• Nenhum resultado encontrado

2 FORMAS DE DESMOBILIZAÇÃO DO MST

2.5 Desmobilização do MST pelo capital

Desde o início presente capítulo, desenvolvemos uma discussão sobres as formas de desmobilização do MST, tendo como base a pesquisa, tantas vezes citada, que enfocou a relação com o Governo e com o PT. Discutiremos, agora, a categoria de primeira ordem Desmobiliza ção do MST pelo Capital, que foi determinada a partir das categorias de segunda ordem Desmobiliza ção do MST pelo Governo Lula e Desmobilização do MST pela Descaracterização do PT. Vide Figura 10.

Trataremos das diversas mediações existentes entre a categoria concreta de primeira ordem Desmobilização do MST pelo Capital e suas categorias concretas de segunda ordem. No âmbito das mediações, as subcategorias que apresentaram maior poder

Figura 10 - Determinação da categoria desmobilização do MST pelo capital

Fonte: Dados da Pesquisa

de explicação107 para essa categoria de primeira ordem foram as seguintes: Dominação do Governo Lula pelo Capital, Prioriza ção de Política de Inclusão, Arrefecimento da Política de Reforma Agrária e Descenso na Luta de Classes. Todas essas subcategorias são influenciadas, direta ou indiretamente, pelo capital, como já foi demonstrado.

O principal fator propulsor desse ciclo, Figura 11, é a Força do Capital, no âmbito do Estado, com seu poder de influência nas instituições do Estado e no campo: "[...] o capital com sua força econômica consegue subordinar a política de Estado, governo (políticas governamentais), poder judiciário e a mídia, ou seja, o agronegócio conta com esses quatro suportes” (InMST11). A Hegemonia do capital repercutiu, negativamente, no projeto do MST, pois a política de reforma agrária não avançou no Governo Lula. A Força do Capital desmobilizou o MST, quando o agronegócio avançou sobre os territórios rurais e, também, em decorrência de determinados posicionamento do Governo Lula e do PT, que adotaram uma política neoliberal, no período de 2003 a 2010, segundo o que explicitamos. Isso reflete um aumento de poder do capital no campo.

[...] o que desmobiliza [o MST] é o avanço do capitalismo no campo, o capitalismo como agronegócio, é ele que desmobiliza, é ele que transforma camponeses em trabalhadores, é ele que muda a estrutura de produção. É o agronegócio que venceu e isso detonou com as bases do MST. O governo faz a sua parte, o governo não é inocente a esse respeito, injeta dinheiro a rodo, a juros subsidiados, para incrementar o agronegócio. Isso não é só; é o próprio capitalismo se movendo. E frente

107

Podemos observar as frequências de associação (Fas) de cada uma dessas subcategorias, no Quadro C6,

Apêndice C. Destacamos as quatro subcategorias de maior Fas, entretanto, as demais subcategorias também

possuem importância na determinação dessa categoria.

Desmobilização do MST pelo Capital Desmobilização do MST pelo Governo Lula Desmobilização do MST pela Descaracterização do PT

a esse rolo compressor não tem agricultura camponesa que resista. [...] no geral é o agronegócio (ExMST2).

Figura 11 - Ciclo da desmobilização do MST pelo capital

Fonte: Dados da Pesquisa

A desmobilização do MST recebeu influências da política de inclusão108 implementada no Governo Lula, que abrangia o Programa Bolsa Família e outros projetos governamentais, já citados, destinados a facilitar a obtenção de crédito pelos mais pobres. Tal desmobilização foi, fortemente, exercida pela força das commodities agrícolas que conseguiu interromper a política de reforma agrária. Esse capital prejudicou as lutas do MST, cujo território foi ameaçado pelo capitalismo, que avançou no campo a partir dos anos 1980, por meio da modernização conservadora da agricultura familiar, que conseguiu nivelar a agricultura aos padrões da empresa agrícola. As commodities agrícolas foram se apropriando de maiores quantidades de terras, impuseram seu modelo tecnológico e, assim, transferiram os trabalhadores potenciais (acampamentos) e efetivos (assentamentos) da reforma agrária para o sistema de trabalho assalariado no campo. Além disso, fizeram o preço da terra se elevar, sobretudo, na região Centro-Sul, devido às aquisições para fins do negócio agrícola, o que diminuiu o território dos agricultores familiares. As commodities agrícolas desmobilizaram, mais uma vez, o MST, quando impediram as desapropriações de terras, pois exerciam forte pressão sobre o governo, que não atualizou os índices de produtividade. Tais fatos limitaram o projeto do MST, que não conseguiu reunir forças para o enfrentamento da pauta do capital no campo.

108

Questão já abordada anteriormente.

