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ARTIGO 4 Proposta normativa para a gestão de resíduos

2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E AS INSTITUIÇÕES

O conceito de desenvolvimento sustentável foi sendo elaborado, principalmente, após a Conferência de Estocolmo, em 1972 (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS - ONU, 1972). Contudo, somente no Relatório de Bruntland ou “Nosso Futuro Comum”, elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e o Desenvolvimento, em 1987, que os reais contornos conceituais do desenvolvimento sustentável foram expressos.

O desenvolvimento sustentável pode ser conceituado como aquele que atende as necessidades presentes sem comprometer as necessidades das futuras gerações, pautado em uma “nova era de crescimento econômico, que tem de se apoiar em práticas que conservem e expandam a base de recursos naturais” (BRUNTLAND, 1991, p. 1).

Segundo o Relatório de Bruntland (1991, p. 11)

o desenvolvimento sustentável não é um estado permanente de harmonia, mas um processo de mudança, no qual a exploração de recursos, a orientação dos investimentos, os rumos do desenvolvimento tecnológicos e a mudança institucional estão de acordo com as necessidades atuais e futuras.

Impende mencionar que a “legislação ambiental brasileira está impregnada do conceito de sustentabilidade” (SILVA, 2013, p. 29), desde a Constituição Federal de 1988, cujo artigo 225, dispõe que

todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia

qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988, art. 225).

Machado (2012, p. 90) informa que “o homem não é a única preocupação do desenvolvimento sustentável. A preocupação com a natureza deve também integrar o desenvolvimento sustentável”.

Tauchen e Brandli (2006, p. 504) enfatizam que

Existem duas correntes de pensamento principais referentes ao papel das IES no tocante ao desenvolvimento sustentável. A primeira destaca a questão educacional como uma prática fundamental para que as IES, pela formação, possam contribuir na qualificação de seus egressos, futuros tomadores de decisão, para que incluam em suas práticas profissionais a preocupação com as questões ambientais. A segunda corrente destaca a postura de algumas IES na implementação de SGAs em seus campi universitários, como modelos e exemplos práticos de gestão sustentável para a sociedade.

As universidades contribuem ativamente para o desenvolvimento sustentável, precipuamente em decorrência da prestação de serviços educacionais.

Para garantir que sejam sustentáveis, sugere-se, tipicamente, que as universidades alterem suas práticas de gestão, adotando programas de reciclagem, proponham iniciativas para a eficiência energética, implantem sistemas de gestão ambientais, tenham abordagens curriculares ambientais, garantam o desenvolvimento de raciocínio crítico de estudantes e pesquisadores para lidar com desafios ambientais e assumam as funções de liderança regionais na coordenação, promoção e aumento de projetos para a sustentabilidade (KARATZOGLOU, 2013).

Hansen e Lehmann (2006) mencionam que as universidades são agentes modificadores da realidade com vistas à sustentabilidade. Os autores se baseiam em uma abordagem tripartite do desenvolvimento sustentável, pautado em aspectos sociais, ambientais e econômicos. E continuam afirmando que o desenvolvimento sustentável requer sistemas de inovações que conectam diferentes agentes com a teoria (pesquisa e ensino) e a prática (empresas, sociedade civil e governo). Assim, as universidades possuem crucial importância no incremento de capacidades com objetivo de alcançar o desenvolvimento sustentável dos recursos humanos e materiais.

O compromisso institucional com o desenvolvimento sustentável, a inserção da seara ambiental nas grades curriculares e aumento de cursos na área ambiental são importantes mecanismos de construção ativa do desenvolvimento sustentável em universidades (SEDLACEK, 2013).

Enfim, as universidades, por suas atividades de ensino, pesquisa, extensão e liderança são importantes atores na busca por soluções que ameaçam a existência humana e do planeta (KAPLOWITZ et al., 2009).

2.1A UFLA no contexto do desenvolvimento sustentável

A UFLA possui o compromisso institucional com a proteção e preservação do meio ambiente, o que foi consagrado em seu Regimento Geral (art. 7º, IX). Além disso, a UFLA tem como objetivo o estímulo ao conhecimento dos problemas do mundo, bem como a formação de diplomados, aptos a participarem do desenvolvimento da sociedade,

desenvolvimento este que deve estar pautado na sustentabilidade (UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS - UFLA, 2012, art. 8).

Em 2008, a UFLA aprovou o Plano Ambiental e estruturante que teve o condão de adaptar a Universidade à legislação ambiental, implantando práticas de gestão de resíduos, saneamento, tratamento de esgoto, prevenção e controle de incêndios, prevenção e controle de endemias, proteção de nascentes e matas ciliares e construções ecologicamente corretas (UFLA, 2013a). Houve, também, a criação da Diretoria de Meio Ambiente (DMA), responsável pelo planejamento, coordenação, desenvolvimento e monitoramente de ações de gestão ambiental (UFLA, 2012, art. 4).

Em âmbito local, além de funcionar como instituição difusora de conhecimento, a UFLA assume o papel de agente modificadora da realidade, mediante parcerias com a Prefeitura Municipal de Lavras e a Associação de Catadores de Materiais Recicláveis (ACAMAR), o que propicia o surgimento de vários projetos, dentre os quais o projeto Do

Coletar ao Reciclar, iniciado em 2010. Este projeto visou à

conscientização da comunidade local, acerca da correta destinação dos resíduos, separação dos recicláveis e reaproveitamento, contribuindo para amenizar os impactos da disposição inadequada dos resíduos (SILVA et al., 2012), “além de buscar a melhoria das condições de trabalho dos catadores e desenvolver a coleta seletiva por meio da inclusão social” (SILVA, 2013, p. 16).

Como mecanismo garantidor da sustentabilidade no campus universitário da UFLA, as normas para o gerenciamento de resíduos recicláveis e RCC irão possibilitar a institucionalização do programa, bem

como a integração de todos os departamentos e setores em prol das melhores práticas ambientais. Já que o Direito pode ser considerado mais um instrumento social necessário e relevante à garantia do meio ambiente ecologicamente equilibrado, pois “atua organizando a sociedade, cuja trajetória pode ameaçar a existência humana devido às ações do próprio homem. É um direito que surge para rever e redimensionar conceitos que dispõem sobre a convivência das atividades sociais” (MORAIS et al., 2012, p. 145).