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O desperdício de água se relaciona, em certa medida, com “o desconhecimento e com a falta de informação da população em geral sobre as implicações disto no equilíbrio ambiental e no sistema de abastecimento e de esgotamento sanitário” (MELO; SALLA; OLIVEIRA, 2014, p. 3600).

Calcula-se que no Brasil seja desperdiçada 40% da água tratada fornecida aos usuários. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), um ser humano necessita de 110 litros diários de água para suprir as necessidades de consumo e de higiene (BRASILEIRO et. al, 2011, p. 38). Mas, no nosso país, o consumo pessoal pode chegar a 200 litros/dia; em parte, o volume consumido se refere ao desperdício (BRANCO, 2015). O que nos leva a pensar que, em muitos casos, o conhecimento teórico sobre o assunto parece não ser suficiente para evitar o desperdício de água.

Esse dado apresentado é preocupante, uma vez que a água potável, considerada adequada para o consumo humano e de animais, não tem distribuição igualitária. Para Cheung et al. (2009), o termo desperdício compreende basicamente as perdas evitáveis; ou seja, corresponde ao que se refere à negligência do usuário que não tem consciência sobre o impacto ambiental de suas próprias ações. Isso significa que o desperdício de água está associado ao comportamento humano quanto ao seu uso. Por isso é preciso refletir sobre esses atos.

Diante disso, considera-se que a escola pode ser um ambiente de discussões que gerem mudanças no cotidiano de sua clientela, como é dito por Melo, Salla e Oliveira (2014, p. 3600):

A escola é aqui considerada um espaço interessante para se discutir as questões relacionadas com o consumo de água, pois se trata de um dos meios mais importantes d formação de cidadãos, os quais, entre outros conhecimentos, devem possuir a com- preensão da importância dos recursos naturais para a sustentabilidade do Planeta. A escola é aqui considerada como um espaço interessante para se promover esse tipo de discussão, por se tratar de um dos meios sociais mais importantes para a formação de cidadãos; que dentre outros tipos de conhecimentos, deve se incluir a importância dos recursos naturais para a sustentabilidade do planeta.

É preciso ver a escola como aliada no combate ao problema do desperdício da água. Sendo essa uma temática que ainda tem outros agravantes, tais como a falta ou insuficiência de infraestrutura governamental nos setores de tratamento e de distribuição. Segundo o estudo “Corrupção Global 2008: Corrupção no Setor de Água”, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e pela organização não governamental (ONG) Transparência Internacional, mais de um bilhão de pessoas não têm acesso à água potável e 2,4 bilhões vivem sem saneamento básico. O mesmo estudo revela que essa situação se deve mais a falhas de governança do que à escassez de recursos hídricos (TRANSPARENCY INTERNATIONAL, 2008).

Corroborando com os estudos citados anteriormente, Rebouças (2003, p. 342) afirma:

Porém, o que mais preocupa nessa situação é que este drama sanitário nas cidades do Brasil não tem merecido a devida atenção das autoridades constituídas – Executivo, Legislativo, Judiciário – ou dos partidos políticos. É constrangedor verificar que os problemas de saneamento básico nas cidades do porte de Manaus, Santarém e Belém, situadas nas regiões hidrográficas do Amazonas/ Tocantins (onde estão perto de 80% das descargas de águas dos rios do Brasil) pouco diferem daqueles encontrados no semi-árido do Nordeste (Fortaleza), na zona úmida costeira do Nordeste (Recife), na região Sudeste (São Paulo) ou na região Sul (Porto Alegre), por exemplo.

O conhecimento sobre a gestão das águas é fundamental para o desen- volvimento de metodologias e planos de educação ambiental nas escolas que efetivamente contribuam na produção de novos padrões de comportamento em relação ao meio ambiente e aos recursos naturais.

A falta de água já é uma constante em muitos países do mundo. Em virtude disso, podem ocorrer problemas de ordem política, econômica, sanitária e até originar conflitos similares aos causados pelo domínio do petróleo. Mas já se lida com problemas de outra ordem relacionados à questão hídrica, tais como a alta prevalência de doenças em países pobres do chamado Terceiro Mundo, bem como a alta taxa de mortalidade decorrentes da má qualidade da água utilizada pela população (BORBA; BAYER, 2015).

No Brasil, essa problemática encontra-se nos documentos oficiais desde muito tempo. Por exemplo, o Código das Águas da década de 1930, o qual menciona em seu cerne:

Considerando que o uso das águas no Brasil tem-se regido até hoje por uma legislação obsoleta, em desacordo com as necessidades e interesse da coletividade nacional; Considerando que se torna necessário modificar esse estado de coisas, dotando o país de uma legislação adequada que, de acordo com a tendência atual, permita ao poder público controlar e incentivar o aproveitamento industrial das águas; Considerando que, em particular, a energia hidráulica exige medidas que facilitem e garantam seu aproveitamento racional (BRASIL, 1934).

Diante do exposto, vê-se que já havia há quase um século no Brasil uma preocupação com as águas que existiam no país. Entretanto, é preciso trazer a discussão dessa questão para os lares brasileiros, fazendo com que as pessoas discutam a situação atual do país, uma vez que várias décadas já se passaram depois da criação do Código das Águas e que, desde então, a população só vem aumentando a cada censo realizado.

Em 1988, a Constituição Federal estabeleceu uma nova normatização que possibilitou a instauração da Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), por meio da Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Esta, por sua vez, complementa a Política Nacional do Meio Ambiente (ANTUNES, 2009).

Outra ação importante para auxiliar no cumprimento da legislação e uso racional da água, foi a criação da Agência Nacional das Águas (ANA), com a edição da Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000. A ANA é a entidade federal responsável pela implementação da PNRH e pela coordenação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH).