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2. CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO COMO MECANISMO DE GOVERNANÇA

2.8 O Conselho de Administração como mecanismo de Governança Corporativa

2.8.15 Deveres e Responsabilidades

2.8.15.5 Dever de informar

O dever de informar deriva do direito norte-americano duty of disclosure. Constitui norma preventiva de insider trading. Enquanto o dever de informar determina que as informações sejam divulgadas, a norma do insider trading veda que não se faça uso dessas informações enquanto não tiverem sido publicadas.

O professor Barbosa Filho 136 esclarece que a medida visa dar transparência na atuação dos administradores de forma a evitar que:

(...) sejam ultimadas operações ocultas, como o ‘aluguel’ de ações, ou seja, a transferência da titularidade de participações societárias com o escopo único de possibilitar o exercício de direito de voto por um terceiro, facilitando sua eleição para um cargo administrativo, com a sua posterior devolução, tornando invisível o exercício de poderes de comando na companhia.

A publicidade dos fatos relevantes é o mecanismo que possibilita os acionistas da companhia avaliarem a oportunidade do investimento para comprar, vender ou manter os valores mobiliários emitidos pela sociedade.

Uma vez publicada tais informações, a responsabilidade pela tomada de decisão compete apenas aos investidores. A transparência das informações busca preservar o interesse da companhia e, ao mesmo tempo, garantir uma avaliação da conveniência ou não para o acionista investir. Esse dever, no momento atual, é incessantemente buscado pelos princípios da governança corporativa.

Ao firmar o termo de posse, o administrador deve informar o número de ações, bônus de subscrição, opções de compra de ações e debêntures conversíveis em ações, de emissão da companhia e de sociedades controladas ou do mesmo grupo, de que seja titular.

Há ainda a obrigação dos administradores de fazer comunicar à CVM e, se for caso, à Bolsa de Valores e divulgar na imprensa os atos ou fatos

relevantes.137 Atos relevantes são as deliberações da assembléia geral e dos órgãos de administração da companhia. Já fatos relevantes são os acontecimentos que surgem independentemente da vontade social e que importam incisivamente nos negócios sociais.

A Instrução CVM n° 358/02 assim define ato ou fato relevante:

Art. 2°. Considera-se relevante, para os efeitos de sta Instrução, qualquer decisão de acionista controlador, deliberação de assembléia geral ou dos órgãos de administração da companhia aberta, ou qualquer outro ato ou fato de caráter político- administrativo, técnico, negocial ou econômico-financeiro ocorrido ou relacionado aos seus negócios que possa influir de modo ponderável:

I. na cotação dos valores mobiliários de emissão da companhia aberta ou a eles referenciados;

II. na decisão dos investidores de comprar, vender ou manter aqueles valores mobiliários;

III. na decisão dos investidores de exercer quaisquer direitos inerentes à condição de titular de valores mobiliários emitidos pela companhia ou a eles referenciados.

A norma, com nítido caráter didático, menciona alguns exemplos

137 Instrução CVM n° 358/02, art. 3°, § 1°: Os acioni stas controladores, diretores, membros do Conselho de

Administração, do conselho fiscal e de quaisquer órgãos com funções técnicas ou consultivas, criados por disposição estatutária, deverão comunicar qualquer ato ou fato relevante de que tenham conhecimento ao Diretor de Relações com Investidores, que promoverá sua divulgação.

considerados como fato ou ato relevante.138

A informação deve ser oportuna, no momento propício. No direito norte- americano denomina-se timely disclosure. Assim, a informação por si só não é suficiente, há de ser imediatamente após a companhia ter tomado conhecimento e formado juízo sobre o acontecimento. Sempre que possível, deverá ser divulgado antes do início ou após o encerramento dos negócios nas bolsas de valores. Esse dever insere-se no âmbito da diligência dos administradores, conforme já visto. Lamy

138 ( i ) assinatura de acordo ou contrato de transferência do controle acionário da companhia, ainda que sob

condição suspensiva ou resolutiva;

( ii ) mudança no controle da companhia, inclusive através de celebração, alteração ou rescisão de acordo de acionistas;

( iii ) celebração, alteração ou rescisão de acordo de acionistas em que a companhia seja parte ou interveniente, ou que tenha sido averbado no livro próprio da companhia;

( iv ) ingresso ou saída de sócio que mantenha, com a companhia, contrato ou colaboração operacional, financeira, tecnológica ou administrativa;

( v ) autorização para negociação dos valores mobiliários de emissão da companhia em qualquer mercado, nacional ou estrangeiro;

