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4. PIONEIROS

4.1. Desprendimento/Conhecimento

“Pioneiro, aquele que, depois da descoberta do mundo que o rodeia, é assolado por um sentimento de insatisfação, de um ímpeto de fazer diferente, de mudar, de inovar, que o leva a soltar-se do que considera supérfluo para pôr mãos à obra na construção e concretização do seu sonho, das suas ambições.“ (CNE- Secretaria Nacional Pedagógica – Manual do dirigente, 2011, p.106)

Pede-se a um Pioneiro do CNE que se oriente pela máxima “Saber, Querer e Agir” enaltecendo dessa forma as características que lhe são próprias – convidando o Pioneiro a ser pioneiro. Fiel a si próprio, o jovem Pioneiro encontra-se na fase de questionamento da sua vida e de tudo o que o rodeia. Não se fica só pelas questões e a sua vontade e energia de inovar, de fazer diferente, a necessidade de agir em todos os momentos vão ajudá-lo na procura das respostas que precisa para que possa alcançar os seus objetivos.

Como vem enunciado no Manual do Dirigente (2011), “O pioneiro é o insatisfeito, o que primeiro inova e primeiro constrói a comunidade”, mas para “por mãos à obra na construção e concretização do seu sonho” procura primeiro inteirar-se de tudo o que já existe e o que foi feito por outros e, depois em melhorar as suas capacidades, adquirindo assim as ferramentas de que precisa para construir a sua autonomia.

Concretizando, o imaginário da IIIª Secção, ultrapassa o enquadramento simbólico assumindo-se como um desafio a ser alcançado pelos jovens. Numa primeira fase e para que consiga concentrar-se no que é essencial, para aprofundar o conhecimento que tem de si e do mundo, precisa de ter uma atitude de desprendimento. De seguida sente a necessidade de encontrar as respostas para todas as suas questões – ânsia do conhecimento (Saber), surgindo posteriormente a vontade (Querer) de tornar os seus sonhos realidade, adquirindo a capacidade de construção (Agir), levando a cabo assim o seu Empreendimento14.

14 Empreendimento: conjunto de ações inter-relacionadas que os pioneiros -, individualmente e

em Equipa/Comunidade e com o apoio dos adultos da Equipa de Animação – planeiam e implementam de forma gradual com vista a atingir um objetivo último, concreto, num determinado espaço de tempo.

Qualquer Empreendimento da Comunidade15 obedece a quatro fases, denominando-se as mesmas da seguinte forma: 1ª Idealização e Escolha, 2ª Preparação, 3ª Realização e 4ª Avaliação. De acordo com a ordem apresentada, dizem respeito à conceção - fase em que cada equipa/pioneiro reflete sobre o que precisa de realizar para alcançar os objetivos que escolheu e o que gostaria de fazer para os ver cumpridos; planeamento – definição dos passos, medidas e estratégias a seguir até à realização; realização – momento da vivência concreta, a fase em que as coisas acontecem; avaliação – identificação do que correu bem, do que correu menos bem e do que correu mal na concretização dos objetivos definidos. Esta é a fase em que a comunidade também celebra a sua evolução e a conclusão da trilogia “Saber, Querer e Agir”.

Tendo em conta a analogia que tenho vindo a fazer ao longo do documento, mais uma vez é possível encontrá-la neste aspeto. Considerando agora que o meu Empreendimento foi, durante este ano letivo, o processo de ensino da disciplina de Educação Física, então as quatro fases deste dizem respeito à Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem (Área 1), que abrange as principais tarefas da profissão docente, sendo elas as seguintes: Conceção, Planeamento, Realização e Avaliação. Estas fases não devem ser entendidas de forma isolada mas vistas como um todo, uma vez que o sucesso depende da articulação entre todas elas, sendo esta tarefa responsabilidade do professor.

Fazem parte também, da Prática Profissional docente, a Participação na Escola e Relações com a Comunidade (Área 2) e o Desenvolvimento Profissional (Área 3), no entanto a primeira é aquela que possibilita a conversão do caminho que me propus percorrer, quando decidi ser Professora de Educação Física, num processo integral e contínuo cujos alicerces assentam nas diretrizes gerais e específicas do sistema de ensino, como defende (Bento, 2003, p. 43) quando nos diz que “O processo de ensino da Educação Física e sempre um processo integral, complexo, unitário. (…) Como tal, deve ser sentido e vivido pelos alunos, para tal deve ser concebido, organizado, realizado e analisado pelo professor. Este

entendimento é de importância decisiva para a realização da incumbência pedagógica da Educação Física”.

