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Desvantagens identificadas do processo cooperativo

Capítulo 3 Apresentação e Discussão dos Dados

3.5. Vantagens e desvantagens associadas à cooperação

3.5.2. Desvantagens identificadas do processo cooperativo

No respeitante às desvantagens os bibliotecários geraram 10 itens de resposta, no seguimento do procedimento metodológico adoptado, as mesmas foram submetidas a um processo de codificação do qual resultaram 4 desvantagens, a saber: (i) Perda de identidade; (ii) Perda de autonomia; (iii) Surgimento de conflitos e (iv) Partilha desigual.

De acordo com o quadro apresentado, 6 dos 8 bibliotecários referiram não existirem desvantagens em cooperar.

Figura 10 - Desvantagens Identificadas do Processo Cooperativo

Fonte: Elaboração própria

Apesar deste resultado, foi notória a preocupação no sentido de o processo cooperativo se desenvolver de forma organizada e consistente.

Neste contexto, é significativo o facto da maioria dos respondentes afirmarem que a discussão, o debate e o planeamento são uma condição essencial à inexistência de desvantagens. Não existem Partilha desigual Conflitos Perda de autonomia Perda de identidade 0 1 2 3 4 5 6

62 “Se houver planeamento e as regras estiverem bem definidas não haverá inconvenientes. Todas as questões devem ser muito bem planeadas para que não surjam conflitos e para que cada biblioteca se sinta igualmente importante e sinta que está envolvida de igual forma no projecto.” (Entr.4)

As desvantagens surgiram como algo natural e inerente ao processo cooperativo.

“Eu não vejo grandes desvantagens na cooperação. Poderá haver situações pontuais mas isso é como em tudo na vida, tem a ver com o funcionamento das pessoas e das organizações” (Entr.5)

“As coisas têm sempre um lado positivo e um lado negativo, convém ponderar o peso de ambos e verificar se as vantagens superam as desvantagens” (Entr.8)

De acordo com os respondentes, estas questões seriam superadas com diálogo e compensadas pelas vantagens anteriormente enunciadas.

“Eu acho que as desvantagens são sempre compensadas pelas vantagens que a cooperação traz. Por exemplo, eu sei que se tiver uma política de formação na minha biblioteca, eu posso realizar a formação A, B e C, mas se estiver em cooperação com outras bibliotecas eu posso fazer as que já fazia, mas também posso fazer as D, E, F. Não me parece que seja uma questão muito relevante, acabam por ser questões teóricas, na prática não vejo grandes desvantagens, sem sequer diluir a marca identitária de cada biblioteca” (Entr.8)

Foi visível a forma positiva com que os bibliotecários encararam as possíveis desvantagens do processo cooperativo. Este optimismo manifestou-se sobretudo em palavras, mas ao longo das entrevistas foi igualmente perceptível na forma entusiasmada de falar, nas expressões e no tom de voz utilizado pelos respondentes.

A partilha desigual foi referida por 4 dos 8 bibliotecários, tendo sido a desvantagem indicada por mais respondentes.

“Corre-se sempre o risco da existência de uma partilha desigual entre os diferentes elementos da rede, mas o processo de contradição é inevitável à vida, é algo que poderá acontecer, mas no estabelecimento de uma cooperação descentralizada garantindo a autonomia de cada biblioteca, ou seja, não sendo algo imposto, mal algo consentido, eu acho que esse problema se dilui um bocado. Agora esse processo contraditório estará sempre presente.” (Entr.8)

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Verificou-se que os bibliotecários desvalorizaram a desvantagem, encarando-a como algo natural não condicionadora de práticas cooperativas.

Para os respondentes a cooperação deveria desenvolver-se horizontalmente, numa estrutura onde todos os intervenientes tivessem um papel igual. Paralelamente, consideraram pertinente que o processo cooperativo se expandisse a nível regional e que não fosse algo imposto, nomeadamente, pela DGLB. Isto porque cada distrito tem as suas especificidades que devem ser consideradas e salvaguardadas.