( vi ) decisão de promover o cancelamento de registro da companhia aberta; ( vii ) incorporação, fusão ou cisão envolvendo a companhia ou empresa ligadas; ( viii ) transformação ou dissolução da companhia;

( ix ) mudança na composição do patrimônio da companhia; ( x ) mudança de critérios contábeis;

( xi ) renegociação de dívidas;

( xii ) aprovação de plano de outorga de opção de compra de ações;

( xiii ) alteração nos direitos e vantagens dos valores mobiliários emitidos pela companhia; ( xiv ) desdobramento ou agrupamento de ações ou atribuição de bonificações;

( xv ) aquisição de ações da companhia para permanência em tesouraria ou cancelamento, e alienação de ações assim adquiridas;

( xvi ) lucro ou prejuízo da companhia e a atribuição de proventos em dinheiro;

( xvii ) celebração ou extinção de contrato, ou o insucesso na sua realização, quando a expectativa de concretização for de conhecimento público;

( xviii ) aprovação, alteração ou desistência de projeto ou atraso em sua implantação;

( xix ) início, retomada ou paralisação da fabricação ou comercialização de produto ou da prestação de serviço;

( xx ) descoberta, mudança ou desenvolvimento de tecnologia ou de recursos da companhia; ( xxi ) modificação de projeções divulgadas pela companhia;

( xxii ) impetração de concordata, requerimento ou confissão de falência ou propositura de ação judicial que possa vir afetar a situação econômico-financeira da companhia.

Filho e Bulhões Pedreira139 ressaltam:

Calar quando o mercado está notoriamente sendo orientado por informações erradas, equivaleria a divulgar informação falsa.

Ocorre que os administradores podem se opor à divulgação das informações se entenderem que sua revelação porá em risco o interesse legítimo da companhia.140 O prevalecimento do dever de sigilo sobre o de informar somente encontra guarida se as informações favorecerem os competidores ou concorrentes da companhia.

Uma vez afastados ou dispersos os motivos que se opuseram à divulgação das informações, o dever de informar deve emergir. Nesse sentido, a CVM, 141 em reunião extraordinária do colegiado, decidiu:

Divulgação de Fatos Relevantes – Sadia S.A. O Colegiado, considerando:

(i) Que em 06.12.2006 foi deferido pedido da Sadia S.A. de exceção à divulgação de fato relevante, relativo às motivações das renúncias do diretor financeiro e de relações com investidores e de conselheiro da companhia;

(ii) Que o deferimento se deveu ao fato de que as renúncias foram

139 LAMY FILHO, Alfredo e PEDREIRA, José Luiz Bulhões. op. cit., p. 377. 140 Instrução CVM n° 358/02, art. 6°.

141 CVM. Divulgação de Fatos Relevantes – Sadia S/A. Rio de Janeiro, ata da Reunião Extraordinária do

Colegiado, de 22/02/07. Participantes: Marcelo Fernandez Trindade - Presidente; Maria Helena dos Santos Fernandes de Santana - Diretora; Antonio Carlos de Santana - Diretor-Substituto. Presente: Waldir de Jesus Nobre - Superintendente de Relações com o Mercado e Intermediários.

motivadas por fatos que estavam sujeitos a investigação sigilosa pela CVM, quais sejam, negociações de valores mobiliários no mercado norte americano em período em que os referidos administradores dispunham de informação ainda não divulgada ao mercado;

(iii) Que nesta data foi divulgada pela Securities and Exchange Commission - SEC a celebração de acordo com um dos referidos administradores, o que levou a CVM a tornar pública a existência da investigação sobre a negociação efetuada pelo referido administrador, afastando o motivo do deferimento de não divulgação;

(iv) Que uma vez divulgada a informação relativa a um dos administradores, deixa de existir risco de dano para a companhia em relação à divulgação das razões da renúncia do outro administrador, passando, além disso, a ser recomendável, para a adequada informação do mercado, que o quadro mais completo quanto às informações relativas ao tema seja divulgado;

Decidiu, por unanimidade, determinar a imediata divulgação dos fatos relevantes cuja não divulgação fora deferida em 06.12.2006.

Compete à Comissão de Valores Mobiliários exercer as funções de verificar se as informações enunciadas pelos administradores são oportunas pelo momento, exatas no conteúdo, precisas e simples na redação e suficientemente completas para permitir aos shareholders a ciência da circunstância para permitir- lhes formar o juízo de continuar, afastar-se ou investir mais no negócio.

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