• Nenhum resultado encontrado

Relatório sobre os benefícios da Yoga no treino e nas competições

Devido às diversas parcerias que o Sport Lisboa e Benfica tem, este ano houve a possibilidade de haver Yoga na equipa de competição de juvenis, juniores e seniores do Benfica. Esta atividade estava no âmbito de um trabalho de estágio de Mestrado em Treino Desportivo de um indivíduo (António Silva) da Universidade Lusófona. Deste modo, aproveitei a oportunidade e pedi aos treinadores se podia ser eu a acompanhar a equipa nestas sessões e se poderia fazer um trabalho sobre o mesmo, sendo que, desde logo, obtive aprovação.

O objetivo deste trabalho era perceber se existiam benefícios, após 5 semanas de sessões de Yoga, nas competições e até mesmo no treino. Assim, o estudo foi efetuado durante 5 semanas, 2 vezes por semana (terça e quinta) com os atletas juniores e seniores (no máximo 8) e após esse período voltou-se a fazer outras 5 semanas mas, desta vez, com a equipa de juvenis (sendo no máximo 8). As sessões tinham uma duração de 30 a 45min. e eram sempre realizadas depois do treino de água . Estas sessões deveriam ser realizadas numa sala com pouco barulho, pouca luz e ser quente para que não existam muitas diferenças de temperatura, uma vez que os atletas saiam do treino de água e tinham a sessão de yoga.

Os materiais necessários foram os colchões, equipamento desportivo, colunas, música, cardiofrequencimetro e relógio.

Nas primeiras 2 sessões foram preenchidos uns questionários onde se abordava o historial dos atletas e como é que os atletas se sentiram na semana anterior de treino quer a nível físico quer a nível psicológico (o questionário tinha diversos adjetivos e os atletas respondiam de 0 a 5). Para além dos questionários os atletas colocavam o cardiofrequencimetro e durante 30s era recolhida a frequência cardíaca mínima, máxima, média e a frequência respiratória. Nas seguintes sessões (6) os atletas aprenderam técnicas de respiração, técnicas de relaxamento. Todas as sessões foram importantes, porque havia sempre o repetir da sessão anterior e o acrescentar de novas técnicas e exercícios, sendo que todas as sessões foram acompanhadas de música instrumental.

Nas últimas 2 sessões, mas apenas para juniores e seniores, os atletas fizeram simulações de provas, isto é, imagética. Assim, os atletas imaginavam-se na prova e descreviam como se estavam a sentir, sendo que, ao mesmo tempo, tinham um cronómetro na mão e iniciavam a contagem quando imaginavam que estava a iniciar a prova e paravam o cronómetro quando achavam que a prova tinha terminado. Na sessão final, além da imagética, os atletas voltavam a preencher o mesmo questionário que na sessão inicial e voltavam a fazer as medições (frequência cardíaca mínima, máxima, média e frequência respiratória).

Durante as sessões fui sempre acompanhar os atletas, tanto os juniores e seniores como os juvenis, assim verifiquei, como seria de esperar, que os juniores e seniores levavam as sessões com mais rigor e com mais seriedade que os juvenis. Este facto verifica-se porque grande parte dos exercícios que tinham de fazer eram barulhentos ou estranhos e devido à imaturidade dos atletas eles não os conseguiam fazer ou simplesmente começavam-se a rir acabando por não resultar tão bem. Apesar disso todos cumprissem o que o António dizia (fig. 64 e 65).

186

Figura 64- Atletas Juniores e Seniores numa sessão de yoga Figura 65- Atletas Juvenis numa sessão de Yoga A justificação do António para os juvenis não fazerem a parte da imagética é por não terem maturidade suficiente para estarem 100% focados no objetivo e, para além disso, por não possuírem muitas experiências suficientemente marcantes ou importantes na sua carreira para conseguirem executar corretamente a simulação de prova. A minha opinião é concordante com o António daí que não tenha sido feita. Contudo, foi feita nos juniores e seniores e como um dos atletas observados (porque os restantes não fizeram parte do grupo) estava presente decidi gravar a simulação/ imagética de uma prova do atleta, assim, este disse:

