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Determinação da Velocidade crítica intermitente e da Velocidade Aeróbia

Máxima nos estilos de Bruços e

Mariposa

Enquadramento Teórico

Verifica-se que na maioria dos estudos feitos em nadadores onde há a determinação do estado estacionário máximo de lactato, da velocidade crítica, da velocidade aeróbia máxima, recorrendo a protocolos de testes intermitentes, o estilo mais utilizado é Crol. Neste âmbito, considerou-se que seria importante transportar estes tipos de protocolos não só para nadadores de crol, mas também em nadadores de outros estilos, neste caso de Bruços e Mariposa.

Segundo Jones et al., (2000). o treino de endurance resulta em profundas adaptações cardiorrespiratórias e neuromusculares que melhoram a transferência de oxigénio para a mitocôndria e permitem uma regulação mais rígida do metabolismo muscular. Estas adaptações melhoram a resistência manifestando-se num desvio para a direita na "curva velocidade-tempo”. Esta mudança permite aos atletas exercitarem-se por mais tempo numa dada intensidade de exercício absoluto, ou então na possibilidade de colocar maior intensidade do exercício por um determinado período. Contudo, atualmente, pouco se sabe sobre as práticas de treino mais eficazes para melhorar especificamente os principais parâmetros de aptidão aeróbia, ou para alterar diferentes pontos da curva de velocidade-tempo (Jones et al., 2000).

Como se pretende elevar ao máximo a aptidão aeróbia nos nadadores, recorre-se a diversos métodos, pretendendo sempre que não sejam invasivos, de fácil aplicação e baixo custo, adequados para aplicar a um grande número de atletas e que possa ser realizado no terreno na atividade específica

do atleta (neste caso nadar). Assim, a utilização do modelo da potência crítica é um bom exemplo disso.

Seguindo esta linha de pensamento, torna-se importante caracterizar qual o significado fisiológico e metodológico do modelo da potência crítica. Deste modo, a potência crítica proposta por Monod et al., (1965). e validada por Moritani et al., (1981). defendem que teoricamente representa a mais elevada intensidade de exercício que pode ser mantida durante um período considerável em que há condições de relativo equilíbrio metabólico, expresso em valores estáveis de consumo de oxigénio e de lactatemia, assumindo-se, deste modo, como um parâmetro indicador da capacidade de desempenho aeróbio, mais especificamente, da fronteira entre os domínios de intensidade pesado e severo (o domínio do moderado está abaixo do Limiar Láctico (LL), o domínio do pesado encontra- se entre os 2 limiares (o Limiar Láctico e o Estado Estacionário Máximo de Lactato) e o domínio do severo, que corresponde a intensidades superiores ao Estado Estacionário Máximo de Lactato (EEML) ou da potência crítica (Pc) ou ao seu análogo, a velocidade crítica (Vc).)

Torna-se ainda, importante definir o que é o Estado Estacionário Máximo de Lactato, sendo que este corresponde à maior intensidade de exercício na qual ocorre um equilíbrio entre a produção e a remoção de lactato sanguíneo durante um exercício prolongado de carga constante (Beneke et al., 1996; Beneke 2003). A intensidade correspondente ao EEML tem sido fortemente relacionada com a performance em desportos de endurance (Billat et al., 2003)., podendo ser usado para a avaliação da capacidade aeróbia dos atletas, e também como um dos principais parâmetros para prescrição do treinamento aeróbio (Beneke et al., 1996; Billat et al., 2003).

Voltando ao modelo da potência crítica, este descreve a relação hiperbólica entre produção de força ou potência externa e o tempo até à exaustão no músculo-

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esquelético isolado. Assim sendo, há 2 parâmetros que podem ser estimados a partir dessa relação hiperbólica (modelo biparamétrico): a potência crítica, a assíntota da relação potência-tempo e a capacidade de trabalho anaeróbio, que corresponde ao grau de curvatura da hipérbole. O seu cálculo baseia-se na relação hiperbólica entre intensidades pré-determinadas e respetivos tempos de exaustão. No caso de atividades cíclicas de resistência, foi verificado que a velocidade crítica intermitente corresponde ao declive da reta obtida pela regressão linear entre distâncias fixas e os seus respetivos tempos em esforços de máxima intensidade.

Segundo, Morton, 2006 cit in., Alves (n.d) este modelo hiperbólico biparamétrico assenta em vários pressupostos, sendo os mais importantes os seguintes: 1. O custo energético mantém-se constante ao longo das intensidades de exercício utilizadas; 2. As reservas anaeróbias são completamente utilizadas durante cada repetição; 3.O consumo de oxigénio atinge níveis máximos para a intensidade de exercício instantaneamente.

Assim, é notória a sua utilidade tendo em vista a prescrição do exercício de treino, assim como, para a avaliação do estado de treino ou da evolução do atleta.

