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2.4 DESPERDÍCIO DE MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

2.4.5 Desperdício de materiais em construções em concreto armado

A perda de material durante a fase de obra na construção civil é um problema que se arrasta há gerações. As empresas têm convivido, durante este processo com críticas de que pertencem a um seleto grupo de “desperdiçadores de recursos”. O que não traz uma situação desprezível, sabendo-se que, em casos mais graves, segundo Formoso (2009), a perda de materiais em um canteiro de obra pode variar entre 0.85 e 8 vezes mais que as perdas usuais admitidas. É claro, a taxa de desperdício de materiais varia entre empresas. Enquanto algumas são mais responsáveis e conservadoras de seus materiais, outras tem perdas desnecessárias destes e correm o risco de ficarem fora do mercado de trabalho num futuro próximo.

As perdas analisadas em geral podem ser encontradas na etapa de produção da obra, por ter contato direto com a construção, porém há outros setores de uma empresa que contribuem para estas perdas de materiais, que variam do setor de compras ao treinamento dos operários. A tabela 3 apresenta um conjunto de exemplo de perdas, que segundo Formoso, indicam sua natureza, origem e momento de incidência.

Tabela 3: Exemplos de perdas segundo sua natureza, momento de incidência e origem

(continua)

Natureza Exemplo Momento de

Incidência

Origem

Superprodução Produção de argamassa em quantidade superior à necessária para um dia de

trabalho

Produção Planejamento: falta de procedimentos de controle

Substituição Utilização de tijolos à vista em paredes a serem

rebocadas

Produção Suprimentos: falta do material em canteiro por falha na programação de

compras

Espera Parada na execução dos

serviços por falta de material

Produção Suprimentos: falhas na programação de compras

Tabela 3: Exemplos de perdas segundo sua natureza, momento de incidência e origem

(conclusão)

Fonte: Formoso (1998).

Formoso comandou uma pesquisa envolvendo cinco obras a fim de analisar quais os principais materiais que são desperdiçados durante a obra, e as comparou com pesquisas similares feitas por Pinto, em 1989; e Skoyles, na Grã-Bretanha, em 1987. O resultado desta pesquisa os mostrou que as médias de desperdício possuem taxas de variância expressivas, entre 0.85 e 8 vezes as perdas usuais admitidas, além de o desperdício ser muito maior no Brasil, em comparação à Grã-Bretanha. A tabela 4demonstra uma síntese de resultados obtidos das cinco obras pesquisadas.

Tabela 4: Índices de perdas totais nas diferentes obras (%)

(Continua) Material Obra A Obra B Obra C Obra E Média Pinto

(1989) Skoyles (1987) Perda teórica Aço 18.8 27.3 23.01 18.31 19.07 26.19 5 12.6 Cimento 76.6 45.2 34.31 112.7 84.13 33.11 - 15 Concreto 10.8 11.77 17.44 25.16 13.18 1.34 2 5

Transporte Duplo manuseio Recebimento,

transporte, produção

Gerência da obra: falha no planejamento de locais de

estocagem Processamento Necessidade de refazer

uma parede por não atender aos requisitos de controle (nível e prumo)

Produção Planejamento: falhas no sistema de controle / Recursos humanos: falha no

treinamento dos operários Estoques Deterioração do cimento

estocado

Armazenamento Planejamento: falta de procedimentos referentes às

condições adequadas de armazenamento

Movimentos Tempo excessivo de

deslocamento devido às grandes distâncias entre postos de trabalho no

andar

Produção Gerência da obra: falta de planejamento das sequências de atividades

Elaboração de produtos

Desníveis na estrutura Produção, Inspeção

Projeto: falhas no sistema de fôrmas utilizado

Tabela 5: Índices de perdas totais nas diferentes obras (%) (Conclusão) Areia 27.06 29.73 21.05 42.19 45.76 39.02 - 15 Argamassa 103.05 87.5 40.38 73.24 91.25 101.94 5 15 Bloco cerâmico 39.9 8.2 35.96 - 27.64 - 8 10 Tijolo maciço 45.25 15.23 20.02 - 26.94 12.73 12 10 Fonte: Souza (1999).

