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4. NOVAS INSTITUIÇÕES NA PROVÍNCIA PAULISTA E O

4.2 O desmantelamento do Curso Anexo

À medida que o Seminário Episcopal e outras instituições particulares de ensino cresciam o Curso Anexo à Faculdade de Direito de São Paulo definhava em um lento processo que começara já na década de 1850. O Curso Anexo sobreviveu de forma precária por praticamente toda a segunda metade do século XIX por conta de sua estrutura de funcionamento que, com aulas parceladas, favorecia a uma significativa parcela da sociedade. As aulas eram mais fáceis de ser burladas e mais baratas para os cofres públicos. Dessa forma o Curso Anexo, mesmo pedagogicamente anacrônico, agradava aos pais e alunos que o viam como caminho mais fácil de acesso ao curso superior e retirava a responsabilidade do poder público que deveria fornecer educação secundaria a população.

Enquanto os professores do Curso Anexo tiveram prerrogativas de aprovar ou reprovar os candidatos, ditar os pontos para os exames, selecionar conteúdos, eles ainda gozaram de algum respeito o que garantia certo prestígio ao estabelecimento. À medida que outros estabelecimentos começaram a gozar do direito de constituir bancas examinadoras, o curso preparatório da Faculdade de Direito caía em lento e gradual desprestígio e desuso.

O decreto 5429 de 02 de outubro de 1873 desferiu um duro golpe no Curso Anexo ao permitir a abertura de mesas de exames preparatórios em delegacias especiais de instrução pública em várias províncias do Império. Com isso, além do Município da Corte que já examinava candidatos aos cursos superiores, outras províncias teriam tal prerrogativa. Dessa forma, os professores do Curso Anexo e suas bancas examinadoras corresponderiam somente a uma pequena parte dos alunos ingressos em sua Faculdade. Algumas províncias aprovavam números exorbitantes de alunos. Esse foi o caso da Província da Paraíba do Norte que no ano de 1885 aprovou 164 alunos (MAFD livro 22).

Os professores do Curso Anexo e a Congregação da Faculdade de Direito reconheciam o atraso da instituição paulista e ansiavam por mudanças, mas foram ignoradas pelo Governo Central. Ao relatar as principais ocorrências dos anos de 1883,

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o diretor da Faculdade de Direito, André Augusto de Pádua Fleury, comenta sobre a incapacidade do Curso Anexo de atingir os propósitos educacionais:

Quadro nº 1. Curso Anexo. como ponderei no dia 19 de março precisa ser organizado, dotando melhor aos professores ou elevando os seus ao do Colégio de Pedro II , estabelecendo classes ou cursos por séries, tanto para línguas como para as ciências; e dando à Congregação dos Lentes, além da inspeção, a atribuição exclusiva de organizar os programas de ensino e de exame afim de que estes não venham a ser uma surpresa para os estudantes que tem de matricular-se no Curso Superior (MAFD Livro 71 p.92)

O Dr. Fleury já havia feito o mesmo apelo em outra ocasião quando alertava ser insignificante o contingente com que concorrem para os exames os matriculados do Curso Anexo (MAFD Livro 71). De fato o número de alunos oriundos do Curso Anexo que eram aprovados nos exames diminuía ao longo dos anos, ao passo que as inscrições nos exames preparatórios aumentavam de forma exorbitante.

Em 1884, dos 109 candidatos inscritos para o exame de Geografia nos exames gerais da Faculdade de Direito, somente 5 eram oriundos do Curso Anexo, o que demonstra que este estabelecimento não atendia mais os seus propósitos (MAFD livro 71 p. 96.) Em 1886, dos 1435 candidatos, somente 86 pertenciam ao Curso Anexo e dos 31 estudantes inscritos para o exame de Geografia o Curso Anexo enviara apenas 1 candidato (MAFD livro 71 p. 132). De maneira lastimosa, carente de professores e com baixa aprovação o Curso Anexo ainda atendia mais de 100 estudantes por ano, o que garantia o seu funcionamento. Foram 142 matrículas em 1885; a cadeira de História de Geografia recebeu 18 estudantes (MAFD livro 71 p. 130).

O fracasso do Curso Anexo também era sentido pela inconstância ou mesmo pela falta de professores. No caso da cadeira de Geografia, a aposentadoria de Diogo de Mendonça Pinto e a morte prematura de Carlos Mariano Galvão Bueno marcaram o fim de uma tradição no ensino desta disciplina. De 1834 até 1883 a cadeira de Geografia tivera somente quatro professores, respectivamente Julio Frank. Antônio Joaquim Ribas e Diogo de Mendonça Pinto e Carlos Mariano Galvão Bueno. Mesmo com todos os problemas que o Curso Anexo enfrentara um professor permanente trazia alguma constância para as aulas. Podemos dizer que até a morte de Carlos Mariano Galvão Bueno o ensino de Geografia conservou algumas características comuns, a cadeira fora regida por um corpo de professores de Geografia que conviveram juntos e trocaram experiências no campo educacional, político e até pessoal. Diogo de Mendonça

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trabalhou junto com o Dr. Ribas que também teve sua trajetória ligada à Academia de Direito. Pinto formou-se bacharel em 1839, nascido em 1818 e criado na cidade de São Paulo, é muito provável que o terceiro professor da cadeira de Geografia tenha se instruído com o primeiro, Julio Frank.

Diogo de Mendonça Pinto foi o titular da cadeira de História e Geografia por 21 anos (MAFD livro 71 p.30). Após sua aposentadoria em 1882 as aulas de Geografia do Curso Anexo foram ministradas pelo professor Carlos Mariano Galvão Bueno que faleceu no ano seguinte. Galvão Bueno nasceu no dia 10 de Janeiro de 1834 na cidade de São Paulo, cursou preparatórios nesta mesma cidade no início da década de 1850 e matriculou-se na Faculdade de Direito em 1856, assumiu a vaga de professor substituto das aulas de Filosofia, Retórica e História e Geografia do Curso Anexo em 1867 e em 1874 foi nomeado lente catedrático de Filosofia (O DISCÍPULO, 1884 p. 2)

Disso pode-se apreender que Galvão Bueno também fora discípulo dos primeiros professores de Geografia do Curso Anexo10. Entrando para a faculdade, ainda como estudante de preparatórios, no início da década de 1850 é provável que Galvão Bueno tenha começado seus estudos de geografia com o professor Antônio Joaquim Ribas e terminado sob a regência de Diogo de Mendonça. Galvão Bueno também fora professor substituto de Diogo de Mendonça nas aulas de História e Geografia por um período de sete anos o que nos leva a crer que estes dois mantiveram contato.

Dessa maneira, podemos dizer que o ano de 1883 marcou o fim de uma geração de professores de Geografia do Curso Anexo que aprenderam essa matéria estudando a História Universal, lendo os velhos atlas da Academia de Direito e os livros didáticos de Geografia que a biblioteca possuía na primeira metade do século XIX.

4.3 Carlos Mariano Galvão Bueno, o ensino de Geografia e o “bando de novas

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