Noutro estudo, Wakayoshi et al. (1993)., utilizando o mesmo procedimento descrito anteriormente, mas com distâncias pré-determinadas (assumindo que a relação entre a velocidade de nado e o tempo de esforço são lineares) constataram que a VC determinada na piscina, com apenas a realização de dois esforços máximos em distâncias de 200m e 400m, corresponde ao EEML, sugerindo a sua utilização na avaliação da performance física sem a necessidade de amostras sanguíneas, ou equipamentos sofisticados. Também Kokubun (1996)., verificou a relação da VC com o limiar láctico e a sua sensibilidade aos efeitos do treino em 48 nadadores. Neste estudo, o limiar láctico correspondeu a uma

concentração de lactado de 4 mMol/L e a velocidade crítica intermitente foi obtida pela linearização da função hiperbólica após o cálculo das velocidades médias dos nadadores (determinadas através da realização de três esforços máximos no estilo crol (100, 200 e 400)). Além disso, o autor afirmou, no final do estudo, que o modelo matemático utilizado para determinar a VC é um bom parâmetro para avaliar a capacidade aeróbia dos nadadores.

No que se refere à Velocidade Aeróbia Máxima (VAM) esta é um conceito baseado na relação entre o VO2máx. e a quantidade de oxigénio consumido por unidade de distância percorrida. Esta caracteriza-se por ser uma velocidade que permite solicitar durante o mais longo tempo possível o VO2máx. e por ser utilizada como uma velocidade de referência para a prescrição dos exercícios de treino.

Metodologia

A amostra foi composta por 2 atletas, um atleta em que o seu estilo principal era mariposa (atleta M) e outro em que o seu estilo principal era bruços (atleta B).

Para que a determinação da velocidade crítica intermitente (VC) e da velocidade aeróbia máxima (VAM) fosse possível simulou-se uma situação de prova de 200 e 400m intermitentes, isto é, 4x50m e 8x50m com 15s de pausa entre cada repetição. Assim, estabeleceu-se um tempo alvo para que os atletas fizessem cada repetição, sendo que, o tempo alvo nos 200m foi estipulado de acordo com o parcial dos últimos 50m dos 200m da melhor prova da época do atleta. Já os 400m, foi calculado de forma diferente pois não existe em situação de prova 400m bruços ou mariposa, assim, o tempo alvo foi determinado de acordo (na mesma) com o parcial dos últimos 50m dos 200m da melhor prova da época do atleta, mas extrapolando para uma situação de 400m.

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Através dos tempos obtidos pelos atletas (melhores tempos da prova de 200m da época corrente) e de acordo com o estado de forma atual dos atletas foi solicitado aos atletas que realizassem 4x50m com 15s de pausa, deste modo, o atleta B deveria fazer o parcial de 34.00s e o atleta M deveria fazer 31.00s.

Depois de realizarem o teste 4x50m os atletas descansavam 48H e, posteriormente, realizavam o teste de 8x50m com 15s de pausa, onde o atleta B deveria fazer um parcial de 37.00s e o atleta M um parcial de 34.00s sendo que, este parcial foi calculado de acordo com o parcial dos 200m, mas extrapolando para os 400m, o que pressupõe um teste por tentativa erro. Contudo, como o teste foi realizado através de tentativa erro verificou-se que o parcial para o atleta M era o correto, mas para o atleta B não, pois fez todas as repetições abaixo dos 37.00s, assim, redefiniu-se, sendo que o atleta B deveria de fazer um parcial de 36.00s.

Ambos os testes só seriam válidos se não houvesse variação de mais de 5décimas de segundo do tempo alvo. Todos os testes foram feitos em piscina de 25m (sendo que os melhores tempos dos atleta também eram de piscina curta) e partiram sempre dentro de água não existindo salto de partida (se não existiria muita diferença da primeira repetição (com salto) para as restantes). Para além disso, ambos os atletas nos dias do teste tiveram um aquecimento livre de 10min. seguido da execução do teste sendo que cada atleta tinha 1 pista.

Após a recolha dos tempos obtidos torna-se necessário calcular a velocidade crítica intermitente dos nadadores, assim, deve-se somar todos os parciais dos 4x50m e dos 8x50m de modo a obter-se um tempo que corresponde à simulação de prova de 200m e 400m, respetivamente. Posteriormente, determina-se a velocidade média (distância/tempo) e obtém-se a reta de regressão linear, sendo que o declive nos indica a velocidade crítica intermitente dos

atletas. Após isso, e partindo do princípio que a velocidade crítica intermitente dos atletas foi determinada corretamente, calcula-se a Velocidade Aeróbia Máxima (VAM). Para este cálculo, retiraram-se os primeiros 50m e os últimos 50m dos 400m ficando com os 300m centrais.

Posteriormente, foi realizado um teste máximo onde o objetivo era manter o parcial determinado para os 400m. Os atletas realizavam o número máximo de repetições que conseguissem tendo entre cada repetição 15s de pausa e o teste terminava quando existisse diferença de mais de 5décimas de segundo do tempo alvo. Para além disso, neste teste existia a análise dos níveis de lactato, sendo medidos antes de realizar o teste, durante o teste (na 4º repetição) e após cessar o teste.

Para a recolha dos níveis de lactato o procedimento aplicado foi secar bem a polpa do dedo do atleta seguido de utilização da lanceta descartável para fazer um corte que possibilitasse a recolha de sangue para uma das fitas que se colocava no analisador. Posteriormente, aguardava-se 15s e obtinha- se o resultado. Assim, este procedimento foi repetido 3 vezes em cada um dos atletas. O material necessário para estes testes foram o analisador portátil dos níveis de lactato, luvas cirúrgicas, lancetas descartáveis e o cronómetro.

Estes 3 testes foram realizados em dias diferentes com 48H de intervalo entre cada teste.