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Desnecessidade de intimação do devedor

III. Intimação do devedor e o artigo 475-J do CPC

3.2. Desnecessidade de intimação do devedor

Como o foco principal do presente estudo é a busca pela efetivação do processo, nada melhor do que tratar da corrente mais inovadora e impactante ao tema, que é a desnecessidade de intimação do devedor.

Primeiramente, no que tange a nova sistemática que vem se implantando ao longo do tempo, a intimação pessoal do devedor foi banida, pois embora haja inúmeras modificações para agilizar o processo, a manutenção da intimação pessoal indicaria um enorme retrocesso no campo da celeridade.

No entanto, a presente corrente vai além da desnecessidade da intimação pessoal do devedor, e aduz-se não ser necessário a própria intimação do devedor pelo advogado constituído, através da imprensa oficial, tentando assim, imprimir uma velocidade ao andamento do processo jamais vista no âmbito do Poder Judiciário, fato esse que não obsta o devido processo legal, eis que observados todas as disposições nas normas procedimentais, com apenas uma diferença, qual seja, a velocidade dos atos.

garantias do devedor, mas evitar que suas regalias sejam ampliadas, até porque como foi o próprio devedor quem deu causa à todo esse imbróglio, deve então suportar todos os atos sem regalias desnecessárias.

O primeiro ponto para tal aplicação está relacionada a eficácia da decisão jurisdicional, sob o fundamento de que deve fluir o prazo desde o momento em que a decisão reunir eficácia suficiente para ser cumprida, ainda que de forma parcial. Desse modo, sendo possível promover a execução do julgado, o prazo será computado imediatamente, independentemente de qualquer modalidade de intimação.

Nesse sentido é a recente decisão da 13ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo:

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA JUDICIAL - Lei n° 11.232/05 - Multa - Aplicação - Mora caracterizada – Prazo iniciado a partir do trânsito em julgado da sentença, a qual não apresentado qualquer recurso, independente de intimação - Multa bem aplicada - Recurso não provido com observação. (Agravo de Instrumento nº. 990.10.174549-6, 13ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Heraldo de Oliveira, DJ 11.08.2010).

Outrossim, não há necessidade de intimação pessoal, pelo fato de que o prazo para pagamento que era de 24 horas, foi estendido para 15 dias, ou seja, tempo suficiente para o devedor, que já se encontrava em mora antes mesmo da sentença de procedência, tomar suas precauções necessárias para cumprir a determinação judicial, que nesse caso é o pagamento da condenação.

Nessa mesma linha de raciocínio, a 3ª Turma do Colendo Superior Tribunal de Justiça, foi criterioso ao decidir:

LEI 11.232/05. ARTIGO 475-J, CPC. CUMPRIMENTO DA SENTENCA. MULTA. TERMO INICIAL. INTIMAÇÃO DA PARTE VENCIDA. DESNECESSIDADE. 1. A intimação da sentença que condena ao pagamento de quantia certa consuma-se mediante publicação, pelos meios ordinários, a fim de que tenha início o prazo recursal. Desnecessária a intimação.

2. Transitada em julgado a sentença condenatória, não é necessário que a parte vencida, pessoalmente ou por seu advogado, seja intimada para cumprí-la.

3. Cabe ao vencido cumprir espontaneamente a obrigação, em quinze dias, sob pena de ver sua dívida automaticamente acrescida de 10%. (REsp nº. 954.859-RS, 3ª T. - Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU 16.8.2007).

Outro ponto de suma importância foi abordado no corpo do venerando acórdão supra mencionado, que nos remonta a idéia de que o artigo 475-J, em seu §1º, do CPC, previu a intimação pelo advogado nos casos de penhora e avaliação, o que evidencia já ter ocorrido multa de 10%, pois se houve a necessidade de penhora, por certo decorreu “in albis” o prazo para efetuar o pagamento.

Portanto, a ideologia da desnecessidade da intimação do devedor, seja pessoalmente ou na pessoa do seu advogado devidamente constituído, pauta-se no esforço para eliminar um dos principais problemas, que é formalismo exagerado dos mecanismos processuais.

Conclusão

Podemos concluir que a segurança jurídica e a celeridade processual são forças opostas que devem caminhar atreladas entre si, para que possamos nos aproximar ao máximo de um processo justo. Em razão disso, é natural em períodos de transição, como é o caso da reforma processual aqui tratada, que esta diferença existente entre esses dois institutos se torne mais acentuada, e se verifique uma certa instabilidade jurídica.

É certo que a segurança jurídica deve ser observada e cumprida, como um fator essencial para a formação do processo. No entanto, entendemos que o instituto da segurança jurídica, assim como do devido processo legal, tem sido usado exaustivamente como um escudo para o executado, que de maneira ardilosa tem se esquivado das suas obrigações.

Cumpre-nos observar, que a segurança jurídica deve ser aplicada de maneira uniforme, transmitindo uma ponderação pacífica no trato da causa. Assim sendo, pergunta-se: Seria ponderado intimar pessoalmente o executado? Onde estaria a segurança jurídica do exequente, se após longa dilação probatória ainda vê inúmeros obstáculos para obtenção do seu crédito? De fato não há coerência em determinar a intimação pessoal do executado, pois estaríamos retrocedendo e praticamente realizando uma nova citação, e assim, ao agraciarmos o executado com a segurança jurídica, estaríamos deixando o exequente totalmente órfão dessa mesma segurança jurídica.

Seria de bom alvitre destacar que a celeridade em buscar os anseios sociais é patente nos dias de hoje, e em razão disso, medidas devem ser tomadas, no sentido de tornar o processo mais rápido e efetivo.

Evidente também, que não se pode deixar a justiça de lado, em detrimento da busca desenfreada pela celeridade, sob pena de afronta à princípios constitucionalizados. Em razão disso, pergunta-se novamente: Seria coeso não intimar o executado para pagamento? De forma alguma, pois ainda que o executado tenha ciência da demanda em que faz parte, não é seu papel “adivinhar” o momento em que será proferida a sentença, até porque a morosidade torna o Judiciário imprevisível.

Desse modo, traçado um parâmetro entre as modalidades de intimações, concluímos que a intimação realizada na pessoa do advogado, por meio da imprensa oficial, configura-se a forma mais adequada e coerente, pois da mesma forma que a segurança

jurídica não pode ser esquecida, também a celeridade não pode deixar de ser aplicada, sob pena de tornar inócua a reforma processual.

Finalmente, não se pode dizer que as reformas processuais tem buscado simplesmente a celeridade à qualquer preço, levando a crer que o legislador tem editado de forma superficial e sintética referidas reformas. Muito pelo contrário, a maioria das reformas processuais nasceram com muita pesquisa, estudo, análise e debates, onde sempre houve a preocupação em buscar o processo justo.

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