Ensinar é uma tarefa complexa, que requer uma organização planificada e coordenada das componentes do processo de ensino e aprendizagem nos diferentes níveis de realização. É preciso saber o que ensinar, como ensinar, de acordo com os recursos, as condições existentes e a quem se destina o ensino. Teoria versus Prática – é para o que nos remete este capítulo e onde irei proceder à apresentação da minha experiência evidenciando as dificuldades, aprendizagens e sucessos tendo como base a minha interpretação pessoal e sustentada de alguns momentos que considero marcantes na minha experiência como estagiária que enfrenta, pela primeira vez, a realidade de ser professora. Durante este processo fui confrontada com diversos problemas quer práticos, quer teóricos com os quais tive que saber lidar para que me fosse possível levar a bom porto a minha missão e, para Bento (2003) é esta luta diária e capacidade de conseguir resolver os mais diversos entraves que permitem ao professor alcançar os melhores resultados possíveis na melhoria e eficácia do ensino.

De acordo com Siedentop (2008), um bom nível de conhecimento do professor e uma motivação pessoal forte, são essenciais para uma boa prática pedagógica, no entanto se o docente não for capaz de reagir prontamente às diversas dificuldades dos seus alunos o cumprimento da sua função ficará gravemente afetado. Reagir prontamente implica resolver as situações apresentadas de uma forma coerente e lógica, que faça e que dê sentido à prática. Assim, o professor deve ter consciência de que qualquer ação da sua parte irá levar a uma reação por parte dos alunos e desta forma, é importante que toda a sua prática tenha por base uma componente reflexiva.

Bento (2003, p. 25) antevê esta ideia quando nos esclarece que “O professor não está nem pode ser dispensado da planificação do ensino. (…) o ciclo de ação do professor não deve limitar-se a uma pretensa preparação direta e à realização das aulas; deverá si assumir as tarefas de planificação, de realização, de análise e avaliação do ensino, isto é, as tarefas componentes da sua ação como num ciclo contínuo.”. O professor é chamado a refletir antes, durante e depois de planear, lecionar e concluir as suas aulas. É este processo e ciclo reflexivo que lhe permitirá encontrar um modelo de ensino que se adapte às suas

características, que o ajuda a detetar os pontos fortes e fracos de cada sessão e que sobretudo o conduz à melhoria das suas práticas futuras. Neste sentido procurei pautar a minha prática com base nas premissas que nos dizem que a prática reflexiva proporciona aos professores oportunidades para o seu desenvolvimento, tornando-se profissionais mais responsáveis, uma vez que quando o professor analisa o ensino e a aprendizagem, reconstrói os conhecimentos, os sentimentos e as ações.

Estava prestes a viver o sonho sonhado e, já com uma turma de 10º ano à minha responsabilidade, senti então necessidade de me inteirar de tudo o que já existia que me pudesse auxiliar enquanto professora daqueles alunos, naquela escola. Tomei verdadeiramente consciência de que todo o conhecimento que fui adquirindo ao longo da minha vida académica seria agora recrutado, e a dúvida de se era ou não suficiente cada vez me sufocava mais. Tinha sobretudo de fazer com, e dos meus alunos, aquilo que eu acreditava ser o mais correto para a estimulação do seu desenvolvimento, não esquecendo a burocracia envolvente às condições a que me eram apresentadas e ao mesmo tempo sentir-me feliz e realizada profissionalmente como aconselha Bento (2003).

