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ARTIGO 2 Proposta de normatização para a gestão de

2 GESTÃO DE RESÍDUOS PERIGOSOS

O gerenciamento de resíduos perigosos tem sido objeto frequente de discussões em nível nacional e internacional, principalmente, em decorrência dos graves riscos à saúde e ao meio ambiente causados pela sua disposição inadequada.

De acordo com Ribeiro e Morelli (2009, p. 30)

por mais contraditório que possa parecer, certos resíduos perigosos são jogados no meio ambiente precisamente por serem tão danosos. Não se sabe como lidar com eles com segurança e espera-se que o ambiente absorva as substâncias tóxicas. Porém, essa não é uma solução segura para o problema. Muitos metais e produtos químicos não são naturais, nem biodegradáveis. Em consequência, quanto mais se enterram os resíduos, mais os ciclos naturais são ameaçados e o ambiente se torna poluído.

Os autores utilizam o termo não técnico “jogados”, mas considera- se que o uso do mesmo é inapropriado, o uso de termos como “lançados” ou ainda “dispostos” é mais condizente com melhor técnica.

Em 1989 foi firmada a Convenção da Basiléia, que é o primeiro acordo de direito internacional a tratar especificamente dos resíduos perigosos e os movimentos transfronteiriços, a qual foi ratificada pelo Brasil pelo Decreto nº 875, de 19 de julho de 1993 (BRASIL, 1993; ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS - ONU, 1989).

Nesta Convenção, os países reconheceram a necessidade de serem adotadas medidas que promovam a gestão de Resíduos Perigosos e outros resíduos e que a eliminação destes deve se dar em consonância com a proteção da saúde humana e do meio ambiente. É importante mencionar

também que a Convenção da Basiléia já demonstrava grande preocupação em assegurar que a produção de resíduos perigosos e de outros resíduos seja reduzida ao mínimo, tendo em conta os aspectos sociais, tecnológicos e econômicos, e garantir a disponibilidade de instalações adequadas para eliminação, com vistas à gestão ambientalmente segura e racional dos resíduos perigosos (ONU, 1989).

Já, em 1992, foi realizada no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD) que teve o condão de aprovar a Agenda 21. A Agenda 21 dispõe, em seus capítulos 19 e 20, respectivamente, do manejo ecologicamente saudável das substâncias químicas tóxicas e manejo ecologicamente saudável dos resíduos perigosos. Este é um importante instrumento normativo, pois já começa a impor o que chamamos de responsabilidade compartilhada, ou seja, as etapas de gerenciamento, desde a geração até a disposição final requerem a cooperação e participação ativas da comunidade internacional, dos Governos e da indústria (ONU, 1992).

No mais, a Agenda 21 dispõe que o manejo de resíduos perigosos deve se dar baseada em uma abordagem do “ciclo de vida” do produto, com objetivo de reduzir ao mínimo a produção dos resíduos perigosos (ONU, 1992).

Em 24 de fevereiro de 2004, entrou em vigor a Convenção de Roterdã, que possui como objetivo contribuir para o uso ambientalmente correto das substâncias químicas perigosas, facilitando o intercâmbio de informações sobre suas características e prevendo que cada signatário

deverá estabelecer registros ou banco de dados que incluam informações sobre a segurança das substâncias químicas (ONU, 1998).

Em maio de 2004, entrou em vigor a Convenção de Estocolmo sobre os Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs) que consagra o princípio da precaução com objetivo de proteger a saúde humana e o meio ambiente (ONU, 2004).

No Brasil, há diversas legislações esparsas a tratar dos resíduos perigosos, dentre elas a Lei nº 12.305/2010, resoluções do CONAMA, normas da ABNT, ANVISA e outros. Tais normas variam de acordo com as características e especificidades dos resíduos.

A Lei nº 12.305/10 é a norma geral do sistema normativo sobre resíduos sólidos e estabelece como objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos a redução do volume e da periculosidade dos resíduos perigosos (BRASIL, 2010, art. 7), impondo como obrigação dos geradores a elaboração do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010, art. 20).

O plano de gerenciamento de resíduos sólidos é um documento cujo conteúdo mínimo está previsto em lei, estabelecendo aspectos descritivos, de caracterização quantitativa de resíduos gerados, etapas do gerenciamento, ações preventivas e corretivas e outros, sendo bastante abrangente. Ou seja, os planos “irão estudar, com maior detalhamento, as questões relacionadas aos resíduos e aos rejeitos, ainda que esses assuntos não fiquem fora do tema ‘meio ambiente’” (MACHADO, 2012, p. 654).

Além da obrigatoriedade de elaboração dos planos, a Lei nº 12.305/2010 (BRASIL, 2010, art. 9) estabeleceu a escala de prioridades na hierarquia de gerenciamento. Assim, "a prioridade num programa de

gestão é lançar mão da estratégia de redução na fonte que busca minimizar a própria geração do material residual" (FIGUERÊDO, 2006, p. 29).

Do mesmo modo, a Lei nº 9.605/98 (BRASIL, 1998b) também funcionou como impulsionadora da gestão adequada de resíduos sólidos, haja vista a criminalização de atos lesivos ao meio ambiente e a adoção da responsabilidade objetiva em relação aos crimes ambientais, ou seja, não é necessário provar que a ação ou omissão danosa sejam dolosas ou culposas para que o agente incida nas cominações legais.

Gerbase, Coelho e Machado (2005) afirmam que as universidades brasileiras não devem ficar alheias às mudanças estruturais que estão ocorrendo quanto à legislação ambiental brasileira e que é necessário conscientizar a comunidade acadêmica de suas responsabilidades em relação aos rejeitos produzidos nos laboratórios.

Apesar de existirem diversas leis sobre resíduos de naturezas distintas, nota-se que "as ações de gestão são também dificultadas pela falta de um arcabouço legal aplicado diretamente às instituições de ensino e pesquisa" (FIGUERÊDO, 2006, p. 37).

Teixeira et al. (2010) analisaram o gerenciamento de resíduos perigosos na Unicamp e observaram que era prática comum o descarte inadequado dos resíduos como, por exemplo, nas pias dos laboratórios, o que ia de encontro aos princípios da universidade. Assim, a Unicamp implantou o Programa de Gerenciamento de Resíduos Biológicos, Químicos e Radiológicos (PGRBQR), incorporou como objetivo a conscientização da comunidade acadêmica, diminuindo os riscos e zerando a insalubridade em vários locais. O PGRBQR foi pautado em três

premissas básicas: corresponsabilidade do gerador, estímulo à minimização do resíduo gerado e apoio técnico e de infraestrutura na busca de melhor tecnologia disponível para a reutilização, reciclagem e destinação final ambientalmente adequada.

Da mesma forma como a Unicamp e outras universidades brasileiras, a UFLA não pode ficar alheia às mudanças que ocorrem na legislação ambiental, por isso é de suma importância haver o gerenciamento de resíduos perigosos de forma integrada e de acordo com as especificidades de cada resíduo, pautada também na corresponsabilidade, minimização dos resíduos e investimento em infraestrutura, com atuação de toda a comunidade acadêmica em prol das melhores práticas ambientais.