“Neste momento, estou a receber indicações do meu treinador, ele está-me a dizer que tenho que aumentar a frequência de braçada nos últimos 50m e não deslizar tanto, que tenho que aproveitar ao máximo os percursos subaquáticos e dar o meu melhor. Após isso, vou com os meus fones a ouvir The Script- Superheroes e dirijo-me para a câmara de chamada, sento-me e concentro-me na música, abano as pernas e os braços como forma de relaxar. A seguir penso como irei nadar os 100m Bruços, assim, penso que nos primeiros 50m aproveito mais o deslize e vou a controlar a prova e nos últimos 50m aumento a frequência de braçada e dou o máximo. Seguidamente apercebo-me que já estão a chamar a série antes da minha e aí levanto-me começo a saltar e coloco-me na fila para ir buscar o papel. De seguida dão me o papel dirijo-me para a pista 6 e enquanto deixo os fones, dispo a roupa e coloco tudo em cima da cadeira vejo os tempos da série anterior e vejo que o melhor fez 1.09.55, assim, tenho que tentar fazer melhor do que isso. Após isso, dirijo-me para o bloco de partida, dou 3 saltos e bato nas minhas pernas, coloco os óculos e digo: “Vamos lá é ao máximo!!”. Após isso ouço o apito subo para cima do bloco e preparo-me, ouço o apito e inicio a minha prova, braçada subaquática, primeira respiração e vamos todos lado a lado, começo a aumentar a frequência de braçada, continuo, controlo os meus adversários e agora viragem, mais um percurso subaquático e novamente em prova com menos 1 adversário perto de mim, continuo, continuo e 2º viragem, agora é aumentar a frequência, começo a aumentar e começa a doer, mas eu consigo e à minha frente vai 1 atleta, tenho que o apanhar, sigo-o ao máximo e não o consigo alcançar, mas estamos perto da viragem e aí tenho que o apanhar, dou o meu máximo antes da viragem e siga, lá estamos nós na viragem, faço mais esta e ele ainda continua a minha frente, dou o máximo agora, só faltam estes 25m, vamos, eu consigo, e vou ao máximo, já estou mais perto dele, mais ainda, mas as pernas começam a doer, mas vai, tenho de dar o máximo, vamos, vamos e chego, mas não dá, chega primeiro que eu e faz 1.09.22 eu faço 1.09.98. Olho para o placar e, não era isto que eu queria, mas…”.

187

Este depoimento foi gravado para que depois pudesse ser transcrito e aqui descrito. Enquanto o atleta estava a falar, verificava-se que este movimentava bastante o corpo, que os olhos estando fechados iam-se mexendo, mas (na minha opinião o mais importante) o cronometro na mão do atleta estava bem apertado, sendo que o atleta o acionou quando “imaginou o apitar do apito” e terminou “quando chegou a parede”. Assim, verificou-se que o cronómetro marcava no final da “prova” 1.03.77 sendo que o atleta disse que iria fazer 1.09.98. Nota-se que o atleta realizou bem toda a imagética, mas, ao nível do tempo ficou um pouco aquém do que tinha imaginado. Apesar disso, considero que foi um bom tempo, pois o atleta nunca tinha experienciado uma situação destas.

Na última sessão todos os atletas foram novamente avaliados voltando a preencher os questionários e a fazer as medições (frequência cardíaca mínima, máxima, média e frequência respiratória).

Relativamente aos resultados não tive acesso aos dados dos questionários mas, em relação às medições verificou-se claramente que existia uma diminuição bastante notória da frequência cardíaca quer a mínima, máxima ou média em relação ao início do estudo. No atleta observado (Guilherme Teixeira) os resultados foram:

Medições 1ºRecolha 2ºRecolha

Frequência Cardíaca Mínima 70 60

Frequência Cardíaca Média 84 69

Frequência Cardíaca Máxima 99 80

Frequência Respiratória 7 7

Tabela 89- Resultados obtidos das medições

A conclusão de que as sessões de yoga fizeram com que os atletas tivessem mais relaxados, mais descontraídos e mais bem preparados para a ação, na minha opinião, não é correta. Considero que as sessões de Yoga foram benéficas no sentido de perceberem como é que o seu corpo funciona, terem técnicas corretas de respiração (muito importante na natação), adquirirem algumas técnicas de relaxamento importante para utilizarem em situações stressantes e, para os mais velhos, foi importante a situação de simulação de prova, para além de todas as outras. Além disso, considero que foi uma boa experiência para todos eles, enriquecendo-os mais e caso seja necessário “relaxar” (como já aconteceu) eles terão mais uma ferramenta para aplicar, pois a maioria deles já sabe como aplicá-la.

Após falar com os atletas notei que a maioria deles tinha gostado de conhecer e experienciar os contributos do Yoga para a competição, mas a maioria não notava alterações nenhumas aquando dos treinos ou das provas, não tendo por isso sortido efeito.

Na minha opinião, esta foi uma boa experiência, mas como foi aplicada durante pouco tempo os atletas não sentiram alterações. Para além disso, deve ser feito em atletas mais velhos apenas, porque os mais novos não percebem a importância e não conseguem executar como deve

188

ser. Considero que os resultados que o António irá tratar não serão conclusivos, porque não tem um número considerado de amostra, porque a aplicação deveria ser feita durante mais tempo e porque nem todos os atletas foram a todas as sessões. Contudo, para mim, enriqueceu-me ao ter adquirido algumas técnicas de respiração e de relaxamento, e, para além disso, despertou-me algum interesse em saber mais.

189