Programa Municípios Verdes: um novo modelo de desenvolvimento?

Através das entrevistas feitas em campo, verificou-se que o Programa Municípios Verdes (PMV) é conhecido por boa parte da população de Tailândia, pois ele é usado em várias campanhas publicitárias da PMT e, inclusive, integra o slogan do município (Tailândia: município verde). Porém, para boa parte dos entrevistados, ele não possui muita relevância, sendo contraposta esta visão com a do poder público, que elencou o PMV como um recomeço para o município e substituindo a Arco de Fogo.

O PMV teve seu protótipo no Programa “Paragominas Município Verde”, lançado pela Prefeitura Municipal de Paragominas em 23 de março de 2008, com o objetivo de retirar Paragominas da lista de municípios que mais desmatavam no estado. Tratou-se de um pacto entre a sociedade de Paragominas e o poder público Municipal em parceira com as ONGs (Organizações Não-Governamentais) IMAZON e TNC e, que elaboraram um grande plano de ação (PARAGOMINAS, 2016).

Considera-se que os resultados desse programa foram satisfatórios. Tanto que o Governo do Estado do Pará decidiu replicá-lo para outros municípios que se encontravam na mesma situação que Paragominas, entre eles Tailândia. Assim, em março de 2011 foi assinado o acordo de parceria entre o Estado do Pará, Governo Federal, Ministério Público, prefeituras e representantes do setor produtivo do estado que criaria o PMV. O PMV propõe promover uma economia de baixo carbono e alto valor agregado, melhorar governança pública municipal e reduzir desmatamento e degradação ambiental (COSTA; FLEURY, 2015; PMV, 2016).

Os integrantes da administração municipal de Tailândia entrevistados relataram que foram diversas as medidas que o município teve que adotar para integrar este programa. Tais medidas foram facilitadas pelo fato da cidade já possuir uma Secretaria de Meio Ambiente, a SECTEMA, que é uma das metas do PMV e, outros municípios tiveram dificuldades para implantar a sua. A SECTEMA foi fundada em Tailândia ainda em 2008, pós Arco de Fogo, para que o próprio município ganhasse autonomia na sua gestão ambiental.

Uma das medidas do PMV é o Cadastro Ambiental Rural (CAR)2_{, instrumento de}

cadastro das propriedades rurais com o intuito de criar uma base de dados geoespaciais para

2 _{Lei 12.651/2012, Art. 29: É criado o Cadastro Ambiental Rural - CAR, no âmbito do}

79 o controle, monitoramento, e combate ao desmatamento. Cada produtor rural deveria realizar o cadastro de sua propriedade informando dados como perímetro do imóvel, áreas de vegetação nativa, reserva legal e áreas de preservação permanente. Adotado inicialmente nos estados do Mato Grosso e Pará, posteriormente este instrumento foi aplicado a nível nacional, estando como um documento obrigatório no novo Código Florestal Brasileiro, editado em 2012 (AZEVEDO et al., 2014; BRASIL, 2012).

Na visão de parte dos entrevistados (principalmente os ligados ao poder público municipal e aos grandes produtores rurais), o CAR auxiliou no combate ao desmatamento ilegal, pois para muitos produtores rurais foi o primeiro contato com um instrumento ambiental e, conscientizou sobre a importância das áreas de reserva legal e de preservação permanente. Também é visto por muitos como um instrumento de fiscalização do governo, tanto que durante os relatos alguns falaram que o desmatamento tinha diminuído, porque se desmatasse o “satélite pegava” e era fácil identificar o seu autor; inclusive, o medo de uma fiscalização mais severa e permanente foi um obstáculo no início dos cadastramentos. AZEVEDO et al. (2014) constataram uma redução do desmatamento em propriedades rurais cadastradas e, alertam que o CAR sozinho não tem muito efeito prático e seu poder é limitado; necessita, dessa forma, do poder público implementar políticas paralelas que efetivamente atuem na raiz dos fatores que causam o desmatamento, para que o resultado e efeito delas seja duradouro. Já Barroso e Alencar (2014) destacam a segurança jurídica trazida por este instrumento, já que a Lei 12.651/12 trouxe uma anistia aos desmatamentos ocorridos antes de 22 de julho de 2008.

Uma crítica dos integrantes dos dois sindicatos de trabalhadores rurais de Tailândia (STTR – Sindicato dos Trabalhadores Rurais; SINTRAF – Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar) é que o PMV trouxe poucos benefícios para os pequenos produtores, que a grande diferença mesmo foi para os grandes produtores locais. Muitos falavam que o programa estava apenas no papel, e que Tailândia precisava de muito ainda para efetivamente se tornar um município verde.

eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento.

80 Para a PMT, as medidas impostas pelo PMV são prioritárias, tanto que existem responsáveis pelo Programa dentro da SECTEMA e também na Secretaria Municipal de Agricultura. Caso o município descumpra qualquer uma delas, ele sofrerá sanções que serão sentidas tanto pelo poder público municipal (como a perda de recursos financeiros, incentivos e também de bens materiais) como por produtores rurais (o financiamento rural será dificultado e terão problemas também para exportar a sua produção). Para Costa e Fleury (2015), o PMV foi importante no sentido de promover um processo de revalorização econômica do espaço a partir do discurso do desenvolvimento sustentável.

Dessa forma, percebe-se que o PMV gerou um resultado positivo para Tailândia, porém seus benefícios não atingiram todos os interessados. Os pequenos produtores rurais afirmaram sentir-se na margem desse processo, apesar deles contribuírem significativamente para que o município atinja e mantenha suas metas do programa. Para estes, dever-se-ia, dessa forma, pensar em metas que levem benefícios a esses atores, como medidas de auxílio na produção rural, de forma a torná-la mais produtiva e sustentável, sem desconsiderar suas histórias e objetivos de vida.

3.3.5. Expansão da dendeicultura em Tailândia: nova matriz econômica e questões