Desmobilização do MST pelo Governo

Desmobilização do MST pelo PT

As commodities agrícolas têm a Hegemonia no campo, pois dominam toda a cadeia de produção, comercialização e industrialização e, também, estão envolvidas com os oligopólios transnacionais, que controlam os custos de produção e os preços de venda dos produtos agrícolas. Dessa forma, nas empresas multinacionais, o capital financeiro e a indústria ocupam os territórios agrícolas para produzir grãos, celulose, etanol e energia. As multinacionais têm mais força do que o projeto de reforma agrária defendido pelo MST e, assim, conseguem impor o seu modelo de agricultura ao campo brasileiro.

Nesse momento, o outro lado tem mais força que nós, tanto no governo Lula como no governo Dilma. Esse grande capital tem a hegemonia na agricultura brasileira. Eles controlam a produção; 0,4% dos proprietários rurais produzem mais de 50% da riqueza da agricultura [...] Eles controlam as políticas, para isso influenciam o governo para adotar políticas nessas quatro áreas que favorecem os seus interesses [...] O governo Lula dizia: 'dá para conviver os dois projetos', nós [MST] dizíamos: 'são incompatíveis os dois projetos; eles existem, mas vão ficar brigando permanentemente, um vai tentar derrotar o outro' (InMST11), (Grifos do autor).

O capital contribuiu com a desmobilização do MST, pois com seu poder ideológico atingiu, massivamente, a sociedade brasileira pelos diversos meios de comunicação. Suas mensagens penetravam na sociedade, sobretudo, no campo, pois possuía um apelo emocional muito forte, quando destacava o avanço do capitalismo e sua parcela de contribuição para o crescimento econômico do Brasil, a partir das exportações. Essa mensagem ideológica fazia apologia à agricultura de base capitalista e, ao mesmo, diminuía a audição social da reforma agrária, o que fez aumentar a desmobilização do MST. Em tal contexto, esse capital exerceu domínio sobre o Estado, controlou o poder judiciário, o congresso e o Governo Lula, tendo conseguido impedir a realização da reforma agrária e, por conseguinte, desmobilizou o MST mais uma vez. A Hegemonia desse capital sobre o governo em foco foi fortalecida a partir do momento, em que teve um grande peso na geração de divisas para o país. Então,

[Lula] nem atacou diretamente [o MST] [...] o que influenciou decisivamente foi a aceleração do crescimento brasileiro [...] e o MST perdeu a guerra, porque o MST era a questão do campo. [...] O agronegócio ganhou a batalha. Ele foi derrotado pelo agronegócio e o agronegócio é uma parte da expansão do capitalismo brasileiro [...] o Brasil transformou-se num grande negócio, não é impune passar a ser o 2º maior exportador de carne do mundo, [...] quer dizer, o agronegócio é a força, o trator em cima da pequena propriedade, em cima do pequeno negócio. [...] não foi o governo Lula, o governo Lula faz indiretamente

através do BB e do BNDES [...] o BB se tornou o maior incentivador do agronegócio (ExMST2).

Stedile (2011) discute a atual correlação de forças e chama atenção para a reconfiguração do cenário das forças antagônicas, em que se encontra o MST:

[...] agora mudou a correlação de forças políticas. Temos um inimigo mais poderoso. Agora, além do latifundiário temos de enfrentar o modelo do agronegócio que representa uma aliança entre os grandes proprietários de terra, o capital estrangeiro e o capital financeiro. E some-se a eles, o apoio ideológico irrestrito da grande mídia, que ataca permanentemente quando qualquer trabalhador se mobiliza (STEDILE , 2011, p. 1).

Para Oliveira (2007b), a nova configuração de Hegemonia, que foi trazida pelo Governo Lula não é algo tão fácil de ser identificada, pois o núcleo petista, formado por Dirceu, Palocci, Gushiken e pelo o presidente do Banco Central, ditava as ordens no governo. Esse braço petista fazia parte de um amplo arco formado pela relação Estado/mercado. Tratava-se de um governo de composição com amplo leque, baseado em alianças, o que trazia dificuldades para compreensão/identificação de seu centro hegemônico. Com esse governo, uma nova forma de estrutura de dominação foi se estabelecendo, tendo como marca a inibição da luta de classes e, ao mesmo tempo, a supremacia do capital.

Esta provém de duas matrizes, que em vários momentos se apresentam como contraditórias. As duas têm caráter extrovertido, isto é, estão ligadas ao processo de mundialização do capital. A primeira delas é a da financeirização. Esta articula a reiteração do financiamento externo da acumulação de capital [...] A segunda provém do agronegócio, a fronteira de mais rápida expansão do capital, que segue em ascensão praticamente há três décadas. As novas frentes de crescimento das exportações são do agronegócio (OLIVEIRA, 2007b, p. 276).