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PARTE I – ENQUADRAMENTO CONTEXTUAL DO ESTUDO

2. DETERMINANTES BIO-PSICO-SOCIAIS

A maternidade é encarada como um processo de interação entre a dimensão biológica, psicológica e social. Neste sentido, existe uma necessidade de equilíbrio entre as dimensões, que requer uma adaptação adequada por parte da mulher em idade reprodutiva tardia.

Os determinantes bio-psico-sociais dizem respeito à história do indivíduo, isto é, aos marcadores das suas experiências e aprendizagens ao longo do ciclo da vida (Canavarro, 2006).

Camarneiro (2007) considera, que a maternidade é um fenómeno individual e social, no qual a interação de determinantes biológicos, afetivos e económicos influenciam o decurso da mesma.

No contexto atual da nossa sociedade, existe uma escolha ponderada, no adiamento da maternidade, verificando-se cada vez mais a gravidez após os 35 anos. Esta é assim, uma etapa na vida da mulher onde a situação económica, conjugal e profissional determina esta importante tomada de decisão (Graça et al., 2004).

Oliveira (2009) refere ainda que existe um aumento crescente do número de mulheres que optam pela gestação tardia. Supõem-se que razões como a instabilidade económica, conjugal/emocional, busca de autonomia profissional e a elevada eficácia de métodos contracetivos, permitem à mulher decidir o momento apropriado para viver a maternidade.

Os determinantes que influenciam o adiamento da maternidade referem-se a determinantes biológicos, psicológicos e sociais.

No que diz respeito aos determinantes biológicos, Canavarro (2006) evidencia que: O avanço científico e tecnológico permitiu também a reprodução artificial e o crescente controlo e monitorização tecnológica do desenvolvimento e nascimento do bebé, o que tornou cada vez mais possível escolher. Escolher engravidar ou não; para quem quer engravidar e não consegue, escolher métodos alternativos de fecundação; escolher

interromper ou não uma gravidez. (p.24)

Segundo Graça et al. (2004) os determinantes biológicos são: o aumento da idade materna implica um declínio da fertilidade e maior incidência de doenças crónicas; maior difusão e acessibilidade aos métodos contracetivos; a infertilidade conjugal, causada muitas vezes pelo aumento do stress, recorrendo posteriormente à aplicação das técnicas de reprodução medicamente assistidas; miomas uterinos, infeções, inflamações pélvicas, endometriose, alterações das trompas podem retardar a fecundação; aumento dos abortamentos espontâneos (cromossomopatias, fatores mecânicos); alterações estruturais a nível uterino (esclerose da parede das artérias uterinas, fibrose, alterações anatómicas do endométrio, entre outras).

Na opinião de Rahman e Menken (citado por Costa, 2003) com o aumento da idade materna, diminui significativamente a fertilidade na mulher, intensificando-se após os 35 anos, sendo esta idade considerada o marco desse declínio. Existe assim um desequilíbrio hormonal, causando irregularidades na ovulação (Lima, Mendes, & Passos, 2009). O aumento do número de ciclos anovulatórios no período da perimenopausa e as alterações uterinas (fibróides e carcinoma), que aumentam com a idade, podem criar um ambiente hostil para a implantação do ovo, diminuindo assim a capacidade de fecundação, provocando um maior risco de alterações cromossómicas.

O desenvolvimento da Medicina reprodutiva foi um contributo essencial para que o adiamento da maternidade se tornasse viável, visto que, antes do aparecimento das novas tecnologias, existiam alguns obstáculos biológicos que eram irreversíveis. Muitas mulheres que adiam a fecundidade têm, mais tarde, de contar com auxílio médico, no sentido de maximizar o tempo que lhes resta para procriar (Costa, 2003).

Atualmente existe um maior controlo da taxa de fecundidade devido a um planeamento familiar eficaz. A procura contracetiva surge como resultado de um conjunto de novos valores acerca da família, casal e criança, bem como da vivência da sexualidade (Almeida et al., 2002).