Como se pode verificar pela citação outra desvantagem diz respeito à possibilidade de existência de conflitos entre os diferentes intervenientes.

“A grande desvantagem é que para haver cooperação tem de se lidar com pessoas e isso só por si já implica a existência de diferentes opiniões, que se não houver entendimento e compreensão poderá gerar conflitos. As pessoas são por vezes muito mesquinhas e olham só para o imediato e para as vantagens que podem tirar de determinado projecto, não fomos educados no sentido de cooperar e isso mais do que uma desvantagem, pode condicionar a existência de cooperação.” (Entr.2)

Para este bibliotecário os conflitos surgem associados à incapacidade de se estabelecerem relações e consensos e à inexistência de uma tradição cooperativa.

Os bibliotecários manifestaram receio relativamente ao perigo de haver uma biblioteca que assuma uma posição de destaque relativamente às demais.

Dois entrevistados indicaram, ainda, a perda de autonomia e a perda de identidade como duas das principais desvantagens da cooperação.

“A grande desvantagem do processo cooperativo é a biblioteca perder um pouco do seu poder e da autonomia, porque se eu tenho de cooperar com os outros, tenho de abdicar de algumas coisas em favor daquilo que é comum. É essa a principal desvantagem, ou seja perder a capacidade de eu decidir totalmente sozinha sobre o caminho, sobre as actividades e sobre a forma de actuar da minha biblioteca” (Entr.8)

Ficou, mais uma vez, patente o receio de uma das bibliotecas impor o seu estilo e a sua maneira de trabalhar. De acordo com a revisão da literatura existe a possibilidade “de não

serem respeitadas as particularidades de cada biblioteca” (Alasne, 2005; Cerdá, 2003)

mas tal só acontecerá se a cooperação for efectuada de forma desorganizada, sem regras, e sem estarem bem definidos os moldes e qual o papel de cada biblioteca.

64 “Uma das principais desvantagens, ou se quisermos perigos da cooperação tem a ver com a perda de autonomia das diferentes bibliotecas. Eu acho que a cooperação deve ser feita de forma descentralizada, ou seja, uma cooperação entre bibliotecas onde cada uma constitui o nó de uma rede e possa dentro da sua autonomia, alimentar essa rede através, entre outras coisas um catálogo colectivo.” (Entr.8)

Identicamente foi referida como desvantagem da cooperação a perda de identidade.

“No que se refere à perda de identidade a questão que se coloca é que a rede sendo constituída por um conjunto de quadradinhos que fazem nós entre si, o grande problema é quando cada quadrado tem a mesma cor, ou seja redes mono colores, isto é uma coisa péssima porque implica uma identidade supra que dilui as outras. Eu penso que isto não é uma fatalidade, penso que é possível a existência de uma rede em que cada quadrado tenha a sua marca identitária que se manterá através de pequenas actividades que são desenvolvidas à margem das actividades da rede.” (Entr.8)

Transparece da citação uma definição de cooperação em que a individualidade e a autonomia de cada uma das bibliotecas são pontos assentes. A cooperação é entendida como uma ferramenta ao serviço de um grupo de bibliotecas. A imagem de um conjunto de quadrados ou nós que constituem uma rede, onde cada nó tem um papel determinante vai ao encontro do conceito de cooperação, defendido pelos autores consultados, e revela que os bibliotecários têm ideias claras e correctas sobre a importância de cooperar e a forma mais correcta de o fazerem. Se assim é, quais as razões que levam estes bibliotecários a não cooperar? Esta é uma questão que a investigação se propõe responder na secção 3.6.2, deste estudo.

Após a análise das respostas está-se em condições de afirmar que os bibliotecários não viram grandes inconvenientes em cooperar, revelando, globalmente, uma atitude bastante optimista no tocante à cooperação.

De salientar ser condição essencial para que tal aconteça, que a cooperação seja realizada de uma forma organizada, respeitando as opiniões de todos os intervenientes, as suas diferenças e singularidades.

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