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2. DINÂMICA DO USO E COBERTURA DA TERRA NA REGIÃO DE

2.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

2.3.2. Desmatamento na região de Tailândia-PA

Os resultados do desmatamento na região de Tailândia entre os anos de 1985 a 2015 são apresentados na Figura 2.3 e mostram uma redução de 45% da área ocupada por floresta (degradada ou não). A cobertura florestal, e estimada em 85% até 1985, foi reduzida a 47% até 2015. Esta redução foi maior entre 1995 e 2005, com uma perda de 25% da área florestada em 10 anos.

Figura 2.3 - Desmatamento acumulado na área de estudo entre os anos de 1985 a 2015, comparado com a área ocupada por cobertura florestal no mesmo período.

Observa-se na análise desta figura três fases do desmatamento na área de estudo: na primeira fase, até o ano de 1994, houve a redução de 8,2% da área ocupada por floresta, com uma taxa média de desmatamento de 0,9% a cada ano. A partir de 1995 até o ano de 2008, a taxa média de desmatamento foi de 2,2% por ano, reduzindo a área de cobertura florestal de 74% para 51% da área de estudo. A partir de 2009 a redução da área coberta por floresta passou de 50% para 47%, com uma taxa média de 0,6% de desmatamento por ano.

A expansão da agropecuária teve início no estado do Pará a partir da abertura da PA- 150, na década de 1970, quando vários colonos chegaram de diferentes partes do país e do estado do Pará (NEPSTAD et al., 2001). Os pecuaristas que migraram para o Pará neste período ainda dependiam bastante de incentivos governamentais para transformarem extensas áreas de floresta em pastagens. Assim, os desmatamentos eram incentivados pelo Estado, sendo um dos pré-requisitos para a concessão de terras aos colonos (ANDERSON, 1990). 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1997 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2013 2014 2015

50 A partir do início da década de 1990, esses pecuaristas conseguiram financiar a implantação de uma infraestrutura mínima para as suas atividades, como estradas para exploração madeireira (DINIZ et al., 2009), fato que auxiliou na evolução do desmatamento na região. Esses foram fatores importantes que contribuíram para o desmatamento na Amazônia Oriental neste período, contudo, a instabilidade econômica vivida pelo país àquela época ressoava na perda de cobertura florestal também, segurando novos investimentos (FERREIRA; COELHO, 2015).

O aumento substancial do desmatamento a partir do ano de 1995 tem influência direta do advento do Plano Real e do aumento da oferta de crédito agrícola (FEARNSIDE, 2005). Ferreira e Coelho (2015) citam que, por conta deste pico de desmatamento, o governo federal alterou por meio de medida provisória a área de reserva legal para propriedades rurais na Amazônia na década de 1990. Apesar destes autores citarem uma considerável redução no desmatamento na Amazônia após esta medida, bem como com o controle da inflação (FEARNSIDE, 2005), não percebemos de forma clara tal redução na área de estudo. Isto demonstra o avanço pleno da fronteira agrícola sobre o território de Tailândia e, a ausência de uma intervenção específica do estado na região neste período.

A partir do ano de 2002, Assunção et al. (2015) relatam um aumento no desmatamento da Amazônia em decorrência do aumento do preço das commodities agrícolas, especialmente a soja, situação que persiste até 2005. O final deste período de elevadas taxas de desmatamento para a Amazônia, foi no ano de 2008, com aplicações de políticas públicas mais consistentes construídas a partir de 2005, como por exemplo, a ampliação das áreas protegidas na Amazônia (Unidades de Conservação e Terras Indígenas), a moratória da soja em 2006 e, a moratória da carne bovina em 2009 (NEPSTAD et al., 2014). Barreto et al. (2008) citam ainda o embargo de municípios campeões de desmatamento e de áreas desmatadas ilegalmente, maior restrição ao crédito rural para produtores em situação irregular, além de maior fiscalização.

A redução das taxas de desmatamento na região de Tailândia também ocorreu neste último período, influenciada por fatores mais específicos. Em março de 2008 foi deflagrada a Operação Arco de Fogo, ação conjunta entre IBAMA, Polícia Federal, Força Nacional de Segurança e Governo do Estado do Pará, com o objetivo de combater o desmatamento ilegal e a extração irregular de madeira (IBAMA, 2008a). O epicentro desta operação foi no município de Tailândia, que até então, possuía na extração ilegal de madeira uma grande

51 fonte de renda. Além do aumento da fiscalização, a operação descapitalizou o município, freando a abertura de novas áreas.

A partir de então, outras políticas foram criadas para evitar a retomada de elevados índices de desmatamento. Em 2009 houve, também, o lançamento do PPCAD-PA (Plano de Prevenção, Controle e Alternativas ao Desmatamento do Estado do Pará). O PPCAD-PA estabeleceu um conjunto de ações do Governo do Estado do Pará para fazer frente à perda de florestas do bioma Amazônico sob domínio do Estado. As ações deste plano foram organizadas em três eixos principais: ordenamento territorial, fundiário e ambiental; fomento às atividades sustentáveis; e monitoramento e controle (PARÁ, 2009). Estas ações foram norteadas pelo Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Pará (ZEE-PA), que tem como objetivo compatibilizar a utilização de recursos naturais com a preservação e a conservação do meio ambiente garantindo a conservação das amostras representativas dos ecossistemas do território estadual (SEMAS, 2012).

No ano de 2011 o município de Tailândia assinou o Termo de Compromisso de adesão ao Programa Municípios Verdes (PMV). O PMV tem como objetivo combater o desmatamento no Estado, fortalecer a produção rural sustentável por meio de ações estratégicas de ordenamento ambiental e fundiário e também de gestão ambiental, com foco em pactos locais, no monitoramento do desmatamento, na implantação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e na estruturação da gestão ambiental dos municípios participantes (PMV, 2016). Passou a integrar, a lista de municípios que recebem incentivos para controlar suas taxas de desmatamento, entre outras obrigações existentes no referido Termo.

Todas essas políticas e ações implementadas a partir de 2008 fizeram com que a taxa de desmatamento da região de Tailândia fosse reduzida. Todavia, a retirada ilegal de cobertura vegetal ainda é uma prática exercida na região, colocando em risco os poucos remanescentes florestais restantes. Cabe ressaltar que a perda de florestas ao longo dos anos também é um fator que contribui para a diminuição das taxas de desmatamento, uma vez que não há muito mais o que se desmatar.

As ações governamentais que auxiliaram a queda nas taxas de desmatamento foram pautadas na intensificação da fiscalização, atuando na repressão das infrações cometidas. Tal modelo vem sendo bastante discutido no meio acadêmico e, como exposto por Schmitt (2015), ações de pura repreensão não possuem mais a mesma efetividade. Vários fatores contribuem para isso, como a concentração da responsabilidade da fiscalização aos governos estaduais (responsáveis pela fiscalização de 85,6% da Amazônia Legal), o sucateamento dos

52 órgãos responsáveis pela fiscalização, a morosidade e muitas vezes ausência de punição aos infratores. Dessa forma, novas estratégias são necessárias para conservar o que ainda existe de vegetação nativa na Amazônia e, principalmente, em áreas de fronteira como Tailândia, estratégias estas que devem ir além do simples poder de polícia exercido pelo estado, passando por projetos de desenvolvimento regional com bases sustentáveis.

Para entender melhor a dinâmica das mudanças do uso e cobertura da terra na região de estudo é importante conhecer como estão sendo usadas as áreas antropizadas e como ocorre a dinâmica de transição entre as classes. Tais peculiaridades da ocupação e uso das terras são apresentados a seguir.