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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.9 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E CRÉDITOS DE CARBONO

Desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer as futuras gerações. Este é um conceito internacional, definido pelo documento

Our Common Future como conclusão dos trabalhos realizados em 1987 pela Comissão Mundial da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. A partir dessa data, outros eventos foram realizados criando maior consciência sobre a redução de CO2

(ALTENFELDER, 2004).

O uso do termo créditos de carbono começa com o compromisso dos países que participaram do Protocolo de Kyoto, em 1997 (e se encontram listados no Anexo I desse

documento), de reduzir as emissões de poluentes no o período de 2008 a 2012. Nesta seção é justificada a inclusão dos benefícios econômicos da comercialização dos créditos de carbono na análise de viabilidade de projetos relacionados com a geração de energia.

Como poderá ser depreendido das referências que seguem, o termo créditos de carbono significa que o dióxido de carbono equivalente que um processo deixa de emitir pode ser creditado para processos que precisam ter suas emissões reduzidas e nos quais, por motivos técnicos ou puramente econômicos, torna-se mais conveniente pagar por esse crédito. Este conceito está baseado na idéia de um balanço global das emissões, com o intuito de ir paulatinamente diminuindo as emissões totais de gases, principalmente os causadores do efeito estufa.

Pelo fato de o CO2 ser o principal causador do efeito estufa, os demais poluentes, como

SO2 e NOx, são expressos na forma de CO2 equivalente, de maneira tal que quando são

negociados os créditos de carbono exista um único valor pela transação. É adotada como forma de quantificação que um crédito de carbono é igual a uma tonelada de carbono equivalente, e que realmente uma tonelada de carbono quer dizer uma tonelada de CO2. Em

geral, quando se menciona uma tonelada de carbono se está mencionando uma tonelada de CO2 equivalente. A discussão das referências que seguem ajudam a esclarecer as definições

anteriores.

O Protocolo de Kyoto de 1997 tem como objetivo a redução de 5,2%, em relação a 1990, das emissões de gases procedentes da queima de combustíveis fósseis por automóveis e fábricas, no período de 2008 a 2012. O tratado somente entra em vigor depois que os países responsáveis por 55% das emissões causadoras do efeito estufa, principalmente CO2, o

adotem (AGENCIAS INTERNACIONAIS DE MOSCOU, 2003).

Os projetos considerados no Protocolo são aqueles que reduzem, não emitem ou seqüestrem a emissão nos países não listados no Anexo I do Protocolo. Os países listados são os que devem reduzir as emissões e podem implantar projetos com esse objetivo em países que não estão no referido Anexo. O Brasil não está elencado no Anexo e estaria, portanto, em condições de vir a implantar tais projetos (HOFFMAN, 2004).

A absorção de carbono pelas árvores na fase de crescimento é conhecida como seqüestro de carbono. Por outro lado, a queima dos resíduos de madeira é preferível a permitir sua decomposição natural, na qual é gerado metano, que é altamente poluente (ÉBOLI, 2002). O metano produzido pela decomposição de madeira ou aterros sanitários é 23 a 24 vezes mais poluente que o CO2 (BRITO, 2003; OLIVEIRA, 2004).

reflorestamentos) ou por atividades que substituam a queima de combustíveis fósseis, por exemplo com o uso de bagaço de cana. O plantio de 10.000 hectares de espécies nativas poderia seqüestrar 2 milhões de toneladas de dióxido de carbono em 40 anos, e como na data da transação a tonelada tinha um valor em torno de seis dólares, haveria um ganho de 300 mil dólares por ano (SANTOS, 2003). Sasaki (2003a) indica que florestas de pinus em crescimento seqüestram entre 13 a 18 toneladas de CO2por ano e de eucaliptus entre 20 a 25

toneladas de CO2 por ano.

Embora o Protocolo não esteja em vigor, diversas iniciativas independentes indicam que de uma forma ou outra a comercialização de créditos de carbono é uma prática crescente, algumas das quais são mencionadas a seguir.

