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Intermunicipal de Saúde no Estado de Minas Gerais

Aula 6. Políticas de municipalização e o empoderamento das

1) no aumento dos recursos financeiros para os municípios garantidos pela Constituição de 1988; e

6.3 Despertar da cidadania

Dowbor (2006) mostra que há um conjunto de estudos que delimitam gra- dualmente a área da economia do campo de desenvolvimento local. Ele exemplifica com os trabalhos de Manuel Castells sobre a sociedade em rede, que apontam para a facilidade maior da regulação local aproveitando a co- nectividade horizontal do conjunto de atores sociais que participam do pro- cesso de desenvolvimento. Menciona, também, os estudos de Pierre Lévy sobre a inteligência coletiva, nos quais é possível vislumbrar uma sinergia de esforços sociais através da convergência das informações e dos conheci- mentos de uma comunidade territorial articulada com comunidades virtuais.

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Dowbor (2006), ao buscar como referência Carlo Trigiglia, mostra como ini- ciativas socialmente organizadas aumentam a produtividade sistêmica, ao gerar economias externas à empresa, mas internas ao território. São alguns exemplos de uma ampla literatura que desenha novos rumos de uma eco- nomia que se organiza pela base e, que, portanto, vai além do econômico. O autor afirma que, independentemente, das experiências ou projetos iso- lados, o que mais marca é a imensa complexidade e diversidade de soluções articuladas: empresas, Estado e organizações da sociedade civil; sistemas de planejamento central com mercado e mecanismos de decisão participativa da comunidade; espaços de sociabilidade diferenciada. E o que se aprende ao ver boas propostas que funcionam, e outras que não funcionam, é que se tem pela frente toda a complexidade da sociedade moderna.

Realizar dinâmicas diferenciadas, que obedecem a culturas e a ritmos de- siguais, obriga-nos a exercícios mais complexos e, sobretudo, que exigem um respeito muito maior das dinâmicas sociais, tais como são sentidas pela própria sociedade. Dowbor (2006) afirma que é sem dúvida mais difícil ser parteiro de um meio-termo que articula interesses diferenciados, do que traçar as grandes avenidas teóricas no meio do nada.

O autor mostra que um dos resultados implícitos e constantes nas experiên- cias de gestão local é a dimensão de aprendizagem dos seus próprios pro- motores. Tem-se a consciência dos limites, na atual fase de desenvolvimen- to, dos chamados conselhos de saúde, de educação, de emprego e outros. Inúmeras iniciativas comunitárias consistem, essencialmente, em um tatear inseguro em relação aos caminhos.

Na ABONG (Associação Brasileira de ONG’s) e em centros de pesquisa so- bre o terceiro setor, como os da USP, da FGV, ou da PUC, segundo Dowbor (2000), chegam pedidos de pessoas desorientadas, mas com boa vontade, querendo saber por onde começar a organização de projetos de articulação local. As perguntas são sobre formas legais de registro, formas práticas de organização, sistemas de informação, fontes de financiamento, entre outras questões. As iniciativas são inúmeras. Essa é uma dimensão das iniciativas locais que pouco aparece nas descrições e nos resumos. No entanto, é es- sencial.

O autor lembra que, lentamente, se considerar a urgência dos problemas, mas, em ritmo intenso, se olhar na perspectiva da mudança cultural, encon-

tram-se pessoas informando-se, por toda parte, não só sobre como orga- nizar um projeto, mas em como organizar a própria instituição, como estru- turar atividades que se sustentem, como articular forças, como estabelecer comunicação com a sociedade, como organizar sistemas de informação e de avaliação das suas atividades, assim por diante.

O conceito chave que aflora, quando se fala de apropriação organizada dos processos pela sociedade, é, evidentemente, o de capital social. Segundo Dowbor (2000), Os Relatórios sobre o Desenvolvimento Humano trazem uma visão em que os processos econômicos são devidamente devolvidos ao seu lugar de mero suporte para o essencial, que é a qualidade de vida e o resgate do direito às opções, o que é novidade em termos de comporta- mento social.

O autor salienta que é natural que se procure, em qualquer embrião de re- novação social, as esperanças de uma grande utopia. Quando se ouve Paul Singer falar de empresas autogeridas, assusta a amplitude da esperança, frente ao tamanho, relativamente modesto, do que acontece. Outros falam de experiências municipais; geram, provavelmente, o mesmo sentimento de susto e esperança. Nossos descendentes, verão, talvez, o brilhante hori- zonte do futuro social nas organizações do terceiro setor. O que vale é a impressionante força da descoberta da cidadania, que, realmente, reacende o idealismo neste mar de cinismo que assola o planeta.

Para Dowbor (2006), grande parte da força que animava Paulo Freire, (além, evidentemente, da Elza), vinha do fato de ele viver esse sentimento podero- so, decorrente de ver a expressão de um analfabeto, que descobre que faz cultura, e que comunica, repete as palavras, como quem descobriu que a terra gira. Essa reapropriação do universo por parte de um excluído constitui sem dúvida, em termos culturais, um terremoto.

Por fim, Dowbor (2000) escreve que, junto ao resgate da cidadania e à des- coberta do fazer conjunto, cresce a confiança e a lenta construção da solida- riedade social. A força disso vem não apenas do fato de resgatar a dignidade do excluído, mas do fato de que a perda de cidadania é um prejuízo social, e que o processo não consiste apenas em resolver o problema do pobre, mas, em criar outras relações sociais. O prazer e o entusiasmo que encontramos nas mais variadas faixas sociais que se vinculam a experiências desse tipo constituem, sem dúvida, manifestações minoritárias. No entanto, por mais difuso que seja, o sentimento de reencontrar um lugar ao sol, ou à sombra

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da mangueira, como escrevia Paulo Freire, é poderoso.

6.4 Um exemplo: Consórcio Ribeirão Lajea-