Já Agopyan et al. (2003), caracterizam que os desperdícios na construção ocorrem tanto sob a forma de entulho, quanto sob forma de incorporação na edificação. Através de uma pesquisa feita em 100 obras e em doze estados brasileiros, destacaram que os desperdícios no setor variam entre 3% e 8%. Além disto, alegam que, são várias as fontes de perdas possíveis: no recebimento, o material pode ser entregue em uma quantidade menor do que a solicitada; estoque inadequado de materiais pode causar danos mais facilmente; transporte de concreto por equipamentos e trajetos inadequados.

Os autores, ainda, apresentam dados de que o desperdício de concreto destas obras pode ser reduzido conforme preocupação maior quanto ao sistema de formas como um todo (molde e cimbramento de boa qualidade). Entretanto as falhas quanto à obediência da estrutura prevista em projeto se caracterizam como a principal causa da perda de materiais no canteiro.

Outro fator, segundo os autores, seria a importância da qualidade geométrica das lajes.

A importância da qualidade geométrica das lajes quanto ao nível de perdas levantado levou à avaliação do impacto dos equipamentos de nivelamento das lajes na incidência de perdas. (APOGYAN et al. 2003).

Quanto ao desperdício do aço, os autores alegam que o mau planejamento dos cortes dos vergalhões, com reduzido aproveitamento das pontas, pode ser uma importante causa do problema. Este problema tem grande relevância quanto às barras de diâmetro maiores, porque, enquanto as barras com menores diâmetros apresentam melhores aproveitamentos das mesmas. Outro fator a ser avaliado, é o desperdício de alvenaria. Os blocos e tijolos cerâmicos têm influência expressiva neste aspecto, em comparação com os blocos de concreto. Os materiais cerâmicos que são transportados em transportes inadequados (carrinhos-de-mão ou similares) demonstram um desperdício maior dos componentes, referente aos que são transportados em pallets e que reforçam a segurança do material.

O grupo de obras em que o transporte dos blocos ou tijolos era feito com pallets ou carrinhos específicos também apresentou a mediana de perdas inferior ao grupo de

obras que usava carrinhos-de-mão ou similares. A diferença entre os dois conjuntos não é tão acentuada, provavelmente em função de, em algumas obras que recebiam os blocos/tijolos em pallets, ter-se pelo menos em parte da movimentação dos componentes o uso de equipamentos inadequados. (AGOPYAN et al., 2003).

Em relação aos revestimentos, como a argamassa, os autores identificam que as perdas e os consumos têm variância significativa. O revestimento de paredes internas (emboço ou massa única) apresentam os maiores valores de perdas, seguido de revestimentos externos e revestimentos de piso. A sobreespessura é o principal fator a ser considerado, sendo que a espessura real das paredes apresenta aproximadamente 80% mais argamassa usada, que a espessura preconizada em projeto. O entulho e o transporte do material também devem ser levados em consideração, pois há perdas expressivas do material nas obras analisadas. As argamassas são materiais que devem ser utilizados de forma correta, porque são formadas de areia, cimento e agregados, ou seja, se há perda em argamassa, há perda em outros materiais. Ou seja, devem ter as dosagens certas, porque quando há uma variabilidade de dosagens numa mesma obra, é identificado perdas do material que devem ser levadas em consideração. A superprodução de argamassa faz com que parte do material produzido não seja utilizado é uma causa comum e faz com que o material endureça e vire entulho; segundo Agopyan et al. (1998), este fator pode ser bastante significativo sob o ponto de vista da quantidade de material que terá de ser retirada da obra e do espaço necessário para a deposição do mesmo (gerando prejuízos ao meio ambiente).

Agopyan et al. (1998), traz os seguintes dados, tabela 5, em porcentagem, quanto ao desperdício, feito em diversas partes do país:

Tabela 5: Desperdício quanto aos materiais

(Continua)

Materiais/Componentes Média Mediana Mínimo Máximo n

Concreto usinado 9 9 2 23 35 Aço 10 11 4 16 12 Blocos e tijolos 17 13 3 48 37 Eletrodutos 15 15 13 18 3 Condutores 25 27 14 35 3 Tubos PVC 20 15 8 56 7 Placas cerâmicas 16 14 2 50 18 Gesso 45 30 -14 120 3 Emboço interno 104 102 8 234 11 Emboço Externo 67 53 -11 164 8 Contrapiso 79 42 8 288 7

Tabela 5: Desperdício quanto aos materiais (Conclusão) Areia 76 44 7 311 28 Saibro 182 174 134 247 4 Cimento 95 56 6 638 44 Pedra 75 38 9 294 6 Cal 97 36 6 638 12

Fonte: Agopyan et al. (1998).

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