Para organizar o processo de ensino e aprendizagem é necessário, por parte do professor, um planeamento a diversos níveis “Todo o projeto de planeamento deve encontrar o seu ponto de partida na conceção e conteúdos dos programas ou normas programáticas de ensino, nomeadamente na conceção de formação geral, de desenvolvimento multilateral da personalidade e no grau de cientificidade e relevância prático-social do ensino”(Bento, 2003, p.7). Desde uma perspetiva mais global, que passa pela decisão das modalidades e organização destas ao longo do ano, até uma visão mais contextualizadas, associada a cada aula. Todavia, todo este processo é gerado tendo em consideração as diretrizes a nível nacional e local, adaptadas ao contexto como já referi. Assim, quando chegou o momento de iniciar a prática pedagógica vi-me na obrigação de revisitar algum do trabalho desenvolvido durante o primeiro ano de mestrado, no sentido de dar resposta às primeiras tarefas que me foram atribuídas. Cedo me confrontei com as questões burocráticas de organização e estruturação que

promovem o desenvolvimento da ação educativa que se fizeram representar por inúmeros documentos que mereceram a minha maior atenção. Confesso que no início não estava muito motivada para a sua análise, no entanto, percebi que se não o fizesse não conseguiria nunca escolher de forma livre e responsável o caminho que queria traçar na ESL como professora estagiária. Sem o conhecimento aprofundado desse alicerce organizativo teria de copiar padrões, seguir pelo caminho que os demais professores seguiam, sem que nada compreendesse e, o mais provável seria cometer erros, e na tentativa de os colmatar, a adaptação seria praticamente impossível. Convenhamos que a Escola tornar-se-ia uma anarquia se estes documentos condutores não existissem e, se não lhe fosse dada a autonomia e flexibilização dos mesmos.

Assim sendo, como professora estagiária consciente e responsável que queria ser, senti necessidade de me munir de todo o conhecimento possível que me orientasse para o “Bem ensinar”. Salienta assim Bento (2003, p. 13) que “A organização planificada e coordenada das actividades humanas, a direção pedagógica de pessoas e grupos de pessoas são uma condição imprescindível do desenvolvimento racional de personalidades.”. Desta forma, voltei a analisar o Programa Nacional de Educação Física, as suas finalidades, objetivos e conteúdos referentes ao nível de ensino em questão. Este documento, apesar de visar uma uniformização das diferentes modalidades, prevê a possibilidade e necessidade de adaptação por parte de cada instituição de ensino. Assim, cada escola pode adequar o currículo nacional por forma a ir ao encontro das condições e dos alunos que dela fazem parte, por meio do Projeto Educativo de Escola. Este instrumento foi essencial para a assimilação da realidade pedagógica da ESL, uma vez que nele se encerrava a matriz de toda a ação educativa como os recursos humanos, materiais, estruturais, metas e orientações que a escola definiu de acordo com a sua ideologia.

Para além destes documentos, foi fundamental a análise do Documento de Organização e Gestão (DOG) do Departamento de Educação Física e Desporto, elaborado pelo grupo disciplinar da ESL. Este e, sob o ponto de vista mais específico, o elemento central e norteador do funcionamento da disciplina, uma vez que regula, através da estipulação de normas obrigatórias, a ação dos

professores que pertencem ao respetivo departamento, e que pautou toda a minha ação enquanto professora estagiária. A sua elaboração foi feita tendo por base o Programa Nacional de Educação Física, contudo estava devidamente ajustado ao contexto da ESL. Aqui, tudo está devidamente esclarecido no que respeita aos procedimentos a serem tomados pelos docentes do departamento ao nível do desenvolvimento e organização curricular, à avaliação, ao roulement, à estruturação do Desporto Escolar e do Plano Anual de Atividades para a disciplina de Educação Física. Da mesma forma é possível encontrar um transfere assertivo e consciente do currículo nacional para a realidade escolar onde pude analisar, de forma pormenorizada, os objetivos, conteúdos e indicações metodológicas para o 10º ano, daí ter sido o documento mais consultado por mim durante este ano de estágio.

Apesar de todos estes reajustes possíveis do Programa às características da escola, senti, ainda, a necessidade de adaptar o plano curricular de Educação Física às particularidades da minha turma, estabelecendo objetivos mais ajustados no que respeita aos níveis de aprendizagem estabelecidos. Para que isto fosse possível, procurei inteirar-me dos objetivos que eram pretendidos para cada uma das matérias a lecionar no 10º ano de escolaridade e que, na minha opinião estão completamente desajustados da realidade da escola. Admito que de forma geral o Programa apresenta uma sequência lógica na aprendizagem dos diferentes conteúdos e que a atividade dos alunos integram os objetivos gerais e específicos da tríade de domínios motor, cognitivo e sócio-afetivo. No entanto, a quantidade de matérias a lecionar, o número de conteúdos a ensinar e o nível de dificuldade de alguns deles estão desajustados às condições que a Educação Física tem à sua disposição e à tipologia dos alunos.

