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3. Metodologia

3.3 Design e Território: Compreendendo Identidades e Produtos

Hoje, o design é empregado intensivamente com sucesso não só pela indústria, mas também pelos serviços, pelo comércio e por outras fronteiras (BRUM, 2013, p. 15).

Com o desenvolvimento da pesquisa de campo pelo viés da Teoria Ator-Rede, surgiu a necessidade de integrar às discussões teórico-metodológicas um conceito dentro do campo do Design que abarcasse a identidade local contida não somente nos artefatos confeccionadas pelos artesãos da Associação, mais sim nos materiais fornecidos por produtores locais e que representam o município e diversos elementos representativos do grupo em questão e do contexto social no qual estão inseridos.

O artesanato, desde a escolha dos materiais até o desenvolvimento dos artefatos, carrega consigo traços locais e o conceito de terroir10 como reconhecimento “da comunidade e do território onde se produz” (MORAES, 2009, p. 10), naturalmente imbricado a cultura de uma determinada região. A origem etmológica de terroir é “uma expressão francesa que se refere tanto a um local físico quanto cultural” (DE BRITTO et. al., 2012).

10 “Terroir é um território caracterizado pela interação com o homem ao longo dos anos, cujos recursos e

produtos são fortemente determinados pelas condições do solo, do clima e culturais. O termo que mais se aproxima na língua portuguesa seria “produto local”” Disponível em: <http://abcdesign.com.br/por- assunto/teoria/design-e-territorio-valorizando-as-qualidades-dos-produtos-locais/>. Acesso em: 18 jan. 2014.

Pode ser usado também para exprimir a ligação entre o produto, o território e as pessoas que o produzem. Compreender o artesanato desenvolvido na Associação de Maria da Fé – MG e a sua inserção socioeconômica por meio de aprimoramentos técnicos implica também na compreensão dos materiais que são utilizados e o que eles representam para o município, as relações da estética dos artefatos com o âmbito local e suas representações. Para Santos (2002), esse movimento de valorização preserva realidades definidas como particulares ou locais das não-existências, fugindo da escala dominante da globalização. A brasilidade observada nos produtos feitos pelos associados apresenta-se por meio de peças “monomatéricas” e compostas, em que o simples fazer dá início aos pressupostos (ESTRADA, 2013, p. 11).

O artesanato desenvolvido na Associação segue na contramão da “fluidização”, “virtualização” das relações e à “desterritorialização” da produção (KRUCKEN, 2009, p. 2). Ao reaproveitarem por meio do artesanato o caule e cascas da bananeira que gerariam passivo ambiental aos produtores e prejuízos ao solo, cria-se um ciclo sustentável local, em que os artesãos compram os resíduos que posteriormente gerarão renda por meio do trabalho associativista. A sustentabilidade se dá por duas vias complementares: Ambiental e de geração de renda. A trama da rede se constrói entre a comunidade, artesãos, produtores locais, locais de produção e consumidores.

Durante a pesquisa de campo, foi constatada, além de insumos ligados à bananeira, a presença de produtos com extrato de oliveira na loja da Associação, sendo este identitário à cidade, simbolizando um forte laço ao território e à comunidade que o produziu como forma de materialização da cultura e valorização de “saberes locais” (MALAGUTI, 2013, p. 21).

Os saberes dos artesãos estão inseridos numa ordem de processos socio-técnicos e adaptativos, num sentido estritamente processual que envolve tanto a construção de modos de subjetivação heterogêneos, como a ressignificação de conhecimentos locais e as práticas culturais decorrentes, no marco de processos sociais (ROMERO, 2013, p. 4).

Deste modo, “uma das principais contribuições do design para dinamizar os recursos do território e valorizar seu patrimônio cultural imaterial, é reconhecer e tornar reconhecíveis valores e qualidades locais” (KRUCKEN, 2009). A intencionalidade dos artesãos em representar sua cultura e meio que estão inseridos é visível pela predominância do artesanato em fibra de banana (foco da pesquisa) e muitos outros insumos orgânicos, construindo uma ponte ambiental e sustentável.

Neste processo, busca-se, geralmente, a participação e o diálogo entre os diversos atores envolvidos nas etapas de criação, produção, comercialização e uso dos produtos e serviços associados. Tais atividades usualmente são ligados à geração de renda, ao fortalecimento de práticas colaborativas, ao associativismo, à cidadania. E também ao cuidado com a informação clara sobre as características de origem e ciclo de vida do produto. (MALAGUTI, 2013, p. 21)

Ressalta-se que a incorporação do Design no processo de produção artesanal se dá ao considerarmos hoje a inserção de novos atores na cadeia produtiva em questão. Se antes o artesanato era vendido diretamente ao consumidor, agora fazem parte da cadeia de agentes intermediários, como lojistas, gestores e exportadores, e, consequentemente a relação oferta/demanda foi acrescida de fatores como qualidade, valor agregado, marketing etc. Relacionar o Design com o Artesanato de Maria da Fé reside na integração de redes possíveis e da promoção de “conexões distintas (...) relacionar os aspectos materiais e imateriais (...) nos habilita a reconhecer e conectar valores e a convertê-los em atributos mensuráveis, em forma de inovação” (KRUCKEN, 2009, p. 11).

No âmbito da percepção visual dos produtos com base nos seus estilos, estes sofrem influência direta dos fatores sociais, culturais e comerciais, que chegam até a suplantar os “valores perceptuais11” (BAXTER, 2011, p. 73). Com uma abordagem voltada à

temporalidade, Baxter (2011, p. 77) endossa que “os valores culturais que predominam em uma certa fase histórica, determinam a importância de diferentes aspectos do estilo de produtos. Dentro de cada contexto cultural, as tendências sociais determinam as modas”. No caso do artesanato, a atração simbólica pelo produto está ligada a determinantes sociais e culturais, como valores de grupo, emoções e autoidentificação (BAXTER, 2011).

Krucken (2009, p.10) ressalta que, frente a valores estéticos e atributos plásticos sempre tidos no Design como primários, alguns fatores secundários como o “conceito de terroir”, “valor de estima” e “fatores emotivos, estéticos e psicológicos” são hoje determinantes nas decisões dos clientes e, influenciando assim, nos fatores primários.