A contraceção possibilita assim à mulher, simultaneamente, viver uma conjugalidade e/ou sexualidade mais ou menos ativa e adiar a maternidade, limitando os nascimentos, decidindo o número de filhos e a idade para ter esses filhos, podendo assim planear e gerir o percurso da sua vida (Costa, 2003).

decisão da grávida, mencionando Canavarro (2006) que:

A gravidez é uma época que, psicologicamente, (…) permite a preparação para ser mãe – ensaiar cognitivamente papéis e tarefas maternas, ligar-se afectivamente à criança, iniciar o processo de reestruturação de relações para incluir o novo elemento, incorporar a existência do filho na sua identidade e, simultaneamente, aprender a aceitá-lo como pessoa única, com vida própria. (p.19)

Neste seguimento, Canavarro (2006) destaca como determinantes psicológicos: a preparação psicológica do casal para assumir o papel de pais; o receio sobre o impacto de ser mãe, no seu estilo de vida e no seu relacionamento, tal como, o bem-estar e a qualidade de vida e o desejo da continuidade familiar e a necessidade da presença de alguém que assegure algum apoio na velhice.

As mulheres em idade tardia referem ter adiado a maternidade, porque só agora se sentiam preparadas para assumirem o papel de mães e também porque desejavam em primeiro lugar, alcançar os seus objetivos pessoais (Benzies et al., 2006). Rodrigues (2008) realça que muitas mulheres vivenciam a maternidade tardia simplesmente pela dúvida de querer ou não ser mães, porque não se sentem preparadas psicologicamente para assumirem este papel.

O projeto da maternidade deve ser construído e consolidado de forma progressiva no contexto do casal, permitindo uma reflexão adequada, diminuindo o receio e a ansiedade de forma a permitir uma melhor adaptação a esta nova etapa (Canavarro, 2006).

Por último, fazemos referência aos determinantes sociais, realçando Canavarro (2006) que a “valorização da mulher na sua faceta profissional, têm também contribuído para que engravidar e ser mãe seja fundamentalmente uma opção” (p. 24).

Na opinião de Graça et al. (2004) destacam-se os seguintes determinantes sociais: a afirmação a nível social, político, laboral e sobretudo a independência económica, obriga a alterar a escala de prioridades; a instabilidade social, política e económica do casal, não confere segurança e condições à constituição familiar; a ocorrência crescente de um elevado número de divórcios, a opção por um segundo casamento ou união de facto, apresenta um relacionamento direto e por último, a procura por parte da mulher do “par ideal”/relacionamento estável, ocorrendo o casamento cada vez mais tarde.

A fecundidade tardia prende-se precisamente com as elevadas qualificações, quer escolares, quer profissionais, de algumas mulheres em idade reprodutiva tardia. O facto

de as mulheres com elevados capitais escolares e profissionais adiarem a fecundidade para idades cada vez mais próximas do limite biológico é, não apenas um sinal do domínio da mulher sobre o tempo biológico de que dispõe para procriar, mas sobretudo o controlo sobre a gestão do tempo familiar dedicado à tarefa de “ter filhos” (Costa, 2003).

As causas das consequências sociológicas são inúmeras mas uma das que teve maior impacto foi o ingresso da mulher nas carreiras profissionais (Canavarro, 2006). A atual geração de mulheres começou a projetar-se, não apenas como esposa ou mãe, mas, no mundo do trabalho, passando a ocupar posições de destaque no âmbito profissional (Oliveira, 2009).

As condições socioeconómicas e a competitividade presente no mercado de trabalho exige qualificações profissionais e mais tempo de estudo, o que cria um impasse entre o tempo ideal para o desenvolvimento da carreira profissional e o tempo ideal para a mulher engravidar (Travassos & Féres, 2013).

Existem determinantes na vida da mulher que condicionam o momento certo para maternidade. A maternidade e o processo gestacional ocorrem após a formação académica, estabilização financeira entre outras variáveis (Oliveira, 2009).

Benzies et al. (2006) referem que as mulheres nesta idade consideram que ter uma relação estável é um determinante na decisão da maternidade e na educação dos seus filhos.

Adiar a maternidade é encarada como uma opção de vida que envolve diferentes questões, como encontrar um parceiro, investir na carreira e adquirir independência económica e afetiva (Barbosa & Rocha, 2007).

Nesta faixa etária, o casal apresenta maior estabilidade emocional, melhor preparação e maturação psicológica, mantendo um investimento conjugal e afetivo mais forte, uma vida profissional mais estável, melhores condições socioeconómicas e uma maior disponibilidade, proporcionando maior investimento na educação dos seus filhos.

Em suma, a construção da identidade materna é influenciada pela experiência pessoal de cada mulher que se afigura no período gestacional, tendo em conta a sua relação com o filho por nascer, a sua relação conjugal, e a relação com a família, atendendo ainda aos determinantes bio-psico-sociais no sentido da transição para o papel materno, da maternidade/parentalidade.

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