O 10º ano é um ano de consolidação, revisão e/ou reforço de matérias e, desta feita, as matérias e os objetivos são praticamente os mesmos, sendo o nível máximo inicial de cada matéria o dado até ao momento. Por esta razão, não foi fácil ajustar. Na realidade, foi um dos meus maiores desafios, e também aquele que mais me remeteu para a reflexão.

possível transitar para os mais complexos. No entanto percebi que não poderia fazê-lo em todas elas (principalmente as coletivas) tendo em conta o nível que os alunos apresentavam aquando da avaliação diagnóstica e o número de aulas que tinha disponível para a lecionação das mesmas. Assim, e de acordo com a heterogeneidade que a turma apresentava ao nível das habilidades motoras em algumas modalidades, procurei que cada aluno trabalhasse dentro do seu nível de desempenho mas que tivesse consciência de que a realização correta das tarefas que lhes eram propostas seria fundamental para o jogo.

O Professor Cooperante sempre me incentivou a realizar as mudanças que considerasse necessárias desde que as fundamentasse e acima de tudo que possibilitassem a evolução dos alunos na medida do que era previsto no Programa e fazia questão de nos lembrar que um dos direitos que os alunos tinham era o de conhecerem claramente os seus critérios de avaliação. Considero que este conhecimento se tornou também uma alavanca para o sucesso da turma, uma vez que, ao estarem informados dos conteúdos/objetivos que cada nível comportava, o aluno tinha plena consciência que existia sempre a possibilidade de se transcender, de evoluir.

Fiz questão de ir relembrando os critérios de avaliação das várias modalidades ao longo das sessões, no entanto, e tratando-se de uma turma em que todos os alunos tinham acesso facilitado às Tecnologias de Informação e Comunicação e possuíam um endereço eletrónico que me disseram consultar com frequência, esta também era uma via utilizada por mim para comunicar com eles. Desde a disponibilização de matérias de estudo para os questionários de avaliação, ao envio de vídeos motivacionais ou com alguma componente teórica/tática lecionada que lhes pudesse elucidar relativamente a algum conteúdo programático e ainda para o envio dos critérios de avaliação dos diferentes níveis.

“Boa noite turma,

Em anexo e como combinado, envio os Critérios de Avaliação de Ginástica. Leiam com atenção e caso existam dúvidas não hesitem em perguntar por e-mail ou pessoalmente na escola.

Como sabem, a avaliação é contínua, mas este momento terá de ser encarado com maior seriedade. Peço-vos que se preparem devidamente para ele, mas não se deixem influenciar de forma negativa pela ansiedade e ‘nervoso miudinho’. Vejam a avaliação como mais um desafio que têm que superar.

«Separados cairemos, juntos venceremos» Cumprimentos desportivos,

Professora de Educação Física”

(E-mail enviado à turma no dia 23 de outubro de 2013)

A preparação das aulas por níveis de aprendizagem, a proximidade, e o à vontade e respeito que sempre mantive com os meus alunos foi determinante para o decorrer da minha ação pedagógica. Esta dinâmica entre professor-aluno e o ajustamento dos conteúdos às suas capacidades acabou por se tornar um contributo fundamental na cooperação entre colegas e ainda um suporte para a classificação final das modalidades em questão. Devido à importância que este assunto teve na minha prática pedagógica, voltará a ser referido mais à frente neste documento.

Em anexo (Anexo I) é possível encontrar um exemplo de um documento que enviei por correio eletrónico à turma, onde faço referência aos diferentes níveis em que a avaliação se iria basear bem como nos critérios de cada um.

Voltando à análise do Programa Nacional de Educação Física, deixo a sugestão de que talvez seja importante que o Ministério da Educação, reflita uma vez mais sobre a necessidade de renovação dos objetivos propostos para cada ano escolar e apelar a cada professor, que ao ter a possibilidade de adaptação das referências que lhe são dadas, o faça de forma holística e consciente de que as grandes mudanças podem começar por pequenos gestos seus.