Em 2002 o governo canadense comprou da empresa brasileira Piratini, CGDE, Koblitz Energia S.A. 1900 toneladas de CO2, quantidade estimada pelo uso de aviões e automóveis

durante os três dias de duração de uma reunião dos Ministros do Meio Ambiente do G-8, no Canadá. A empresa irá receber entre 5 mil e 10 mil dólares. A Piratini produz energia elétrica a partir de biomassa (CARVALHO, 2002).

Também em 2002, a Dinamarca planejava abrir concorrência internacional para comprar entre 5 a 10 milhões de créditos de carbono por ano para reduzir 21% das emissões entre 2008 e 2012, conforme compromisso assumido em Kyoto (MOREIRA, 2002).

Apesar do Protocolo de Kyoto não ter sido aprovado por todos os integrantes, a Holanda estabeleceu como meta eliminar a emissão de 200 milhões de toneladas de carbono, para o qual destinou 250 milhões de euros para desenvolvimento de novas tecnologias e substituição de fontes de energia. Também aprovou dois projetos para a compra de créditos de carbono, sendo um com a Usina Catanduva, que utilizará biomassa da geração de 25 MW, com créditos de carbono de 200 mil toneladas em oito anos e um investimento de 30 milhões de reais. O outro projeto é da SASA Sistemas Ambientais, que utilizará gases de aterro sanitário gerando 30 MW, com créditos de carbono de 700 toneladas em dez anos e um investimento de 550 mil dólares. O aterro gera entre 700 a 800 m3 de metano por dia. O valor do crédito de carbono na data situava-se entre quatro e cinco euros (NOGUEIRA, 2003).

A companhia Açucareira Vale do Rosário, em Riberão Preto, SP, tem uma planta de cogeração de 65 MW. Segundo metodologia elaborada pela consultora Econergy a Vale do Rosário poderia ter um crédito de 713,99 milhões de toneladas em sete anos. Para cada MWh produzido pela cogeradora deixam de ser emitidos 600 kg de carbono equivalente, entendendo-se que a cogeração supre a demanda de energia que seria produzida a partir da queima de combustíveis como diesel ou gás natural, e que o CO2 emitido na queima do

bagaço é capturado pelas novas lavouras de cana. A equivalência corresponde à conversão de todos os gases para a base de CO2. Indica ainda que cada tonelada de gás metano corresponde

a 23 toneladas de CO2 equivalente, e que na data em que se estabeleceu a transação a tonelada

era negociada entre quatro e cinco dólares, estimando-se que no ano de 2008 este valor alcance entre nove e onze dólares (BRITO, 2003). Pelo Tratado de Kyoto, os países desenvolvidos podem comprar créditos de carbono para poder emitir quantidade equivalente. Sem a assinatura da Rússia, os países da União Européia estabeleceram um ambiente próprio de negociação. Dessa forma, a Suécia assinou acordo com as usinas Vale do Rosário, Cia. Energética Santa Elisa e Moema, por 2 milhões de toneladas de carbono em sete anos, resultando um valor a ser pago às usinas em torno de dez milhões de dólares (SCARAMUZZO, 2004). Mais recentemente, a Itália está estudando a compra de 36 milhões de toneladas de carbono até 2012 (RIOS, 2004).

Adiantando-se ao Protocolo de Kyoto, foi formada uma bolsa para negociar os créditos de carbono, a Chicago Climate Exchange (CCX); a empresa brasileira Klabin assinou carta de adesão para integrar a CCX, podendo assim negociar mais de um milhão de toneladas até 2006. Na data da adesão, o valor médio era de um dólar por tonelada de carbono, estimando- se que nos próximos dez anos possa chegar a um valor de vinte dólares por tonelada (NAKAMURA, 2004).

O Protocolo de Kyoto estabeleceu também os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) pelos quais as reduções na emissão de gases do efeito estufa podem ser negociadas entre empresas de países desenvolvidos e em desenvolvimento (CZAPSKI, 2004).