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3.1.1 – Dislexia

Existem presentemente várias definições para esta perturbação de aprendizagem, de entre as quais se destacam:

Valett (1990: 10), define dislexia como “um distúrbio que interfere com a integração significativa de símbolos linguísticos e perceptivos e tem sua origem em disfunção ou imaturidade neuropsicológica.” Baroja, Paret & Riesgo (1993) in Cruz (1999: 156) sugerem que “o termo dislexia se refere àqueles indivíduos que, com um nível mental normal, sem défices sensoriais manifestos e sem causa aparente, apresentam problemas na aprendizagem da leitura.” Segundo Vítor da Fonseca a dislexia é uma dificuldade duradoura da aprendizagem da leitura e aquisição do seu mecanismo, em crianças inteligentes, escolarizadas, sem quaisquer perturbações sensoriais e psíquica já existente (Fonseca, 1999).

Para Helena Serra (2007) a dislexia é uma perturbação na aprendizagem em resultado de atrasos de maturação que afectam o estabelecimento das relações espácio-temporais, a área motora, a capacidade de discriminação perceptivo-visual, os processos simbólicos, a atenção e a capacidade numérica e/ou a competência social e pessoal. É uma perturbação da linguagem que se manifesta na dificuldade de aprendizagem da leitura e da escrita, na dificuldade de distinção ou memorização de letras ou grupos de letras, e problemas de ordenação, ritmo e estruturação das frases, afectando tanto a leitura como a escrita.

O estudo da dislexia tem vindo a aumentar significativamente, tal como foi referido, devido aos factores implicados no insucesso educativo, uma vez que esta perturbação de aprendizagem representa um grave problema escolar sendo um dos grandes causadores do insucesso escolar.

As competências de leitura e escrita são consideradas como objectivos fundamentais de qualquer sistema educativo, pois constituem aprendizagens de base e funcionam como “base” para todas as restantes aprendizagens. Assim, uma criança com dificuldade nestas áreas apresentará falhas em todas as restantes matérias, o que provoca um desinteresse cada vez maior por todas as aprendizagens escolares.

A dislexia pode-se confundir com problemas de adaptação escolar, dificuldades iniciais na aprendizagem da leitura e escrita, problemas de ordem afectiva e, até com atraso

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no desenvolvimento ou deficiência mental ligeira, pelo que, devido a todos estes factores a dislexia deve ser diagnosticada por uma equipa multidisciplinar. Esse tipo de avaliação dá condições de um acompanhamento mais efectivo das dificuldades após o diagnóstico, direccionando-o às particularidades de cada indivíduo, levando a resultados mais concretos e evitar que surjam na criança alterações graves do comportamento tais como humor depressivo, sintomas e sinais de ansiedade e baixa auto-estima. Ao contrário do que muitos pensam, a dislexia não é o resultado de má alfabetização, desatenção, desmotivação, condição socioeconómica ou baixa inteligência. Muito pelo contrário, muitos disléxicos conseguem em certas áreas e em certos momentos da sua actividade, uma performance superior à média do seu grupo etário.

As crianças com dislexia apresentam, na sua maioria, um perfil típico que consiste nas seguintes características: défice da consciência fonológica; défice da memória verbal a curto prazo e da memória de trabalho; défice da nomeação rápida (dificuldade em evocar as palavras, que será tanto mais deficitária quanto maior for a rapidez exigida); problema linguístico na área da sintaxe (vocabulário reduzido, menor fluidez nas descrições verbais) e na elaboração sintáctica (formação de frases); leitura lenta, sem ritmo, com leitura parcial de palavras, perda da linha que está a ser lida, confusão quanto à ordem das letras, inversões de letras ou palavras; dificuldades motoras na execução de exercícios manuais e de grafismos; atraso na estruturação e no conhecimento do esquema corporal; atraso no desenvolvimento motor; tendência para a escrita em espelho e atenção instável.

3.1.2 - Disortografia e Disgrafia

A disortografia é uma perturbação que afecta as aptidões da escrita, e que se traduz por dificuldades persistentes e recorrentes na capacidade da criança em compor textos escritos. As dificuldades centram-se na organização, estruturação e composição de textos escritos, a construção frásica é pobre e geralmente curta, observa-se a presença de múltiplos erros ortográficos e uma má qualidade gráfica. É possível haver uma disortografia sem que esteja presente uma dislexia.

Um sujeito é disortográfico quando comete um grande número de erros. Entre os diversos motivos que podem condicionar uma escrita desse tipo, podemos destacar:

● Alterações na linguagem: um atraso na aquisição e/ou no desenvolvimento e utilização da linguagem, junto a um escasso nível verbal, com pobreza de vocabulário (código restrito), podem facilitar os erros de escrita.

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● Erros na percepção, tanto visual como auditiva: fundamentalmente estão baseados numa dificuldade para memorizar os esquemas gráficos ou para discriminar qualitativamente os fonemas.

● Falhas de atenção: se esta é instável ou frágil, não permite a fixação dos grafemas ou dos fonemas correctamente.

● Uma aprendizagem incorrecta da leitura e da escrita, especialmente na fase de iniciação, pode originar lacunas de base com a consequente insegurança para escrever. Igualmente, numa etapa posterior, a aprendizagem deficiente de normas gramaticais pode levar à realização de erros ortográficos que não se produziriam se não existissem lacunas no conhecimento gramatical da língua.

Relativamente à disgrafia podemos dizer que é uma perturbação de tipo funcional na componente motora do acto de escrever, que afecta a qualidade da escrita, sendo caracterizada por uma dificuldade na grafia, no traçado e na forma das letras, surgindo estas de forma irregular e disforme. Ou seja, a disgrafia é uma alteração da escrita normalmente ligada a problemas perceptivo-motores. A escrita disgráfica pode observar-se através das seguintes manifestações: traços pouco precisos e incontrolados; falta de pressão com debilidade de traços; traços demasiado fortes que vinquem o papel; grafismos não diferenciados nem na forma nem no tamanho; escrita desorganizada que se pode referir não só a irregularidades e falta de ritmo dos signos gráficos, mas também a globalidade do conjunto escrito e realização incorrecta de movimentos de base, especialmente em ligação com problemas de orientação espacial.

Normalmente, a disgrafia está associada a problemas biológicos (perturbação da lateralidade, do esquema corporal e das funções perceptivo-motoras e perturbação de eficiência psicomotora), pedagógicos (orientação deficiente e inflexível e orientação inadequada na mudança de letra de imprensa para letra manuscrita) e pessoais (imaturidade física, motora, inaptidão para a aprendizagem das destrezas motoras, adopção de posturas incorrectas, défices em aspectos do esquema corporal e da lateralidade).