e uma organização e estruturação do pensamento de forma mais íntegra e completa. Como defende

Figura 1 - Modelo conceptual que inter-relaciona conhecimento lexical, compreensão de leitura e

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Araújo (2011, p. 78) “um ensino do léxico orientado pelo rigor, exigência e criatividade proporciona aos alunos um desenvolvimento lexical com fortíssimas repercussões na compreensão da leitura”. No entanto, a aprendizagem de novas palavras e o reconhecimento do seu significado é uma tarefa bastante complexa.

Todos temos consciência da complexidade envolvida no conhecimento de cada palavra, uma vez que temos de dominar a sua forma fónica, a sua forma gráfica, o seu significado e a subclasse de nomes a que pertence. Estas informações permitem-nos perceber as posições que determinada palavra pode ocupar numa frase (Duarte et al., 2011). Porém, é necessário conhecer ainda a sua estrutura interna, uma vez que o facto de muitas palavras terem elementos comuns permite-nos aprender facilmente novas palavras e ter assim um capital lexical mais rico (ibidem).

Tendo em conta esta complexidade, sabemos à partida que um projeto que tenha como objetivo o enriquecimento do capital lexical das crianças e o desenvolvimento da sua consciência lexical depara-se com inúmeras dificuldades (Duarte et al., 2011).

Uma dificuldade logo à partida prende-se com o número elevado de palavras existentes (500000 palavras). Outra desde logo evidente está relacionada com a diferença existente entre a oralidade e a escrita, uma vez que o léxico utilizado numa conversa nunca é tão rico e variado do que aquele que encontramos, por exemplo, em livros, sendo que, por vezes, o léxico adquirido oralmente pelas crianças não é suficiente para a compreensão da leitura de uma história (Duarte et al., 2011).

Para além de todas os problemas e dificuldades já evidenciadas, Vygotsky (1998, p. 104) defende ainda o facto de que “o desenvolvimento dos conceitos, ou dos significados das palavras, pressupõe o desenvolvimento de muitas funções intelectuais: atenção deliberada, memória lógica, abstração, capacidade para comparar e diferenciar”. Esta situação leva-nos a refletir sobre aquilo que é exigido aos alunos para desenvolver a sua consciência lexical, relacionando-se com diferentes domínios do português e das restantes áreas curriculares. O Programa e as Metas de Português do Ensino Básico correspondente ao 2.º ano de escolaridade refere os seguintes princípios ao nível do léxico por Buescu, Morais, Rocha & Magalhães (2015, p. 54):

Apropriar-se de novos vocábulos. Reconhecer o significado de novas palavras, relativas a temas do quotidiano, áreas do interesse dos alunos e conhecimento do mundo (por exemplo, profissões, passatempos, meios de transporte, viagens, férias, clima, estações do ano, fauna e flora). Usar vocabulário adequado ao tema e à situação e progressivamente mais variado.

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Contudo, à medida que os alunos prosseguem nos diferentes anos de escolaridade, as exigências e dificuldades aumentam, tanto em relação à leitura como à compreensão oral exigindo que as crianças e os jovens aumentem radicalmente o seu capital lexical não só com palavras de âmbito geral como, igualmente, com termos técnicos relacionados com diversas áreas científicas e tecnológicas (Duarte et al., 2011).

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